A primeira vez que o Papa Francisco apareceu na janela do Vaticano disse à Praça de S. Pedro que os irmãos cardeais o tinham ido buscar ao fim do mundo.
E assim fica descodificado o título deste apontamento. O fim do mundo é a Argentina, país bonito, rico e extenso que tive oportunidade de visitar já por duas vezes. A ida ao limite sul do mundo, em Ushuaia, foi um momento inesquecível. E jamais esquecerei aquele passeio pelo glaciar Perito Moreno. E a ida ao santuário do tango, o Teatro Carlos Gardel, e à La Viruta… Enfim, e muitas outras coisas bonitas.
Do fim do mundo veio algo que até agora é genericamente aceite como muito bom e que é a nova liderança da Igreja Católica.
E de lá também veio até à Europa a Presidente, Senhora Cristina Fernández de Kirchner. Veio para ver o Papa Francisco. Lá no fim do mundo as relações dela com o então cardeal Jorge Bergoglio não seriam, segundo li na imprensa, muito famosas. Mas ela veio fazer as pazes e introduziu algo de novo. Trocou beijos com o Papa. Isto pareceu-me muito bom porque é mais um condimento de humanidade no estatuto papal. Eu devo dizer que sinto simpatia pela Senhora Kirchner. Não pela sua vida política, mas porque ficou viúva tão cedo. É relativamente nova, pois nasceu em 19 de Fevereiro de 1953. No dia em que soube que o seu marido Néstor tinha sido vitimado por um ataque cardíaco, apoderou-se de mim um estranho sentimento de tristeza e solidariedade.
Um outro elemento bom, que pode ter passado despercebido para muita gente mas não para o Diário de Notícias de 20 de Março, é o facto de vir também do fim do mundo a próxima Rainha da Holanda, a princesa Máxima, que nasceu em Buenos Aires e que ascenderá ao trono holandês no próximo mês de Abril.
Para além destas coisas boas que vêm do fim do mundo, haverá muitas outras com certeza. Mas verdadeiramente aquilo de que eu quero falar aqui e hoje é de uma coisa má. Muito má mesmo. É a argentinização da banca europeia.
Por vicissitudes diversas, nomeadamente por erradas políticas do FMI, a banca argentina entrou em colapso total e sistemático há já vários anos e nunca mais se endireitou. Os argentinos não confiam nos bancos e só põem neles o dinheiro absolutamente essencial. O resto guardam-no em US dólares escondidos nos sítios mais impensáveis. Contou-me há dias uma amiga que uma certa pessoa sua conhecida vendeu a casa em que morava para se mudar para outra cidade. Às tantas lembrou-se de que tinha deixado esquecido no forro dessa casa um embrulho com um considerável pecúlio em dólares. Dirigiu-se humildemente ao novo dono da casa a quem explicou a situação. Gentilmente, ele ajudou-a a retirar o seu embrulho. Era um privado. Se fosse um banco, muito provavelmente o embrulho estaria definitivamente perdido.
O fenómeno do descrédito no sistema bancário está a chegar à Europa e em força. Podem dizer que esse mal não vem do fim do mundo mas a fonte é a mesma: o FMI.
Escrevia há dias Manuel Alegre que nesta Europa germanizada toma-se uma medida e destrói-se um país. Referia-se obviamente ao que estão a fazer a Chipre. Inicialmente queriam impor um imposto sobre todos os depósitos, se bem que, acima dos cem mil euros, esse imposto era bem mais gravoso. Ignorantes não sabiam que, graças aos esforços internacionais, quase todos os países têm aquilo a que se chama seguro dos depósitos e que garante os depósitos bancários até cem mil euros. Seria o descrédito total que o Estado viesse agora dizer que afinal aquilo que era dado por garantido já não o era. E isso ab initio ,desde o princípio. Então, ao aperceberem-se da sua ignorância, os senhores do Eurogrupo dispensaram o imposto sobre os depósitos abaixo dos cem mil euros, mas atiraram-se, com inaudita sanha, aos depósitos acima dos cem mil euros, que serão todos confiscados em trinta por cento.
