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E-book472 páginas8 horas

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Sobre este e-book

Algumas coisas valem a pena esperar.
Algumas coisas valem a pena experimentar.
Algumas coisas não devem ser mantidas em silêncio.
E, por algumas coisas, vale a pena lutar.
Avery Morgansten precisa fugir. Ir para uma faculdade a centenas de quilômetros de casa foi a única forma que encontrou para esquecer o acontecimento fatídico que, cinco anos antes, mudara a sua vida para sempre. O que não estava em seus planos era atrair a atenção do único rapaz que pode mudar totalmente a rota do futuro que Avery está tentando construir.
Cameron Hamilton tem um metro e noventa de altura, impressionantes olhos azuis e uma habilidade notável para fazer com que Avery deseje coisas que ela acreditava terem sido roubadas irrevogavelmente dela. Envolver-se com ele é perigoso. No entanto, ignorar a tensão entre eles - e despertar um lado dela que nunca soube que existia - é impossível.
Até onde ela estará disposta a ir e o que fará para esquecer o passado e viver aquela relação intensa e apaixonada, que ameaça ruir todas as suas certezas e fazê-la conhecer um mundo de sensações que julgava estar negadas para sempre?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de mar. de 2017
ISBN9788581638218
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    Espero por você - Jennifer L. Armentrout

    SUMÁRIO

    Capa

    Sumário

    Folha de Rosto

    Página de Créditos

    Dedicatória

    CAPÍTULO 1

    CAPÍTULO 2

    CAPÍTULO 3

    CAPÍTULO 4

    CAPÍTULO 5

    CAPÍTULO 6

    CAPÍTULO 7

    CAPÍTULO 8

    CAPÍTULO 9

    CAPÍTULO 10

    CAPÍTULO 11

    CAPÍTULO 12

    CAPÍTULO 13

    CAPÍTULO 14

    CAPÍTULO 15

    CAPÍTULO 16

    CAPÍTULO 17

    CAPÍTULO 18

    CAPÍTULO 19

    CAPÍTULO 20

    CAPÍTULO 21

    CAPÍTULO 22

    CAPÍTULO 23

    CAPÍTULO 24

    CAPÍTULO 25

    CAPÍTULO 26

    CAPÍTULO 27

    CAPÍTULO 28

    CAPÍTULO 29

    CAPÍTULO 30

    CAPÍTULO 31

    CAPÍTULO 32

    CAPÍTULO 33

    CAPÍTULO 34

    AGRADECIMENTOS

    NOTAS

    JENNIFER L. ARMENTROUT

    Como J. LYNN

    Tradução

    Leonardo Gomes Castilhone

    © 2013 by Jennifer Armentrout

    Publicado originalmente por Hapercollins

    Edição feita sob acordo com Taryn Fagerness Agency e Sandra Bruna Agencia Literatia, SL

    © 2017 Editora Novo Conceito

    Todos os direitos reservados.

    Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação sem autorização por escrito da Editora.

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

    Versão digital — 2017

    Produção Editorial: Equipe Novo Conceito

    Preparação de texto: Camila Fernandes

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Ficção : Literatura norte-americana 813

    Rua Dr. Hugo Fortes, 1885

    Parque Industrial Lagoinha

    14095-260 – Ribeirão Preto – SP

    www.grupoeditorialnovoconceito.com.br

    Dedicado àqueles que estão lendo este livro agora mesmo. Sem vocês, nada disso seria possível. Vocês me deixam nas nuvens!

    1

    CAPÍTULO

    Havia duas coisas na vida que me tiravam o sossego. Acordar no meio da noite e dar de cara com um fantasma, com o rosto transparente colado no meu, era uma delas. A probabilidade de isso acontecer era quase nula, mas ainda assim dava um medo danado só de pensar. A segunda coisa era entrar atrasada numa sala de aula lotada.

    Eu, absolutamente, tinha pavor de chegar atrasada.

    Detestava quando as pessoas viravam a cabeça para me encarar, coisa que sempre acontece ao entrar numa sala um minuto que seja depois do início da aula.

    Foi por isso que, no fim de semana, analisei minuciosamente, com a ajuda do Google, a distância entre meu apartamento em UniversityHeights e o estacionamento designado para os alunos. E, de fato, fiz o trajeto de carro duas vezes no domingo para ter certeza de que o Google não estaria me levando ao erro.

    Um quilômetro e novecentos metros, para ser precisa.

    Cinco minutos de carro.

    Até saí quinze minutos mais cedo para chegar com uma antecedência de dez minutos para a aula que começaria às nove e dez da manhã.

