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quinta-feira, 11 de março de 2010

Semana da Leitura em Mesão Frio

O Agrupamento de Escolas de Mesão Frio, inserido na Semana da Leitura, levou a cabo, na Escola EB 2,3/S Prof. António da Natividade, duas acções do seu projecto de promoção de hábitos de leitura “Um encontro, Um escritor”. Desta feita com os escritores Cristina Bernardes e Alexandre Parafita, dia 2 e 3 de Março, respectivamente.

Cristina Bernardes, escritora lamecense, é já uma presença constante na Escola EB 2,3/S Prof. António da Natividade. Foi novamente solicitada para, junto da comunidade escolar de Mesão Frio, promover o gosto pela leitura e pelos livros. “Nuvem ou o sonho de ser almofada”, de sua autoria, foi a obra literária usada pela escritora para suscitar o prazer da leitura aos presentes. Doutoranda em Ciências da Educação, em Pedagogia Social, a escritora Cristina Bernardes é, actualmente, Directora Pedagógica no Colégio da Imaculada Conceição, em Lamego e acredita no “fascínio das palavras” tal como acredita que “a herança mais valiosa que podemos deixar aos nossos filhos é uma educação de qualidade”. A missão do seu projecto educativo é “educar e formar cidadãos para o mundo”.

Alexandre Parafita, destacado escritor duriense, natural de Sabrosa, esteve também presente na Escola EB 2,3/S Prof. António da Natividade, em Mesão Frio, dando uma abordagem auto-biobibliográfica. Nas obras de Alexandre Parafita a presença da figura do Diabo é uma constante e, interpelado pelas crianças presentes pelo porquê do uso frequente desta figura nos seus livros, Alexandre Parafita explicou que “são figuras, engraçadas, ou não, que servem para captar a atenção das crianças para a história”. No decorrer do diálogo com os alunos da Escola EB 2,3/S Prof. António da Natividade Alexandre Parafita descreveu os métodos usados por si na elaboração das suas obras, sendo que a investigação junto das camadas mais idosas é o seu método preferencial “passo tarde a fio sentado, em cima de uma pedra, a conversar com idosos dos Lares, onde estes me contam estórias antigas”, afirmou o escritor. Também ele Professor do Ensino Básico no passado, Alexandre Parafita, explicou que escrevia para os seus alunos as suas próprias histórias “pois apercebia-me que as crianças preferias essas histórias que as que constavam dos manuais.” Bastante solicitado, o escritor de partilhou aos alunos do Agrupamento de Escolas de Mesão Frio o seu prazer pela leitura e pelos livros.

A presença dos escritores Cristina Bernardes e de Alexandre Parafita, decorreu inserida na Semana da Leitura do Agrupamento de Escolas de Mesão Frio. Este agrupamento, através da Biblioteca Escolar vem desenvolvendo ao longo do ano lectivo o projecto “Um encontro, um escritor” que tem sido o lema para a promoção de hábitos de leitura junto dos seus alunos e uma medida de combate ao insucesso escolar.

terça-feira, 9 de março de 2010

Que extraordinária Nascente descobriu o Gonçalo!

Já há muito que não dava notícias, mas desta vez tive de deixar um pouco o trabalho relegado para segundo lugar para vos falar de um livro que li e que acho que devo dar-vos a conhecer. Esta obra parece infantil, mas é uma leitura que pode muito bem ser lida por todos, seja qual for a idade. O autor é desconhecido nesta nossa zona, mas já vai ocupando lugar de destaque no panorama literário do nosso país, principalmente na área da literatura infanto-juvenil. Será, com toda a certeza, alguém de quem vamos ouvir falar. Veio à minha escola e encantou quem o ouviu e quem o viu desenhar. Este autor, ainda jovem, é escritor e ilustrador, mas não sei qual das facetas é a melhor. Os alunos adoraram as suas ilustrações, mas aquilo que escreve é de um sabor poético e de tal modo misterioso e naïf que a todos toca.
“A Nascente de Tinta” tem o seu herói, o Gonçalo. Gonçalo mergulha no Oceano e conhece criaturas marinhas espectaculares. É nessa altura que ele fica a saber do problema dos chocos que ficaram sem tinta e podem morrer. A única forma de os salvar é ir até a Ilha do Garfo e encontrar a Nascente de Tinta.
O Gonçalo decide lançar-se numa viagem contra o tempo e vai explorar lugares como o Reino das Letras, o Reino das Mãos, a Colina dos Desejos e o Deserto das Ideias. Ao longo desta viagem, o Gonçalo vai fazer amizade com personagens muito estranhas como a Formiga-Torrão e a perigosa Cobra-Escorrega. Vai viver aventuras extraordinárias, que nos vão ensinar a acreditar sempre em nós.
Gonçalo cresce todos os dias, vive no deserto das ideias e é muito solitário. Mas convido-vos a verem e a observarem as ilustrações que nos deixam extasiados e nos convidam a … sonhar!

Ah, já me estava a esquecer! Os meus alunos de nono ano leram o livro de Manuel Alegre, “Barbi-Ruivo, o meu primeiro Camões” e ficaram a gostar tanto que até apresentaram excertos na biblioteca, durante a semana da leitura. Convido-vos a ler, mesmo a alunos do 2º ciclo, porque está escrito numa linguagem acessível e os temas líricos e épicos são retratados de forma coloquial, para seduzir qualquer um.

É bom ler, é bom partilhar.