Tenho um amigo advogado reformado que, durante a sua vida activa não cuidou devidamente de actualizar os descontos para a Caixa de Previdência. E foi confrontado com a realidade nua e crua. Quando o quis fazer já era tarde. E agora a sua reforma são umas escassas centenas de euros. Mas acrescentou que consegue viver porque sempre foi poupado e tem um pecúlio na Caixa, que lhe dá o complemento necessário para uma vida, com um mínimo de dignidade. Perguntei-lhe que tipo de aplicação tem e respondeu que é o depósito a prazo, pois é o mais seguro. Nada de acções, obrigações, fundos ou produtos alavancados. Só o depósito a prazo lhe oferece confiança. Se esse meu amigo fosse um cidadão cipriota, na segunda-feira passada teria acordado com menos trinta por cento desses depósitos. Ou seja, um depósito de duzentos mil, perderia trinta mil, pois os primeiros cem estão garantidos pelo seguro de depósitos. E se tiver trezentos mil teria visto voar, numa só noite, sessenta mil, e assim por diante.
O efeito dominó pode vir aí.
O Presidente do Eurogrupo, Sr. Jeroen Dijsselbloem descaiu-se em declarações dizendo que a receita cipriota poderia ser aplicada a outros países europeus. Quais, não disse. Mas logo pensamos nos que estão na berlinda: Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha.
Face às fortes recriminações públicas ele veio dizer, no dia seguinte, num comunicado de quatro linhas, que, afinal, o caso de Chipre é específico. Se ele sabia isso por que é que ameaçou com a aplicação da receita cipriota a outros países. Afinal ele é o Presidente do Eurogrupo. E esta é uma das posições onde um simples espirro pode dar origem à gripagem de todo o sistema económico.
Esse senhor merece todos os nomes. Para mim ele é um irresponsável desbocado, que lançou a chama à mecha Troika (FMI/BCE/EU) para a argentinização da banca europeia.
E só mais uma nota. Uma boa parte dos depósitos nos bancos de Chipre são de empresas e cidadãos russos. Em Londres apareceu morto, há dias, um bilionário russo, Boris Bereszovsky, em circunstâncias misteriosas. Suspeito que vamos ter aqui condimento para um excelente argumento de uma novela policial, com lavagem de dinheiro e muito poder político à mistura. Eventualmente envolvendo o sistema bancário cipriota.
quarta-feira, 27 de março de 2013
quinta-feira, 21 de março de 2013
Aquela que depois de morta foi Rainha.
No sábado passado, dia 16 de Março de 2013, passámos o dia a revisitar a história daquela que, depois de morta foi Rainha. Fizemo-lo integrados no Grupo dos Amigos de Telheiras, uma simpática organização aberta aos amigos dos Amigos de lá. É muito agradável passear na companhia deste Grupo porque podemos beneficiar de mares de simpatia e do trabalho dedicado, desinteressado e entusiasta de algumas pessoas que se aplicam a tratar dos detalhes da organização logística e administrativa de cada passeio e da cuidada investigação para coligir e transmitir a informação apropriada a cada local visitado.
Embora, ao princípio, possamos pensar que é inútil estarmos a recordar histórias do passado e a revisitar locais onde já estivemos uma ou mais vezes, acabámos sempre por descobrir coisas novas e por constatar como nós mudámos ao ponto de as pessoas que somos hoje serem muitíssimo diferentes das que éramos quando estivemos em determinado local pela última vez. Apenas a memória e os nossos dados pessoais nos unem a esse passado porque, em quase todo o resto, somos pessoas diferentes, nomeadamente na maneira de olhar e de valorizar aquilo que vemos. E assim aprendemos sempre algo de novo.
Neste caso, por exemplo, foi a primeira vez que me apercebi do verdadeiro alcance da expressão “Aquela que depois de morta foi Rainha” que escolhi para título deste apontamento. E isto aconteceu quando pude olhar para uma colorida gravura posta a circular pela pessoa do Grupo especialista em história, gravura essa datada do começo do século dezanove, onde D. Pedro está sentado no seu trono real tendo à sua direita um outro em que está uma Rainha devidamente vestida e adornada e coroada, a ser venerada por dois nobres ajoelhados, que entram no desenho de tal jeito que ficamos com a ideia de que são os da frente de uma extensa fila. Nota-se que a figura da Rainha não corresponde a uma pessoa viva porque tem os olhos fechados e o autor do desenho conseguiu incutir-lhe a posição fria, rija e distante, própria de um cadáver. E ao que parece os nobres tinham mesmo que beijar a mão fria do cadáver da Rainha.
