Avistar o horizonte
e querer ver o mundo do além
é saber-se eterno
doado à terra de ninguém
Trespassar o véu e cair no céu
essa dor(mente) queda abrupta
que é sair-se de órbita
e ser-se um mero sinal no Espaço
DM
poemas 2010
"Deus não é um conceito muito filosófico, é este mundo visto através dos olhos de uma criança" (OSHO)
e querer ver o mundo do além
é saber-se eterno
doado à terra de ninguém
Trespassar o véu e cair no céu
essa dor(mente) queda abrupta
que é sair-se de órbita
e ser-se um mero sinal no Espaço
DM
poemas 2010
Procura-me na estação das flores
e na dança dos ponteiros
do relógio…
Encontra-me em casa
onde arrumo, às pressas...
a noite
nas lantejoulas
dos vestidos que não uso
e que o tempo pare
Encontra-me hoje !
Amanhã é às vésperas
do seu longínquo espaço
ainda não arrumei lá
o meu lugar
Não me percas agora
que me esqueces
no bailado das asas
de todas as aves
que sobrevoam o Vale
Marta do Vale, pseudónimo
Vamos os dois, por aí acima
pelos ramos das árvores
no tempo dos ninhos
e dos frutos a florescer
E depois,
ao ouvirmos os presságios das águas
nascentes da boca da fonte
saberemos ver nos espelhos de água:
um reflexo
um caminho novo
uma existência ainda por nascer
Vamos juntos
subir às copas das árvores
a ver se avistamos os dois
o mesmo Vale…
E depois,
por sentirmos nos corpos,
a estação nova das aves a cantar
Vamos os dois, AMOR
(Marta do Vale, pseudónimo)
em espaços fechados
onde os muros são frios
e os meus olhos
fundos inexistentes
onde o meu corpo descansa
Há a livre vontade de ir
e não voltar
a ser terra á vista
nos mares
onde a saudade se colhe
na linha do horizonte
e a tristeza se reúne
nos céus
Há estios desgovernados
e colheitas tardias
nos meus braços
Dolores Marques
.....
Tenho algum receio de voltar àquele chão
O silêncio ali sepultado, arrasta-se ainda como se fosse um manto antigo, agora rasgado, ensanguentado.
Ouve-se esse ruído, cujos ecos ferem os Santos ainda adormecidos. Elas, as santas estão todas vestidas de noivas. Nunca vi nenhuma grávida. Eram santas, por isso mesmo, não tinham gerado vida. Controverso todo este cenário de água benta. Também não poderia ser de outra forma, o rio leva muita, e é paredes meias com a igreja.
Estou em crer, que pelo andar destes Santos, o rio Paiva estará prestes a desaparecer. Quando secarem todas as nascentes de água das encostas da serra do Montemuro, ficamos limitados à água benta das igrejas.
O tumulto começará aí....decerto.
Não há forma de dar Vida a algum santo. Era só para ele ou ela saberem como se irá viver sem água benta no futuro. Talvez possam dar à luz, o elemento água.
A minha mãe parou 3 filhos.
Eu fiquei no meio de dois homens.
Dizem que no meio está a virtude.
Não me seduzem alguns conceitos, resultado de frases feitas, cujo sentido é de manipular a opinião que temos das coisas
Mas sim, nasci virtuosa porque virgem, dizem ainda os homens de hoje. Onde andará o homem de amanhã? Preciso encontrar a minha cara metade.
Virgem...preciso ser virgem...
Quem inventou que a virgindade era só um detalhe atribuído ao gênero feminino, devia ter sido castrado.... e pronto, sumia com todos os conceitos filosófico-religiosos, que desenham ainda tiaras de flores secas nas paredes do confessionário.
Isto começa a alongar-se muito, digo o ventre.
Engordei, é isso.
Sim porque só por um grande milagre, eu podia ficar de barriga.
Virgindade, dizem que já a perdi. Eu acho que não. Sou até, "Maria e tudo", Maria Dolores é o começo do meu nome.
Como não me deixaram um resto de Virgindade, inventei um novo baptismo no rio Paiva.
Quem disse que só um homem da Igreja o podia fazer?
Se fosse uma mulher até seria interessante.