    O que não estava em meus planos era o longo engarrafamento perto do semáforo (só Deus sabia por que havia um bendito sinal de trânsito na cidade histórica) e o fato de que não havia nem meia vaga no campus. Tive que estacionar na estação de trem adjacente ao campus, perdendo um tempo precioso na hora de caçar moedinhas na bolsa para o parquímetro.

    Já que insiste em se mudar para o outro lado do país, pelo menos fique em um dos dormitórios. Eles têm dormitórios por lá, não têm? Ouvi a voz da minha mãe permeando meus pensamentos assim que parei na frente do Prédio de Ciência Robert Byrd, sem fôlego por ter subido correndo a ladeira mais íngreme e inconveniente da história.

    É claro que eu não havia escolhido ficar em um dormitório, pois sabia que, em algum momento, meus pais apareceriam para me visitar sem avisar e começariam a julgar e falar mal do lugar, e eu preferiria dar um soco no meu próprio rosto antes de sujeitar um inocente espectador àquilo. Em vez disso, preferi investir meu precioso dinheiro para alugar um apartamento de dois quartos próximo ao campus.

    O senhor e a senhora Morgansten odiaram isso.

    E isso me deixou extremamente feliz.

    Mas agora eu estava, em parte, me arrependendo desse pequeno ato de rebeldia, porque, conforme corri, saindo do calor úmido daquela manhã de fim de agosto para dentro do prédio com ar-condicionado, já eram nove e onze, e minha aula de Astronomia ficava no segundo andar. E por que diabos escolhi Astronomia?

    Talvez porque a simples ideia de aguentar outra aula de Biologia me fizesse querer vomitar? Sim. Era isso.

    Subi correndo as largas escadas, empurrando com tudo a porta dupla, e trombei com uma parede.

    Ao cambalear para trás, abanei os braços como um daqueles guardas de trânsito nos cruzamentos. Minha bolsa transversal, que estava abarrotada, me puxou para um lado. Meu cabelo voou para a frente do rosto, uma camada ruiva que tampou toda a minha visão, enquanto eu oscilava perigosamente.

    Meu Deus, eu estava caindo. Não tinha como evitar. Visões de pescoços quebrados passaram pela minha cabeça. Isso ia ser um saco, então...

    Uma coisa dura e forte envolveu minha cintura, impedindo a queda livre. Minha bolsa caiu no chão, espalhando todos os livros e canetas ridiculamente caros por todo o chão encerado. Minhas canetas! Minhas queridas canetas rolaram para todos os cantos. Um segundo depois, fui pressionada contra a muralha.

    A muralha era estranhamente quente.

    A muralha riu.

    — Opa — disse uma voz profunda. — Você está bem, meu anjo?

    A muralha não tinha nada de muralha. Era um cara. Meu coração parou e, por um segundo amedrontador, senti uma pressão esmagando meu peito, e não conseguia me mover ou pensar. Fui levada para cinco anos antes. Travada. Não conseguia me mexer. O ar parecia perfurar meus pulmões com uma pressa dolorosa e pontadas se espalhavam e subiam pela minha nuca. Cada músculo ficou retesado.

    — Ei... — A voz suavizou, com um tom de preocupação. — Você está bem?

    Forcei-me a respirar fundo — apenas respirar. Eu precisava respirar. Inspirar. Expirar. Tinha praticado isso várias vezes nos últimos cinco anos. Eu não tinha mais quatorze anos. Eu não estava lá. Estava aqui, do outro lado do país.

    Dois dedos tocaram debaixo do meu queixo, forçando minha cabeça para cima. Olhos azuis profundos e surpreendentes contornados por cílios escuros e grossos estavam fixos em mim. Um azul muito vibrante e elétrico, e tal era o contraste com as pupilas negras que me perguntei se eram reais.

    Foi aí que me dei conta.

    Um cara estava me segurando. Nenhum cara jamais havia me segurado. Eu não estava contando com aquela vez, porque aquela vez não valia merda nenhuma, e eu estava apertada contra ele, coxa com coxa, meu peito contra o dele. Como se estivéssemos dançando. Meus sentidos fritaram quando senti o leve aroma de colônia. Nossa. Tinha um cheiro bom e caro, como o dele...

    De repente, um sentimento de raiva brotou em mim, algo doce e familiar, afastando o velho pânico e a confusão. Agarrei-me àquilo desesperadamente e encontrei minha voz.

    — Pode. Me. Soltar.

