João Cabral de Melo Neto (1920-1999)
Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.
Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,
uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente de dentro
é possível contemplá-la.
Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra:
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;
pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;
pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,
os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,
exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.
domingo, 30 de janeiro de 2011
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Epigrama
Marcial (40?-104?)
Corre o rumor, Quione: nunca foste fodida,
e nada mais puro existe que tua cona.
Nessa parte (por vestes velada) nem te lavas.
Se é pudor, desnuda a cona e vela a face.
(Trad.: Luiz Antônio de Figueiredo e Ênio Aloísio Fonda)
Corre o rumor, Quione: nunca foste fodida,
e nada mais puro existe que tua cona.
Nessa parte (por vestes velada) nem te lavas.
Se é pudor, desnuda a cona e vela a face.
(Trad.: Luiz Antônio de Figueiredo e Ênio Aloísio Fonda)
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terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Corpoenigma – bunda
Zemaria Pinto
luas hemisféricas
sob o sol resplandecente
– altar da paixão
castelos erguidos
em terras de fantasia
– volúpia e vertigem
ondas cavalgadas
nos limites do infinito
– relâmpago sob o sol
luas hemisféricas
sob o sol resplandecente
– altar da paixão
castelos erguidos
em terras de fantasia
– volúpia e vertigem
ondas cavalgadas
nos limites do infinito
– relâmpago sob o sol
domingo, 23 de janeiro de 2011
Romeu e eu
Glauco Mattoso
(conto dialético e, ipso facto, poema romântico)
Eu quero brincar com você.
Papai não deixa.
O Diretor proíbe.
A Esquerda se opõe.
Você me chama
e eu morro de vontade.
Papai me ameaça.
O Diretor me intima.
A Esquerda me aterroriza.
Saio escondido,
procuro por você,
mas eles me acham.
Papai me bate.
O Diretor me põe de castigo.
A Esquerda atenta contra mim.
Fico esperando,
você me procura,
nos encontramos no escuro,
nos pegam em flagrante.
Papai me expulsa.
O Diretor me interna.
A Esquerda me sequestra.
Escapo e sobrevivo,
mas você não está livre.
É filho de seu Papai.
Disciplinado ao seu Diretor.
Prosélito da sua Esquerda.
Vivo solitário, você prisioneiro,
e não podemos brincar.
Castram nossa infância
porque você é igual a mim,
sua vontade igual à minha,
mas nos fazem diferentes.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Sonetos Luxuriosos – 14
Aretino (1492-1556)
Ai, minha cona, ai! Cruel, que fazes
Com caralho tão grosso, tão horrendo?
Caluda, coração, que assim gemendo
Teu senhor não recreias nem aprazes.
E se no meu foder não te comprazes,
Abre espaço bastante que te atendo,
O pau até os colhões em ti metendo
Para dar-te prazer dos mais verazes.
Eis-me aqui pronta, oh, fido servo caro,
Faz como queiras e em afadigar-te
Por bem servir não te mostres avaro.
Não duvida, meu bem, que quero dar-te
Fodida tão gostosa, em modo raro,
Que inveja sentirão Vênus e Marte.
Podia a cona entrar-te,
Diz por favor, o mais soberbo nabo?
A cona sim, mas Deus me guarde o rabo.
(Trad. José Paulo Paes)
Ai, minha cona, ai! Cruel, que fazes
Com caralho tão grosso, tão horrendo?
Caluda, coração, que assim gemendo
Teu senhor não recreias nem aprazes.
E se no meu foder não te comprazes,
Abre espaço bastante que te atendo,
O pau até os colhões em ti metendo
Para dar-te prazer dos mais verazes.
Eis-me aqui pronta, oh, fido servo caro,
Faz como queiras e em afadigar-te
Por bem servir não te mostres avaro.
Não duvida, meu bem, que quero dar-te
Fodida tão gostosa, em modo raro,
Que inveja sentirão Vênus e Marte.
