Basta passear pelo interior do pais para começar a suspeitar daquela teoria da sobrepopulação. O território é vasto, as aldeias já foram fundadas, já lá chegaram as estradas; a água canalizada e electricidade, fundamentais para uma vida confortável, são normais, e já ninguém se espanta com tais modernices; e as casas, velhas, decadentes ou em ruínas existem em enorme quantidade.
As poucas casas habitadas anexam quintais ou campos, uns mais trabalhados do que outros, provando a fecundidade da terra, e as cores dos tomates, abóboras, couve-galega e milho comprovam a generosidade diversa do solo. É produtivo, só necessita de mão que o remexa, lhe lance a semente, o regue e guie para produzir o alimento que na cidade, nem no supermercado se encontra. Este cresce com o sol, a água e os nutrientes do solo, e talvez adubo, natural, para quem já descobriu os malefícios dos químicos. E são muitos, os que no campo, já lhes descobriram os efeitos na saúde.
Viver na cidade é para a maioria um sonho, mas que visto de fora e de longe, mais parece um real pesadelo. O trabalho rouba-lhes horas de vida, para pagar os créditos da casa e dos carros; um e outro como marmotinha de rabo na boca, da qual não conseguem soltar-se. Apesar dos dias cheios, não sobra dinheiro para desfrutar da vida, excepto, com sorte, alguns dias, uma vez no ano. Para manter o luxo da vida moderna na cidade, tornam-se escravos do patrão, acabando por considerar normal este tipo de contrato. Suspiram quando veem as bucólicas imagens do mundo rural, dizendo: ai se eu pudesse! Mas os créditos são grilhetas que é preciso manter, até ao dia da libertação. Que haverá de chegar. E depois, perguntam-se, o que fariam ali, como ganhariam o sustento? Não há trabalho, todos sabem que no interior é inexistente, por isso está deserto, por isso os seus naturais saem de lá.
Portanto, para alguns aventureiros, cansados do stress citadino, das vidas reféns de necessidades artificialmente criadas, o salto dá-se com um pouco mais de fé, do que de rede financeira. Vendem os apartamentos mal pagos, e rumam para o interior, onde adquirem casas pagas a pronto, por quantias irrisórias, para o pessoal da cidade. Inventam trabalhos, como turismo rural, cultivo de frutos vermelhos e ervas aromáticas; adaptam os seus empregos, fazendo as traduções e dando formações, por tele-trabalho; tornam os hobbies em actividades remuneradas, como a fotografia, em workshops de fotos na natureza, ou workshops de pão e compotas caseiras. Inventam retiros de fim-de-semana, com meditação e Yoga. Sei lá, o talento de cada um emerge com potencial de profissão e torna-se em sustento, que sendo menor, é bem capaz de manter um estilo de vida que também se reduz por falta de oportunidade. Não há shoppings, não há fast food, não há oportunidade de desfilar com roupas novas nos corredores das empresas e escritórios. Os logos das malas ali são chinês, ninguém se interessa ou impressiona. E não há necessidade. É a libertação!
Porém, o ruído da cidade, a falta do bulício dos empregos, a azáfama no cumprimento dos diversos horários, agora relegados a cumprimento por auto-regulação, podem fazer falta. Não é para qualquer um o silêncio da aldeia, a pasmaceira da vida social, o desapego ao material, a falta de proximidade do Take Away, e dos supermercados. E entre acreditar que o mundo está sobrepovoado, porque assim o veem nas cidades, empoleirados uns em cima de outros, e lançar-se no desconhecido, mais vale o conforto daquilo que os frustra, àquilo que os assusta.
Mas não, há espaço no resto do pais, no resto do mundo, para cada um construir uma vida feliz para si. Onde podem ter casa, e nunca lhe faltar o alimento. Onde pode ter tempo para si, e para os filhos, e crescer de formas inimagináveis, ao cidadão comum. Assim se construiria uma sociedade realmente equilibrada, onde as necessidades de todos mais facilmente se supririam. Fosse esta uma agenda política, e tudo isto seria ainda mais fácil, sobretudo para aqueles que pretendendo mudanças na vida não possuem mais do que o que cabe na mala.
Não me venham com histórias de que o planeta não comporta toda esta população. Sim, comporta, não aguenta é que esta população se comporte de forma egoísta, em que uns consomem o que pertence aos outros; em que meia dúzia se aproprie dos bens comuns e faça o resto pagar a peso de ouro para lhes aceder.
