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quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A banhos no Tejo, a Deusa dos Mares

A faculdade portuguesa recomenda os banhos para todos os casos de queixas e males. Os homens despem-se na parte de vante do barco, vestem calções que vão abaixo do joelho e cobrem-se com um casaco comprido, antes de se sentarem na amurada do barco para entrarem dentro de água. Quando as senhoras anunciam que estão prontas eles ajudam-nas a entrar no rio, pegando-lhes nas mãos enquanto elas descem pelas pequenas escadas. Depois, entre gritos e chapinhadas, o divertimento é geral. Uma piada comum, conta que uma senhora atarracada e gorda, uma visão habitual, quase ia virando o barco quando descia.

Banhos no Tejo, A.P.D.G., Sketches of Portuguese life (...).
Imagem: Internet Archive

Quando os barcos do banho são numerosos, ao longo da praia, não raramente vi o Regimento de Cavalaria de Alcântara receber ordem de tomar banho. Então, é vê-los entrar na água, e completamente despidos com os seus  cavalos, nadar por entre os banhistas, causando-lhes o maior desconforto [...] (1)

Regimento de Cavalaria de Alcântara, William Beckford, 1808-1809.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

O Administrador dos banhos da barca do Hiate, que está defronte do Caes das Columnas, participa ao público que de manhã os banhos de 200 réis, são de 180 réis, e os de 160 réis são de 120 réis, e de tarde depois da 5 horas, são de 40 réis de menos por cada banho, sem que seja necessário esperar por companheiro para entrar no banho. 

A barca tem para melhor cómodo do público dois botes com os seus letreiros que dizem = Bote da barca dos banhos = Além destas commodidades, e de outras, que na barca se saberão, haverá bebidas e comer de todas as qualidades, por preços cómmodos. (2)

No dia 15 do corrente mez se põem a barca dos banhos, contruida sobre o hiate, defronte do Terreiro do Paço; reformada de banhos e com nova construcção para receberem toda a força da corrente. (3)

Vista do Tejo e da Praça do Comércio em 1848, gravura em madeira fotografada por Bárcia (AML).
Imagem: O cais da Praça do Comércio e as suas colunas...

De toda a parte podiam partir botes e vapores que cruzassem entre os logares de recreio, onde houvesse hoteis, e restaurantes, onde pululassem a vida, a alegria, e os folguedos.

Em vez do concurso festivo de barcos empavezados, de chalupas casquilhadas e de vapores emplumados de fumo, de musicas e de orchestras casando os seus rithmos e melopéas com o marulhar das vagas; em vez dos mil rumores. de uma grande cidade a condensaram-se por algumas horas ua amplidão magestosa e poética de um dos rios mais soberbos da Europa, estamos condemnados ao supplicio de contemplar diariamente no meio das aguas azuladas do rio, que corre entre areias de ouro os estafermos fluctuantes da "Deusa dos Mares e da Flor do Tejo"!

Deusa dos mares, barca dos banhos no rio Tejo.
Imagem: Lisboa de Antigamente

Como aquelles abrutados cetáceos de pau carunchoso ostentam com a indifferençá e o egoismo da decrepidez a sua crusta encorreada, vaidosos do acolherem dentro de si tantas formosuras femininas, — que ali correm a banhar-se dentro de cells soturnas, escondidas sob o velho cavername e copiadas das penitenciárias primitivas — Amphitrites prosaicas, que parecem tripudiar naquelles churriões immoveís de Neptuno, entre algas e alforrecas!

Nas manhãs de verão e de outomno é uma dôr d'alma contemplar as gentis caravanas,que demandam aquellas regiões sinistras, fragmentos desprendidos do "Inferno" do Dante. Tanta lida, tantas fadigas, para alcançarem o phantasma fugitivo de um banho tomado no fundo de um antro fluctuante, visitado a miúdo pela onda impura das matérias organicas, que se espanejam na corrente! Que ironia de banhos hygienicos infligida a uma povoação inteira, no bôjo d'aquellas presigangas, que são, em pleno Tejo, um arremedo das prisões marmertinas, ou dos Chambos de Veneza.

