Escrito Sob Fogo e Sangue - A Decisão
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Escrito Sob Fogo e Sangue - A Decisão - Adriene Yassine
A Floresta Astral
Eu sinto muito a falta dele, mas é preciso esperar: ele não está pronto para nosso amor. Destroc ainda tem muitas batalhas pela frente. E meu coração agora é só saudades.
Há dias em que nada apaga as dores de minha alma, a ausência preenche todo o meu ser e meu corpo reflete isso. Só quero ficar parada e sentir minha dor, sem fazer absolutamente nada.
Sinto no ar o perfume, ouço no vento a voz dele, sinto em meus sonhos a presença dele, mas, quando acordo, ele não está aqui. Nenhum humano está aqui.
As horas passam devagar. Lanah e Justine fazem de tudo para ocupar meu tempo, mas nada é igual à presença de Destroc.
Sem saber bem o porquê, começo a me lembrar de todas as coisas desde o início de minha participação na vida dele. E ainda não tenho todas as respostas. Minha vida aqui era tão suave, a floresta era tão segura. Mas, naquela noite, tudo mudou.
A floresta estava estranha, o céu agitado, as nuvens pesadas; tudo fazia lembrar um inverno rigoroso, mas ainda era outono. O vento insistia em sua canção de terror e as árvores dançavam, faziam o cenário ficar ainda mais temeroso em movimentos rápidos e barulhentos. As folhas do outono, que deveriam estar cobrindo o solo, voavam em redemoinhos enormes, misturados com gravetos e poeiras, impedindo que se pudesse enxergar o que vinha logo atrás do temporal.
As grutas não pareciam mais seguras. Morávamos aqui havia séculos, mas agora algo estava muito estranho; não estávamos em equilíbrio. Definitivamente, algo estava para acontecer, mas o quê? Lanah, a Sábia, não tinha a resposta para nos dar, e, se tinha alguma, preferia ficar quieta.
No canto, com nossas velas de datas sagradas acesas e sua túnica branca, ela passava horas a meditar. Dias e dias se passaram assim. Lanah silenciosa. E, sem saber bem o porquê, eu tinha uma sensação de despedida misturada ao temor.
O fim de nossa rotina de danças, festas e alegrias na floresta estava marcado. Os animais, não os víamos havia dias. O sol nascia e iluminava de longe a floresta, mas nada de muita cor. O horizonte ainda era cinza.
Um dia, Lanah pareceu tomar uma decisão:
– Venham todas, meninas, bruxas e elementais. Precisamos nos reunir – chamou ela, quebrando enfim o silêncio.
Ficamos em volta da fogueira, nosso símbolo de uma reunião importante. Quando acendíamos o fogo, estávamos mais próximas de nossos poderes e, por isso, protegidas. Tínhamos a terra, o ar, o fogo e, às nossas costas, a cachoeira, a água que completava nosso círculo de vida.
Todos os elementos estavam reunidos ao quinto: o amor que nos unia. E, como era de costume, lá estávamos nós, as nove meninas da floresta: quatro bruxas, quatro elementais e Lanah, a representante da ordem do universo.
Accuan viera havia milhares de séculos, representando a vida na água. Territas, logo em seguida, representando a fertilidade da terra. Foggian, nossa mais quente elemental, representava o fogo e era a mais querida, pois ela era o próprio fogo das paixões, das emoções humanas, onde buscávamos nossa alegria de viver. Arian, nossa elemental mais suave e doce, era uma brisa, representando o equilíbrio do ar.
Há milhares de séculos as elementais vieram para o planeta Terra, junto com os espíritos construtores, e prepararam o lugar para que os humanos pudessem habitá-lo, assim como todas as espécies vivas, como os vampiros e os lobisomens, entre outros seres, não mais conhecidos na Terra há muitos séculos. Enfim, quando as elementais terminaram sua obra, elas se retiraram para a Floresta Astral e os construtores voltaram para o centro construtivo do universo, deixando a Terra aos cuidados dos humanos e demais seres. Contudo, não poderiam deixar suas mais brilhantes criaturas sem auxílio. Por isso, deixaram na Floresta Astral, perto da Terra e junto com as elementais, as primeiras bruxas e magos, os detentores de toda a magia, e, para cada ser humano, seu anjo. Assim, os seres amados poderiam contar sempre com ajuda, quando dela necessitassem.
Mas algo de errado estava para acontecer, e, pelo clima no ar, haveria uma interferência. Agora, era preciso que as elementais voltassem e resgatassem algumas condições básicas para sobrevivência do planeta. A humanidade estava sofrendo os efeitos de seus atos e não tinha como recuperar o planeta sozinha.