Isilda Lourenço Afonso

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Estimular a Leitura... inovações do PLN

O Plano Nacional de Leitura e o Observatório da Língua Portuguesa vão desenvolver um projecto de voluntariado para estimular a leitura em parceria entre adultos e crianças, em instituições como escolas e bibliotecas.
A medida foi anunciada hoje no âmbito da assinatura de um protocolo entre o Plano Nacional de Leitura (PNL) e o Observatório da Língua Portuguesa (OLP), com vista a promover iniciativas para a promoção do livro e da leitura em Portugal e restantes países membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"É uma área importante de cidadania em que as pessoas podem ajudar os outros a ler mais e melhor", explica Isabel Alçada, comissária do PNL, realçando que já existem no nosso país diversos projectos de voluntariado de leitura em várias áreas, nomeadamente o apoio à leitura junto de pessoas, crianças e adultos, hospitalizadas.

De acordo com a responsável, o voluntariado será organizado pelo OLP e cabe ao PNL "ajudar os profissionais a gerir o acolhimento do voluntariado pelas instituições com que trabalha - jardins-de-infância, escolas e bibliotecas -, de forma que as pessoas sejam incentivadas a ir".
"Nesta situação dos voluntários irem às escolas ler com as turmas, o que o PNL pode fazer é ajudar a organizar esse acolhimento, enquanto o Observatório ajuda a encontrar pessoas responsáveis e idóneas que queiram ir ler", destaca Isabel Alçada.
A responsável salienta que cabe ao PNL dar formação aos voluntários, o que não considera difícil. "Haverá uma pequena formação, mas, na verdade, para ler com crianças basta pegar num livro e ler a história, estar atenta à criança, ver se ela está a aderir e mostrar-lhe os desenhos, pô-la ao colo quando ela é pequenina, tê-la ao lado quando é maior, basta que a pessoa goste de ler, goste de livros e acima de tudo que goste de crianças", considera.

No âmbito deste projecto, os voluntários poderão também ir a escolas e bibliotecas fazer sessões de leitura em voz alta.
"A leitura em voz alta para grupos também é muito favorável, porque está demonstrado que a oralidade é um factor de domínio da linguagem. A leitura, em grande medida, assenta no domínio que as pessoas têm da linguagem oral: quanto mais se fala bem melhor se lê, quanto melhor se lê mais se fala bem", realça.
O PNL apresenta hoje e sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, um balanço de três anos de actividade, salientando alguns dos vários projectos desenvolvidos a nível nacional para a promoção da leitura.
Entre estes, Isabel Alçada destaca o projecto Crescer a Ler, em colaboração com a Associação Portuguesa de Educadores de Infância, que aderiu ao Programa Start Book e vai dar um livro a cada criança portuguesa, "porque está demonstrado que receber livros gratuitamente em determinado ponto da vida estimula a leitura em família e incentiva o gosto pelo livro".
Destacou também um programa que permite às pessoas em formação nas Novas Oportunidades requisitarem livros que podem ler em casa com os filhos e o Ler + Dá Saúde, projecto desenvolvido por médicos pediatras e de clínica geral junto das famílias, assente no princípio de que ter hábitos de leitura promove o desenvolvimento infantil.
"Quando uma pessoa lê com uma criança, a criança sente que está no foco da atenção do adulto e isso dá uma paz interior muito favorável em todos os domínios do desenvolvimento", sublinha Isabel Alçada.
In Educare

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Motivar para a leitura


Vi este vídeo no blogue da Fernanda e achei um mimo para motivar para a leitura...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Citações

"Eu sou o mundo, e o mundo sou eu, porque através do meu livro posso ser quem quiser. Palavras e imagens, versos e prosa, levam-me a lugares vizinhos e distantes. (…)A cada palavra em cada página,viajo no tempo e no espaço. E nas asas da fantasia o meu espírito atravessa terra e mar.Quanto mais leio, mais compreendo que, com o meu livro, estarei sempre na melhor das companhias."
Hani D.El-Masri (ilustrador e profissional de cinema)
"Os livros. A sua cálida, terna, serena pele. Amorosa companhia. Dispostos sempre a partilhar o sol das suas águas. Tão dóceis, tão calados, tão leais, tão luminosos na sua branca e vegetal e cerrada melancolia. Amados como nenhuns outros companheiros da alma. Tão musicais no fluvial e transbordante ardor de cada dia."
Eugénio de Andrade (1923-2005)
"Um dia li um livro e toda a minha vida mudou."
Orphan Pamuk, romancista turco, Prémio Nobel da Literatura 2006
"Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive."
Padre António Vieira (1608-1697)
"Leio e estou liberto. Adquiro objectividade. Deixei de ser eu e disperso. E o que leio, em vez de ser um trajo meu que mal vejo e por vezes me pesa, é a grande clareza do mundo externo, toda ela notável."
Fernando Pessoa (1888-1935)
“A leitura engrandece a alma.”
Voltaire (1694-1778)
“Os livros são o meu alento, a minha vida e o meu futuro.”
Dostoievsky (1821-1881)
“A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados.”
René Descartes (1596-1650)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

I Colóquio Ibérico de Literatura Infantil e Interculturalidade III Simposium da red de Universidades Lectoras


«Este evento reúne a primeira edição do I Colóquio Ibérico “Literatura Infantil e Interculturalidade” e o III Simposium da Red de Universidades Lectoras, com a finalidade de reflectir sobre leitura, literatura infantil, interculturalidade e políticas culturais a elas associadas.
Ler é uma competência fundamental dos tempos modernos mas que sofre pressões de novos modos e meios. A literacia multimédia exigida às sociedades do conhecimento e da informação é substancialmente diferente da literacia Guttenberguiana, baseada no livro e na primazia da palavra.
Os novos tempos assim caracterizados ditam novas representações do que é ler e do que define a própria Literatura Infantil e exige de educadores e outros agentes culturais novas políticas de actuação.
"Divisão Digital “ é um termo proposto por Van Dijk (2006), para referir a concorrência do audiovisual com o tempo dedicado à leitura mas também o fosso que se tem cavado entre os que podem aceder a computadores e à Internet e os que não o podem fazer.» Veja Aqui