Black Horse Square (Praça do Comércio), T. W. Langton, década de 1870.
Imagem: Baixa Pombalina 250 years of images

Mas a illusão dos banhos, em taes condições, não é senão a parodia da illusão campestre que desvaira a muita gente, que emigra da cidade para buscar e gozar o campo onde não ha d'elle o menor ves- tígio! A não serem os oásis verdejantes de Cintra e de Bellas, onde ha aguas frias e crystalinas, som- bras e espessuras de arvores e de mattos, a maior parte dos retiros aldeãos correm o grave perigo de se parecerem com uma charneca árida e nua de vegetação.


Praça do Commercio vista do Tejo (fotografia de Eduardo Portugal), ed. Costa 773, c. 1900.
Imagem: Delcampe

É um campo conjectural, difficil de adivinhar-se, o que se espalha em redor da cidade. Exigem grande dispêndio de imaginação os prados e os arvoredos que não avista o olhar mais perscrutador. Apezar d'isso, os omnibus e as carruagens andam numa roda viva, atarefados no empenho de trazerem e levarem passageiros, cheios de calma e de poeira, que se incumbem benevolamente de acolher no fato e nos cabellos a caliça do mac-adam da estrada! E cháma-se a isto estar no campo! e todas estas fadigas de viaçao attrahem como outras tantas sereias os que só vêem na cidade um brazeiro ardente, um oceano de poeira! Mas quem nos salva senão a fé? (4)

(1) A.P.D.G., Sketches of portuguese life, manners, costume and character, London, Geo. B. Wittaker, 1826
(2) Gazeta de Lisboa, 22 de julho de 1809
(3) Gazeta de Lisboa, 13 de julo de 1810
(4) Visconde de Benalcanfor, Diário Illustrado, 31 de julho de 1874

Leitura relacionada:
Lisboa de Antigamente
Alexandra de Carvalho Antunes, O cais da Praça do Comércio e as suas colunas...
Mariana J. Pimentel Pires, Água e luz — o imaginário dos banhos
A. Vieira da Silva, Barcas de banhos do Tejo

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Iconografia de Lisboa (9.ª parte)

Ainda no último quartel do século XVIII foi Lisboa visitada por vários artistas e sábios estrangeiros que vieram a Espanha e a Portugal, em viagem de recreio ou científica, para colher elementos que interessavam aos seus estudos ou aos seus espíritos.

A View of the PRAÇA DO COMMERCIO at LISBON, taken from the Tagus : the original Drawing by Noel in the possession of Gerard de Visme Esq.r / Drawn by Noel ; Engraved by Wells.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal
Navios e barcos, num deles carregando um soldado e um padre, aproximam o porto de Lisboa no Rio Tejo. À esquerda a Praça do Comércio com a estátua equestre de D. José I. Ao centro vêem-se as torres da Sé acima dos telhados e ao fundo o castelo de S. Jorge sobre uma colina.

in British Library
Citaremos os seguintes artistas:

a) — Jean Alexandre Noël, pintor francês de marinhas e paisagens, que por várias vezes veio a Lisboa, uma das quais em 1780, onde pintou uma vista da "Torre de Belém", passada para gravura em cobre por Gaspar Fróis Machado cm 1783, como disse;

1500 Almada concelho Arte Gravura Alexandre Jean Noel Torre de Belem 02.jpg

8 quadros com diferentes vistas, das quais 5 de Lisboa, mandadas fazer por um rico inglês Gerard de Visme, e gravadas a água-tinta por J. Wells, de 1793 a 1795;

The Harbour of Lisbon, segundo Alexandre Jean Noël, 1796.

uma vista panorâmica de Lisboa e seu porto, gravada em cobre por Alix; além de vários desenhos a lápis, que se conservam num álbum no Museu de Arte Antiga.