    Olhos Azuis imediatamente baixou os braços. Despreparada para a súbita perda do apoio, vacilei para o lado, recuperando o equilíbrio antes de tropeçar na minha bolsa. Respirando como se tivesse acabado de correr um quilômetro, afastei as grandes mechas de cabelo do rosto e, finalmente, dei uma boa olhada em Olhos Azuis.

    Santa Mãe de Deus, Olhos Azuis era...

    Ele era maravilhoso, do tipo que faz qualquer garota agir de forma idiota. Era alto, quase trinta centímetros maior que eu, e tinha ombros largos, mas afilado na cintura. O corpo de um atleta — como um nadador. O cabelo preto e ondulado cobria a testa e combinava com as sobrancelhas. Maçãs do rosto altas e lábios expressivos completavam o pacote criado para as garotas babarem por ele. E ainda com aqueles olhos cor de safira, u-la-lá...

    Quem imaginaria que em um lugar chamado Shepherdstown estaria escondido um cara como aquele?

    E eu dei de cara com ele. Literalmente. Que ótimo.

    — Sinto muito. Eu estava com pressa para chegar à minha aula. Estou atrasada e...

    Os lábios dele curvaram-se levemente nos cantos ao se ajoelhar. Ele começou a juntar minhas coisas e, por um breve instante, senti como se fosse chorar. Pude sentir lágrimas surgindo na minha garganta. Agora eu estava realmente atrasada, e de jeito nenhum entraria naquela sala no primeiro dia. Ferrou.

    Inclinando-me para a frente, deixei o cabelo cair e cobrir meu rosto enquanto recolhia as canetas.

    — Não precisa me ajudar.

    — Não tem problema! — Ele pegou um pedaço de papel e olhou para cima. — Introdução à Astronomia? Estou indo para lá também.

    Ótimo. Pelo resto do semestre eu teria que ver o cara que quase matei no corredor.

    — Você está atrasado — eu disse, um tanto inconveniente. — Sinto muito mesmo.

    Com todos os livros e canetas de volta na minha bolsa, ele ficou de pé e a entregou para mim.

    — Está tudo bem. — Aquele sorriso disfarçado ficou mais largo, revelando uma covinha na bochecha esquerda, mas nada na outra. — Estou acostumado com garotas se jogando em meus braços.

    Pisquei os olhos, pensando que não tinha ouvido direito aquele gato de olhos azuis, porque não era possível ele ter dito algo tão idiota.

    Pois tinha, e não parou por aí.

    — Mas tentar pular nas minhas costas é novo. Meio que gostei.

    Sentindo as bochechas queimarem, fiquei uma fera.

    — Eu não estava tentando pular nas suas costas nem me jogar nos seus braços.

    — Não estava? — O sorriso de canto de boca continuava. — Bem, que pena. Se estivesse, este teria sido o melhor primeiro dia de aula da história.

    Fiquei sem saber o que dizer ao apertar a bolsa pesada contra meu peito. Os caras não flertavam comigo na minha cidade. A maioria deles nem ousava olhar na minha direção no Ensino Médio, e os poucos que o faziam, bem, não estavam a fim de mim.

    O olhar de Olhos Azuis baixou para o pedaço de papel em suas mãos.

    — Avery Morgansten?

    Meu coração pulou.

    — Como sabe meu nome?

    Ele inclinou a cabeça para o lado e seu sorriso ficou ainda maior.

    — Está em sua agenda.

    — Ah...

    Afastei o cabelo ondulado do meu rosto em brasa. Ele me devolveu a agenda, e eu a peguei, rapidamente colocando-a na bolsa. Lutei, meio desengonçada, para colocar a alça no ombro outra vez.

    — Meu nome é Cameron Hamilton — disse Olhos Azuis. — Mas todos me chamam de Cam.

    Cam. Pensei naquele nome por alguns instantes, gostando do som.

    — Obrigada mais uma vez, Cam.

    Ele se curvou e pegou uma mochila preta que eu não notara. Muitos cachos de cabelo preto caíram sobre sua testa e, ao endireitar-se, puxou-os para trás.

    — Bem, vamos fazer nossa entrada triunfal.

    Meus pés permaneceram fincados no mesmo lugar, quando ele se virou e caminhou alguns metros à frente até a porta da sala 205. Ele colocou a mão na maçaneta, olhando por cima do ombro, aguardando por mim.

