Land Mark Trust Ireland
Durante uma viagem de comboio, de 20 minutos, pelo centro do pais, notei uma grande quantidade de casas abandonadas, algumas apenas desleixadas, outras muito degradadas, votadas ao esquecimento que as levará à ruína. O cenário habitual, todavia, para mim, o mais chocante é que estas localidades pequenas estão ao longo do caminho de ferro, com apeadeiros, e a cerca de 20 minutos de uma cidade de proporção considerável. Aposto até que, em certas horas, os habitantes da cidade demoram mais tempo a deslocarem-se entre casa-trabalho e vice-versa do que se habitassem estas casas.
Muito provavelmente, os filhos dos proprietários destas casas vivem em apartamentos na cidade. Recusam as heranças que consideram desactualizadas e desconfortáveis, longe dos shoppings, e de tudo o que precisam e não precisam. Em vez de verem o potencial, a reforma possível que transforma o ultrapassado em actual, com o conforto do aquecimento, o silencio da natureza, a largueza dos terrenos com árvores de fruta e solo próprio para uma horta produtiva e jardim agradável. O mais certo é pegarem nesta herança, e investir os 35 mil€ ou os 60 ou os 100€ mil num apartamento que demorarão toda a vida a pagar. Sim, porque as pessoas, por aquilo que vejo, pegam nessas quantias e não pensam em comprar algo que possam realmente adquirir, mas antes a projetarem-se para propriedades de valores absurdos, que qualquer pessoa com pés assentes na terra, como muito provavelmente os seus pais, nunca fariam.
Vejo, porém, que estas casinhas desdenhadas pelos nacionais estão a ser procuradas por estrangeiros, que não hesitam em meter mãos na massa, para poupar os orçamentos, já de si, frequentemente, muito reduzidos. Por que não fazem os portugueses o mesmo? Pergunto-me a cada vez que me deparo com estas situações. Os portugueses, para minha tristeza, tem uma certa mania de grandeza, querem por regra algo que não têm condições de pagar; não se encantam por projetos que exijam trabalho, empenho, abnegação, pelo menos durante um período de tempo. São como melros, adoram o novo, o brilhante, o caro!
Portanto, chegamos a esta conclusão, faltam casas! Não há casas para arrendar nem para comprar. Mas porque todos querem ficar nas localidades urbanas. Eu constatei que nem sequer é no interior isolado e longínquo; não, senhora. É apenas fora da cidade, a 20 minutos de comboio. Como lastimo ver estes recursos com tanto potencial desaproveitados!