Podia a cona entrar-te,
Diz por favor, o mais soberbo nabo?
A cona sim, mas Deus me guarde o rabo.
(Trad. José Paulo Paes)
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Corpoenigma – costas
Zemaria Pinto
campo iluminado
pelo fogo do desejo
– prenúncio do dia
plano dividido,
planície que se completa
nas ondas do vento
longa travessia,
repousa o corpo em silêncio
– porto calmaria
campo iluminado
pelo fogo do desejo
– prenúncio do dia
plano dividido,
planície que se completa
nas ondas do vento
longa travessia,
repousa o corpo em silêncio
– porto calmaria
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Sugar e ser sugado pelo amor
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar e ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.
Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar e ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Saudades do meu homem
Angelica de Lis (1984-2009)
Sinto saudades das nossas intensas horas de amor
dos arrepios que tuas carícias me provocam,
me deixando assim molhada, excitada, querendo o teu calor.
E, no meu corpo, sentir esse fogo queimando-me.
Sinto saudades de quando exploras o meu corpo
e descobres os pontos prazerosos que me levam
aos gritos e gemidos, ao inferno e ao paraíso,
eu sem defesa e tu sem piedade possuindo-me.
Tua língua em todos os orifícios do meu corpo,
senti-la quente e furiosa dentro de mim levando-me
ao ponto inalcançável do prazer, me faz querer que
permaneças dentro de mim, alimentando-se do meu gozo.
Teu membro a penetrar-me, tuas mãos em fúrias nos meus seios,
tua boca a procura da minha língua, sugando-me, como
se de nossas salivas, dependessem as nossas vidas.
Que saudades de quando na madrugada fria nossos
corpos quentes se encontram e se amam, teus beijos docemente
acordam-me e eu me rendo a esse amor.
Que saudades da transa debaixo do chuveiro, água fria,
corpos quentes, eu e você banhando-nos em gozo.
Teu olhar procurando-me e eu querendo-te
dentro de mim.
Que vontade de entregar-te o meu corpo,
e ser escrava do seu desejo.
Que saudades de você.
Sinto saudades das nossas intensas horas de amor
dos arrepios que tuas carícias me provocam,
me deixando assim molhada, excitada, querendo o teu calor.
E, no meu corpo, sentir esse fogo queimando-me.
Sinto saudades de quando exploras o meu corpo
e descobres os pontos prazerosos que me levam
aos gritos e gemidos, ao inferno e ao paraíso,
eu sem defesa e tu sem piedade possuindo-me.
Tua língua em todos os orifícios do meu corpo,
senti-la quente e furiosa dentro de mim levando-me
ao ponto inalcançável do prazer, me faz querer que
permaneças dentro de mim, alimentando-se do meu gozo.
Teu membro a penetrar-me, tuas mãos em fúrias nos meus seios,
tua boca a procura da minha língua, sugando-me, como
se de nossas salivas, dependessem as nossas vidas.
Que saudades de quando na madrugada fria nossos
corpos quentes se encontram e se amam, teus beijos docemente
acordam-me e eu me rendo a esse amor.
Que saudades da transa debaixo do chuveiro, água fria,
corpos quentes, eu e você banhando-nos em gozo.
Teu olhar procurando-me e eu querendo-te
dentro de mim.
Que vontade de entregar-te o meu corpo,
e ser escrava do seu desejo.
Que saudades de você.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Corpoenigma – nuca
Zemaria Pinto
marmor cinzelado
sobre o torso transluzente
– cadeia do tempo
armam-se guerreiros
sobre a torre de alabastro
– pelos perfilados
rosa tatuada
sob os pelos eriçados
– meigo nosferatu
marmor cinzelado
sobre o torso transluzente
– cadeia do tempo
armam-se guerreiros
sobre a torre de alabastro
– pelos perfilados
rosa tatuada
sob os pelos eriçados
– meigo nosferatu
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Bicho papão
Almir Graça
– Vai...
