e sofregamente, engolia o silêncio
Mastigava em seco
as imagens rebuscadas
num dia sóbrio
Era o dia da sagração dos eleitos
mas, pecadores em dia de jejum
Ajoelhava-se perante
o mesmo cálice
erguido em jeito de oração
Mirava-se naquele leito de águas paradas
com todos os nomes
rebuscados e santificados
Aguardava ainda por novos ventos
esboçados com a pena gasta
e cansada
Chegara por fim o momento
que humildemente
lhe fez frente à tez morena
A aridez que descia do alto
toldava-lhe os movimentos inventados
num molde inexpressivo
Humanamente desenraizado
sem saber como sorrir
cerrava os dentes
enquanto mordia ainda
o sabor adocicado de um dia fértil
de espanto
Dolores Marques (Dakini)