Ilíada: a guerra de Troia
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Sobre este e-book
antigos. Durou mais de dez anos, contou com a intervenção dos deuses olímpicos e com a participação de heróis
lendários como Odisseu, Agamêmnon, Aquiles, Heitor, entre outros. Essa guerra, cheia de sofrimento e beleza, que
começa pelo rapto de uma linda mulher, é o cenário da Ilíada de Homero, um clássico da literatura universal.
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Ilíada - Stephanides Menelaos
A GUERRA DE TROIA
Uma década de guerra por causa de uma mulher é algo impossível de acontecer. Assim dizemos hoje em dia. No entanto, eis como os homens daqueles tempos antigos falavam e cantavam a respeito da Guerra de Troia, ocasionada pelo rapto da bela Helena – e nisso acreditavam. Talvez tivessem razão. Difícil é compreender seus pensamentos: outros tempos, outros costumes. Tempos míticos, tempos heroicos e fabulosos. Tempos inesquecíveis.
Sumário
A guerra de Troia
ANTES DA GUERRA
Aqueus e Troianos
Antiga História de Troia
A fundação de Troia
O nascimento de Páris
O pomo da discórdia
A escolha de Páris
A partida para Esparta
A bela Helena
O rapto da bela Helena
Odisseu
Aquiles
Os Atridas
Os dois Ájax
Heitor
Eneias
Cassandra
A primeira expedição fracassa
O SACRIFÍCIO DE IFIGÊNIA
Ártemis ultrajada
O casamento de Ifigênia
A descoberta da verdade
Aquiles resiste
Ifigênia é oferecida em sacifício
NOVE ANOS DE GUERRA
A partida e a escala em Delos
Um grave acidente
Comitiva a Príamo
Protesilau é o primeiro a morrer
O primeiro combate
Muralhas intransponíveis protegem Troia
Expedições contra cidades vizinhas
Criseide e Briseide
A guerra prolonga-se
Palamedes
Trama indecente
A ILÍADA DE HOMERO
A querela entre Aquiles e Agamémnon
Aquiles extravaza a sua cólera
Zeus decide ajudar os troianos
As verdades de Tersites
Prontos para a batalha
Menelau e Páris duelam
Os troianos violam o juramento
Diomedes triunfa
Heitor e Andrômaca
Heitor propõe um duelo
Zeus confirma sua decisão
Heitor persegue os Aqueus
Odisseu combate bravamente
O combate na muralha dos Aqueus
Zeus dá novas ordens
O terrível combate nos navios
A morte de Pátroclo
O combate pelo corpo de Pátroclo
Tétis promete novas armas a Aquiles
Aquiles reconcilia-se com Agamémnon
Aquiles ingressa no combate
Possêidon salva Enéias
Heitor fica sozinho fora das muralhas
A morte de Heitor
Aquiles pranteia Pátroclo. Os troianos pranteiam Heitor
Os funerais de Pátroclo
Príamo suplica a Aquiles
OS ÚLTIMOS DIAS DE TROIA
As Amazonas
Aquiles e Mémnon
A morte de Aquiles
O lamento pela morte de Aquiles
Odisseu ouve as profecias
Odisseu entra secretamente em Troia
O cavalo de madeira
A difícil decisão dos troianos
A horrível morte de Laocoonte
A grande destruição
Menelau diante de Helena
Eneias chega a Itália
O poeta da Ilíada e da Odisseia (por Menelaos Stephanides)
Os poemas homéricos (por Luiz Alberto Machado Cabral)
A versão de Stephanides (por Luiz Alberto Machado Cabral)
Sobre o autor
Coleção Mitologia Helênica
ANTES DA GUERRA
Naquela época antiga e mítica, quando a célebre raça dos heróis ainda vivia na Terra, erguia-se, na margem oriental do mar Egeu, uma cidade governada pelo rei Príamo, a renomada Troia. A cidade, entretanto, estava predestinada a conhecer a maior e mais terrível guerra provocada pelas discórdias dos deuses e dos homens, pois, ao redor de suas muralhas, perderam a vida incontáveis heróis de ambos os lados, aqueus e troianos, até que a poderosa Troia fosse reduzida a cinzas e seus valorosos defensores morressem. E qual foi a causa dessa grande tragédia? A beleza da mulher do rei de Esparta! E, diga-se, que beleza! Pois quem, ao ver a bela Helena, não repetiria as palavras pronunciadas pelos anciãos do conselho de Troia, quando a viram surgir no alto da torre das Portas Ceias?(1) Têm razão os troianos e os aqueus em por tal mulher suportarem tanto tempo tão grande guerra!
