Tenho preferido os silêncios. Depois de tanto falar o que devo, o que não quero... experimento me calar. Agora, quero essa espécie de mudez consentida por fora e por dentro. Chega de gritar aos quatro ventos o que foge dos meus pensamentos. Chega de falar como especialista. Confesso: eu não sei nada. Sobre nada. Estou em silêncio para ouvir o nada que está sendo dito pelos outros. Quero ser vácuo, onde o som não se propaga. Cansei de ecoar as coisas que eu não entendo. No silêncio, (eu estou aprendendo) mora a paz. Nas palavras não ditas se escondem os mistérios. Eu não sei nada. É delírio falar enquanto se está sonhando. É quase um pecado. Vou deixar o sonho vir e contar a sua história. Depois eu falo. Ou não. Tenho perdido a vontade de falar. Tenho preferido os silêncios.
Vez em quando a vida, alguém ou até a gente mesmo fecha uma porta e depois, por insegurança, medo, fraqueza (ou muito provavelmente tudo isso junto) voltamos para conferir se está realmente trancada ou se existe a possibilidade de entrarmos de novo e continuarmos ali, jogados no sofá (acomodados).
Encontrar a porta fechada é doloroso, mas é reconfortante também. É um alívio saber que não há mais nada a fazer a não ser ir embora sem o menor receio de estar deixando algo para ser vivido.
Uma porta fechada significa que é hora de encontrar outra aberta. Significa uma oportunidade de viver outras coisas, de adentrar outros cômodos. É a certeza de que deve-se esquecer as chaves extras, não tocar a campainha insistentemente.
Com a porta trancada, a gente pode ir sem dor e cheio de coragem. Nossas lembranças estarão guardadas para sempre do lado de dentro e lá fora os postes iluminam quem sai em busca de um lugar para ser bem-vindo. As ruas estão cheias de pessoas que desceram as escadas sem olhar para trás.
Há portas abrindo e fechando o tempo todo e, em algum momento, uma casa aconchegante vai estar de portas abertas nos convidando a entrar.
Lição número 1 para ser feliz de verdade: pare de achar que coisas mais ou menos são boas. Pessoas, sentimentos mais ou menos serão sempre mais ou menos. O que é bom nasce bom.