29 de jul. de 2010

Relatividade

Dois ou três comprimidos a mais naquela caixa e ela não estaria aqui hoje comemorando seu trigésimo aniversário.
Observando-a daqui, reparo como ela sorri em paz. Será que ela pensa em desistir agora? E quem é louco de interromper a felicidade? A dor sim, queremos conter a todo custo. Seja com comprimidos, bebidas, lençóis, projéteis de chumbo.
Todos os dias alguém, em algum lugar do mundo, contém a sua dor.
Só dois ou três comprimidos a mais, e ela não estaria aqui...
Pergunto-me se à noite, na solidão de sua companhia, ela se arrepende, se dá conta do que teria perdido caso tivesse a quantia exata na cartela para conter a dor.
Formatura, o nascimento da sobrinha, a viagem para a Europa, o encontro com seu grande amor, tudo veio depois... tudo não teria chegado.
Por que nos momentos de desespero não nos damos conta disso? Por que não pensamos: “é só uma fase... vai passar”?
Só dois ou três comprimidos a menos e eis um milagre, segundo os cálculos do médico plantonista. E ela parece tão satisfeita com o rumo que a vida tomou. Ah! Se a gente tivesse mais paciência e menos ansiedade.
Olho para sua mãe. Ela a encara fascinada, apaixonada pelo ser que trouxe ao mundo, que deu a vida que ela teria ceifado não fosse dois ou três comprimidos a menos quando descobriu a gravidez.
Ainda bem que nossas tentativas são passíveis de falhas. Observando este salão cheio de vida, percebo o quando ela é relativa... num momento de desespero, por dois ou três comprimidos a mais ou a menos, podemos pôr tudo a perder ou ganhar uma segunda chance. Só alguns gramas para muda tudo: um destino, uma existência, uma família, a felicidade do outro, a gente.

Sabrina Davanzo

26 de jul. de 2010

No escuro



O que faz o girassol depois que o sol se põe?


Sabrina Davanzo

Interceção

Estou diante de espaços em branco tentando preencher com palavras a falta que você me faz.
Sou repetitiva, melancólica, reticente... É porque hoje o que me consome não são frases de efeito, mas sua ausência hiperbólica.
Ainda bem que inventaram a escrita. Eu traduzo a minha dor. Eu explico por a mais b eu e você.

Sabrina Davanzo

23 de jul. de 2010

Estimação

Ela é um bichinho solitário e arisco que amansa com algum carinho e algodão doce com balão na ponta.
E foi o que ele fez. Espertinho, foi se aproximando com uma coisa em cada mão e logo a tinha esparramada em seu colo.
Depois que conquistou sua confiança, a novidade passou e ele a deixou meio de lado, emboladinha em um canto com o balão que guardava como lembrança do dia em que ele chegou.

Sabrina Davanzo

22 de jul. de 2010

Depois da chuva


E várias cores vieram lá do infinito, cruzaram o céu e formaram um imenso arco multicolor que mais parecia um grande portal de entrada para algum lugar mágico e calmo. Ela caminhou feliz em sua direção com a certeza de que a todos que passam pela tempestade é garantido o direito de conhecer aquele paraíso.

Sabrina Davanzo

21 de jul. de 2010

Das coisas que só ele sabe

Me leva para casa, me leva para lua
se eu sou tua, me coloca perto de ti.
Que vida é essa que dói sem doer?
Me leva pra casa, me leva pra junto de você.
O que será que tenho de aprender?
Acho que não tenho conserto
sou um vazo oco, que não ecoa, que não ressoa.
Onde foi parar a felicidade que eu sentia?
Por que eu voltei?
O que tem para acontecer?
Eu não quero ficar...
Me leva pra casa, me deixa recomeçar
me tira desse vazio, desse frio.
Por que tive que reabrir os olhos?
Por quê?
O que ainda está por vir?
Eu não quero ficar...
Eu me lembro bem daquelas paredes frias
e de como foi voltar aqui...