– Vai tu...
– Vai tu primeiro!
– Eu não! Vai tu!...
Ainda com os mamilos empinados
olhou para os dois,
pegou a calcinha e o sutiã
– Vão se foder, seus viados!
– Vai...
– Vai tu...
– Vai tu primeiro!
– Eu não! Vai tu!...
Ainda com os mamilos empinados
olhou para os dois,
pegou a calcinha e o sutiã
– Vão se foder, seus viados!
domingo, 9 de janeiro de 2011
Da natureza da bunda
Simão Pessoa
Diferente do seio, a bunda
Possui uma função distinta:
Na bunda, a gente lambuza,
No seio, a gente bolina.
Na bunda, um riacho fundo
Corta seu duplo hemisfério:
No seio seu duplo ornamento
É bússola de curso aéreo.
Também há na gótica catedral
Em que a bunda se camufla
Uma auréola como a do seio
Mas de finalidade bem outra.
Enquanto a auréola do seio
Parece extensão do bico,
A auréola da bunda prefere
Sombrear certo orifício.
E é nesse duto intestino,
Da casa grande, a senzala,
Que o macho se queda aflito
Por enfiar-lhe a espada.
Mas se a função principal
Do duto não é receber
Por que diabos insistimos
Em nesse poço descer?
Quem foi criança se lembra
Das brincadeiras com fezes:
Adulto, aperfeiçoamos o jogo.
(Ou assim é se lhe parece.)
Trampolim do felizardo
Que no poço se projeta,
Nos dois cálices da bunda
Está o caminho das pedras
Quanto mais fornida for
Mais a bunda é desejada:
Só precisa estar tinindo
Quem pretende penetrá-la.
As medianas são melhores
E pelas curvas se conhece:
Qualquer pau pode dar conta
Sem precisar pintar o sete.
De bom tom são as pequenas
Mas que sejam expressivas:
Não basta ter um buraco
Por onde entre uma pica.
Na falsa magra, entretanto,
O equilíbrio está no jeito:
Quando montada, sua bunda
Tem um encaixe perfeito.
Há ainda as bundas magras
De uma magreza de doer:
Por serem pouco cantadas
São as mais fáceis de comer.
E toda mulher dá a bunda
Sem que perca sua honra:
Basta o sujeito insistir
E prometer que não conta.
Diferente do seio, a bunda
Possui uma função distinta:
Na bunda, a gente lambuza,
No seio, a gente bolina.
Na bunda, um riacho fundo
Corta seu duplo hemisfério:
No seio seu duplo ornamento
É bússola de curso aéreo.
Também há na gótica catedral
Em que a bunda se camufla
Uma auréola como a do seio
Mas de finalidade bem outra.
Enquanto a auréola do seio
Parece extensão do bico,
A auréola da bunda prefere
Sombrear certo orifício.
E é nesse duto intestino,
Da casa grande, a senzala,
Que o macho se queda aflito
Por enfiar-lhe a espada.
Mas se a função principal
Do duto não é receber
Por que diabos insistimos
Em nesse poço descer?
Quem foi criança se lembra
Das brincadeiras com fezes:
Adulto, aperfeiçoamos o jogo.
(Ou assim é se lhe parece.)
Trampolim do felizardo
Que no poço se projeta,
Nos dois cálices da bunda
Está o caminho das pedras
Quanto mais fornida for
Mais a bunda é desejada:
Só precisa estar tinindo
Quem pretende penetrá-la.
As medianas são melhores
E pelas curvas se conhece:
Qualquer pau pode dar conta
Sem precisar pintar o sete.
De bom tom são as pequenas
Mas que sejam expressivas:
Não basta ter um buraco
Por onde entre uma pica.
Na falsa magra, entretanto,
O equilíbrio está no jeito:
Quando montada, sua bunda
Tem um encaixe perfeito.