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cultivar as crianças com leituras

"Na verdade, se cultivarmos nas crianças, e desde tenra idade, o gosto e o prazer de ouvir cantar e contar histórias, elas tornar-se-ão gradualmente fiéis amantes da leitura, compreendida como um valor, e intervenientes empenhadas no seu meio envolvente, privilegiando o bem comum em detrimento do egoísmo, que perturba o contacto fraterno com o próximo."

in A Arte, Mestra da Vida, p.26.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Arte, Mestra da Vida

Sinopse: "Este livro resulta do desejo de partilhar com o leitor reflexões e preocupações sobre a escola e a sua função milenar de preparar para a vida, implicando naturalmente o Conhecimento, a Cultura e a Arte, bem como a componente Formativa, na certeza da verdade humanista, enunciada por Séneca, de que cada um de nós ao ser útil aos outros é útil a si mesmo. Daí a relevância dada à relação ensinar-aprender, geradora de uma gratidão recíproca, profundamente marcada pela alegria desse encontro, que o tempo dificilmente apagará."
Do desejo de partilhar a sua experiência, a professora Maria do Carmo Vieira, neste pequeno livro, revela-nos a suas reflexões sobre o Ensino, sobre o papel da Escola na sociedade de hoje e sobre o gosto pela Leitura.
Acredita que é através do convívio com o Saber e a Arte que cada um de nós se entranha e humanamente se enriquece e se prepara para a vida. Esse papel cabe substancialmente às instituições escolares – a uma escola aberta a todos independentemente das suas diferenças, e que cultive valores como o esforço, o trabalho, a curiosidade, a amizade, o espírito de sacrifício e a exigência. Uma obra muito interessante...
"Toda a aprendizagem requer a harmonia entre o passado, presente e futuro, implicando uma estreita relação entre ensinar e aprender."
p.30
Nesse sentido, tem lutado pela qualidade do ensino, nomeadamente do ensino da língua portuguesa, indissociável do ensino literatura – "literatura essa que, a seu ver, foi incorrectamente isolada da língua e subestimada na classificação de mero tipo de texto, a par do informativo e do pragmático, acarretando o consequente desprazer pela leitura e pela escrita."
Ouça aqui a entrevista dada pela professora Maria do Carmo Vieira à TSF.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Biblioteca ao longo dos tempos

A palavra “Biblioteca” vem do grego, bibliothéKe (biblio - livros + théKe - armazém), significando armazém de livros. A origem das bibliotecas remonta a tempos longínquos, sendo a sua existência milenar, contudo a sua função e utilização tem sido muito diversa através das épocas.
Há cinco mil anos, os Sumérios já dispunham de bibliotecas, onde existiam obras escritas em placas de barro, cuidadosamente catalogadas. Na Antiguidade, várias bibliotecas deixaram uma marca indelével na História, pela sua grandiosidade e valor do acervo, salientando-se as de Alexandria, de Pérgamo, de Atenas, de Constantinopla, entre outras. Na Idade Média, as bibliotecas estavam confinadas aos conventos e deve-se aos monges a preservação de grandes obras, muitas das quais copiaram. No entanto, também mantinham em segredo ou destruíam obras que não eram aceites pela Igreja Cristã. (Recorde-se, a este propósito, “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, que ilustra esta situação.) Nessa época, os livros estavam presos às estantes, para evitar o seu furto e a utilização das bibliotecas era muito restrita, pois a sua localização tornava-as pouco acessíveis e a maioria da população era analfabeta.
Vários foram os materiais usados para a escrita, pela humanidade, durante séculos: cascas de árvore, placas de barro, papiro, pergaminho, cânhamo, trapos velhos… Mas só a partir da fabricação do papel, no século XII, e da invenção da imprensa por Gutenberg, no século XV, se verificou uma crescente difusão do livro e surgiu uma nova época para a difusão da cultura.
No decorrer dos séculos XVI e XVII, a arte de ilustrar livros foi alvo de consideráveis progressos e os governantes empenharam-se em tornar as bibliotecas acessíveis ao público. O século XVIII caracterizou-se pelo gosto dos conhecimentos e estes locais registaram um número crescente de leitores. Em Portugal, são dignas de destaque as Bibliotecas de Coimbra e de Mafra, no reinado de D. João V. Nos séculos XIX e XX, verificou-se um incremento da produção literária e todos os países civilizados desenvolveram imenso a criação e a organização de bibliotecas, destacando-se a preocupação de não as limitar apenas aos grandes centros, mas de as levar, também, aos sítios rurais. Surgiram, assim, as primeiras bibliotecas itinerantes, criadas pela Fundação Calouste GulbenKian, que descentralizaram o conhecimento, tornando o acesso aos livros possível nos locais mais recônditos.
Em pleno século XXI, assistimos a uma nova metamorfose da biblioteca, que se nos apresenta numa forma híbrida, isto é, com espaços, serviços e colecções simultaneamente físicos e virtuais, em que as novas tecnologias da informação e da comunicação, em parceria com o material livro/documentos escritos, procuram dar resposta às solicitações e expectativas diversificadas dos nossos dias.
A expansão das bibliotecas tem acompanhado o desenvolvimento da civilização e estas instituições afirmam-se como um agente imprescindível na execução da política educacional de um país.
Na sociedade actual, caracterizada por rápidas mutações e pela constante desactualização dos conhecimentos, a escola tem de desenvolver nos jovens novas competências que lhes permitam fazer face a estes desafios. Emerge, deste modo, a necessidade de modificar os paradigmas do ensino e de atribuir um maior reconhecimento ao papel das bibliotecas escolares, enquanto centros de recursos e espaços inovadores de aprendizagem e de desenvolvimento da autonomia no interior dos estabelecimentos de ensino. A criação de uma Rede de Bibliotecas Escolares constituiu uma das medidas da política educacional nacional destinada a optimizar as mais-valias das B. E., consideradas pedras basilares na construção de uma escola mais adaptada às exigências da sociedade em que vivemos e “retaguardas que contrariam os factores de exclusão” (Calçada, Teresa, in Jornal Público, 05/12/2004).
Podemos facilmente constatar que o conceito de bibliotecas se foi alterando ao longo dos tempos. Deixaram de ser “depósitos de livros” religiosamente guardados e rigidamente protegidos, para se tornarem um espaço plural, aberto ao maior número de pessoas. E um bom exemplo dessa transformação radical (eu diria, mesmo, revolução da divulgação cultural) é a Biblioteca Digital Mundial, que se encontra disponível on line, a partir do dia 21 de Abril de 2009, colocando à disposição de qualquer pessoa alguns tesouros da Humanidade.
E, citando Umberto Eco, “se a biblioteca é, como pretende Borges,, um modelo do Universo, tentemos transformá-la num Universo à medida do homem” (Eco, Umberto, 1991, A Biblioteca, p. 44).