Aqueus e troianos
Mas quem eram os aqueus e os troianos?
Os aqueus eram todos aqueles que viviam na Hélade(2), os quais atualmente são chamados de gregos ou helenos. Mas naquele tempo eles não eram conhecidos por esses nomes. Os únicos que Homero, o grande poeta da guerra de Troia, denominava helenos
eram Aquiles e os mirmidões. Todos os outros que lutavam ao lado deles eram chamados aqueus
, algumas vezes argivos
ou dânaos
, mas nunca helenos
.
E os troianos? O mais provável é que também fossem gregos, como os aqueus. É o que contam a mitologia e os estudos atuais. De fato, Troia era a amada cidade do maior deus de todos os gregos, o todo-poderoso Zeus. Suas muralhas foram construídas por dois dos mais autênticos deuses gregos, Apolo e Possêidon. Quanto ao Paládio, a sagrada estátua que protegia a cidade, fora presente da própria deusa Atena. Além disso, os troianos não só adoravam os deuses do Olimpo, mas também falavam a mesma língua que os outros gregos e com eles mantinham estreitos vínculos. O que era bastante natural, pois Troia situava-se no Heles-ponto e no berço da civilização da Grécia, a bacia do mar Egeu. Nessa guerra, os troianos tiveram numerosos aliados: desde povos vizinhos e aparentados até povos asiáticos, que falavam outras línguas e por esse motivo foram denominados bárbaros
.(3) Assim, prevaleceram estes significados: quando nos referimos aos aqueus, dânaos ou argivos, queremos dizer gregos
; quando nos referimos aos dardânios e teucros, queremos dizer troianos
.
Vale a pena examinarmos o que nos diz a mitologia grega a respeito da história de Troia.
Antiga história de Troia
Por mais curioso que seja, a história de Troia começa em Creta. Certa vez, numa época muito distante, essa grande ilha foi devastada por uma seca terrível. Foram dois anos sem chuva, e as pessoas começavam a morrer de fome. Grande parte dos cretenses embarcou nos navios, decidida a procurar uma nova pátria. Liderados por Escamandro,(4) filho de Oceano, chegaram à entrada do Helesponto, onde ficaram deslumbrados com a beleza e a luxuriante vegetação da margem asiática.
– Eis o local que se tornará nossa nova pátria – disse Escamandro. Aqui construiremos nossos lares e altares em honra a nossos deuses. Vamos atracar para oferecermos um sacrifício a Zeus Salvador em terra firme e depois começaremos a trabalhar.
Um terço dos cretenses fixou-se naquela nova terra. Escamandro, que foi o primeiro rei a governá- los, permaneceu para sempre em seus corações, não só por tê-los salvado, mas também porque, quando morreu, por ser filho de Oceano, tornou- se um deus-rio, que irrigava com água em abundância a terra de sua nova pátria, para que o povo não voltasse a conhecer a seca e a fome. Desde então, esse novo deus-rio teve dois nomes: para os deuses, Xanto; para seu povo, permaneceu Escamandro.
Os troianos eram, portanto, cretenses. Assim afirma o mito ao qual nos referimos. Certamente, os nomes cretenses que sobreviveram nessa região, como o do rio Escamandro, o do monte Ida e muitos outros, constituem um testemunho de que esse mito revela uma boa parcela de verdade. Além disso, o que poderia ser mais natural para Creta, naquela época uma potência naval, do que colonizar essa região localizada no estreito que conduz à Propôntida e ao Ponto Euxino?
Entretanto, também os atenienses reivindicavam para si uma parte na fundação de Troia, visto que Teucro, um de seus primeiros reis, era, dizia-se, ateniense de um antigo demo da Ática, o demo dos troianos.