Na visita aos locais históricos dos amores de Pedro e Inês sentimos que há por detrás uma dramática história que foi real. Pode ter havido lendas, mas a história aconteceu mesmo. Teve a montante uma parte linda em que um príncipe se encantou por uma bela galega, aia da sua mulher legítima, e que mais tarde, depois de a sua mulher falecer em 1345, lhe retribuiu o amor com quatro filhos dos quais sobreviveram três. Temos no meio um enorme drama humano em que essa mulher é surpreendida em sua casa, numa tranquila manhã de inverno, quando fazia a sua vida doméstica normal. Aí é degolada sem apelo nem agravo e sem dó nem piedade por carrascos, a mando do rei seu sogro. Nesse intenso drama central incluímos a surpresa, a dor e o pranto do marido e dos filhos quando se aperceberam do que tinha acontecido. E a jusante temos a vivência desses familiares queridos com o peso da dolorosa recordação e uma série de acontecimentos dramáticos e de peripécias que transformaram os amores de Pedro e Inês no maior mito romântico da história de Portugal.
Foi com a intenção de recordarmos esses trágicos acontecimentos que fomos visitar o campus do Convento de Santa Clara a Velha, em Coimbra.
Aí pudemos verificar que tem sido executado um notável e metódico trabalho de investigação arqueológica e de recuperação do património. Pensar que tudo isto esteve, até há bem pouco tempo, quase totalmente coberto de lama e água… Mas não vamos agora falar de recuperação do património porque o nosso tema é outro: os amores de Pedro e Inês.
A certa altura, o guia que nos mostrou o Convento quedou-se numa das passadeiras que atravessam o campus e chamou-nos a atenção para o que resta de um muro em que reconhecemos parte de uma fachada, ainda com a cantaria de duas janelas, que fazia parte do palácio em que Inês foi martirizada.
Quem sabe se não terá sido por uma daquelas janelas que Inês lançou o último olhar sobre o mundo, nessa manhã fria de 7 de Janeiro de 1355, depois de fazer um derradeiro aceno de despedida ao seu marido que ia ao campo fazer uma vulgar caçada. Talvez a intenção dele fosse apenas apanhar um presa e voltar a tempo de a preparar para o almoço da família. Quem sabe se Inês, ao ver Pedro afastar-se, não pressentiu que algo de terrível se ia abater sobre ela logo a seguir. Na altura ela teria 35 anos e tinha consigo os filhos Dinis, de 1 ano, João, de 6, e Beatriz de 8.
O relacionamento com o sogro, o rei, não era famoso. E quando o viu irromper pela casa adentro, acompanhado de três sinistras caras façanhudas, logo estremeceu de pavor. O rei foi directo a ela atirando-lhe palavras ásperas, dizendo-lhe que, após parecer do seu Conselho da Coroa que reuniu em Montemor, ele decidira condená-la à morte. Ela lança-se aos seus pés numa súplica de lágrimas, com os filhos João e Beatriz agarrados a ela, que gritam por a verem em pranto. O pequeno Diniz esperneia no berço e grita também contagiado pelo coro pungente da mãe e dos irmãos. O rei ainda vacila, fica sem voz e hesita por um momento. Mas logo o seu olhar se cruza com os dos algozes que o acompanham ouvindo de um deles que palavra de rei não volta atrás. Tolhido nas palavras fixa o olhar na porta de saída e escapa-se por ela. Um dos algozes logo agarra Inês pelos cabelos e num só golpe separa-lhe a cabeça do corpo que cai desamparado como se fosse uma árvore cortada, ainda com os dois filhos colados.
Esta cena, que já foi contada e recontada por tanta gente e em épocas diferentes, sempre imaginada porque ninguém assistiu a ela, só é lembrada aqui porque ali em frente está a janela por onde Inês terá olhado para o Mondego e visto o céu pela última vez.
Os restos mortais de Inês ficaram depositados, por alguns anos, no Convento de Santa Clara a Velha, a menos de duzentos metros do local onde foi degolada.