Há ainda as bundas magras
De uma magreza de doer:
Por serem pouco cantadas
São as mais fáceis de comer.
E toda mulher dá a bunda
Sem que perca sua honra:
Basta o sujeito insistir
E prometer que não conta.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Corpoenigma – pés
Zemaria Pinto
devassam fronteiras
na construção da manhã
sonhando mensagens
caminho traçado,
espaço e tempo à mercê
– asas do desejo
pássaros pousados
sobre o limo do caminho
buscando o verão
devassam fronteiras
na construção da manhã
sonhando mensagens
caminho traçado,
espaço e tempo à mercê
– asas do desejo
pássaros pousados
sobre o limo do caminho
buscando o verão
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Amante do meu homem
Angelica de Lis (1984-2009)
Quero ser a mais completa das amantes
não quero casar e nem que me cubras de diamantes,
não quero filhos e nem mesadas: só boas trepadas,
regadas a muito gozo, sendo sempre enrabada...
Não quero usar aliança e nem assinar com teu nome,
só peço que nunca deixes de ser o meu homem.
Não quero cozinhar, muito menos lavar e passar,
quero apenas ser tua comida – enrabada e fodida...
Não quero ouvir teus problemas, nem tuas irritações,
não quero palavras ternas úmidas de emoções,
quero apenas muito sexo, palavras sem nexo,
sem compromissos, momentos completos...
Repletos de muito sexo, sem restrições, sem frescura,
sem carinho e sem amor... Apenas muita loucura...
Não quero ser a mulher perfeita, a esposa boa o bastante,
de suportar traições etc... Quero apenas ser tua amante!
Quero ser a mais completa das amantes
não quero casar e nem que me cubras de diamantes,
não quero filhos e nem mesadas: só boas trepadas,
regadas a muito gozo, sendo sempre enrabada...
Não quero usar aliança e nem assinar com teu nome,
só peço que nunca deixes de ser o meu homem.
Não quero cozinhar, muito menos lavar e passar,
quero apenas ser tua comida – enrabada e fodida...
Não quero ouvir teus problemas, nem tuas irritações,
não quero palavras ternas úmidas de emoções,
quero apenas muito sexo, palavras sem nexo,
sem compromissos, momentos completos...
Repletos de muito sexo, sem restrições, sem frescura,
sem carinho e sem amor... Apenas muita loucura...
Não quero ser a mulher perfeita, a esposa boa o bastante,
de suportar traições etc... Quero apenas ser tua amante!
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Musa de verão
Nei Leandro de Castro
Quero uma musa
nada obtusa
Que tenha os peitos
perfeitos de menina-moça
e acima dos quadris
aquelas duas pequenas poças.
Uma musa que saia
do mar de verão
como uma deusa
de anúncio de televisão.
Quero uma musa moderninha
que não faça questão
de ser só minha.
Que no gozo gema tão forte
que dê a impressão
dos estertores da morte.
Quero uma musa na medida
exata, na escala
do falo e da fala.
Quero uma musa
nada obtusa
Que tenha os peitos
perfeitos de menina-moça
e acima dos quadris
aquelas duas pequenas poças.
Uma musa que saia
do mar de verão
como uma deusa
de anúncio de televisão.
Quero uma musa moderninha
que não faça questão
de ser só minha.
Que no gozo gema tão forte
que dê a impressão
dos estertores da morte.
Quero uma musa na medida
exata, na escala
do falo e da fala.
sábado, 1 de janeiro de 2011
Corpoenigma – pernas
Zemaria Pinto
asas da manhã
flutuando à luz difusa
na pele do vento
garças de algodão
sob o véu acetinado
da manhã nascente
torres definindo
a arquitetura do passo
– caminhos do sol
asas da manhã
flutuando à luz difusa
na pele do vento
garças de algodão
sob o véu acetinado
da manhã nascente
torres definindo
a arquitetura do passo
– caminhos do sol
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