Qualquer que seja a verdade a respeito dessas reivindicações conflitantes, o fundador da linhagem que forneceu a Troia todos os reis subsequentes até Príamo (o último a governá-la) não foi cretense nem ateniense. Seu nome era Dárdano, e dizia-se que ele viera da Arcádia, na Hélade meridional, ou então que nascera em Troia.
Dárdano não era um simples mortal. Era filho de Electra, filha de Atlas, e seu pai era o próprio Zeus. Dárdano criou um império poderoso, a Dardânia, que submeteu todos os povos vizinhos, da Europa e da Ásia, a seu poderio. Sua capital situava-se no estreito que, desde aquele tempo, recebeu o nome de seu fundador: Dardanelos. O nome Helesponto, pelo qual foi posteriormente designado, só passou a vigorar depois que Hele, irmã de Frixo, caiu e afogou-se ali.(5)
No início, Dárdano havia escolhido outro lugar para construir sua cidade, uma colina onde mais tarde seus descendentes construiriam Troia. Não o fez, contudo, porque um oráculo de Apolo previa que os habitantes sofreriam grandes desgraças se a construíssem naquele local, pois foi ali que Ate, a deusa que personifica o engano, caiu, depois de Zeus tê-la lançado do alto do Olimpo para a Terra.
A fundação de Troia
Troia, também denominada Ílion, recebeu esse nome de seu fundador, Ilos, filho de Trós e neto de Dárdano. A fundação da cidade ocorreu em curiosas circunstâncias.
Certa vez, Ilos participou de competições atléticas que foram organizadas na Frígia e venceu em todas as modalidades. Cheio de admiração, o rei da Frígia concedeu-lhe cinquenta moças e cinquenta rapazes como prêmio e, em seguida, o presenteou com uma vaca malhada, dizendo:
– Siga este animal sagrado. Ele te conduzirá para um lugar onde você deverá fundar sua cidade.
Agradecido, Ilos partiu junto com os cinquenta rapazes e as cinquenta moças, seguindo o animal sagrado. No começo, a vaca vagueou por vários lugares e, por fim, atingiu a colina de Ate, subiu até o topo e, ali, esgotada, estatelou-se, mostrando assim que aquele era o lugar no qual deveria ser construída a nova cidade.
Ilos então refletiu profundamente:
– Que fazer? Devo construir a cidade no mesmo local em que Dárdano certa vez pretendeu edificar a capital de seu reino e foi impedido pelo oráculo de Apolo? Ou devo ignorar a escolha feita pelo animal sagrado e procurar outro lugar?
A decisão não era nada fácil. O oráculo dissera: Os homens que habitarão no interior das muralhas da cidade que será construída sobre a colina de Ate sofrerão grandes calamidades
. O oráculo era bastante claro, mas Ilos pensou e repensou a esse respeito. Será que não entendi o verdadeiro significado?
, perguntava a si mesmo. Por fim, meditou no significado exato da frase: que habitarão no interior das muralhas
, e a resposta lhe surgiu como um clarão: Existem cidades desprovidas de muralhas
, pensou, então assim também construirei a minha. E que a proteja Atena, a deusa defensora das cidades
. Tendo decidido isso, chamou os cinquenta rapazes e as cinquenta moças para iniciarem o trabalho imediatamente. Antes de tudo, ofereceu um sacrifício à deusa e, depois de ter lavado as mãos, ergueu-as para o céu e pronunciou as seguintes palavras:
– Protege-nos, filha de Zeus, e construiremos para ti um templo resplandecente onde serás sempre honrada e glorificada por nós.
Em breve começou a escavação para a construção da base. Ilos foi o primeiro a erguer a picareta e cravá-la na terra. Mas que coisa curiosa! Junto com o primeiro pedaço de terra retirado, veio fincada na ponta da picareta uma estátua de madeira que representava uma deusa. Sua mão direita segurava uma lança, e a esquerda, um fuso.(6) Ilos compreendeu que a deusa ouvira sua prece. A nova cidade, mesmo sem muralhas, não teria nada a temer.