“O ensino das escolas tem de ser completado pelo ensino das bibliotecas. Escutar um mestre, mesmo excelente, não basta para formar um espírito. O papel do mestre é fornecer o recipiente que o aluno encherá com a leitura, a reflexão, a meditação.”

André Maurois, “Le Courrier de L’Unesco”
Lídia Valadares

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A leitura

“Leia vagarosamente, bovinamente, ruminando, brincando com as palavras, sem querer chegar ao fim, como se estivesse fazendo amor com a pessoa amada. A leitura leva-nos por mundos que nunca existiram e nem existirão, por espaços longínquos que nunca visitaremos. É desse mundo diferente, estranho ao nosso, que passamos a ver o mundo em que vivemos de uma outra forma.”
Rubem Alves, via Isilda Afonso.

domingo, 26 de abril de 2009

Firmin

Sinopse: "Nascido na cave da Pembroke Books, uma livraria da Boston dos anos 60, Firmin aprendeu a ler devorando as páginas de um livro. Mas uma ratazana culta é uma ratazana solitária. Marginalizado pela família, procura a amizade do seu herói, o livreiro, e de um escritor fracassado.À medida que Firmin desenvolve uma fome insaciável pelos livros, a sua emoção e os seus medos tornam- se humanos. É uma alma delicada presa num corpo de ratazana e essa é a sua tragédia.Num estilo ora sarcástico ora enternecedor, Firmin é uma história sobre a condição humana em que a paixão pela literatura, a solidão e a amizade, a imaginação e a realidade, fazem parte de um mundo que acarinhava os seus cinemas de reprise, os seus personagens únicos e a glória amarelada das suas livrarias. Firmin é divertido e trágico. Como todos nós."
Li este livro num abrir e fechar de olhos. Adorei.
"Uma história para todos aqueles que sentem paixão pelos livros e que não perderam a capacidade de amar".
Um livro indicado para todos nós, amigos e amantes de livros, de letras, de histórias...
Quando comecei a ler esta obra de Sam Savage, associei-o a outro livro lido há muito pouco tempo: O incrível rapaz que comia livros. Na verdade, em termos de mensagem são bastante idênticos; ambos se referem ao prazer de comer livros (literalmente) que se transforma no prazer de "ler", devorando (metaforicamente) livros.
É uma história de vida, que facilmente se transpõe para a vida de qualquer um de nós; somos seres solitários, que procuram o amor, a amizade, uma vida em sociedade... os livros fazem parte dessa vida que procuramos, são o nosso refúgio, são as nossas viagens, são as nossas aprendizagens!
Firmin, é uma ratazana com um aspecto "nojento"; mas achei-o delicioso depois de o conhecer... podia ser qualquer um de nós.
Uma fábula para adultos que adoram ler! :O)
Nota: 9/10

sábado, 25 de abril de 2009

Ainda sobre “Como um Romance” de Daniel Pennac

Adoro o livro “Como um Romance”, tal como todos os que conheço deste autor. Sou fã de Pennac. Ainda sobre o mesmo livro, gostaria de partilhar convosco algumas partes com as quais estabeleci um especial “diálogo” (sim, porque a competência literária permite ao leitor estabelecer diálogos com o texto…).

“É preciso ler, é preciso ler… E se em vez de exigir leitura o professor decidisse de repente partilhar o seu prazer de ler?” (p. 77). Concordo plenamente com esta sugestão do autor. Se, pelo uso do imperativo, não atingimos o nosso objectivo de levar os jovens a ler, então, enveredemos pela arte da sedução, contagiando-os com o prazer da leitura.

Mais à frente, quando Pennac se dedica ao 8º direito inalienável do leitor, “O direito de saltar de livro em livro (ou o direito de debicar)”, podemos reflectir sobre algumas considerações do pedagogo, neste âmbito. “Eu debico, nós debicamos, deixemo-los debicar. É a autorização que damos a nós próprios de retirar qualquer livro da nossa biblioteca, de o abrir onde nos apetecer e de mergulharmos nele por um instante, porque só dispomos desse instante. (…) Assim podemos abrir Proust, Shakespeare ou a Correspondência de Raymond Chandler, em qualquer página, “debicar” aqui e ali sem correr o mínimo risco de decepção.

