Sabemos que
o mundo contém muitas coisas que não podemos enxergar a olho nu - células, átomos, moléculas, quarks. Mas essas coisas podem ser medidas através dos rastros que deixam no
caminho.
O cristão
crê na realidade intangível. Ela não pode ser medida com os instrumentos que
temos à disposição. Mas pode ser medida através dos rastros que deixa no caminho. A pergunta correta não é: “As
ferramentas que possuímos podem demonstrar a realidade de Deus?”. Mas sim:
“Existe mais do que nós podemos ver?”.
A Bíblia
sempre ensinou que no coração das coisas não há um mapa orientando a montagem
de um quebra-cabeça; mas o mistério. Não levantamos as mãos e confessamos a
ignorância, somos cobrados para adicionar o nosso limitado conhecimento à
sabedoria coletiva. A aceitação do mistério é um ato não de resignação, mas de
humildade.
As perguntas
são insubstanciais. Você não pode ver, tocar ou medir uma pergunta. Isso não
acontece apenas com as perguntas; as nossas vidas são construídas sobre o
intangível. Neste exato momento você está lendo marcas/traços/símbolos em uma
página. Elas não invadem, fisicamente, o seu cérebro. No entanto, na interação
entre os borrões de tinta na página e o seu cérebro, o entendimento é
transmitido. O entendimento é tangível? O que mudou entre a página e o seu
cérebro? Quanto de nossas vidas acontece nos indescritíveis espaços deste
mundo? Quanto é transmitido no silêncio entre as notas de uma música?
Quando eu
aprendo algo novo, uma varredura pode detectar alterações fisiológicas no
cérebro, mas a mudança não é detectável. Quando eu sinto emoção, você pode
mapear as correntes elétricas no meu cérebro, mas o mapeamento pode apresentar
o sentimento? Veja a história da tua vida.
Onde você nasceu, onde você cresceu, como foi a sua infância, quais as pessoas mais
importantes que você conheceu
durante a sua vida? Você criará uma imagem de si mesmo para contar a sua
história.
Mas, onde
essa história existe? Ela tem uma existência física ou se limita as sinapses dos neurônios em seu cérebro? A sua história existia antes que eu lhe
perguntasse?
Falamos de
coisas que existem “entre” as pessoas. Existe um “entre”? Se existir, não habita
no universo físico. O mundo é, por assim dizer, cheio de entidades não físicas
que confundem o nosso entendimento. Quando nos acostumamos a reconhecer o que
não podemos ver, a noção sobre Deus parece menos estranha. Coisas não físicas
são reais. As nossas vidas gravitam sobre coisas reais que são não materiais:
ideias, emoções, beleza, imaginação, memórias, relacionamentos, intuições, alegrias,
tristezas, sofrimento, amor e fé.
Acreditar
apenas no que vemos é submeter-se a uma cegueira voluntária. Seguir esse
princípio limitaria a tal ponto a convivência com
as demais pessoas que, poderíamos dizer, nos tornaria invisíveis na esfera existencial.
Se reconhecermos as limitações do nosso
conhecimento, o ateísmo é a confissão de uma ilusão indefensável.
O cristão se
rende a evidência: há muito mais do que podemos ver, há uma realidade não
física, uma realidade maior. Se nós, criaturas com corpos que se movimentam em
um mundo físico, somos tão dependentes de coisas que não podemos ver, por que os
ateus consideram que Deus é uma ilusão improvável?
Na verdade a fé retira as escamas dos olhos espirituais para que possamos vislumbrar
as mãos de Deus manejando o dia a
dia: “O coração do homem planeja o seu
caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv. 16:9).
(Trecho extraído do livro Relíquias de Uma Terra Estranha © de Samuel Rezende - previsão de lançamento primeiro semestre de 2015)