    Eu não conseguiria. Não tinha nada a ver com o fato de que eu tinha trombado com tudo em quem deveria ser o cara mais sexy do campus. Apenas não conseguiria entrar na sala e suportar todos se virando para me observar. Já estava farta de ser o centro das atenções em todos os lugares aonde ia nos últimos cinco anos. O suor começou a brotar na minha testa. Meu estômago se contraiu ao dar um passo para trás, para longe da sala e de Cam.

    Ele se virou, franzindo as sobrancelhas, com uma expressão de curiosidade tomando conta do rosto.

    — Você está indo na direção errada, meu anjo.

    Parecia que eu estava indo na direção errada minha vida inteira.

    — Não consigo.

    — Não consegue o quê? — Ele deu um passo na minha direção.

    E eu corri. Literalmente, dei a volta e saí desesperada, como se estivesse em uma corrida pela última xícara de café do mundo. Quando atravessei aquela maldita porta dupla, ouvi Cam gritando meu nome, mas continuei correndo.

    Meu rosto ardia ao descer as escadas. Estava praticamente sem ar ao atravessar o departamento de ciências. Minhas pernas continuaram a se mexer, até eu me sentar num banco diante da biblioteca adjacente. O sol da manhã pareceu intenso demais quando levantei a cabeça e fechei os olhos com força.

    Caramba.

    Que jeito de causar uma primeira impressão em uma nova cidade, nova escola... nova vida. Fizera uma mudança de quase dois mil quilômetros para começar do zero e já tinha conseguido estragar tudo em questão de minutos.

    2

    CAPÍTULO

    Eu tinha duas opções naquele momento: deixar quieto e superar a tentativa desastrosa de assistir à minha primeira aula na faculdade ou ir para casa, deitar na cama e puxar as cobertas por cima da cabeça. O que mais queria era ceder à tentação da segunda opção, mas aquela não seria eu.

    Se correr e me esconder fosse meu modus operandi, eu nunca teria sobrevivido ao Ensino Médio.

    Levei a mão direita ao punho esquerdo para verificar se meu bracelete grande e prateado ainda estava no lugar. Eu quase não sobrevivi ao Ensino Médio.

    Meus pais quase tiveram um treco quando informei sobre meus planos de frequentar uma universidade do outro lado do país. Se fosse Harvard, Yale ou Sweet Briar, eles teriam ficado empolgadíssimos, mas uma universidade mequetrefe como aquela? Que vergonha. Eles simplesmente não compreendiam. Nunca compreenderam. Por nada neste mundo eu iria para a faculdade que eles frequentaram, aonde metade do country clube da minha cidade forçava seus filhos a ir.

    Eu queria ir aonde não visse nenhum risinho desdenhoso ou ouvisse os sussurros venenosos que as pessoas ainda destilavam como cobras. Onde ninguém tivesse ouvido a história ou qualquer versão da verdade que fora repetida tantas vezes a ponto de eu mesma questionar o que realmente havia acontecido naquele Halloween de cinco anos atrás.

    Porém, naquele lugar, nada daquilo importava mais. Ninguém me conhecia. Ninguém suspeitava de nada. E, em dias de verão, ninguém sabia o que o bracelete escondia, quando uma camiseta de manga comprida não funcionava.

    Vir para cá tinha sido uma decisão minha e fora a melhor coisa a ser feita.

    Meus pais chegaram a ameaçar parar de pagar meu financiamento estudantil, o que achei hilário. Eu tinha meu próprio dinheiro — dinheiro sobre o qual eles não tinham nenhum controle, depois que completei dezoito anos. Dinheiro que eu tinha merecido. Para eles, eu os estava decepcionando mais uma vez, mas, se ficasse no Texas ou perto daquelas pessoas, eu estaria morta.

    Olhei rapidamente a hora no meu celular, fiquei de pé e passei a alça da bolsa por cima do ombro. Pelo menos, não chegaria atrasada para minha aula de História.

    História ficava no prédio de Ciências Sociais, no início da ladeira pela qual eu tinha acabado de subir correndo. Cortei pelo estacionamento atrás do prédio Byrd e atravessei a rua congestionada. À minha volta, alunos caminhavam em grupos de dois ou mais, e muitos deles, obviamente, conheciam uns aos outros. Em vez de me sentir rejeitada, havia um precioso sentimento de liberdade ao caminhar de sala em sala sem ser reconhecida.

    Tirando da cabeça meu desastre épico matinal, entrei no Whitehall e subi o primeiro lance de escadas à direita. O corredor no andar de cima estava cheio de alunos esperando as salas esvaziarem. Atravessei os grupos que riam sem parar, desviando de alguns que ainda pareciam meio adormecidos. Encontrei um lugar vazio no corredor, na frente da sala, sentei-me encostada à parede e cruzei as pernas. Esfreguei as mãos na calça jeans, empolgada por estar começando a cursar História. A maioria das pessoas estaria morrendo de tédio na aula de Introdução à História, mas aquela era minha primeira aula de graduação.