Vista da parte ocidental de Lisboa, Alexandre Jean Noel, início da década de 1790
Imagem: FRESS

b) — Jean Baptista Pillement, que algumas temporadas veio passar em Lisboa, a última das quais em 1780;

Vista de Lisboa, Jean Baptiste Pillement.
Imagem: Viático de Vagamundo

c) — o pintor Nicolas [Louis Albert] Delarive [Delerive] (1755-1813);

Lisboa, Feira da Ladra na Praça da Alegria, Nicolas Delarive, aspecto na década de 1810.
Imagem: MNAA

d) e) — O duque de Chatelet, que viajou por Portugal em 1777, e o arquitecto James Murphy, que aqui esteve também, deixaram nas relações impressas das suas viagens, as vistas de alguns trechos olisiponenses.

Recuperando alguns dos artigos já publicados, pela nossa parte, faremos a propósito algumas referências:

a) — Rev. William Morgan Kinsey, Portugal Illustrated in a series of letters, 1827;

Belem Castle, Rev. William Morgan Kinsey, Portugal Illustrated in a series of letters, 1827.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

b) — Robert Batty (1789 – 1848), ilustrador e topógrafo que serviu na Guerra Peninsular, 1809 - 1814, e que, como Ajudante de Campo do General William Henry Clinton, regressou a Portugal (1826 - 1827). Foi o  autor de uma série de vistas de lisboa publicadas em Select Views of some of the Principal Cities of Europe, London, Moon, Boys, and Graves, 1832.

Lisbon from Almada, Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830.

Select Views of some of the Principal Cities of Europe inclui, por esta ordem, as gravuras "Torre de Belém", "Convento de S. Jerónimo em Belém", "Lisboa vista da rua de S. Miguel",

Lisbon from the Rua de San Miguel, Drawn by Lt. Col. Batty, 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

"Lisboa vista da colina da capela de N.a Senhora do Monte", "O Largo do Pelourinho" e "Lisboa vista de Almada".

Lisbon from the chapel hill of Nossa Senhora do Monte, Drawn by Lt. Col. Batty, 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Como na abordagem, prévia, tratada no artigo Originais de Roberto Batty, sabemos ainda existir outras imagens, que representam, o Convento de N.a Senhora da Graça (três versões) e a Torre do Bugio.

Como consequência das agitações políticas que em Portugal perturbaram toda a sua vida nos princípios do século XIX, o renascimento artístico que com bons auspícios se havia inaugurado, decaiu consideravelmente, e, pelo que respeita a iconografia de Lisboa, apenas podemos citar as estampas que acompanham os 2 volumes do "Jornal de Bellas Artes ou Mnémosine Lusitana" (1816/17), gravuras em cobre de P. A. Cavroé e desenhos de Fonseca filho (António Manuel da Fonseca).

Mas devido à descoberta do processo litográfico e à invenção da propaganda noticiosa, política e artística, que, por meio de publicações periódicas, revistas e jornais ilustrados, cerca do ano 1830 começou em Inglaterra, França, Alemanha, Itália, etc., foram estes métodos adoptados entre nós, nos princípios do segundo quartel do dito século, surgindo, e aumentando no decorrer do mesmo, uma plêiade de artistas nacionais, especializados em cada um dos processos de reprodução de desenhos, cujo número, na representação de aspectos da cidade, de edifícios, e de outros objectos com ela relacionados, ultrapassou rapidamente em muito o dos estrangeiros que também se ocuparam dos mesmos assuntos olisiponenses, ao contrário do que acontecera anteriormente.

Vista oriental de Lisboa tomada do jardim de S. Pedro de Alcântara, litografia Sousa e Barreto, 1844.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Cremos que as primeiras obras periódicas em que se publicaram estampas de Lisboa, depois da "Mnémosine Lusitana" (1816/17), foram principalmente as seguintes:

"O Recreio" (1835 a 1842), com litografias não assinadas;
"Jornal Encyclopedico" (1836/37), com litografias;
"O Panorama" (1837 a 1868), com gravuras em madeira.