Quando não se tem tempo nem os meios para passar uma semana em Veneza, porquê recusar o direito de lá passar cinco minutos?” (p. 161). Subscrevo inteiramente estas opiniões, pois, tal como Pennac, também considero que mais vale ler durante alguns momentos e conhecer um pouco de alguns autores/livros do que não ler/conhecer nada. Além do mais, creio que é neste “debicar” que nós encontramos as “nossas” leituras, os “ nossos” autores, os “nossos” temas preferidos, a nossa identidade literária.

E vou terminar com uma passagem que se refere à importância e à delicadeza do acto de ler em voz alta, sendo um alerta para quem o realiza. “O homem que lê em voz alta expõe-se em absoluto. Se ele não sabe o que está a ler, é ignorante no que diz, é uma lástima, e isso ouve-se.
Se se recusa a habitar a sua leitura, as palavras mantêm-se letras mortas, e isso sente-se. (…) O homem que lê em voz alta expõe-se totalmente aos olhos que o escutam.
Se ele lê verdadeiramente, se nessa leitura coloca o seu saber dominando o seu prazer, se a leitura é um acto de simpatia tanto para com o auditório como para com o texto e o seu autor, se consegue dar a entender a necessidade de escrever acordando a nossa mais obscura necessidade de compreender, então os livros abrem-se por completo, e a multidão dos que se julgavam excluídos da leitura, mergulham nela atrás dele.”

Que levemos muitos atrás de nós, a mergulhar na leitura!
Lídia Valadares

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Três pequenas histórias

Umberto Eco é um autor genial, quer para adultos, quer para crianças. Foi ao folhear um livro dele numa livraria, destinado a crianças, que resolvi adquiri-lo, e não estou nada arrependida.

Chama-se a obra "Três Pequenas Histórias", publicada pela editora Caderno, reunidas para ilustrar que alguém tão atento à filosofia, à sociologia, ao mundo, consegue entrar no mundo das crianças.

São apenas três histórias, mas dizem muito e dizem tudo sobre a natureza do ser humano. Elas tocam em temas do quotidiano, partindo de desenhos e de segmentos das histórias que colocam as crianças motivadas até ao fim da sua leitura.

As temáticas são a guerra, em "A bomba e o general", a par do desejo desmesurado daqueles que, para terem protagonismo, decidem construir bombas para lançarem sobre as cidades. Mas o general acaba por aprender uma lição, quando as pessoas e as crianças fazem nascer flores a partir dessa bombas. É assim que o general deixa de ser importante. Uma lição para os poderosos e para aqueles que acham que o mundo é apenas deles.

Na segunda história, "Os três cosmonautas", aborda-se a temática da xenofobia, da interculturalidade. Apesar do encontro dos cosmonautas de nacionalidades diferentes com os marcianos no espaço e não conhecerem as línguas, tudo fica resolvido, mesmo quando os gostos são diferentes, os aspectos, os hábitos, etc... No final o narrador conclui: "Tinham compreendido que na Terra, como nos outros planetas, cada um tem o seu próprio gosto, é apenas uma questão de se aceitarem as diferenças"(p.74). Mas é uma história que pode ser uma motivação para as actividades do Ano Internacional da Astronomia. Ensina e nutre o gosto pelo espaço, pelo universo. Fascina!

Na terceira história, "Os GnOMos De gNU", surge o problema da poluição da Terra criticada pelos gnomos e uma crítica aos responsáveis dos países que não querem ver o que se passa à sua volta. Reparem: "E enquanto falava, o ministro escorregou numa pastilha elástica que um outro ministro tinha cuspido para o chão. Partiu as pernas, esmagou os lábios, o queixo, as duas narinas, o ombro, a testa e ficaram-lhe os dedos presos nas orelhas, de tal maneira que não conseguia endireitar-se. Na grande confusão que se seguiu, o ministro foi deitado no passeio no meio dos sacos de imundície que já ninguém recolhia há muito tempo, e ficou ali a encher-se de fumo, respirando as exalações que saíam dos escapes das máquinas" (p. 108). Vão ser os gnomos que irão resolver a situação e dar sugestões aos humanos para resolverem os problemas ambientais.

É uma obra que é essencialmente pedagógica, transmite ideias e conceitos bem actuais, a explorar em várias áreas e consegue provocar o diálogo, pois põe os alunos a reflectir, a trocar ideias e lança desafios. É assim que nasce a verdadeira cidadania.

Umberto Eco é apelidado de "fabricante de palavras" pela sua faceta de contista, acompanhado por desenhos de um pintor, Eugenio Carmi, um "fabricante de imagens". Quem ler o livro irá ser, com toda a certeza, um "fabricante de mentes sãs".

Isilda Lourenço Afonso

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Dia Mundial do Livro: Ler é Prazer

«O verbo ler não suporta o imperativo. É uma aversão que compartilha com outros: o verbo “amar”...»

Daniel Pennac, Comme un Roman

"Un livre à lire absolument, pour le contenu, pour le style de Pennac, pour tout. Plaisir garanti ! Et en finir avec la mauvaise conscience du lecteur qui lit par obligation un livre qu'il n'aime pas ! Si le livre nous tombe des mains, eh bien, laissons le tomber tout simplement !!! Ah quelle maxime ! Comment n'y a-t-on pas pensé soi-même. Lire est un plaisir, et dès qu'on le découvre, on aime lire. C'est si simple, si évident ! Et tant pis pour la culture (??) c'est là encore le bonheur qui nous guide ! Merci monsieur Pennac !!!"

domingo, 12 de abril de 2009

O Incrível Rapaz que comia Livros

Sinopse: "Esta é a história de um rapaz com um apetite insaciável... por livros. Um dia, assim por acaso, o Henrique descobre esta estranha paixão, que se transforma numa mania constante e deliciosa! E eis a parte melhor: quanto mais livros devora, mais esperto fica. O Henrique sonha tornar-se na pessoa mais esperta do mundo. Até que percebe os malefícios deste hábito peculiar.... Já não consegue digerir bem, as coisas que aprendeu começam a ficar todas baralhadas e tem de parar."