Entretanto, Ilos interrogou o oráculo para saber ainda mais sobre essa descoberta. Por fim, soube que a estátua de madeira era o Paládio. Ela havia sido feita pela própria Atena em memória de Palas, sua companheira inseparável, que morreu na flor da juventude, quando a deusa a atingiu acidentalmente com a lança num torneio de guerra. Desejando perpetuar a aparência da amiga, Atena esculpiu sua imagem em madeira; para ter a certeza de que jamais a esqueceria, antepôs o nome da amiga ao seu e, desde então, passou a ser chamada Palas Atena. Mas o fato mais importante revelado a Ilos pelo oráculo foi que a deusa havia aceitado proteger a nova cidade, mas com uma condição: a de que o Paládio fosse sempre mantido ali, pois se ele um dia desaparecer
, disse o oráculo, com ele também desaparecerá a cidade inteira
.
A nova cidade foi construída rapidamente, e Ilos batizou- a com o nome de Troia, para honrar o nome de seu pai, Trós. Muitos, porém, chamavam-na de Ílion, por ter sido Ilos seu fundador.
Troia tornou-se uma bela cidade, com ruas bem amplas. Num platô elevado, Ilos construiu o palácio e, no ponto mais alto, edificou o templo de Palas Atena. Nele foi guardado o Paládio, a estátua que protegia a cidade sem muralhas.
Depois da construção de Troia, o país foi dividido em duas partes: Ilos reinava na própria Troia, e seu irmão, Assáraco, tornou-se rei da Dardânia.
Quando Ilos morreu, Troia foi governada por seu filho, Laomedonte. Zeus demonstrou seu grande favor para com o jovem rei ao ordenar que Apolo e Possêidon construíssem as torres e as inexpugnáveis muralhas da cidade. Mas Laomedonte, em vez de reconhecer a afeição que lhe demonstrava o grande soberano dos deuses e dos homens, maltratou os dois deuses que tanto o ajudaram. Foi duramente castigado e acabou perdendo a vida por causa de sua tremenda ingratidão. Foi morto por Hércules, quando este conquistou Troia. Hércules havia salvado Hesíone, filha de Laomedonte, de morte certa e terrível.(7) Depois que Laomedonte morreu, tornou-se rei de Troia seu filho Príamo, que até então se chamava Podarces.
Podarces, que fora capturado como escravo por Hércules, devia sua liberdade à irmã, Hesíone, e o trono de Troia à magnanimidade do grande herói. Antes de partir para Salamina, onde se casaria com Télamon, Hesíone implorou a Hércules que libertasse seu irmão, oferecendo em troca a única coisa que possuía: seu peplo.(8) Hércules ficou tão comovido com o gesto que não somente o libertou, como também fez com que ele se tornasse o novo rei de Troia, dando-lhe o nome de Príamo, que em grego significa aquele que foi resgatado
. O jovem rei jamais se esqueceu do quanto devia à irmã.
O nascimento de Páris
Príamo, que foi o último e o mais trágico dos reis de Troia, reinou durante muitos anos e já era um ancião na época da guerra. Ele teve muitos filhos: cinquenta homens e doze mulheres, dezenove deles com sua mulher legítima, Hécuba. O primogênito foi Heitor, que mais tarde se tornaria o maior de todos os chefes troianos. O segundo filho foi o belo Páris, que possuía um corpo esplêndido. A seu respeito, tanto o pai como a mãe diriam muitas vezes: Seria melhor que ele não tivesse nascido
; e tinham razão, pois foi o causador da terrível guerra.
A história de Páris começa de modo dramático, e mais dramático ainda é o modo como termina.
Um dia antes de seu nascimento, sua mãe, Hécuba, sonhou que toda a cidade de Ílion havia sido consumida pelo fogo. Acordou assustada e contou o sonho ao marido. Ele então resolveu consultar o oráculo e ficou sabendo que aquele filho que viria ao mundo seria a causa da destruição de Troia, e o único modo de salvar a cidade seria sacrificá-lo.
Hécuba não queria sequer ouvir algo semelhante, mas Príamo, com a intenção de salvar seu povo, ordenou que o bebê fosse entregue a um pastor, Agelau, encarregando-o de matá-lo. Mas Agelau era um homem tão afável e compassivo que não poderia fazer mal nem a uma mosca, quanto mais matar o inocente filho do rei. Por isso deixou-o intacto no meio da floresta que ficava no alto do monte Ida. Feito isso, o pastor não conseguia tranquilizar-se. Temendo que os animais selvagens devorassem o bebê, voltou à montanha e lá o encontrou no momento em que uma ursa o amamentava. Satisfeito com o que viu, entendeu o acontecimento como um sinal de que os deuses desejavam que o menino vivesse; colocou-o em um cesto e levou-o para sua cabana, para que crescesse junto com seu filho, também nascido poucos dias antes.