A gravura em cobre foi abandonada quase por completo nestas publicações periódicas (jornais, como lhes chamavam, imitando a denominação francesa), e a gravura em madeira e a litografia, ao principio bastante toscas, foram-se desenvolvendo paralelamente, podendo dizer-se que as primeiras que aparecem mais correctas são: as de A Illustração (1852), e do semanário A Illustração Luso-Brazileira (1856 a 1859), pelo que respeita a gravuras em madeira, desenhadas ou feitas por Manuel Bordalo Pinheiro, Nogueira da Silva, Barbosa Lima, Caetano Alberto Nunes, Baracho, João Pedroso, Coelho pai e filho, Gomes da Silva, Flora, etc., e as da Illustração Popular (1866 a 1870), pelo que se refere a litografias, especialmente devidas aos artistas Legrand e Michellis.

Nas publicações periódicas até ao fim do século XIX a perfeição das gravuras em madeira atingiu o seu auge na ilustração do quinzenário O Occidente, que, sob a direcção de Manuel de Macedo, redador e desenhador, e de Caetano Alberto da Silva, gravador, foi entre nós, desde 1878, e durante 38 anos, o repositório mais perfeito dos principais acontecimentos nacionais e estrangeiros, adornado sempre com estampas, entre as quais são numerosas as que tratam de assuntos de Lisboa, geralmente copiadas do natural pelos desenhadores Luciano Freire, Cristino da Silva e outros, e gravadas em madeira por Caetano Alberto da Silva, Cazellas, etc.

Vista panorâmica de Lisboa tomada de Almada (recomposição), água-forte, Isaías Newton (1838-1921).
Imagem: Museu da Cidade de Lisboa

Muitas das revistas periódicas ilustradas nacionais tiveram uma vida pouco duradoura, devido à penúria de fundos para a sua publicação, reveladora da falta de apreço ou de preparação do público para tais leituras.

No estrangeiro, pelo contrário, as revistas ilustradas foram, no século XIX, muito numerosas, e tiveram longa existência, mas pouco se ocuparam de vistas e monumentos de Lisboa, havendo exibido principalmente vistas dos acontecimentos mais importantes sucedidos nesta cidade, daqui comunicados em esboços ou fotografias pelos artistas seus correspondentes.

Uma das aplicações mais importantes das estampas foi para ilustração de livros, quer em gravuras impressas com os textos, quer em litografias em folhas soltas intercaladas no texto.

Afora a sua inserção em livros e em revistas, foram produzidas durante o século XIX muitas estampas de Lisboa destinadas a quadros, tais como a "Vista do Convento de S.to Jerónimo de Belém e Da Barra de Lisboa" e a "Vista da Cidade de Lisboa Tomada da Junqueira", por Henrique L'Evêque [Henry], ou constituindo colecções ou albuns de vistas, acompanhadas ou não com um texto descritivo, não exclusivamente de Lisboa, mas juntamente com as de outras terras;

tal era, por exemplo, entre as nacionais, a "Collecção de Paizagens e Monumentos de Portugal", editada e litografada por João Pedro Monteiro, em que colaborou também Tomás J. d'Anunciação.

Várias medalhas se cunharam durante o século XIX, comemorativas de factos passados em Lisboa, e que por isso fazem parte da medalhística olisiponiana.

Descoberta a fotografia pelos meados do século XIX, algumas revistas e livros passaram a ser ilustrados com fotografias, ou sós, como, por exemplo, "Monumentos Nacionais" (1868), por J. da S. [José da Silva] Mendes Leal, ou conjuntamente com gravura, ou litografias, como: "Archivo de Architectura Civil" (1865). Ambas estas obras, assim oomo algumas outras mais, contêm trechos de Lisboa.

Vários fotógrafos, na 2.a metade do século XIX, tiraram [tiravam] e vendiam vistas fotográficas de terras e edifícios de Portugal, e entre elas figurava sempre Lisboa.

Baixa e Rio Tejo (montagem), Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Os mais conhecidos foram Francisco [Francesco] Rocchini, que desde 1870 fotografou mais de 300 vistas panorâmicas e de edifícios e monumentos de Lisboa, coladas em cartões com os títulos impressos;

Praça do Comércio e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

A. S. Fonseca, Largo de S. João da Praça, de que conhecemos 20 fotografias de Lisboa;

e Moreira, Rua da Alegria, que apresentou 42, pelo menos, igualmente coladas em cartolina, e com os títulos impressos.

