Guimarães Passos
(1867-1909)
A Fontoura Xavier
Tu
tens quinze anos, apenas...
Com
diferença de meses;
E
eu quase quinze... duas vezes.
‘Stou
velho! Não tem que ver...
Tu
entras a primavera
Com
todo o galhardo entorno,
E
eu vejo o amarelo outono
Os
braços a me estender.
As
rosas fulgem-te às faces,
Estás
na estação das flores;
Teus
lábios furtam as cores
Que
as rosas das faces têm.
O
nardo nos teus cabelos
Desprende
um cheiro tão doce!...
Um
homem aproximou-se
Ficou
cheirando também...
Que
lírios não se envergonham
Se
às tuas mãos se comparam?
Os
lábios que te beijaram...
Não!
Tal ninguém nunca fez...
Beijasse-os
alguém e eu juro:
Tal
néctar encontraria,
Que,
com certeza morria...
Se
não os beijasse outra vez.
Que
um beijo mata é verdade;
Porém,
outro beijo cura,
É
o caso da mordedura,
Da
mordedura do cão;
Um
só transtorna a cabeça,
Mas,
se outro em cima se emite,
Provoca
mais o apetite,
Mas
faz bem ao coração.
Eu,
nessa história de beijos,
Posso
falar de cadeira:
Que,
ou beijo por brincadeira,
Ou
beijo com tal furor,
Que,
quando o sutil veneno
Pensa
encontrar-me disposto,
Já
beijei tanto por gosto,
Que
beijo então por favor.
Voltemos
à vaca fria...
Não
queres me ouvir?! Pudera!
Tu
estás na primavera...
Vamos
lá: no outono estou.
Tu
tens as flores mais frescas,
Tens
os lírios impolutos
E
vês que eu gosto de frutos...
(Me
culpe quem não gostou!)
Fiquemos
ambos tranquilos!
As
estações respeitemos!
É
bom que nos evitemos,
Por
muitíssimas razões.
Uma
delas, a mais forte
Talvez,
ou das mais felizes,
É
mesmo, como tu dizes,
O
choque das estações.
Então,
primavera e outono
Ardem
num fogo de estio...
Vem
depois um doce frio,
Uns
tremores anormais...
E,
quando os olhos abrimos,
Nós,
que os fechamos serenos,
Que
vês? Uma flor de menos...
Que
vejo? Um fruto de mais...