Agelau e a esposa amaram o filho do rei mais ainda do que a seu próprio filho. Quanto ao nome que lhe deram, surgiu quase por acaso.
– Cuide do cesto
– dizia o pastor à mulher antes de sair para tratar do rebanho, pois era onde ficava o bebê que ele havia salvado.
– Preste atenção ao cesto
– dizia-lhe também, muitas vezes, sua mulher. E todos os seus cuidados se voltavam para o cesto
. Desse modo, o menino chamou-se Páris, que naqueles tempos antigos significava cesto
.
Uma beleza excepcional, inteligência e força física eram dotes que completavam a nobre ascendência de Páris. Ainda menino, ele conseguiu descobrir quem eram os ladrões que haviam roubado o rebanho de Agelau, recuperando os animais. Desde então, passou a ser chamado de Alexandre, que significa o homem que protege
.
Páris cresceu no monte Ida, acreditando que era filho de Agelau. Como este, tornou-se pastor e vagueava pelas encostas e cumes do Ida. Por sua beleza, o jovem pastor foi amado por uma náiade, uma ninfa das fontes e rios, chamada Enone, e juntos tiveram momentos maravilhosos, dentro de regatos refrescantes, à sombra dos plátanos. Mas, enquanto para Páris esse relacionamento era apenas uma amizade sem maiores consequências, para Enone significava muito. Ela, no entanto, sabia que Páris não permaneceria para sempre a seu lado e sofria duplamente, não só porque o per-deria, mas também porque receava que seu amado viesse um dia a padecer um grande infortúnio.
– Faço votos de que você seja sempre feliz e despreocupado. Mas se um dia alguém o ferir, venha até mim, pois somente eu poderei curar sua dor – dizia-lhe Enone, que tinha o dom de prever o futuro.
Páris, que ainda nem sabia o que era dor ou desgraça, não compreendia o sentido das palavras da jovem vidente. Passava o tempo despreocupadamente, às vezes em companhia da bela ninfa, às vezes com o rebanho, e outras vezes – o que mais lhe dava prazer – promovendo lutas entre os touros. Páris, então, escolheu um touro, o vencedor de todas as lutas, que era tratado e amado por ele mais do que qualquer outro animal. Acreditando sempre que era um simples pastor, um dia ele pastoreava tranquilamente no mais alto cume do Ida, quando, de súbito, a sua frente, viu surgirem três deusas e um deus. Eram Atena, Hera, Afrodite e Hermes, o deus dos pés alados.
Mas por que esses deuses se encontravam ali e o que queriam com ele? Para respondermos a essa pergunta, será preciso recuarmos no tempo e nos dirigirmos a outra parte do mar Egeu, o verdejante monte Pélion, onde Tétis, a deusa marinha, e Peleu, um herói filho de Éaco, celebravam suas núpcias.
O pomo da discórdia
Foi na cerimônia do casamento de Peleu e Tétis que surgiu o primeiro motivo da terrível guerra, pois foi então que surgiu o famoso pomo da Discórdia.
Para as núpcias de Peleu e Tétis, que foram celebradas diante da caverna do centauro Quíron, todos os deuses haviam sido convidados, com exceção da Discórdia. O próprio Zeus tomara a iniciativa para que não a convidassem, por receio de que ela, amante de desavenças e discussões, estragasse a festa.
No princípio tudo correu muito bem. Os convidados estavam alegres, e a atmosfera, muito amigável e cordial. O próprio Apolo abriu o cortejo nupcial, dedilhando sua lira de ouro. As Musas, com suas vozes imortais, entoavam hinos ao jovem casal, e as Moiras,(9) com seus cantos, profetizavam a glória do herói que nasceria daquela união – que outro não seria senão Aquiles.
No dia seguinte, os convidados saíram da épaulis – naqueles tempos, chamavam-se assim as cabanas campestres onde os jovens noivos costumavam passar sua primeira noite de núpcias. Contudo, Peleu e Tétis