Auto-retrato (detalhe), Francisco José Resende, 1860. Museu Nacional de Soares dos Reis |
Numerados, descritos, datados, com dimensões e valor base de licitação:
10 — À miséria. Ao centro uma mulher sentada dando o seio a uma creança, â direita sentada e encostada á mulher outra creança, no primeiro plano deitada no chão com a cabeça junto aos pés da mulher uma outra creança. Pintado sobre tella, assignado Rezende Porto 1855, escola portugueza, largura 1,18 altura 1,50 — 60$500.
18 — Retratos de Rezende (auctor) e Pinto da Costa (meias figuras), assignado Rezende 1851, escola portugueza, largura 0,83 altura 1,08 — 27$000.
27 — Ovarina tendo o braço direito apoiado a um cesto. Pintado sobre tella, assignado F. Rezende 1860, escola portugueza, largura 0,98 altura 1,30 — 60$000.
28 — Lavadeira (arredores do Porto) fundo paysagem. Pintado sobre tella, assignado F. Rezende 1852, escola portugueza, largura 1,06 altura 1,48 — 60$000.
29 — Ovarina tendo um cesto com sardinhas descançado sobre a perna. Pintado sobre tella, escola portugueza, assignado F. Rezende 1851, largura 1,01 altura 1 ,30 — 60$000.
372 — Lagrimas de mãe. Pintado sobre tella, escola portugueza, assignado F. J. Rezende 1881, largura 0,53 altura 0,67 — 13$500.
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Francisco Jose Resende nasceu na cidade do Porto, em 9 de dezembro de 1825. Entrou para a Academia de Belas Artes com dezasseis anos incompletos e frequentou este estabelecimento de ensino ate finais da década de quarenta.
Teve como Professores de Pintura, Joaquim Rodrigues Braga e Domingos Pereira de Carvalho e de Desenho, Tadeu Maria de Almeida Furtado e Francisco Antonio da Silva Oeirense. Porem, os ensinamentos que o levaram a tornar-se numa das principals flguras da pintura portuense do século XIX, obteve-os fora da Academia.
Na verdade, foi no atelier do suíço Augusto Roquemont que Resende aprendeu a compor com imaginação, modelar com vigor e a derramar sobre a paleta a magia das tonalidades quentes. Foi tambem Roquemont que incutiu a Resende o mais desvairado entusiasmo pela temática dos costumes populares.
A caminho do mercado, Francisco José Resende, 1859. Cabral Moncada Leilões |
O quadro "Vareira vendendo sardinhas" que Resende expos na trienal da Academia de Belas Artes de 1851 [com outras nove telas] e o exemplo mais perfeito da influencia que sobre si exerceu o mestre suiço. Resende obteria com esta tela o seu primeiro grande exito publico. (1)
No
início de 1852, após a morte de Roquemont, Resende fez-se representar de joelhos, junto à sua campa, chorando. Não obstante, a perda do seu mentor não o fez descurar a carreira. Aproveitando a passagem da família real pelo Porto, foi apresentado a D. Fernando II no dia 4 de maio, no Palácio das Carrancas, conhecido mecenas e colecionador de arte. Nessa ocasião ofereceu-lhe várias obras, entre as quais se contava a "Vareira", e do rei português recebeu elogios sobre o seu talento e a promessa de apadrinhar a continuação dos seus estudos no estrangeiro.
Efetivamente, depois da exibição pública de "Camponesa dos Carvalhos" no Museu Allen [Museu da Restauração], em setembro daquele ano, o rei cumpriu a sua promessa ao conceder ao pintor a tão desejada pensão.
Em 1853, Resende regeu ainda as cadeiras de Modelo Vivo e de Pintura Histórica (fevereiro a Junho), pintou o retrato de José Vitorino Damásio, fundador da Associação Industrial
Portuense a pedido desta instituição e, finalmente, a 12 de Julho partiu para Paris.
Durante a viagem visitou o Museu de Marselha. À chegada a Paris procurou um bom professor de Pintura, tendo optado por Adolphe Yvon (1817-1893), reputado pintor que o aceitou como discípulo. Infelizmente, a estadia na capital francesa foi de curta duração pois uma nevralgia cerebral obrigou-o a regressar ao Porto em novembro de 1853.
Restabelecida a saúde voltou a Paris, a 11 de maio de 1854. Durante esta segunda estada parisiense prosseguiu as aulas de desenho com Yvon, copiou quadros do Louvre, em particular do pintor flamengo Rubens, e viajou até Londres.
