Vou chamar-lhe Diana, deusa guerreira grega, para manter o anonimato que a exposição de uma situação real exige.
Conheço a Diana desde os seus 13 anos de idade, há 7 anos, já que está nos seus 20. Desde sempre a tocar os 100kg no seu corpo de 1,6m. Sempre com um excesso excessivo de peso.
Em criança, Diana vinha à consulta com a mãe, senhora preocupada e empenhada em ajudar a filha. Porém, consulta após consulta de nutrição a Diana insistia em manter o peso. Ora subia um pouco os quilos, ora descia. Na média estava nos 100kg. Mudou de escola e a adaptação à mudança fez com que chegasse aos 114 kg. Com esforço lá os diminuiu de novo. Chegou o estágio e lá subiram de novo os quilos. Agora teimam em não descer e aparecem os 115, os 120... Depois de todos os despistes bioquímicos para perceber porque motivos o peso de Diana teima em não descer, confrontei Diana e disse-lhe (mais do que uma vez, mais do que numa consulta): qual a parte do plano alimentar que não cumpres? O que comes a mais? Quando comes?! Imaculadas, as respostas de Diana não me davam quaisquer pistas. Dificil encontrar a ponta de uma linha por onde começa a desfazer todo aquele novelo. Propus o diário alimentar. Diana apareceu com folhas imaculadas, com registos de consumos alimentares inferiores aos prescritos. Estaríamos perante um milagre semelhante ao do santo Benedito?! Aquele que nada comia e estava sempre gordito?!
Insucesso. Estava perante um caso de insucesso! O que fazer?! "Devolver" ao seu médico de família?! "Devolver" a ela própria e a todos os riscos que esta super-obesidade acarrecta?! Esperar que seja ela mesma a desisitir?!
Gosto de falar com as psicólogas com as quais me cruzo em trabalho e amizade. Aprendo com elas a melhor abordagem a cada pessoa. A necessidade que temos de os escutar activamente e o dificil exercicio de abandonar aquilo que são os nossos registos para entrar na linguagem do outro, por forma a que a mensagem passe da melhor forma. Não estava a conseguir fazê-lo com Diana. Abandonar nestas situações? Uma psicóloga uma vez disse-me: o nosso tempo clínico por vezes não é o tempo de mudança das pessoas. Temos que aceitar e aguardar que ele chegue, se chegar. Sim, porque nisto da nutrição é fundamental a entrega do próprio!
Na consulta de Maio fui impossibilitada de fazer a consulta de Diana, por ter sido chamada para uma reunião em cima da hora. Entre andiar as consultas uns 4 meses e ter o apoio de uma colega, optei pelo apoio da colega. (Nem sempre é bem aceita a mudança do nutricionista, principalemente quando já há um conhecimento de longa data).
Assim, desde Fevereiro, reencontrei hoje Diana. Aborrecida por não ter sido eu fazer a consulta de Maio. Cansada do seu peso. Consciente que tinha aumentado, 125 quilos hoje. Culpou o plano alimentar. Já não lhe serve! Não lhe serve?! O melhor será colocar um balão gástrico, assume Diana o papel do clínico com esta afirmação. É honesta e refere que o plano alimentar "não lhe chega" para satisfazer as angústias. Sim, está com problemas no trabalho e a comida é o seu melhor amigo! Diana começou a chorar! Finalmente, pensei! Finalmente desbloquemos esta "obesidade emocional". Diana chora e, aos poucos vai mais longe. Como é que a comida se torna o seu melhor amigo?! Humm, não é a comida o melhor amigo, esse chama-se apetite e a comida é a forma que encontra de falar com ele. Ah! Diana acrescenta ser reservada, não anda para aí a falar com todos. E que episódios se lembra da necessidade de falar e não o fazer? Ah, sim, o estágio e a mudança de escola. E mais, episódios mais antigos? Entre lágrimas e não seis, de mãos dadas, lá recuamos mais uns anos, chegamos à infãncia e à morte da avó. Gostava da avó e ela morreu. Diana comeu como forma de sublimar a dor. O seu pai optou por beber e isso fez com que Diana continuasse a comer, mais e mais. Tudo por bem, diz ela, tudo porque queria ver o pai feliz e se ela estivesse feliz seria também mais fácil para o pai ficar feliz. E conseguiu! O pai recuperou e Diana engordou!
Finalmente cansou-se, esgotou-se deste padrão de comportamento e hoje foi como se tivesse sido a 1ª consulta nutrição de Diana, após 7 anos de investigação!
Então vamos lá ajudar Diana com a especialidade que necessita e considerar a colocação do balão para a motivar e acelarar o processo de libertação de todos os seus quilos. Ela sabe quantos deseja ter. São 75 kg! E vai conseguir!