Para Jéssica, Paloma, Gabriela e Lilian
Em agosto decidimos comprar pacotes para uma estadia em um Spa.
“Vamos, gente! Estamos tão estressadas”, “Vai ser legal, vamos?”
Vamos. Conseguimos agendar nossa ida – horários, compromissos, agendas apertadas- só para dois meses depois.
Quanta coisa vivemos nesse tempo...
Neste fim de semana, finalmente, fizemos nossa viagem. Foi no momento em que cada uma realmente precisa estar ali. Precisava parar, refletir, respirar.
Somos cinco. Cada uma com sua história. Famílias, amores, carreiras, pontos de vista. Cada uma traz no coração alguma aflição, embora tenhamos uma vida maravilhosa.
Nós choramos. E como. Diante de nossas fraquezas, da grandeza da vida, da natureza perfeita ao nosso redor. Choramos por dentro, por fora, de olhos fechados, embaixo d’água.
Nós rimos. O tempo todo. De tudo, para tudo, como se nada fosse capaz de nos fazer infelizes.
Tivemos conversas sérias próximas à fogueira, relembrando o passado com músicas velhas na tentativa de extrair um pouco de verdade em suas letras. Era uma forma de nos definirmos. O tempo todo cada uma de nós colocava na balança os prós e os contras de nossa própria existência.
Confinadas ali, só podíamos remoer o que nos consome e tentar achar uma explicação, uma saída mais digna.
Às vezes, ouvindo alguém falar de si, passava por nossas cabeças um certo alívio de nunca ter experimentado aquilo. “Ainda bem que nunca passei por isso...” ou talvez alguma coisa próxima da gratidão... “Nossa, a situação dela é difícil. Não posso reclamar, para mim não é assim...”
O fato é que a vida nos imprime marcas e cada um se recorda muito bem de como as suas apareceram ali.
O tempo todo agradecíamos a Deus pela comida (suco de maracujá, geléia e aquele pão de queijo), pela oportunidade de conhecer um lugar tão lindo, cercado por montanhas e uma cachoeira tímida que serviu para lavar a alma (e até tomar um caldo!).
A hora passou devagar, era só um dia, mas parecia um mês. Tivemos tempo para pensar na vida, na morte das coisas que acreditamos e, (por que não?), no quanto reclamamos sem motivos.
Talvez o segredo seja estar aberta e atenta às coisas simples da vida. Enxergar cada pedra no caminho tendo a certeza de que aquele é o lugar dela... perceber os sapos minúsculos que pululam por todos os lugares na mata enorme provando que o mundo não para, desde a água da cachoeira até os nossos sentimentos, tudo está em movimento. Esse pensamento, de alguma forma, nos deixa mais leves.
Tivemos tempo de criar um roteiro de filme de terror, imaginando todos os clichês do cinema, entre gargalhadas e lágrimas de alegria. Nossa imaginação ganhou asas, mostrando que é possível nos afastarmos dos “problemas” – Sempre vai existir uma saída!
Não poderíamos ter ido outro dia. Ainda vejo as montanhas e ouço nossas conversas e conselhos.
Lá, algumas vezes nos questionamos se Deus não manda sinais, acreditamos que é no silêncio que ele nos fala e por isso tentamos desesperadamente nos calar, ficar em paz. Mas descobri que ele também fala através das pessoas que coloca ao nosso lado, fala através dos momentos felizes, dos gritos de desabafo, das risadas escandalosas que compartilhamos com elas, comendo o melhor pão de queijo do mundo.
No sábado de manhã éramos colegas de trabalho, hoje somos amigas, cúmplices de fatos importantes na vida de cada uma.
A vida muda tudo o tempo todo, afasta e aproxima, constrói e destrói. Essa grande verdade e aquelas montanhas são coisas maravilhosas de se ver.
Ps: Hortência e Hibisco eram os nomes de nossos quartos.
Sabrina Davanzo