A partir de uma dada altura a minha filha começou a comentar que ela era a única que fazia perguntas nas aulas, eu respondia que certamente os colegas também teriam dúvidas mas só ela tinha coragem para pedir mais explicações, e que assim eles também beneficiavam desse esclarecimento. Ela anuía, embora não ficando propriamente satisfeita, rematando algo contrariada: "Mas tenho que ser sempre eu!".
Já na Faculdade a questão voltou a levantar-se, continuava a ser a única, e constatava dizendo que os colegas também não estavam a perceber mas não se queriam expor. A conclusão derivava de conversas posteriores em que o confirmavam, e lhe diziam que ainda bem que ela tinha colocado a questão. Esta situação continuava a perturbá-la porque, frequentemente, pensava que ao expor dúvidas estava a dar a ideia de que não era inteligente o suficiente, nem sabia o suficiente, e eu tinha de voltar a reafirmar que era precisamente o contrário, só quem pensa e sabe pode ter dúvidas, e quer saber para além; e mais, só quem tem coragem de se expor o faz. Portanto, só motivos de que se orgulhar.
É que, realmente, esta é a ideia que se forma, que quando o professor explica e toda a turma se mantém calada é sinal que a matéria foi muito bem explicada, logo, compreendida. Há professores que se satisfazem nesta dinâmica, contudo para mim é mau sinal. Se eu não obtivesse sinais de inquietação, na forma de dúvidas e opiniões críticas, ficaria preocupada. Porém, a maioria, tanto alunos como professores, parece preferir navegar em águas calmas. Que aborrecimento.
Reflectindo sobre este assunto, também me ocorreu que esta forma de estar na escola reflecte a forma de estar na vida; os meus filhos foram sempre muito curiosos, sobre inúmeros assuntos, e nós, enquanto pais, sempre os incentivamos a ter essa atitude, da forma mais simples possível, que é responder com a maior das franquezas. Entre mim e o pai, de duas áreas distintas conseguíamos responder quase sempre, mas vezes houve em que me vi obrigada a pesquisar certos assuntos para lhes explicar, e dizia assumindo que não sabia, mas iria estudar a resposta. Portanto, em família, colocar questões e esperar respostas congruentes foi sempre um lugar seguro. Como não esperar que lá fora fosse assim também?!
Como eu gostava que tanto a família como a escola fossem esses lugares seguros onde as crianças pudessem ser curiosas e inquisitivas livremente. Parece-me até que essa é a verdadeira base da educação, e que é uma pena passar-lhe tão ao lado.