Já Platão assumia que "o que é belo é difícil"... apesar de não ir ensaiar sobre as teorias platónicas, desse mundo das ideias que ninguém conhece, nada mais correcto do que este dito, para aplicar, no dia que é hoje, ao espectáculo que foi a minha aula.
Previa-se uma aula dificultada pelas escolhas da Professora. Apresentar, para análise, uma crónica de Lobo Antunes, a miúdos preocupados com o toque que há-de tardar, não se antevia fácil. No entanto, não gosto de facilidades. Atacámos de rajada esse texto magnífico que é "Lição de Estética". Pedi-lhes que lessem primeiro em silêncio. Primeiras reclamações; "Leia a S'tora, é melhor!", "A S'tora lê tão bem...". Resisti aos pedidos. Observei-os, enquanto mergulhavam as caras tristes na folha de papel... tão grande, pensavam decerto; ou então, não percebo nada disto... Ao fim de algum tempo, dei por finda a leitura que tinha ares de durar 'ad eternum'.
Fui perguntando aspectos simples... todos contentes, esticavam-se em braços enormes, na certeza de uma resposta. O pior veio depois, ou o melhor, para ser sincera.
O que é afinal uma lição? Qual a noção de estética defendida pelo autor? e por aí fora...
Os braços foram descaindo, inseguros... chegámos ao Belo, só porque me apeteceu... e tudo o mais foi uma aula "bela"!
Dialecticamente, deixaram por momentos o mundo das sombras, em que teimam em viver, e vislumbraram a ideia... tão simples, dito por um dos meus lindinhos: a escrita de Lobo Antunes é difícil, porque é bela!
Uma lição de estética, longe de decretos e despachos, longe de metas e sucessos falseados.