Do lado de lá daquela fachada há actualmente um pequeno pátio onde são cultivadas diversas espécies hortícolas e aromáticas. As primeiras sementes destas culturas foram encontradas nas ruínas do Convento de Santa Clara a Velha, numa espécie de celeiro de sementes, bem conservado ao ponto de, muitos séculos depois, ainda poderem ser reproduzidas. Pareceu-me muito interessante essa horta conventual. Contudo, talvez por estar sugestionado pelo drama de Inês, ao olhar para aquela pequena cultura fiquei com a ideia de que estava a olhar para um cemitério, pois os diversos canteiros do horto têm a dimensão, a forma e a disposição de campas rasas.
Em frente daqueles restos de fachada perguntamos como seria tudo isso quando Inês foi ali degolada. Não há desenhos coevos. O mais antigo que se conhece foi feito por Pier Maria Baldi, um desenhador paisagista que acompanhou o Grão Duque italiano Cosme de Médicis numa viagem por Portugal e Espanha. Ele fez desenhos das diversas cidades e vilas por onde iam passando. A compilação desses desenhos está disponível na internet. O de Coimbra é o número XLI dessa compilação e foi feito em Fevereiro de 1669, ou seja 314 anos após o trágico martírio de Inês.
Talvez o ambiente do local no tempo de Inês fosse sensivelmente idêntico ao representado por Baldi.
Pormenor da gravura de Baldi com o complexo do Convento de Santa Clara a Velha. O Paço da Rainha será o que aparece no extremo do lado direito.
Ainda não tinham ocorrido grandes inundações, embora já se temessem, pois, numa informação à entrada da actual sala de exposições do complexo histórico, é referido que o Grão Duque Cosme menciona essa previsível contingência nas suas notas de viagem.
Pedro mandou trasladar os restos mortais de Inês do Convento de Santa Clara a Velha para o mosteiro de Alcobaça em 1362, não havendo notícias de que, até então, tenham sido afectados por inundações.
E fomos a Alcobaça para observar os túmulos de Inês e Pedro.
Antes, porém, a nossa companheira de passeio deu-se ao cuidado de nos ler a impressionante descrição que Fernão Lopes faz da trasladação. O relato, porque ouvido no transepto da igreja do Mosteiro e no ambiente em que os dois túmulos se encontram, pareceu-me ainda mais impressionante. Depois a nossa companheira guiou-nos a ver os pormenores dos baixo relevos de cada um dos dois túmulos que são, por si, um livro aberto de religião e de história. Até parece impossível que na pedra tenham sido gravados tantos pormenores. E, no entanto, nem sequer se sabe quem foi ou foram os autores de trabalhos tão delicados. Delicados ao ponto de muitas das cabeças das figurinhas já terem sido arrancadas por predadores inconscientes ou até pela corrosão do tempo.
Mereceu-nos especial atenção o túmulo de D. Pedro, na parte facial da cabeceira onde está representada numa Roda da Vida e Numa Roda da Fortuna toda a história dos amores de Pedro e Inês.
Nas doze edículas da Roda da Vida encontram-se representados, a partir do meio inferior e seguindo no sentido dos ponteiros do relógio:
• 1 - Inês acaricia um dos filhos;
• 2 - O casal convive com os três filhos;
• 3 - Inês e Pedro jogam xadrez;
• 4 - Os dois amantes mostram-se em terno convívio;
• 5 - Inês subjuga uma figura prostrada no chão;
• 6 - Pedro sentado num grandioso trono;
• 7 - Inês apanhada de surpresa pelos assassinos enviados por Afonso IV;
• 8 - Inês desmascarando um dos seus assassinos;
• 9 - Degolação de Inês;
• 10 - Inês já morta;
• 11 - Castigo dos assassinos de Inês;
• 12 - Pedro já envolto numa mortalha.
E na Roda da Fortuna, círculo interior, podemos ver representados:
• 1 - Inês sentada à esquerda de Pedro (por ainda não estarem casados);
• 2 - O casal troca de posição (Inês sentada à direita de Pedro, o que indica que já estão casados);
• 3 - Pedro e Inês sentados lado a lado parecendo um retrato oficial;
• 4 - Afonso IV a expulsar (por apontar do dedo) Inês do reino;
• 5 - Inês repele um homem que parece ser de novo Afonso IV;
• 6 - Pedro e Inês prostrados no chão, subjugados pela figura híbrida da Fortuna que segura a roda com as mãos.
