Após
mergulhar na imensidão do espaço e sair deslumbrado da sessão do filme Gravidade (Gravity), foi a
vez de experimentar a vastidão do mar no filme “Al Is Lost". Ambos,
espaço e mar são insondáveis. Ambos mexem profundamente com o ser
humano. Por que um filme com apenas um ator (Robert Redford) e pouquíssimas
palavras consegue penetrar no recôndito do nosso coração? A mania de
fazer associações levou-me ao solitário Santiago do romance “O Velho e o Mar”
de Ernest Hemingway, mas enquanto o velho do livro destila pensamentos em doses
consideráveis, o personagem do filme é silêncio e ação.
Aquele homem
solitário, sem vida pregressa, lutando para sobreviver no meio de uma
tempestade em alto mar, no veleiro avariado ou na fragilidade do bote, merece
uma reflexão profunda.
Por que aquele homem sem história - não sabemos quem é,
quais são os seus familiares, a sua história de vida - está naquele veleiro?
Aquele personagem sou eu, é você. Aquele homem nos representa. Do conforto do veleiro a tempestade em alto
mar. A nossa vida não é assim? Por quê? O que devo fazer nessas horas? A
arrepiante cena final responde a as indagações.
Após assistir, pela segunda vez, o tenso All is Lost (Tudo está
perdido), filme com final aberto a diversas interpretações – pessimista,
otimista (materialista) e espiritual (a minha esposa foi a que
mergulhou mais fundo na interpretação espiritual), lembrei-me do conto
do Stephen Crane, de um livro que “desapareceu” após emprestá-lo. Ainda
bem que hoje temos o Google.
Crane,
ele próprio vítima de um naufrágio, escreve aquela que poderia
ser a abertura dos filmes que mostram a fúria da natureza contra as embarcações:
“Uma particular desvantagem do mar reside no fato de, após ultrapassar com
sucesso uma onda, descobrirmos que atrás dela vem uma outra tão importante e
tão nervosamente ansiosa por provocar inundações em barcos... Uma noite passada
no mar num barco aberto é uma longa noite. Quando a escuridão por fim se
instalou, o brilho da luz, erguendo-se ao sul do mar, mudou para um intenso
dourado. No horizonte norte surgiu uma nova luz, um lampejo azulado ao fundo
das águas. Estas duas luzes eram a mobília do mundo. De resto, nada mais que
ondas”.
Num
tom irônico, certa vez Crane observou: “Um homem disse ao universo: ‘Senhor, eu existo!’.
‘Todavia’, respondeu o universo, ‘o fato não criou em mim um sentimento de obrigação’".
Contrariando o angustiado Crane, Jesus disse: “Não
se vendem cinco pardais por duas moedinhas? Contudo, nenhum deles é esquecido
por Deus. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não tenham medo; vocês
valem mais do que muitos pardais!" (Lc. 12:6,7).
Tudo está perdido? O lembrete de Jesus faz toda a diferença.
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