Em setembro de 1855 regressou ao Porto, para retomar o seu lugar na APBA e continuar a pintar. Porém, o seu estilo mudara e o pintor parecia sem rumo. Sem a orientação de um mestre, entregou-se a duvidosas experiências pictóricas.
Durante o ano de 1857 regeu a Aula do Nu na APBA e voltou a expor pinturas na trienal da APBA e, pela primeira vez, esculturas ("Mendigo" e "Auto-retrato").
Auto-retrato, Francisco José Resende, 1860. Museu Nacional de Soares dos Reis |
Em abril de 1858 partiu para Lisboa. Na bagagem levava os quadros "Miséria" e "Tasso no Hospital", para o seu mecenas. D. Fernando, imune à polémica gerada em torno de algumas obras do pintor, recebeu-o efusivamente e ofereceu-lhe um botão de camisa com um brilhante.
No ano seguinte, Francisco José Resende pintou os retratos do Conde de Ferreira, de D. Pedro V e de D. Fernando e publicou a sua primeira crítica de arte na edição de 25 de julho do "Eco Popular".
Durante os anos sessenta participou em diversos certames artísticos, como na Exposição Industrial Portuense (1861), nas exposições trienais da APBA (1860, 1863 e 1866), no Salão da Promotora (1866 e 1868) e na Exposição Internacional do Porto (1865) e esteve representado na Exposição Universal de Paris de 1876.
Visitou Lisboa no primeiro trimestre de 1861, onde expôs "Castanheira do Reimão", obra destinada a D. Pedro V, e a "Vareira", a D. Fernando. Este, ao receber a pintura, felicitou o artista, afirmando tratar-se do seu melhor trabalho, e beijou a sua filha Claire, que o acompanhava.
Varina e pescador, Francisco José Resende, 1859. Cabral Moncada Leilões |
Francisco José Resende viajou por Londres,
pela Alemanha, França e Bélgica durante o ano de 1862. Regeu a Aula de
Pintura (1869), pintou, entre outros, o elogiado retrato de D. Luís I,
para a Tribuna do Teatro de S. João, e a "Lavradeira dos Carvalhos", que
ofereceu ao príncipe Humberto de Saboia, em 1862. Escreveu sobre as
exposições que visitou e nas quais participou e para os jornais
"Comércio do Porto" e "Diário Mercantil".
Apesar de ser um artista algo controverso, Resende era indiscutivelmente uma figura popular, distinta pelo seu aspeto romântico e que, estranhamente, se assumia como um abnegado pai solteiro, muito bem cotado, sobretudo na cena artística do Porto. (2)
Entretanto, no final dos anos setenta, com a eclosão do Naturalismo, a pintura de Resende começa a passar de moda. Em 1882, o artista deixa o professorado e viaja regularmente pela Europa, apesar do agravamento do seu estado de saude. Sobram dessas aventuras, muitos desenhos e esquissos, onde a vivacidade do trago, quase explosiva, encanta por aliar a síntese gráfica, uma poderosa segurança descritiva.
Em 1891 procura atenuar os seus padecimentos com uma cura termal no Geres. As melhoras, porem, são efémeras. Dois anos mais tarde, num dia triste de Outono, Resende deixa o mundo para sempre. (3)
Francisco José Resende havia sido um
pintor popular e conservador, sempre fiel à pintura romântica, e que,
ironicamente, apesar de não gostar de pintar retratos, o fez com muita
frequência durante toda a sua carreira para encomendadores privados e
instituições religiosas e públicas (misericórdias, irmandades, escolas e
paços dos concelhos).
Amai-vos uns aos outros, Francisco José Resende (MNSR). Arquivo Municipal do Porto |
Seis anos após a morte do artista, Claire, sua filha, doou a tela "Amai-vos uns aos outros" à Academia Portuense de Belas Artes, quadro que hoje integra o acervo do Museu Nacional de Soares dos Reis. (4)
(1) Natália Marinho Ferreira-Alves, Dicionario de Artistas e Artifices do Norte de Portugal
(2) Francisco José Resende, Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto
(3) Natália Marinho Ferreira-Alves, Idem
(4) Francisco José Resende, Idem
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Francisco José Rezende, Fallecido em 30 de Novembro de 1893, O Occidente n.° 541, 1 de janeiro de 1894