Os túmulos foram abertos por ordem de D. Sebastião em 1569, havendo muitas dúvidas sobre o propósito com que o mandou fazer. Talvez para acalmar um rumor de fundo que grassava no reino segundo o qual os túmulos estavam afinal vazios. Sabe-se lá a razão. Ele também mandou abrir o túmulo de D. Urraca. Ele podia ter uma espécie de doença insólita de ver túmulos abertos.
Causam uma triste impressão os remendos em gesso feitos em cada um dos túmulos para tapar os buracos que os franceses fizeram, durante as invasões do começo do século XIX, quando os arrombaram e profanaram para de lá retirarem tudo o que pudesse ter algum valor. Li algures que após o macabro banquete do furto dos objectos de valor eles deixaram os cadáveres no chão, abandonados e descompostos o que muito chocou os frades que então ainda habitavam a abadia. Vi mencionado algures que os restos de Pedro estavam no chão embrulhados num vulgar pano de tenda escarlate. E que a cabeça de Inês foi encontrada abandonada numa sala ao lado mantendo ainda muitos dos seus cabelos loiros. Isto dá para imaginarmos a cena selavagem de um boçal militar francês a ver a cabeça no túmulo ainda coroada e a retirá-la e fugir com ela rosnando aos que estavam perto para não tocarem no seu naco do banquete. Como a Rainha foi coroada e entronizada depois de morta é natural que os que a prepararam tenham tido o cuidado de fixarem a coroa e os brincos de uma maneira mais segura. E talvez por isso a besta que se apoderou da sua cabeça tenha sentido a necessidade de ir para um canto mais recatado para retirar as jóias sem as danificar. E uma vez satisfeita a sua gula macabra lá deixou os restos abandonados ao deus-dará.
Embora, ao princípio, possamos pensar que é inútil estarmos a recordar histórias do passado e a revisitar locais onde já estivemos uma ou mais vezes, acabámos sempre por descobrir coisas novas e por constatar como nós mudámos ao ponto de as pessoas que somos hoje serem muitíssimo diferentes das que éramos quando estivemos em determinado local pela última vez. Apenas a memória e os nossos dados pessoais nos unem a esse passado porque, em quase todo o resto, somos pessoas diferentes, nomeadamente na maneira de olhar e de valorizar aquilo que vemos. E assim aprendemos sempre algo de novo.
Neste caso, por exemplo, foi a primeira vez que me apercebi do verdadeiro alcance da expressão “Aquela que depois de morta foi Rainha” que escolhi para título deste apontamento. E isto aconteceu quando pude olhar para uma colorida gravura posta a circular pela pessoa do Grupo especialista em história, gravura essa datada do começo do século dezanove, onde D. Pedro está sentado no seu trono real tendo à sua direita um outro em que está uma Rainha devidamente vestida e adornada e coroada, a ser venerada por dois nobres ajoelhados, que entram no desenho de tal jeito que ficamos com a ideia de que são os da frente de uma extensa fila. Nota-se que a figura da Rainha não corresponde a uma pessoa viva porque tem os olhos fechados e o autor do desenho conseguiu incutir-lhe a posição fria, rija e distante, própria de um cadáver. E ao que parece os nobres tinham mesmo que beijar a mão fria do cadáver da Rainha.
Na visita aos locais históricos dos amores de Pedro e Inês sentimos que há por detrás uma dramática história que foi real. Pode ter havido lendas, mas a história aconteceu mesmo. Teve a montante uma parte linda em que um príncipe se encantou por uma bela galega, aia da sua mulher legítima, e que mais tarde, depois de a sua mulher falecer em 1345, lhe retribuiu o amor com quatro filhos dos quais sobreviveram três. Temos no meio um enorme drama humano em que essa mulher é surpreendida em sua casa, numa tranquila manhã de inverno, quando fazia a sua vida doméstica normal. Aí é degolada sem apelo nem agravo e sem dó nem piedade por carrascos, a mando do rei seu sogro. Nesse intenso drama central incluímos a surpresa, a dor e o pranto do marido e dos filhos quando se aperceberam do que tinha acontecido. E a jusante temos a vivência desses familiares queridos com o peso da dolorosa recordação e uma série de acontecimentos dramáticos e de peripécias que transformaram os amores de Pedro e Inês no maior mito romântico da história de Portugal.
Foi com a intenção de recordarmos esses trágicos acontecimentos que fomos visitar o campus do Convento de Santa Clara a Velha, em Coimbra.