Sabrina Davanzo

20 de jul. de 2010

Sinal



Se achas que mereço ser feliz
hoje a noite
quando para o céu eu olhar
faça piscar uma de tuas estrelas
e eu saberei que é o teu sim

Sabrina Davanzo

16 de jul. de 2010

(des) amor



Se não me considerassem louca, eu sairia agora gritando por toda a cidade. Gritaria até me doer a garganta, sumir a voz, estourar o pulmão. Ensurdeceria meus pensamentos descabidos. Pularia da ponte, desse trem desgovernado.
Agora dei pra engolir o choro. As lágrimas se tornam sólidas e descem entalando o diafragma. Param entre o peito e o estômago. Viram úlcera. E doem. E queimam. E pesam.
Quero prometer aqui, diante da minha fraqueza, que nunca mais vou me permitir tocar em teu nome. Enquanto durar esse desapego, vou ter sempre esse apelo surdo no escuro dos meu olhos, olhos que você cegou: “NÃO É JUSTO!” Ninguém deve gostar sozinho. Todo sentimento deveria acabar ao mesmo tempo. Uma mão nunca deveria esperar pela outra.
Eu DESamo você.


Sabrina Davanzo

15 de jul. de 2010

Dói


Dor mais doída desse mundo
é ter amor pra dar
pra alguém que não quer te amar
É assim:
de se perder o chão
o ar
É como ir pela contramão
dar uma facada no coração
com uma faca de serrar
Ah...
Não tem explicação não
Só peça a Deus
pra te livrar desse mal
reza noite e dia
pede pra São Sebastião
pra não te deixar amar em vão.

Sabrina Davanzo

Cavalinho de estimação


O cavalinho está preso com um cordinha a uma estaca e fica o dia inteiro marchando em círculo. Só para quando acaba a pilha ou chega a hora do vendedor ir para a casa.
Ninguém compra... a primeira vista parece tão sem graça.
Eu acho lindo e, embora não seja um brinquedo, entendo a situação do cavalinho.
Sei bem o que é estar presa a alguma coisa e não sair do lugar. Pena eu não ter a sorte do cavalinho. Não tenho um vendendor para me levar daqui. Não tenho sequer a energia que ele tem para marchar, ainda que isso não o leve a parte alguma.

Sabrina Davanzo


Ps: este brinquedinho vende perto do meu trabalho. E eu realmente queria ter um : )

Rosa dos ventos



Minha Rosa dos Ventos
de tão desorientada
despetalou-se
Não sei mais para onde ir
Quem vai me guiar?
Norte, Sul, Leste, Oeste
Onde é que isso vai dar?

Sabrina Davanzo

Para onde?


Às vezes tenho vontade de fugir.
Para onde?
Inútil.
Para qualquer lugar que eu vá,
você vai estar lá.
Vai estar aqui...
dentro de mim.


Sabrina Davanzo


12 de jul. de 2010

Catadora de conchas


Ultimamente, deu para ficar ajoelhada na beira do mar salvando as conchas que se atracam à areia. Uma a uma, devolve-lhes às ondas com medo de que fiquem ali para sempre. Quando vai entender que quem corre risco é ela? Sempre de cabeça baixa, está cada dia mais cega. Não enxerga que atrás de si o mar vai e vem o tempo todo trazendo novas conchas. Ela é que é sempre a mesma. Ela é que não sai do lugar.


Sabrina Davanzo

Passarela



Hoje me vesti com a tua ausência e saí por aí desfilando saudade de você.


Sabrina Davanzo

Santo remédio



A distância é,
para os males do coração,

tal qual o Mertiolate:
No começo, dói e arde
dá vontade de espernear.
Depois, vai ficando brando,
a gente acostuma
e entende que é para sarar.


Sabrina Davanzo

7 de jul. de 2010

Sem título


Que minhas lágrimas não sejam em vão.
Que meu sorriso volte a ser verdadeiro.
Que as sombras não ocultem o pôr do sol.
Que minha vontade se sobressaia à minha insensatez.
Que meus desejos se tornem claros para mim.
Que minha angústia seja passageira.
Que a paz se instale em meu coração.
Que eu encontre o amor e que ele me encontre.
Que as coisas ruins não passem de pesadelos.
Que as boas sejam como sonhos.
Que eu tenha sempre um porto seguro.
Que minha luta não resulte em fracasso.

Amém.

Escrito em 26/02/07

Sabrina Davanzo

Repete



- O que você disse, coração? Eu não consigo ouvir...


Sabrina Davanzo

6 de jul. de 2010

Falta

Falta meu brinquedo. Falta minha caixa de gibis da Turma da Mônica. Falta a galera da rua. Falta o meu biscoito preferido. Falta minha prima dormir na minha casa. Falta a sessão de chaves na hora do almoço. Falta a Ginástica Olímpica. Falta o Ballet. Falta a vitória. Falta o caderno de perguntas. Falta assistir Carrossel. Falta comer arroz doce no intervalo. Falta a gincana do colégio. Falta a torcida mais animada. Falta o primeiro amor. Falta o amigo que seria pra sempre. Falta o colo da minha mãe. Falta a primeira balada. Falta a primeira vodka. Falta ir à praia com a família. Falta a emoção da primeira aula na faculdade. Falta o novo amigo. Falta a festa perfeita. Falta a paixão proibida. Falta o beijo escondido. Falta a melhor viagem . Falta o que vivi. Eu cresci.

