O texto de Lucas 18:9-14 é o manual
“Treinado para pecar”. O fariseu havia sido treinado para uma justiça que
escorrega para a auto-justificação. Pecado não é apenas quebrar determinadas
regras, mas também tentar ser o que não somos. No pecado, o ponto fundamental é
o auto-engano. O texto fala de um homem que cumpria os deveres, mandamentos e
regras, e um homem de vida desregrada.
O
homem correto era do círculo religioso dos fariseus, um movimento reformador do
judaísmo, que ajudou a preservar a fé durante momentos tumultuados. Eles
resistiram a cultura romana e helenista, levavam a sério a Bíblia e estenderam
o significado da Torá a todos os aspectos das suas vidas.
O fariseu era o membro que a maioria
das igrejas gostaria de ter. Muitos pastores o tratariam de forma especial,
pois dava o dízimo de tudo. Então, “ele se achava!”. E ousou se comparar com
aquele miserável que, batendo no peito, dizia simplesmente: “Ó, Deus, tenha
misericórdia de mim, pecador!”. É o que T. S. Eliot chamou: “a purificação da
razão / Na terra das nossas súplicas”.
Sempre que leio este texto lembro-me do
Rei Davi. Um homem que ocupava o mais alto cargo da nação, mas que conhecia o
seu verdadeiro lugar na ordem das coisas: “Compadece-te de mim, ó Deus, segundo
a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as
minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me
do meu pecado” (Sl. 51:1,2). Talvez o pecador também se lembrasse desse salmo.
Então
veio o golpe fatal. Jesus conclui a parábola dizendo que o pecador, e não o
fariseu, foi para casa, justificado. O fariseu com sua retidão não entendeu
nada sobre o efeito do pecado no coração humano. O pecador, ao reconhecer o seu
lastimável estado, trilhava o caminho dos céus.
A igreja está cheia de
fariseus que medem o seu grau de santidade comparando com o dos outros. Pobres
tolos! Dependência. Esta é a palavra-chave.
O verdadeiro santo sabe da enorme distância que o separa do ideal
divino, por isso prostra-se humildemente, sabendo que é dependente da graça de
Deus.
(Trecho do livro "Um Grito de Ausência" © de Samuel Rezende)