Os anos vão passando e as marcas de cada vivência não enganam ninguém. Estão por aí, nem todas visíveis, nem todas indolores.
Este ano, delineou-se uma marca maior: a distância. A minha vida, de repente, passou a ser à distância (a minha e a de milhares, mas, não sei porquê, apetece-me ser egoísta). Os meus alunos deixaram de estar ali, observando-me, questionando-me, sorrindo para mim. As minhas aulas deixaram de ter a animação inerente a quem gosta de ver sempre o lado positivo das situações. Fiquei longe, tão longe, que, por política da Escola, nem os podia ver uma vez por semana, nessa coisa extraordinária chamada de sessão síncrona! Eram uns bonecos, na linguagem informática, uns avatares que criaram e que nada tinham a ver com cada um dos meus lindinhos.
Se serviu para algo, a pandemia provou-me que ensinar não pode ser assim. Transmitir conhecimentos literários, por exemplo, sem o livro na mão, não é o mesmo.
Sei que milhares de professores se juntaram para tentarem dizer ao mundo que estava tudo bem, que era tudo maravilhoso. Uma mentira. Ninguém estava preparado para isto, muitos professores a léguas de dominar as tecnologias, muitos alunos sem acesso a elas.
A inverdade deste último período está por aí, sem marcas visíveis, por enquanto.
Cada vez mais me assusta o que os governos querem fazer da escola pública: a formatação de jovens que se não souberem pensar, argumentar, criticar, decidir, melhor ainda. Quero voltar para a escola e lutar contra isto.