Aí pudemos verificar que tem sido executado um notável e metódico trabalho de investigação arqueológica e de recuperação do património. Pensar que tudo isto esteve, até há bem pouco tempo, quase totalmente coberto de lama e água… Mas não vamos agora falar de recuperação do património porque o nosso tema é outro: os amores de Pedro e Inês.
A certa altura, o guia que nos mostrou o Convento quedou-se numa das passadeiras que atravessam o campus e chamou-nos a atenção para o que resta de um muro em que reconhecemos parte de uma fachada, ainda com a cantaria de duas janelas, que fazia parte do palácio em que Inês foi martirizada.
Quem sabe se não terá sido por uma daquelas janelas que Inês lançou o último olhar sobre o mundo, nessa manhã fria de 7 de Janeiro de 1355, depois de fazer um derradeiro aceno de despedida ao seu marido que ia ao campo fazer uma vulgar caçada. Talvez a intenção dele fosse apenas apanhar um presa e voltar a tempo de a preparar para o almoço da família. Quem sabe se Inês, ao ver Pedro afastar-se, não pressentiu que algo de terrível se ia abater sobre ela logo a seguir. Na altura ela teria 35 anos e tinha consigo os filhos Dinis, de 1 ano, João, de 6, e Beatriz de 8.
O relacionamento com o sogro, o rei, não era famoso. E quando o viu irromper pela casa adentro, acompanhado de três sinistras caras façanhudas, logo estremeceu de pavor. O rei foi directo a ela atirando-lhe palavras ásperas, dizendo-lhe que, após parecer do seu Conselho da Coroa que reuniu em Montemor, ele decidira condená-la à morte. Ela lança-se aos seus pés numa súplica de lágrimas, com os filhos João e Beatriz agarrados a ela, que gritam por a verem em pranto. O pequeno Diniz esperneia no berço e grita também contagiado pelo coro pungente da mãe e dos irmãos. O rei ainda vacila, fica sem voz e hesita por um momento. Mas logo o seu olhar se cruza com os dos algozes que o acompanham ouvindo de um deles que palavra de rei não volta atrás. Tolhido nas palavras fixa o olhar na porta de saída e escapa-se por ela. Um dos algozes logo agarra Inês pelos cabelos e num só golpe separa-lhe a cabeça do corpo que cai desamparado como se fosse uma árvore cortada, ainda com os dois filhos colados.
Esta cena, que já foi contada e recontada por tanta gente e em épocas diferentes, sempre imaginada porque ninguém assistiu a ela, só é lembrada aqui porque ali em frente está a janela por onde Inês terá olhado para o Mondego e visto o céu pela última vez.
Os restos mortais de Inês ficaram depositados, por alguns anos, no Convento de Santa Clara a Velha, a menos de duzentos metros do local onde foi degolada.
Do lado de lá daquela fachada há actualmente um pequeno pátio onde são cultivadas diversas espécies hortícolas e aromáticas. As primeiras sementes destas culturas foram encontradas nas ruínas do Convento de Santa Clara a Velha, numa espécie de celeiro de sementes, bem conservado ao ponto de, muitos séculos depois, ainda poderem ser reproduzidas. Pareceu-me muito interessante essa horta conventual. Contudo, talvez por estar sugestionado pelo drama de Inês, ao olhar para aquela pequena cultura fiquei com a ideia de que estava a olhar para um cemitério, pois os diversos canteiros do horto têm a dimensão, a forma e a disposição de campas rasas.
Em frente daqueles restos de fachada perguntamos como seria tudo isso quando Inês foi ali degolada. Não há desenhos coevos. O mais antigo que se conhece foi feito por Pier Maria Baldi, um desenhador paisagista que acompanhou o Grão Duque italiano Cosme de Médicis numa viagem por Portugal e Espanha. Ele fez desenhos das diversas cidades e vilas por onde iam passando. A compilação desses desenhos está disponível na internet. O de Coimbra é o número XLI dessa compilação e foi feito em Fevereiro de 1669, ou seja 314 anos após o trágico martírio de Inês.
Talvez o ambiente do local no tempo de Inês fosse sensivelmente idêntico ao representado por Baldi.
Ainda não tinham ocorrido grandes inundações, embora já se temessem, pois, numa informação à entrada da actual sala de exposições do complexo histórico, é referido que o Grão Duque Cosme menciona essa previsível contingência nas suas notas de viagem.