    E, se tivesse sorte, em cinco anos, estaria trabalhando em uma biblioteca ou um museu fresco e silencioso, catalogando textos ou artefatos antigos. Não era a profissão mais glamorosa, mas seria perfeita para mim.

    Melhor do que o que eu costumava querer ser, que era uma bailarina profissional em Nova York.

    Mais uma coisa que fez minha mãe ficar desapontada comigo. Todo aquele dinheiro gasto em aulas de balé, desde que eu tinha começado a andar, havia sido desperdiçado depois de eu fazer quatorze anos.

    Mas sentia falta do efeito calmante que a dança tinha sobre mim. Só não conseguia me imaginar fazendo aquilo de novo.

    — Garota, o que está fazendo aí sentada no chão?

    Minha cabeça se ergueu e um sorriso brotou no meu rosto quando vi aquele sorriso, largo e brilhante, no rosto lindo, delicado e cor de caramelo de Jacob Massey. Nós ficamos amigos durante o teste vocacional da semana anterior e ele estava na minha próxima aula, além da de Artes às terças e quintas. Senti-me imediatamente acolhida por sua personalidade extrovertida.

    Olhei para seu jeans de aparência cara, reconhecendo que era um corte sob medida.

    — Está confortável aqui embaixo. Acho que você deveria se juntar a mim.

    — De jeito nenhum! Não quero que minha bundinha linda fique suja por me sentar nesse chão. — Ele encostou a lateral do quadril na parede ao meu lado e sorriu. — Espere um pouco. O que você está fazendo aqui a esta hora? Achei que tivesse aula às nove.

    — Você lembrava disso? — Mostramos nossos horários um ao outro por cerca de meio segundo na semana anterior.

    Ele deu uma piscadela.

    — Tenho uma memória assustadora para coisas que são totalmente inúteis para mim.

    Eu ri.

    — Bom saber.

    — Quer dizer que já matou aula? Garota malvada.

    Balancei a cabeça, contraindo-me um pouco.

    — Sim, mas eu estava atrasada, e odeio entrar em uma sala depois da aula ter começado, então acho que o meu primeiro dia será na quarta-feira, se eu não desistir antes disso.

    — Desistir? Garota, não seja idiota. Astronomia é uma aula facílima. Eu teria me matriculado nela, se não tivesse enchido em dois segundos, porque todos os veteranos a pegaram.

    — Bem, mas não foi você que quase matou um cara no corredor correndo para a aula... Um cara que, por sinal, está na mesma aula facílima.

    — O quê? — Seus olhos escuros se arregalaram de interesse e ele começou a se ajoelhar. Alguém chamou sua atenção. — Espere um segundo, Avery. — Então ele começou a acenar com o braço e pular. — Ei! Brittany. Traga essa sua bunda para cá!

    Uma garota loura e baixinha parou bruscamente no meio do corredor e se virou para nós, com as bochechas coradas, mas sorriu ao ver Jacob pulando feito louco. Ela veio caminhando e parou na nossa frente.

    — Brittany, essa é Avery — apontou Jacob. — Avery, essa é a Brittany.

    — Oi — disse Brittany, acenando timidamente.

    Acenei de volta.

    — E aí?

    — Avery está prestes a nos contar como ela quase matou um cara no corredor. Achei que você fosse querer ouvir a história também.

    Eu me encolhi acanhada, mas o súbito interesse nos olhos castanhos de Brittany foi meio engraçado.

    — Conta já — disse ela, sorrindo.

    — Bem, eu não quase matei alguém exatamente — respondi, suspirando. — Mas foi por pouco, e fiquei morrendo de vergonha.

    — As histórias constrangedoras são as melhores — insistiu Jacob, tocando o joelho no chão.

    Brittany riu.

    — É verdade.

    — Desembucha, amiga.

    Puxei o cabelo para trás e baixei a voz para que o corredor inteiro não se divertisse com a minha humilhação.

    — Eu estava correndo atrasada para a aula de Astronomia e empurrei com tudo a porta dupla do segundo andar. Não dava para ver aonde eu estava indo, então bati com tudo nesse cara no corredor.

    — Caramba! — Brittany contraiu-se condoída com a história.

    — É, e eu quase o derrubei. Deixei minhas coisas caírem no chão. Livros e canetas voaram para todos os cantos. Foi épico.