Este fim de semana, dedicamos os nossos tempos livres a leituras e mais leituras... Até compramos mais livros (suicídio total: eu e as princesas numa livraria) em vez de comprar as tradicionais amêndoas e os grandes ovos da Páscoa.
Lemos este livro muito rapidamente, analisamos cada folha na medida em que tem ilustrações deveras interessantes e um contra-capa deliciosa, como podem ver (o nosso incrível rapaz continua a dar trincas em alguns exemplares).

É uma história engraçada, que incentiva os mais novos a ganharem o gosto pelos livros; não literalmente... gosto de "gostar de comer" mas sim gosto em aprender o que eles de mais precioso contém.
Divertido, simples mas de óptima qualidade, esta obra ganhou o prémio de Melhor Livro Infantil em 2007 atribuído pelo Irish Book Awards.
Nota: 7/10

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Gaspar e Mariana

Esta obra de Maria Teresa Maia Gonzalez retrata, como é seu hábito (e quem já a lê há uns anos habituou-se a ver para lá das palavras), o valor da amizade, da solidariedade, do companheirismo, da compreensão, da esperança, da inocência, da simplicidade. Por outro lado, autora não se esquece de, sorrateiramente, abordar situações do quotidiano onde as problemáticas do alcoolismo, da falsa religião, do ensino sem significado, da família desestruturada e da falsidade nas relações humanas coexistem, por muito que queiramos esconder com os valores humanos que aí sobressaem.

Mariana é uma menina cega, que não sai de casa, não conhece o mundo, não percebe o significado das palavras, dos sentimentos. A sua mãe trabalhava durante o dia numa fábrica, o seu pai “que gostava do mar, não o temia e até ficou lá, quando era pequenina…foi e não voltou mais…porque gostava muito dele e quis lá ficar (p. 80)”. Só Gaspar lhe fazia companhia e tudo lhe explicava, com a maior simplicidade, com a compreensão de um autêntico irmão. É ele quem lhe oferece um cãozito, o Camisolinha, que irá ser o seu companheiro quando Gaspar desaparece da sua vida.

Não irei desvendar mais sobre este livro, recomendado pelo Plano Nacional de Leitura. É uma obra que merece ser lida e bem reflectida, pois as palavras e as situações aí retratadas deixam-nos a pensar e a imaginar o que será o mundo às escuras e como se consegue explicar a alguém conceitos e ideias tão abstractos, quando não se possui visão. Há um encontro entre dois mundos: o do Gaspar e o da Mariana. Muitas pessoas deveriam conhecê-lo e aprenderiam a entender as vivências, dificuldades e agruras da sociedade, através de belos diálogos entre duas crianças.
Reparem neste segmento do texto:

“- Ouve lá, Gaspar, como é que é o azul?
-O azul?
- Sim, a cor do céu. Como é?
- Bom, o azul…é fofo, assim como o tapete que está ao pé da tua cama; parece que sopra e voa; o azul está no ar, quando faz sol, no Verão…
- Ah… estou a perceber. O azul é levezinho.
- É, é muito leve, assim como se eu soprar devagarinho na tua mão… (p. 51).”

domingo, 15 de março de 2009

António Barreto, um verdadeiro leitor da vida!

“Um espírito original sabe subordinar a leitura à actividade pessoal. Ela é para ele apenas a mais nobre das distracções, sobretudo a mais enobrecedora, pois só a leitura e o saber conferem ‘as boas maneiras’ do espírito”.
Marcel Proust, in O Prazer da Leitura, 1997, p. 56

É sempre com ansiedade, curiosidade e expectativa que inicio a leitura aturada da Revista Ler. Já há muito o não fazia, mas desta vez aconteceu. Tenho de agradecer à Drª. Cristina por me ter proporcionado a sua leitura e, perante tal publicação, o desafio começou logo pela capa (Revista Ler, Março 2009, nº 78). António Barreto iria abordar a problemática da leitura na actualidade. Logo toda a minha enciclopédia de autores, investigadores e experiências foi “activada”.
Como sociólogo e, sobretudo, pensador das questões que mais assolam a sociedade portuguesa, não me desiludiu. Ora vejamos. António Barreto, um intelectual com origens e vivências no Douro, sempre viveu rodeado de livros, de literatura. Contudo, é a mãe quem lhe oferece o livro que o marca para sempre, aos 15 anos. Chamava-se “A Noite Sem Lua” de John Steinbeck – um romance que revela a vitória inevitável da liberdade humana sobre a violência (os movimentos da Resistência da Europa ocupada pelos nazis). Mas mais tarde, exilado na Suíça, outra obra o marca na esteira da anterior: “Le Silence de la Mer” – uma novela de sabor patriótico, também passada na Europa da II Guerra Mundial. O silêncio do mar é uma metáfora bem expressiva daquilo que o fundo do mar é capaz de guardar (os segredos, neste caso de duas pessoas que nunca se deixaram subjugar pelos ideais nazis e sempre enfatizaram a cultura francesa e os ideais da liberdade).
Façamos aqui eco de um pequenino, mas sentido, poema de Sophia de Mello Breyner que ilustra o papel do mar na literatura (o seu sonho de liberdade, tal como aconteceu com António Barreto):
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Hoje, Barreto lê toda a ficção, mas com uma finalidade: compreender a nossa sociedade e perceber o momento, tal como o fez Eça de Queirós.
A literatura tem, para António Barreto, a dupla função: apreciar a escrita e trabalhar a sociedade, partindo daquilo que o autor lhe dá (a visão da evolução da sociedade). E quem não concorda com isto? A função do texto literário é imensa. Para além da dimensão estética e valorativa, a dimensão social é fulcral. Só estudando e percebendo o pensamento dos nossos vultos da Literatura, poderemos construir a nossa identidade, compreender as nossas raízes, poderemos ser interventores na sociedade. A Literatura tem de ser compreendida, reflectida, ponderada e articulada com todo o cosmos. Reparem o que nos diz António Barreto: “… a leitura é meditação, é tempo de saborear, tempo de ponderar o que se está a ler, de parar, voltar, recomeçar (p.38)”. Mais à frente, num outro artigo desta Revista Ler é Filomena Mónica que é assertiva no que respeita à Literatura e análise do texto literário: “A análise de um texto não deve ser feita como se de uma bíblia se tratasse”, porque “a obra é escrita por um ser de carne e osso, com um trajecto, com emoções e com manias (p.57)”.