Pedro mandou trasladar os restos mortais de Inês do Convento de Santa Clara a Velha para o mosteiro de Alcobaça em 1362, não havendo notícias de que, até então, tenham sido afectados por inundações.
E fomos a Alcobaça para observar os túmulos de Inês e Pedro.
Antes, porém, a nossa companheira de passeio deu-se ao cuidado de nos ler a impressionante descrição que Fernão Lopes faz da trasladação. O relato, porque ouvido no transepto da igreja do Mosteiro e no ambiente em que os dois túmulos se encontram, pareceu-me ainda mais impressionante. Depois a nossa companheira guiou-nos a ver os pormenores dos baixo relevos de cada um dos dois túmulos que são, por si, um livro aberto de religião e de história. Até parece impossível que na pedra tenham sido gravados tantos pormenores. E, no entanto, nem sequer se sabe quem foi ou foram os autores de trabalhos tão delicados. Delicados ao ponto de muitas das cabeças das figurinhas já terem sido arrancadas por predadores inconscientes ou até pela corrosão do tempo.
Mereceu-nos especial atenção o túmulo de D. Pedro, na parte facial da cabeceira onde está representada numa Roda da Vida e Numa Roda da Fortuna toda a história dos amores de Pedro e Inês.
Nas doze edículas da Roda da Vida encontram-se representados, a partir do meio inferior e seguindo no sentido dos ponteiros do relógio:
• 1 - Inês acaricia um dos filhos;
• 2 - O casal convive com os três filhos;
• 3 - Inês e Pedro jogam xadrez;
• 4 - Os dois amantes mostram-se em terno convívio;
• 5 - Inês subjuga uma figura prostrada no chão;
• 6 - Pedro sentado num grandioso trono;
• 7 - Inês apanhada de surpresa pelos assassinos enviados por Afonso IV;
• 8 - Inês desmascarando um dos seus assassinos;
• 9 - Degolação de Inês;
• 10 - Inês já morta;
• 11 - Castigo dos assassinos de Inês;
• 12 - Pedro já envolto numa mortalha.
E na Roda da Fortuna, círculo interior, podemos ver representados:
• 1 - Inês sentada à esquerda de Pedro (por ainda não estarem casados);
• 2 - O casal troca de posição (Inês sentada à direita de Pedro, o que indica que já estão casados);
• 3 - Pedro e Inês sentados lado a lado parecendo um retrato oficial;
• 4 - Afonso IV a expulsar (por apontar do dedo) Inês do reino;
• 5 - Inês repele um homem que parece ser de novo Afonso IV;
• 6 - Pedro e Inês prostrados no chão, subjugados pela figura híbrida da Fortuna que segura a roda com as mãos.
Os túmulos foram abertos por ordem de D. Sebastião em 1569, havendo muitas dúvidas sobre o propósito com que o mandou fazer. Talvez para acalmar um rumor de fundo que grassava no reino segundo o qual os túmulos estavam afinal vazios. Sabe-se lá a razão. Ele também mandou abrir o túmulo de D. Urraca. Ele podia ter uma espécie de doença insólita de ver túmulos abertos.
Causam uma triste impressão os remendos em gesso feitos em cada um dos túmulos para tapar os buracos que os franceses fizeram, durante as invasões do começo do século XIX, quando os arrombaram e profanaram para de lá retirarem tudo o que pudesse ter algum valor. Li algures que após o macabro banquete do furto dos objectos de valor eles deixaram os cadáveres no chão, abandonados e descompostos o que muito chocou os frades que então ainda habitavam a abadia. Vi mencionado algures que os restos de Pedro estavam no chão embrulhados num vulgar pano de tenda escarlate. E que a cabeça de Inês foi encontrada abandonada numa sala ao lado mantendo ainda muitos dos seus cabelos loiros. Isto dá para imaginarmos a cena selavagem de um boçal militar francês a ver a cabeça no túmulo ainda coroada e a retirá-la e fugir com ela rosnando aos que estavam perto para não tocarem no seu naco do banquete. Como a Rainha foi coroada e entronizada depois de morta é natural que os que a prepararam tenham tido o cuidado de fixarem a coroa e os brincos de uma maneira mais segura. E talvez por isso a besta que se apoderou da sua cabeça tenha sentido a necessidade de ir para um canto mais recatado para retirar as jóias sem as danificar. E uma vez satisfeita a sua gula macabra lá deixou os restos abandonados ao deus-dará.
quarta-feira, 13 de março de 2013
As estranhas linguagens do além – O Português em liquidação
Há muitos anos atrás li um livro de um autor brasileiro sobre espiritismo. Sentia curiosidade em saber um pouco sobre o tema para compreender a razão de alguns anúncios publicados sobre videntes e adivinhos.