Escrito em 6/04/06

Sabrina Davanzo

Sem título



Tenho medo da solidão e sinto uma falta imensa das pessoas que amo. Faço um esforço para me adaptar à selva que virou meu mundo. Sou obrigada a matar um leão a cada dia.
Estou exausta, esgotada, esperando o destino chegar. Nem lágrimas eu tenho mais. O vento cortante as secou com pele e tudo.
Meu pranto agora é quieto, manso e, impacientemente, espera o futuro acontecer.

Escrito em 31/08/06

Sabrina Davanzo

Para um amigo


Hoje eu fui ver você, toquei na sua mão, fiquei triste e chorei. Pensei no seu sorriso e na sua careca.
Você foi guerreiro e, apesar dela ter vencido no final, você conseguiu chegar bem longe. Você venceu seus próprios medos, superou suas limitações, quis continuar quando tudo indicava que já não adiantava mais. Você foi um exemplo. Um doce, suave, e divertido exemplo.
Então tá. Qualquer coisa, eu sei onde é sua casa. Você foi morar com Deus, tenho certeza.
Te vejo na festa junina. Sempre tem. Em junho.

"A dor não é maior que a felicidade de ter conhecido você"


Escrito em 19/07/05

Para um amigo especial, que foi embora tão rápido quanto chegou em minha vida.

Sabrina Davanzo

Parágrafo um: recaída



Já tenho saudades de você, tenho e não vou mentir. Tenho saudades do que você se tornou para mim. Saudade de ser inteira e completa só por ter o teu sorriso por perto.
Saudade do tempo que a gente era amigo, você contava comigo e eu contava com você.
Hoje conto só ausências e o tempo que falta para que tudo acabe de uma vez. Chegou dezembro.. chegou o fim da adolescência.
Ainda que eu esteja distante, nossas mãos vão estar unidas embaixo da mesa brincando de quero você e não tenho coragem de dizer.

Escrito em 02/12/00


Sabrina Davanzo

Sem título


A vida da gente muda de repente
sem perceber já não existe mais eu você
A vida da gente, às vezes, não segue a corrente
machuca amigos, desfaz dos amores
não é coerente

A vida da gente é um barco sozinho
que segue por caminhos
que não conseguimos entender

Esses caminhos
muitas vezes com espinhos
ensinam como é que deve ser

Mas nós somos teimosos
queremos seguir o coração
enfiamos os pés pelas mãos
voltamos a sofrer...


Escrito em 17/07/05

Sabrina Davanzo

5 de jul. de 2010

Dois lados



Para Érika. Que, quando o dia é cinza, quer dengo.

Se todos os dias fossem azuis, como saberias que o cinza não é bom?
Há que se experimentar a dor e a alegria,
a febre e a hipotermia.
Reconhecer no próprio paladar
a diferença do doce e do amargo fel.
Rir até cair, para compreender o mau humor, o dissabor.
Há que percorrer as duas facetas da mesma existência
para, com conhecimento de causa, escolher de que lado ficar.
Isso é ser verdadeiramente humano.
Sorte ou azar?


Sabrina Davanzo

Pequena morte

Todos os dias eu morro um pouco que é para dar lugar à novas esperanças.
Meu morrer é uma forma de enterrar os sonhos velhos, há muito desgastados pelas tentativas vãs de tornarem-se realidade.
Curioso é imaginar que na mesma terra fértil que sepulto esses despojos brotam novas vontades. Sou eu querendo de novo, brincando com Morfeu.
Nesse círculo de morte e vida, aos sonhos que ultrapassam a barreira onírica atribuo o nome de conquista, realização, felicidade; Aos que perecem para sempre no vale sombrio, pura ilusão.
Há quem prefira se agarrar ao leito/jazigo deste último, mas eu não. Eu preciso respirar o acontecer e ele não se encontra nos desejos moribundos e desfalecidos.


Sabrina Davanzo

1 de jul. de 2010

Definição

Ansiedade:

Bichinho invisível,
que causa comichão,
ao percorrer todo o corpo
antes do próximo tum do coração.


Sabrina Davanzo