Também havia, de fabricação estrangeira, álbuns com fotografias de Lisboa, assim como litografias a uma ou mais cores.

No mercado apareceram colecções de vistas fotográficas estereoscópicas, tanto de publicação nacional como estrangeira.

Descobertos, no último quartel do século XIX, os processos fotomecânicos para a feitura de matrizes para a reprodução de estampas: fotolitografia, zincogravura, fotogravura, fototipia, cromolitografia, etc. que simplificaram e embarateceram as ilustrações de livros e de publicações periódicas, fizeram eles pôr de parte, quase por completo, os antigos processos de gravura e estampagem, dando também origem ao aparecimento de muitos objectos de preço acessível às pequenas bolsas, com vistas de Lisboa e de outras terras do pais, tais como albuns de propaganda de Portugal, bilhetes postais ilustrados, caixas de fósforos, selos de propaganda, marcas industriais e comerciais, anúncios, estampas litografadas a cores destinadas para quadros, etc.

Panorama de Lisboa, ed. Tabacaria Costa, c. 1900.
Imagem: Bosspostcard

Nestes géneros tem florescido, desde o meado do século XIX, mas principalmente no último quartel, continuando-se pelo corrente [XX], uma numerosa série de brilhantes artistas, que muito têm honrado a arte nacional, e cujos nomes têm ultrapassado as nossas fronteiras, emparelhando com os dos melhores e mais afamados artistas estrangeiros.

Panorama de Lisboa, ed. A. Myre (detalhe), c. 1900.
Imagem: Delcampe

Além das vistas de Lisboa, dos seus monumentos e trechos panorâmicos, impressos ou estampados em papel, pergaminho e tecidos, muitos aspectos de Lisboa têm sido produzidos, desde o século XVI, em quadros a óleo ou aguarela, existentes em museus ou em casas de particulares, em objectos de cerâmica, em painéis de azulejo, em galvanoplastia, em artigos cunhados, etc.

Muitos são desconhecidos do público, por constituírem documentos únicos, guardados pelos seus proprietários, sendo quase impossivel obter de todos eles esclarecimentos completos.

A maioria das estampas, tanto as antigas como as modernas, não é datada, e algumas não mencionam o nome do artista que as produziu, o qual muitas vezes não é português.

Quando o citado ou o signatário é estrangeiro, nem sempre se conhecem os dados biográficos ou a época em que exerceu a sua actividade artística.
Todas estas faltas tomam muito difícil, ou mesmo impossível organizar a seriação cronológica das estampas com vistas panorâmicas ou dos monumentos de Lisboa.

Uma das outras dificuldades com que se luta entre nós para se obter uma lista ou relação iconográfica de Lisboa que se aproxime bastante da perfeição, é a falta, nas nossas bibliotecas públicas, dos livros a que pertencem muitas estampas que se encontram avulsas no mercado. 

Essa falta diligenciámos supri-la recorrendo a pedidos de informação no estrangeiro, no que nem sempre fomos bem sucedidos.

Durante o século XX a abundância de estampas de Lisboa, em livros, revistas, jornais e folhas soltas, assim como em quadros a óleo, a aguarela e a pastel, é tão grande, que a sua inventariação e classificação desafia a paciência mais beneditina, podendo sem receio de desmentido afirmar-se que seria trabalho para uma vida inteira, e a lista que se organizasse ficaria necessariamente imperfeita.

Praça do Comércio, comandante Cyrne de Castro aos comandos do seu Curtiss "Helldiver", 1955.
Imagem: Na Rota do Yankee Clipper

Essa abundância é devida não só à grande facilidade da fabricação de matrizes para tal produção, mas ao maior grau de apreço por esta manifestação artística, que o progresso da cultura geral do povo tem criado e estimulado. (1)


(1) Vieira da Siva, Augusto, Iconografia de Lisboa, Revista Municipal n.° 32, Câmara Municipal de Lisboa, 1947
 
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Panorâmica de Lisboa em 1763

Leitura adicional:
Lisboa do século XVII "a mais deliciosa terra do mundo"