Elas iriam até a Terra.
Ao entender isso, meu coração ficou apertado, mas algo além disso aconteceria. Mas por que eu me sentia tão envolvida e com medo? Nem sou uma elemental, sou uma bruxa, uma bruxa essencial, ou seja, fui criada na floresta, protegendo a Terra com o uso da magia, mas minhas energias e feitiços partiam da floresta. Tanta coisa passava por minha cabeça naquele instante. Mas Lanah começou a nos dar explicações do que estava acontecendo:
– Algumas bruxas e magos se perderam em missões importantes de liderança, equilíbrio e preservação do meio ambiente na Terra. Por isso, as elementais me solicitaram uma interferência urgente, antes que seja dada a sentença final de nossa amada Terra. E, como todas nós sabemos que na Terra ainda existem milhares de nossos amores trancados em suas provas e carmas, que há muito tempo tentamos resgatar, talvez agora seja a hora – completou Lanah.
Os carmas e missões que algumas bruxas ainda tinham para resolver no planeta eram seus laços de amor estabelecidos por suas passagens pelo planeta, fosse para seu crescimento individual ou por amor. Assim, voltar à Terra seria uma importante oportunidade, segundo nos explicava Lanah.
Mais bruxas foram chegando e se reunindo às elementais no grande encontro sob o comando de Lanah. Havia muitos séculos os demais seres que povoavam a Terra foram expulsos, os vampiros, lobisomens, as bruxas e os magos comuns. Tudo acontecera na última vida de Luan na Terra, quando ele falhara na tentativa de unir as raças, e, molhado em lágrimas, sangue e fogo, voltara para o astral. Estava derrotado e infeliz, aguardando uma nova oportunidade. E hoje, a humanidade sozinha estava conseguindo gerar um novo caos. O fim do planeta se aproximava.
Erámos: eu, Kir, que represento o brilho da vida e a luz da floresta; Raio, que representa a alegria de viver; Lin, a esperança de dias melhores; Jadi, o encantamento. Cada uma representava um dos nobres sentimentos que deveriam envolver os humanos em sua estada na Terra. Éramos as bruxas essenciais, criadas pela própria ordem do universo. Existíamos desde muito antes do nascimento da Terra e muitos outros planetas. Sempre que um planeta nasce, somos nós que vamos até lá e deixamos as sementes de nossa raça, juntamente com os magos essenciais. E cada bruxa ou mago que nasce num determinado planeta fica ligado a ele para todo o sempre. Esses indivíduos serão bruxas e magos da espécie planetária a que estivessem ligados.
Todas estavam ali, diante da fogueira, ouvindo Lanah:
– Hoje, começa uma nova fase. Teremos que nos separar, pela primeira vez, depois de muitos séculos recolhidas em nossa amada floresta. Sei que a despedida não será fácil. Nenhuma de nós quer deixar este lugar que aprendemos a amar e a respeitar durante tanto tempo. Mas a Terra precisa de nós e, no fundo, todas nós sabíamos que estar aqui era apenas um descanso para nossas almas. É chegada a hora de resgatarmos nossos carmas e colaborarmos com o planeta azul.
Todas começaram a falar ao mesmo tempo. Ninguém podia entender ninguém, apenas nossos sentimentos eram claros, pois, na linguagem dos sentimentos, não existe barreira, sempre era possível entendermos umas às outras. Estávamos acostumadas a perceber a verdade de nossos corações. Independentemente da confusão, tínhamos certeza de que estávamos muito felizes, porque muitas de nós poderiam rever seus amores humanos, mas todas estávamos também com medo de fracassar em nossas missões. Um misto de alegria e medo.
Lin era a única que se mantinha em oração e silenciosa. Todas estávamos contentes e ao mesmo tempo receosas, e naquele instante não podíamos mais ouvir Lanah, nem sentir qualquer sinal seu. Era um misto de alegria pela união e preocupação pelos motivos que nos levariam ao ponto azul do Universo.