Tudo isto nos faz reflectir, mas para chegar à problemática da leitura e o papel da escola. Concordo que até certo momento da nossa História, a leitura sentida, prazenteira e significativa não era praticada. Mas hoje a situação mudou; não tanto como desejaríamos, apesar de ser uma das preocupações que está bem no cerne de qualquer instituição de educação e o PNL é o testemunho do que digo. Não chega. É necessário que a família também se envolva para que toda a sensibilização e motivação que se tenta transmitir não se desvaneça. Todos estamos empenhados na melhoria dos níveis de literacia dos nossos alunos. Já se dá conta de muitas actividades e projectos que se vão realizando e que têm dado os seus frutos. Concordo, no entanto, que a aposta não seja apenas na informática, nem que alguém critique a “cultura livresca”. António Barreto tem toda a razão quando diz que “o livro é a melhor maneira de transmitir cultura”. Não esqueçamos que a Internet produz informação, mas não produz conhecimento. Reparem na delícia com que este sociólogo nos presenteia (p.39):

“Adequar o tipo de livro à pessoa em causa. Depois, pôr de parte, até muito tarde, tudo o que é instrumento, estrutura, forma. No essencial, chamar a atenção do jovem para o sentido, para a narrativa, para a história. É como no amor: o que conta é o sentimento, o ver, o beijar. É isso o que se deve ir buscar à literatura…”.

É, na verdade, uma entrevista desafiadora, mas realista. Há que procurar o bom senso entre a literacia computacional e a literacia em leitura para que não surjam barbaridades como as que se revelaram no Magalhães. Antes de tudo, uma sólida preparação ao nível da leitura e da escrita, servindo-nos de todos os suportes, incluindo os informáticos, para que melhor se utilize a informação online.
Ora, a propósito da importância da leitura e do livro que António Barreto tão bem abordou e criticou, eu não podia deixar de fazer referência a Fernando Pessoa e à polémica do seu espólio (as chamadas arcas sem sossego de que a família fala na mesma Revista). Estão ali publicadas algumas cartas originais, entre elas uma de Almada Negreiros, traduzida por Fernando Pessoa, mas que ilustra o quão importante era o livro (p.44):

“Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa salvar-se (…)”.

Reparemos nesta última frase. Que crítica mordaz vos sugere? Será que hoje estas palavras se aplicam? Deixem que vos diga: estão actualíssimas. O mundo, ou seja, as pessoas necessitam da leitura para que, em certas situações, se libertem do que as preocupa, do que as oprime, do que as angustia. Uma boa leitura liberta-nos. Deixo-vos como desafio essa frase realçada. É para isso que serve a nossa comunidade de leitores: desafiar, reflectir, gerar ideias, pôr em comum.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Livros publicados pelas nossas colaboradoras e Amigas

Recursos e Percursos - para avaliação de desempenho de professores de Isilda Lourenço Afonso

"Esta obra nasce das dificuldades sentidas no terreno como professora, mas também como formadora no âmbito da Avaliação de Desempenho dos Docentes (ADD). De uma forma geral, tentámos focar a nossa atenção nos aspectos mais pragmáticos do avaliado e propor algumas pistas para instrumentos essenciais numa avaliação que se deseja equitativa, honesta e justa.Os percursos relacionam-se com os momentos cruciais deste processo e os recursos constituirão e concretização e organização da prática lectiva e de todo o trabalho nas diferentes funções que os docentes desempenham no quotidiano."
Não podia deixar de fazer referência ao livro publicado muito recentemente pela nossa colaboradora e Amiga Isilda; ainda não li mas tenho a certeza que é muito bom.

Leituras- Prácticas Sedutoras de Lídia Valadares
Para quem é fã de leitura e pretende dinamizar em escolas, bibliotecas ou em casa esta boa prática; recomendo também o livro da nossa, também colaboradora e Amiga, Lídia Valadares, sobre as prácticas sedutoras da leitura.
Este livro é realmente muito interessante e útil para fomentar bons hábitos de leitura nas nossas crianças. (recomendado pelo Plano Nacional de Leitura)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O CASTELO DOS LIVROS


Neste livro de Teresa Maia Gonzalez (crianças dos 7 aos 10 anos), abordam-se duas temáticas: o valor dos livros e da biblioteca e os maus tratos a uma criança, tão frequentes na nossa sociedade (a propósito da história do dragão).

