Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Você meu
mundo meu relógio de não marcar horas; de esquecê-las. Você meu andar meu ar
meu comer meu descomer. Minha paz de espadas acesas. Meu sono festival meu
acordar entre girândolas. Meu banho quente morno frio quente pelando. Minha
pele total. Minhas unhas afiadas aceradas aciduladas. Meu sabor de veneno.
Minhas cartas marcadas que se desmarcam e voam. Meu suplício. Minha mansa onça
pintada pulando. Minha saliva minha língua passeadeira possessiva meu esfregar
de barriga em barriga. Meu perder-me entre pelos algas águas ardências. Meu
pênis submerso. Túnel cova cova cova cada vez mais funda estreita mais mais.
Meus gemidos gritos uivos guais guinchos miados ofegos ah oh ai ui nhem ahah
minha evaporação meu suicídio gozoso glorioso.