– Silêncio! Precisamos esclarecer nossas tarefas! – recomeçou Lanah. – Viemos para cá há muitos séculos. Todos os dias, ao amanhecer, oramos e mandamos boas energias para todos os cantos da Terra, cada uma com seu sentimento e vocação natural, assim como as elementais, que colaboram mantendo a temperatura ideal, suavizada pela brisa, com água doce e energias vibratórias positivas. Bem como os construtores, que fazem a manutenção do equilíbrio biológico sempre que soamos o sinal de alarme de extrema intoxicação da Terra. Mas isso não vem ajudando o suficiente. O planeta está em estado de alerta. Nós, as bruxas, estamos recebendo esses sinais há algum tempo. Teremos que retornar para fazer nossa parte. Pensávamos que a Kir conseguiria iluminar os líderes da Terra para que tomassem algumas providências. Mas não tivemos tanto sucesso. A Terra se transformou numa única metrópole, que ocupava toda a parte produtiva do planeta, onde não havia sido contaminada ou destruída pelas inúmeras guerras que marcaram o último século; a metrópole representa hoje menos de 10% de toda a dimensão habitada dos séculos anteriores. Cercada por gigantes muros, para evitar que as pessoas fossem para as áreas não permitidas, chamadas subúrbios terrestres, onde só viviam aqueles que não se ajustaram às novas regras de produção: os rebeldes, os deformados pelas radiações, os doentes, os excluídos.
A terra era governada por um líder egoísta e ganancioso, que possui feixes negros de magia, DESTROC. – O que vamos fazer agora, Lanah? Certamente ainda podemos ajudar – disse Lin, sempre esperançosa, até em momentos como aquele, em que nem o céu parecia amigável.
– Vamos todas partir. Deixaremos a floresta no próximo amanhecer e cada uma de nós irá para um canto da Terra. Teremos alguns anos para iluminar as pessoas, resgatar os bruxos que perderam seus elos mágicos e, principalmente, caminhar na busca de nossa evolução, que será a tarefa na qual mais batalharemos, porque cada uma de vocês terá também suas provas e carmas individuais para solucionar. Quanto aos líderes da Terra, precisamos criar um círculo maior de pessoas envolvidas com o meio ambiente, a solidariedade, a paz e o amor ao próximo.
"A contar de hoje, teremos exatamente doze anos para fazer um acerto de contas com o Universo. A Terra deverá contar com novos construtores e se nós, as bruxas, não fizemos o que estávamos programadas para fazer em outras situações passadas, agora é a hora de recuperar o tempo precioso, recordar nossas antepassadas bruxas planetárias e melhorar nossos relacionamentos com os magos, para ficarmos mais fortes e ajudarmos mais. Nosso serviço precisa ser revisto, pois partiremos para outras dimensões e teremos que deixar a Terra para aqueles que nela continuarão nosso trabalho. Esta será nossa última passagem pelo planeta. Uma nova raça nascerá com Luan e, com ele, uma nova fase astral. Assim, estaremos livres para fluir para novos mundos. Para lembrá-las que mais fortes estaremos quando estivermos unidas, deixarei em seus pulsos uma luz oculta, que brilhará sempre que eu estiver convidando vocês para estarmos juntas.
Neste acerto final, definiremos se a Terra será ainda um planeta azul, de paz e de evolução, ou se pagará por suas irresponsabilidades e o azul se apagará e deixará em seu lugar um cinza eterno. Mas, neste final, ainda temos algumas possibilidades de sucesso, o retorno de Luan a Terra, talvez desta vez ele consiga a alcançar a harmonia entre as raças e ninguém mais seja expulso para as profundezas do Universo negro e paralelo.
Luan foi o primogênito de Cristo com Madalena, e seus descendentes, protegidos pelo priorado de Sião desde os mais remotos tempos. numa época distante, na idade média, Luan voltou à Terra, em uma de suas vidas, com o objetivo de harmonizar as diferentes raças; contudo, apesar de seus esforços, sua missão foi um fracasso. Os lobisomens e os vampiros foram expulsos para um Universo paralelo de trevas; os magos enclausurados nas montanhas e áreas distantes do planeta, sem nenhum contato com os humanos; e as bruxas enviadas para sua floresta astral, sem poder intervir mais na terra. Ele mais uma vez faleceu nos braços de seus traidores.
Mas agora haveria uma chance, Kir e Destroc, poderiam trazer novamente à Terra o redentor, o primogênito de Cristo. E o planeta azul ganharia mais uma importante batalha para o bem.
– Mas como entraremos no mundo dos homens? – perguntou Jadi. – Da última vez, perdemos Valentina, uma de nossas melhores e mais poderosas bruxas essenciais, além de termos perdido a elemental Magia da vida longa para os humanos e da vida eterna para nós. Como faremos desta vez? E se não voltarmos? E se perdermos mais algum poder ou feitiço? – Jadi tinha lágrimas nos olhos.
– Existe muita sujeira no ar, na água e na terra, e o fogo vem servindo mais para destruir do que para construir – respondeu Lanah. – Os sentimentos bons e nobres vêm sendo vistos como ridículos e ultrapassados. Precisamos ir até os homens, pois, se a Terra deixar de existir,