O que Gaia não aguenta é que o homem se amontoe à beira mar, poluindo com um estilo de vida capcioso e extravagante. Está cansada de oferecer abundância onde ninguém a colhe ou vê; mas continua à espera que a humanidade saia das cidades e descubra o tesouro que lhes oferece.
As poucas casas habitadas anexam quintais ou campos, uns mais trabalhados do que outros, provando a fecundidade da terra, e as cores dos tomates, abóboras, couve-galega e milho comprovam a generosidade diversa do solo. É produtivo, só necessita de mão que o remexa, lhe lance a semente, o regue e guie para produzir o alimento que na cidade, nem no supermercado se encontra. Este cresce com o sol, a água e os nutrientes do solo, e talvez adubo, natural, para quem já descobriu os malefícios dos químicos. E são muitos, os que no campo, já lhes descobriram os efeitos na saúde.
Viver na cidade é para a maioria um sonho, mas que visto de fora e de longe, mais parece um real pesadelo. O trabalho rouba-lhes horas de vida, para pagar os créditos da casa e dos carros; um e outro como marmotinha de rabo na boca, da qual não conseguem soltar-se. Apesar dos dias cheios, não sobra dinheiro para desfrutar da vida, excepto, com sorte, alguns dias, uma vez no ano. Para manter o luxo da vida moderna na cidade, tornam-se escravos do patrão, acabando por considerar normal este tipo de contrato. Suspiram quando veem as bucólicas imagens do mundo rural, dizendo: ai se eu pudesse! Mas os créditos são grilhetas que é preciso manter, até ao dia da libertação. Que haverá de chegar. E depois, perguntam-se, o que fariam ali, como ganhariam o sustento? Não há trabalho, todos sabem que no interior é inexistente, por isso está deserto, por isso os seus naturais saem de lá.
Portanto, para alguns aventureiros, cansados do stress citadino, das vidas reféns de necessidades artificialmente criadas, o salto dá-se com um pouco mais de fé, do que de rede financeira. Vendem os apartamentos mal pagos, e rumam para o interior, onde adquirem casas pagas a pronto, por quantias irrisórias, para o pessoal da cidade. Inventam trabalhos, como turismo rural, cultivo de frutos vermelhos e ervas aromáticas; adaptam os seus empregos, fazendo as traduções e dando formações, por tele-trabalho; tornam os hobbies em actividades remuneradas, como a fotografia, em workshops de fotos na natureza, ou workshops de pão e compotas caseiras. Inventam retiros de fim-de-semana, com meditação e Yoga. Sei lá, o talento de cada um emerge com potencial de profissão e torna-se em sustento, que sendo menor, é bem capaz de manter um estilo de vida que também se reduz por falta de oportunidade. Não há shoppings, não há fast food, não há oportunidade de desfilar com roupas novas nos corredores das empresas e escritórios. Os logos das malas ali são chinês, ninguém se interessa ou impressiona. E não há necessidade. É a libertação!
Porém, o ruído da cidade, a falta do bulício dos empregos, a azáfama no cumprimento dos diversos horários, agora relegados a cumprimento por auto-regulação, podem fazer falta. Não é para qualquer um o silêncio da aldeia, a pasmaceira da vida social, o desapego ao material, a falta de proximidade do Take Away, e dos supermercados. E entre acreditar que o mundo está sobrepovoado, porque assim o veem nas cidades, empoleirados uns em cima de outros, e lançar-se no desconhecido, mais vale o conforto daquilo que os frustra, àquilo que os assusta.
Mas não, há espaço no resto do pais, no resto do mundo, para cada um construir uma vida feliz para si. Onde podem ter casa, e nunca lhe faltar o alimento. Onde pode ter tempo para si, e para os filhos, e crescer de formas inimagináveis, ao cidadão comum. Assim se construiria uma sociedade realmente equilibrada, onde as necessidades de todos mais facilmente se supririam. Fosse esta uma agenda política, e tudo isto seria ainda mais fácil, sobretudo para aqueles que pretendendo mudanças na vida não possuem mais do que o que cabe na mala.
Não me venham com histórias de que o planeta não comporta toda esta população. Sim, comporta, não aguenta é que esta população se comporte de forma egoísta, em que uns consomem o que pertence aos outros; em que meia dúzia se aproprie dos bens comuns e faça o resto pagar a peso de ouro para lhes aceder.
O que Gaia não aguenta é que o homem se amontoe à beira mar, poluindo com um estilo de vida capcioso e extravagante. Está cansada de oferecer abundância onde ninguém a colhe ou vê; mas continua à espera que a humanidade saia das cidades e descubra o tesouro que lhes oferece.