Havia um castelo numa montanha azul, constituído por 4 torres, onde vivia um marquês (biblionário - aquele que era muito rico em livros) com os seus criados. Essas torres eram autênticas bibliotecas: a Torre dos Arrepios (para livros de romAnce de aventuras), a Torre das Asas (para livros de poesia), a Torre do Céu (para livros de religião) e a Torre Dourada (livros para crianças e jovens).
Já muito velhinho, o marquês decidiu convidar as pessoas da cidade para visitarem o seu castelo e poderem admirar a sua biblioteca. Ficou amargurado por ninguém apreciar tamanho tesouro. Eis senão quando, vê a Inês de 8 anos que lia um livro nas escadas, muito concentrada.

Assim tudo começou. Inês leu, leu, leu... pela vida fora até que um dia decide tornar-se contadora de histórias para crianças, principalmente para aquelas que tinham deixado de ler ou que nunca tinham ido à escola. Foi ela quem ficou com o castelo, após a morte do marquês, tornando-se uma sábia. Conheceu, entretanto, uma menina, a Teresa que, tal como ela, se apaixonou pela leitura e pela escrita. Até escreveu uma história sobre um dragão. Inês desconfiou do assunto e da forma como estava abordado e acabou por descobrir um problema pessoal da pobre Teresa.

Foi muito importante ter tido conhecimento da história e, após uma longa conversa com a sua amiga de leitura, o gravíssimo problema foi resolvido.

A amizade nascida da paixão pelos livros serviu para combater algo que molestava a Teresa e uma verdadeira amizade nasceu e consolidou-se. É assim que Teresa Gonzalez termina na p. 62: "Porque quem conta histórias, falando ou escrevendo, acaba por fazer amigos (se calhar, ainda não tinhas pensado nisto...)!

É uma mensagem que nos faz pensar e, sobretudo, nos mostra como através dos livros se descobrem grandes mistérios. E não é verdade? Nós, professores sabemos isso muito bem...

Agora deixem-me transcrever as passagens deliciosas deste livro para vos aguçar o apetite.

"Ao abrir a janela de um livro, entra às vezes uma corrente de ar mágica que nos dá o alento e a coragem necessários para pedir ajuda e seguir em frente, com confiança, rumo à Alegria para a qual Deus nos criou a todos" (2007, p. 4)

"Quem escreve um livro, constrói um castelo, e quem o lê passa a habitá-lo" (2007, p. 6)

"...uma biblioteca onde vivem muitos livros deve ser um lugar sempre bem organizado, assim como a nossa cabeça, onde vivem muitas ideias, deve estar organizada." (2007, p. 31)

"Convém lembrar que um sábio não é apenas alguém que sabe muitas coisas, mas também alguém que consegue realizar algo importante para si e para os outros, de modo a que a vida fique mais bonita de viver!" (2007, p. 34)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Semear para Colher!


"Como todos sabem, a educação é, sobretudo, uma sementeira." (Agustina Bessa-Luís)


Folheando o jornal Douro Hoje, de 29/01/2009, fui directa à página onde se pode ler algo que todas as semanas é transmitido com todo o saber académico, ponderação e, acima de tudo, sabedoria e conhecimento no terreno de tudo o que se relaciona com escola, alunos, educação - o artigo do Senhor Professor José Esteves Rei, da UTAD (p. 19).

Desta vez, dá-nos a conhecer algo de pertinente sobre educação. A propósito da intervenção da escritora transmontana Agustina Bessa-Luís, dedicada à educação e à função do texto e da escrita no sucesso educativo, coloca a tónica nos textos; claro que todo o tipo de textos, mas para Agustina, o texto literário é, sem dúvida, a pedra basilar para o conhecimento de um povo e da sua identidade.

Concordo plenamente com ela. Todos os outros textos são essenciais e todos nós devemos preocupar-nos com a literacia funcional que os alunos devem possuir (também se pode designar de multiliteracia) para sobreviverem no mudo competitivo em que vivemos. Contudo, nunca poderemos esquecer a literatura, que tem andado arredada da escola. Por isso, e para quem já leu a proposta dos novos programas de Português para o Ensino Básico, deu conta que o texto literário vai regressar em força, desde os primeiros anos, com as devidas adaptações, segundo as faixas etárias. Nem queria acreditar! O Professor Carlos Reis tem ali o seu dedo de homem de literatura e teço-lhe rasgado elogio e coragem na elaboração deste documento agora em estudo. Felizmente alguém nos ouviu!

Ao ler este artigo de Esteves Rei, que aborda a temática da importância dos textos no ensino, apoiando-se em Agustina, fiz uma ponte com o que agora se deseja para o Português e textos a inserir nas aulas. E mais uma vez não posso deixar de afirmar que não se pode ler (ou fazer) nas aulas apenas aquilo que os alunos gostam. Assim, não há progresso, não há cultura. Diz Esteves Rei, citando Agustina, que para que a educação seja uma sementeira tem de "se incutir o gosto que muitas vezes não vai a par do gosto pessoal de cada um". Mas há que adequar o gosto e os desejos de cada um ao "estilo de uma educação" e ao "estilo de uma cultura". Diversificar é preciso; usar e abusar de uma diversidade de textos, mas para se poder diversificar a oferta de valores e atitudes, não podemos, jamais, descurar a nossa boa LITERATURA.

Eu disse boa literatura! Há que saber seleccionar, adequando-a à escolha e ao background de cada aluno/educando. Daí que o Professor Catedrático, José Esteves Rei, conclui o seu artigo dizendo:"...urge alargar formas, modelos, textos e métodos de educação" para que a unidade se faça a partir da diversidade e se construa a nossa verdadeira identidade. Jorge Luís Borges dizia, e não posso deixar de o citar, a propósito dos valores, que tão esquecidos andam, que "o maior luxo de uma sociedade são as relações humanas". Professores, pais e alunos, vamos à descoberta da verdadeira literatura, do verdadeiro texto! Vamos à procura da boa literatura, da boa escrita! Pouco mais necessitaremos...