    Os olhos de Jacob brilharam de curiosidade.

    — E ele era gostosão?

    — O quê?

    — Ele era gostoso? — repetiu ele, passando a mão no cabelo. — Porque, se ele era gostoso, você deveria ter usado isso a seu favor. Esse poderia ter sido o melhor puxador de conversa da história. Tipo, vocês dois poderiam se apaixonar loucamente e contariam a todos como você deu um tranco nele antes de ele, de fato, dar um tranco em você.

    — Meu Deus. — Senti um calor familiar nas bochechas. — É, ele era bem bonitão.

    — Ah, não — disse Brittany, que parecia ser a única pessoa, além de mim, a compreender como um cara lindo podia tornar a situação ainda mais constrangedora. Acho que era preciso ter uma vagina para entender isso, porque Jacob parecia ainda mais empolgado com as notícias.

    — Então me conte, como era esse pedaço de mau caminho? Esse é um detalhe que não pode faltar.

    Parte de mim não queria falar, porque só pensar em Cam me trazia mil níveis diferentes de constrangimento.

    — Bom... é... ele era bem alto e musculoso, eu acho.

    — Como você sabe que ele era musculoso? Você deu uma apalpada também?

    Eu ri ao ver Brittany balançando a cabeça.

    — Eu, literalmente, dei de cara com ele, Jacob. E ele me segurou. Eu não o apalpei de propósito, mas ele parecia ter um corpo legal. — Dei de ombros. — Então, ele tinha cabelo escuro e ondulado. Mais comprido que o seu, meio jogadinho, mas de um jeito...

    — Caramba, garota, se você diz jogadinho de um jeito não estou nem aí, porque eu sou o máximo, quero eu trombar com esse cara.

    Brittany riu disfarçadamente.

    — Adoro cabelo assim.

    Fiquei me perguntando se meu rosto estava tão quente quanto eu o estava sentindo.

    — É, era bem assim. Ele era lindo mesmo, e os olhos dele eram tão azuis que pareciam...

    — Espere... — engasgou Brittany, com os olhos arregalados. — Os olhos dele eram tão azuis que quase pareciam falsos? E ele tinha um cheiro muito bom? Sei que pode parecer estranhíssimo, mas apenas responda à pergunta.

    Estranhíssimo era pouco, mas também divertido.

    — Sim para tudo o que disse.

    — Puta merda! — Brittany soltou uma gargalhada alta. — Você perguntou o nome dele?

    Comecei a ficar preocupada, porque Jacob também estava com um olhar de incredulidade.

    — Sim, por quê?

    Brittany cutucou Jacob com o cotovelo e, em seguida, baixou a voz.

    — Era Cameron Hamilton?

    Meu queixo caiu no chão.

    — Era! — respondeu a própria Brittany, contraindo os ombros. — Você trombou com Cameron Hamilton?

    Jacob não estava sorrindo. Ele apenas olhava para mim com uma cara de... choque?

    — Estou com muita inveja de você neste momento. Eu daria meu testículo esquerdo para trombar com Cameron Hamilton.

    Eu meio ri, meio engasguei.

    — Nossa. Isso é bem sério.

    — Cameron Hamilton é sério, Avery. Mas você nunca saberia mesmo. Você não é daqui — explicou Jacob.

    —Você também é calouro. Como sabe sobre ele? — perguntei, porque Cam parecia velho demais para ser calouro. Ele tinha que estar, no mínimo, no segundo ou terceiro ano.

    — Todos no campus o conhecem — respondeu ele.

    — Você está no campus há menos de uma semana!

    Jacob riu maliciosamente.

    — Eu ando por aí.

    Balancei a cabeça, rindo.

    — Eu não entendo. É, ele é... lindo, mas e daí?

    — Eu frequentei a mesma escola que Cameron — explicou Brittany, olhando por cima do ombro. — Ele é dois anos mais velho que eu, na verdade, mas era o fodão no Ensino Médio. Todos queriam estar perto dele ou com ele. Aqui é basicamente a mesma coisa.

    A curiosidade brotou em mim, apesar de ter me lembrado de outra pessoa, pelas coisas que Brittany disse.

    — Então, vocês dois são das redondezas?

    — Não. Somos dos arredores de Morgantown, na área de Fort Hill. Não sei por que ele escolheu esta faculdade em vez da Universidade de West Virginia; só sei que eu quis sair da cidade para não ficar presa às mesmas pessoas de sempre.

    Eu me identifiquei com aquilo.