Mas as mulheres não podem dizer, rezar missas nem confessar ninguém, muito menos homens.
....mas isto já vai longe....este tipo de alarme diurno é esquizofrenia a deitar por terra todos os silêncios rasgados, partos nocturnos gerados pelo próprio.
Progenitor é ele...e não precisa do sexo oposto
Um parto de silêncio não é o mesmo que um pacto de silêncio.
Por isso escrevo. Sou livre ainda, apesar de não ser virgem....
.....
Dakini
Passou agora aqui o canto das aves
Trazia rasgado um sorriso
Como quando se ouve a Norte
O timbre do vento
Com as cores de alguns pingos de chuva
Gemido quente entre o tinir das lâminas
Amolador quedo e sisudo… pensa
Enquanto espero que um tom diferenciado
Amoleça o eco das minhas têmporas
Recebo na palidez do meu rosto
Uma asa ferida…
DM
Eram dourados o céu e a terra
era um olhar cor de bronze
nascido numa era da cor do sol
Dos olhos soltavam-se faíscas
tais pirilampos a cobrir a noite
Na boca nasciam rios
à semelhança de outras eras
propícias à nova estação
No corpo germinavam
as novas sementes
de onde nasceriam as novas flores
Nas mãos nasciam
outras brisas ressequidas
Nas pontas dos dedos
havia ventos ciclónicos
a separar os raios solares
Via-o sempre nos meus sonhos
esguio o corpo...felinos os gestos
olhos fixos no mesmo local
onde me encontrou
Caminhava breve
soluçava em prantos
movia-se como se fosse
uma nuvem de algodão
E foi então que se lembrou
de como as noites baixam
aos meus olhos
Sendo livre o meu sonho
é-o na forma abstracta
dum pensamento
a dar novas formas ao corpo
nascido e criado no mesmo lugar
É agora a hora de mudar as cores
que nascem nas quedas de água cristalina
Os olhos tombam
as mãos descaem
o corpo amolece
o olhar sucumbe
O pensamento quebrou-se
nos momentos em que nada
lhe pareceu igual à cor do céu
ONIX Poemas 2013
Tempo que passa por mim como se eu fosse um dia de Inverno
Ainda que esse encontro seja marcado por um dia gélido de Dezembro
Ainda que a noite seja um resumo poético à lareira
Serra, terra minha, mãe de todos os tempos passados à janela
O rio ao fundo
As águas passadas
As correntes de ar, agitadas no telhado
Xistosos os momentos calados
E eu deitada
os olhos no tecto
e as marcas do tempo do fogo nas mãos
ONIX. Dm
Dizem que o sonho mora perto de ti
mas eu não sei onde moras
dizem também
que tudo se move em direção ao sonho
mas que sonho é esse
e em que lugar da noite se guarda
irrelevante caminho ?
Assombrado por silêncios malfadados
vento forte uma noite
perfil enigmático em cadeia
A monte, não é um lugar seguro
À imagem dos dias, somos
indubitavelmente
esculturas de anjos
metade, em busca da outra metade
Um poema mentiu-me a vida inteira
Eu julgava ser a sua autora
Ele supunha ser o meu dono
para sempre
Sempre que eu ousasse ser poesia
Soube sempre ler estes versos
contrários a tudo o que sabemos
ser verdadeiro ou falso
São só uns versos curtos
que o elegem meu
Mas, meu quê?
Não possuo esse domínio, ainda
Eu ser ele
Ele ser eu
Ou quem pensamos ser no mundo da ilusão
E tu
quem raio pensas que és, neste poema?
Deus?
Os deuses vivem no paraíso
E o paraíso
é muitas vezes o corpo de uma mulher nua
deitada numa praia deserta
E nós
habitantes de um lugar
não podemos saber tudo
Mas que lugar é este?
Dakini,dm
Quem diz que eu era feliz,
não sabe nada,
sobretudo sobre a felicidade
ser um ser vivo
pronto para entrar em mim
a qualquer momento
Tu és a felicidade...
Sinto-o cá dentro, esse caminho longo
Onde tudo é possível,
quando caminhamos Juntos
Eu era louca dizem….