    — De qualquer forma, Cameron é conhecido em todo o campus. — Jacob juntou as mãos, batendo palmas uma vez. — Ele mora fora do campus e dizem por aí que ele organiza as melhores festas e...

    — Ele tinha uma reputação no Ensino Médio — cortou Brittany. — Reputação que era bem merecida. Não me entenda mal. Cameron sempre foi um cara muito legal. Muito bacana e engraçado, mas ele era a personificação do cara galinha naquela época. Parece que ele deu uma sossegada, mas, uma vez galinha...

    — Ok. — Mexi no meu bracelete. — Bom saber, mas, de qualquer jeito, não importa. Digo, eu trombei com ele num corredor. Isso é tudo que sei sobre Cam.

    Cam? — piscou Brittany.

    — É? — Fui me pondo de pé e peguei a bolsa. A porta logo se abriria.

    As sobrancelhas de Brittany se contraíram.

    — Aqueles que ele não conhece o chamam de Cameron. Só os amigos o chamam de Cam.

    — Ah... — Franzi a testa. — Ele me disse que as pessoas o chamavam de Cam, então imaginei que era assim que os outros o chamavam.

    Brittany não disse nada, e, honestamente, eu não entendia direito qual era o lance. Cam/Cameron/Tanto Faz estava apenas sendo educado depois de eu o ter atropelado. O fato de ele ser um ex-festeiro só significava uma coisa para mim: ficar o mais longe possível dele.

    As portas se abriram e os alunos saíram aos empurrões para o corredor. Nosso pequeno grupo esperou esvaziar até conseguir entrar, escolhendo três cadeiras nos fundos, com Jacob entre nós duas. Quando puxei meu imenso caderno de cinco matérias, com o qual eu poderia até matar alguém de tão pesado, Jacob agarrou meu braço.

    Seu olhar estava cheio de safadeza e maldade.

    — Você não pode desistir da aula de Astronomia. Para aguentar este semestre, preciso ficar sabendo, através de você, de tudo que se passa com Cam, pelo menos três vezes na semana.

    Dei uma risadinha.

    — Não vou desistir da aula... — Embora eu meio que quisesse. — Mas duvido que venha a ter alguma coisa para lhe contar. É muito provável que nem nos falemos mais.

    Jacob largou meu braço e se recostou na cadeira, olhando para mim.

    — As mais famosas últimas palavras, Avery.

    * * *

    O restante do dia não foi nem de perto tão agitado quanto a manhã, o que me deixou muito feliz. Sem mais gostosões inocentes sendo atropelados, nem quaisquer outros incidentes. Apesar de eu ter revivido a experiência toda mais uma vez no almoço, para a diversão de Jacob, fiquei contente porque ele e Brittany tiveram um intervalo quase na mesma hora que eu. Havia planejado passar sozinha a maior parte do meu dia, então acabou sendo legal conversar de verdade com pessoas... da minha idade.

    Para mim, ser sociável era como andar de bicicleta.

    E a despeito do conselho desnecessário de Jacob, de que eu deveria trombar em Cam, só que desta vez de propósito, na próxima vez que o visse, não houve nenhum outro momento constrangedor. No fim do dia, para ser sincera, eu já tinha praticamente me esquecido de Cam.

    Antes de sair do campus, passei no prédio de finanças para pegar uma ficha de inscrição para o programa de trabalho e estudo. Eu não precisava do dinheiro, mas tinha que fazer alguma outra coisa muito chata para ocupar minha mente. Estava com a grade cheia — dezoito horas de créditos —, mas, ainda assim, teria um monte de tempo livre. Um emprego no campus parecia a coisa mais certa a se fazer, mas não havia vagas. Meu nome foi para uma extensa lista de espera.

    O campus era, realmente, muito bonito, de um jeito tranquilo e excêntrico. Não tinha nada a ver com aqueles vastos campi das grandes universidades. Localizado entre o Rio Potomac e a minúscula cidade história de Shepherdstown, parecia uma daquelas paisagens que se vê em um cartão-postal. Prédios imensos adornados com torres mescladas entre estruturas mais modernas. Árvores por toda parte. Ar limpo e fresco, e todo tipo de coisa que se necessita a uma caminhada de distância. De fato, eu podia mesmo vir caminhando em dias mais agradáveis ou, pelo menos, estacionar na ala oeste do campus, para evitar pagar o parquímetro.