Loucos os poucos versos
que nos definem
não sabem da loucura
de quem nos lê
Sem poesia sou nada
Uns parcos sonhos nascidos
Ainda eu era menina
Nunca soube porque o era
Se pensava, falava, sonhava
Sonhava os meus sonhos
Às vezes os teus, os nossos
Eu era feliz, dizem…
Dakini, pseudônimo
A somar ao silêncio
mais silêncio
mais ausência
mais dor
mais os violentos ventos do norte
quando o meu corpo é bramido silencioso,
templo de um único sol
(Quando o sol se põe todo o silêncio é rei)
Trajada a noite para uma longa viagem,
tudo pode ser invertido num espelho,
ocasionalmente ...
escrevendo um poema com a luz que desenha
uma sombra deitada,
(Só para saber dela e de mim)
Eu sou do tamanho dela
Ela não tem tamanho
Talvez por não ter nenhum tamanho
não sabe como ficar colada a mim…
despida
Num universo feminino
o homem é dono de uma sombra decepada.
(Sobe por ela acima, esse modo único de prazer )
O dele é um caixa aberta para o mundo artificial
Os orgasmos ponderados
Soberbos os metódicos tempos
Os gritos mudos
Os fluidos na demanda do prazer,
(Indomáveis em gênero oposto ao real
Ao real lobo faminto
Tudo lhe é
Tudo lhe é concedido
Tudo lhe é farto, devido
E ele tudo concebe nos agrestes picos montanhosos
O longo disfarce da lua a debruçar-se sobre o meu corpo
pernoita em mim, devagar
É dono da minha solidão, nunca de mim será,
enquanto sóbrio
Terá que albergar o céu e a terra no dia a dia
dos seus passos
Terá que erguer a taça vazia ao sol
até que do céu cheguem baptismos sucessivos
que o meu nome não deixará de ser rio
ou mar
ou vento a soprar no vale
onde descansam das intempéries,
os guerreiros
A noite passada uivaram os lobos
Eram uivos cegos, famintos de desejo
Esta noite nasceu um novo cântico nocturno
com a força do másculo
deitado ainda sobre uma das sombras
Ontem dormiu ela, sossegada, não acordou
Hoje não sei se acordo eu,
desassossego-me no sono
dono deste vai e vem sombreado
O Universo tântrico é um denominador comum
Dakini, “Onde Está o Homem?”
Nos bastidores de um cenário
onde o poema contracena
com o Poeta
os versos são meros viajantes
em concordância com o Verbo
O corrupio é uma variável
a contracenar com os ecos
de um silêncio mordaz
que faz conjugar os verbos todos
enquanto o verdadeiro Verbo
se limita a ser só Poema
Dakini, pseudônimo
São sorrisos que inspiram
sentimentos cristalinos
burburinho de silêncios
na dança das águas
seguimento de um temporal
a ser domado por causa única
e singular
(Há quietude nos teus lábios
colados nos meus)
Existo na segunda metade do tempo
imperfeita leitura nas páginas
por ti redigidas
a paixão era a de um livro
e o amor esse intocável sermão
no altar da noite
Mestre de silêncios
escritos antigos na solidão
em queda livre me lanço
sobre todos os ventos
Serva de um sentir livre
no tempo preso às marés
esse senhor fado, corpo esbelto
nascido de um furacão
(Há sorrisos que inspiram a ser eu
única até na morte lenta de uma ilusão
Onix.dm
Agora que não sei
em que morada da noite,
o dia se fechou.
O agora é só um momento,
quando eu e tu, longe ou perto
nesse habitável circulo da noite.
Só um som me fará
despertar deste lugar
(Inabitável…)
Só o cair da noite
nas folhas da tua árvore,
me dará um único fruto
dos colhidos no dia
em que fomos muitos
Marta do Vale, pseudónimo
Foto tirada na serra do Montemuro
Nada mais do que um verso
Define o vôo de volta a casa
Onde o silêncio se propaga
Até ao amanhecer
Tal mendigo sem tempo certo
O prazer existe ao fundo
Onde não existe tempo
Todo o silêncio é humano
Menos o tempo de cada um
Trancados num aquário
Os olhos vidrados
Vertem lágrimas douradas
Lampejos fúnebres
Por tão pouco tempo de existência
Nesse fundo alegórico
Onde o prazer é uma metáfora
Alheada do poema
Ao centro
Onix.dm
Porque me doem ainda os sonhos distantes...