    Após dar minhas informações para a lista de espera, voltei andando para o carro, curtindo a brisa aconchegante. Ao contrário da manhã, quando tive que correr contra o tempo, eu tinha agora a chance de observar as casas no caminho até a estação de trem. Três casas, lado a lado, tinham varandas cheias de rapazes com idade para estar na faculdade. Muito provavelmente, aquela era a versão dessa faculdade de um conjunto de fraternidades.

    Um cara olhou quando passei, cerveja na mão. Ele sorriu, mas, logo em seguida, se virou quando uma bola de futebol voou pela porta e o acertou nas costas, o que o fez xingar até não poder mais.

    Com certeza era um conjunto de fraternidades.

    Minha coluna se retesou conforme acelerei o passo, passando mais rápido pelas casas. Cheguei a um cruzamento, dei um passo para a frente e quase fui atropelada por uma caminhonete prata — uma daquelas bem grandes, talvez uma Hilux[1] —, que vinha acelerada pela rua estreita que eu precisava atravessar. Meu coração pulou do peito quando o carro freou bruscamente, bloqueando minha passagem.

    Confusa, dei um passo para trás, subindo na calçada. Será que o motorista ia gritar comigo?

    O vidro escurecido da janela do passageiro baixou e eu fiquei com cara de tacho.

    Cameron Hamilton sorriu para mim do volante, com seu boné de beisebol virado para trás, de onde brotavam alguns cachos pretos de cabelo. Ele estava sem camisa — totalmente sem camisa. E, pelo que pude ver, só o peito, era um peito incrível. O peitoral era todo trabalhado. Tinha uma tatuagem. No lado direito, uma explosão solar, com as chamas subindo pelos ombros até as costas, em tons vibrantes de vermelho e laranja.

    — Avery Morgansten, nós nos encontramos de novo.

    Ele era a última pessoa que eu queria ver. Eu tinha uma sorte de merda.

    — Cameron Hamilton... oi.

    Ele se inclinou para a frente, apoiando um braço sobre o volante. Correção. Ele também tinha um bíceps maravilhoso.

    — Temos que parar de nos encontrar desse jeito.

    Aquela foi a coisa mais verdadeira que alguém já disse. Eu precisava parar de ficar olhando para seu bíceps... e seu peitoral... e sua tatuagem. Nunca pensei que o sol pudesse ser tão... sexy. Nossa. Isso era esquisito.

    — Você me atropelando, eu quase atropelando você? — elaborou Cam. — É como se fôssemos uma catástrofe prestes a acontecer.

    Fiquei completamente sem palavras. Minha boca ficou seca e meus pensamentos confusos.

    — Para onde está indo? — perguntou ele.

    — Até meu carro — respondi, forçando as palavras para fora. — Meu horário no parquímetro está para vencer. — Não era bem verdade, porque eu tinha sido bem generosa na hora de colocar moedinhas naquela coisa, então, não tomaria nenhuma multa, mas ele não precisava saber disso. — Então...

    — Bem, entre, meu anjo. Posso dar uma carona pra você.

    O sangue se esvaiu do meu rosto e correu para outras partes do corpo de um jeito realmente estranho e confuso.

    — Não, tudo bem. Meu carro está logo ali. Não precisa se incomodar.

    O sorriso ficou ainda maior, revelando aquela covinha.

    — Não é incômodo. É o mínimo que posso fazer depois de quase atropelá-la.

    — Obrigada, mas...

    — Ei! Cam! — O cara da cerveja pulou da varanda e veio correndo pela calçada, olhando rapidamente para mim. — O que está fazendo por aqui, cara?

    Salva pelo garoto da fraternidade.

    O olhar de Cam não se desviou de mim, mas o sorriso começou a ceder.

    — Nada, Kevin, só estou tentando ter uma conversinha aqui.

    Dando um aceno rápido para Cam, passei apressada por Kevin e dei a volta pela frente da caminhonete. Não cheguei a olhar para trás, mas pude senti-lo me observando. Com o passar dos anos, desenvolvi um talento que era saber quando alguém estava me observando, mesmo sem olhar para a pessoa.

    Fiz força para não correr para a estação de trem, porque fugir do mesmo cara duas vezes no mesmo dia ultrapassaria todos os níveis aceitáveis de esquisitice. Até mesmo para mim.

    Não percebi que estava prendendo a respiração até sentar atrás do volante do meu carro e ouvir o som do motor.

    Jesus.

    Apoiei a cabeça no volante e gemi. Uma catástrofe prestes a acontecer? Sim, parecia que sim.

    3

    CAPÍTULO

    Aguentar sentada uma aula de Sociologia de três horas, numa noite de terça-feira,

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