Porque não sei como sonhar longe, assim tão longe, sem sobrevoar o Vale.
Porque sou como um veio de sangue que corre louco sem um pedaço de ti.
Porque há suores frios no meu corpo, como são os dias em mim.
Porque já não sou a mesma corrente inovadora, à procura de alguma porta aberta.
Porque sou eu toda, fechada em mim, com um pouquinho de nós.
Porque me doem os olhos nas noites em que não chove.
Porque espero pela melhor hora da coragem a encher um copo vazio
Porque sinto que morro em cada instante nosso, que vive em mim.
Porque já não sofro quando viajo na noite sem um sonho por perto.
Porque…
Porque tenho dias que me dói a loucura, outros a lucidez, e outros, a exclusão de mim.
Porque não sei ainda para onde vou.
Porque a cada passo em frente, mais caminhos se abrem.
Porque, agora só quero procurar um espaço da noite ainda em sobressalto…
Só quero não ser Eu.
Marta do Vale, pseudônimo
Ontem escrevi-te um poema
Só um que te pudesse falar baixinho
Da Alma ainda a desabrochar nesse jardim
Construído à beira-mar, por nós dois
Esbocei num papel rasgado
O resumo do poema
Para que te soasse inteiro
Tal como tu és o meu primeiro
Pensei nas melhores imagens
Imaginando-te simplesmente, Amor
Ainda que numa escala invertida
Mas, consentida pela simbologia
De uma grafia antiga
Projectei sobre esse momento, um nome
Que me lembra ainda
Uma mensagem singela em aramaico
Se o pensamento voasse
Resumido numa só palavra
Que nos libertasse deste caminho
Que percorremos, solitários
Marta do Vale (dm)
- Não, não sou poeta. Escrevo poemas, dizes?
- Nao sei se assim os lerão.
- Lê-me um poema meu e dir-te-ei se sou poeta, ou se porventura, serás tu o poema.
- Em que ficamos? Preferes ser poeta ou poema?
- Vou beber água à fonte que resiste ainda na casa de cima.
- Eu tenho fome. Sinto um desejo a crescer nas mãos. Acho que prefiro colher frutos do pomar. Das romãs, sugo o primeiro elixir do dia, como se fosse o último da vida desse arbusto florido.
- Os meus pés dão sinais de um cansaço estranho, como se o meu corpo os largasse, condenando-os aos subúrbios de um céu a preto e branco.
- Enquanto isso, o meu corpo assume-se esquartejado, resistindo somente a alma, como se fosse a casa de Deus.
- O meu coração dá sinais de euforia, enquanto tombadas, as romãs se achegam perto da boca.
- Procuro rimas para um poema sem voz.
- Nada me importa, desde que sejam libertas todas as aspas que alguns poetas têm ainda presas, na garganta.
- Não, não sou poeta, escrevo poemas, dizes?
Epifania (pseudónimo)
Sombra
Não me queiras mal
que eu também não
Não te sinto perto
nem longe
transferência incolor de néons
cintilante desvio de vidas passadas
Sombra...sombra...sempre tu
equivoco rastejante
fria
madrugada além do dia
não me digas nada hoje
talvez amanhã sejas poema
um corpo
a alma que sorri
Não sei como avançar sem te levar
sombra inquieta
melódica
metódica
amante da noite
rastro de sangue
quebranto de um santo
ainda vivo
Herege…herege…herege
é este pecado meu
Não me queiras mal
que eu também não
o vento, agora companheiro
varre as sombras dos caminhos…
Guia incompleto
replecto de mistérios
não me sei noite
nesse cruzamento de dados...
não me sei dia
nesse limiar da tristeza
No limite serei eternamente nós
sabias disto
ser um dos maiores… nós?
Não….
decerto não
eu e aquela sensação
clareza de um rio veloz
corrente insidiosa
toma-me…inerte…
sempre inerte este invólucro da alma
E tu, sombra
que vives à sombra de mim
pára
não me afrontes
enquanto durmo
Que sonho
Dakini, pseudônimo