Esse autor explicava que os defuntos continuam a comunicar com os vivos sobre as mais variadas formas. O que era preciso era estar atento aos sinais. Estalinhos dos móveis de madeira e pequenos acidentes de entornar líquidos ou de deixar cair objectos eram alguns dos muitos exemplos que o autor dava. Eu nunca me apliquei a ouvir, a anotar e a interpretar tais sinais porque não acredito que isso tenha qualquer utilidade, sobretudo quando, a partir deles, se pretende adivinhar o futuro.
Quando eu era criança e brincava na minha aldeia com os meus companheiros, havia uma coisa bizarra que costumávamos fazer, sobretudo no começo das noites quentes de verão. Gostávamos de encostar os ouvidos a uma pedra da calçada, bem no chão, para ouvirmos os mortos a falar. Às vezes estávamos dois ou três a ouvir ao mesmo tempo e, de repente, saltávamos dizendo: eu ouvi. E a seguir acrescentávamos: vai acontecer qualquer coisa. Não me lembro de relacionar qualquer coisa com os ruídos que tenha ouvido, porque a nossa brincadeira acabava ali por medo de que os mortos se lembrassem de nos incomodar. Só mais tarde consegui ligar a causa do ruído ao efeito e fiquei aliviado porque afinal os ruídos não tinham nada a ver com os mortos. É que, naquele tempo, havia muitos carros de bois na aldeia e muitos animais ferrados e a tração das rodas ou o bater dos cascos nos paralelepípedos propagava-se pelo chão até certa distância tal como acontece com os carris do comboio ou com a areia da praia quando o mar lhe cai em cima.
Há uma crença africana de que a barriga das mulheres grávidas faz aumentar o céu. Quanto maior for a barriga maior o contributo da mulher para o tamanho do espaço celestial. Mas esse contributo só se concretiza se a criança nascer com saúde e puder ver, pois, de outro modo, o céu é reduzido drasticamente. Cada barriga que se esvazia antes do tempo determina um grande corte. Esta crença é bonita e, na verdade, não traz nada de novo. O céu só existe porque há olhos para o verem. Se não houvesse um par de olhos, pelo menos, a ver o céu, este não existia. E, mesmo vendo-o, sabemos que não existe. Na distância onde o vemos e para a frente é o cosmos que não tem limites. Nele se passeiam cometas, planetas, estrelas e constelações.
Assim todas as linguagens do oculto, do abstracto e do sobrenatural podem ter uma explicação natural. Mas há quem procure interpretar o seu ocultismo por entender o contrário. Por exemplo, ouvi dizer que, no dia em que Bento XVI anunciou a sua resignação, caíram, não no momento do anúncio mas mais tarde, dois impressionantes raios sobre a cúpula da Basílica de S. Pedro. Eu não cheguei a ver o vídeo que, me disseram, circulou na internet. Mas li interpretações de muito mau augúrio para a Igreja Católica.
Já noutro plano e bem mais perto de nós, reparei há dias numa placa identificativa que me pareceu estranha e que, por isso,fotografei.
Quem a fez tinha a intenção de dizer que ali é o Banco Privado Português, em Liquidação. Mas a mensagem que lá está, por virtude do uso de dois campos com cores diferentes, é que ali é o Banco Privado e que o Português está em liquidação. É estranha esta mensagem com algo de ocultismo, pois a parte no campo mais claro pode querer significar que o Português está a ser liquidado em todas as frentes.
E isso é mais do que verdade.
Por um lado, a juventude não tem condições económicas e sociais para constituir família e para procriar. E por isso, segundo a crença africana, as barrigas não contribuem para o aumento do céu. E quando as jovens, por descuido, ficam grávidas, optam muitas vezes pelo aborto porque não têm pão para elas e muito menos para elas poderem alimentar os filhos. E com tantas barrigas esvaziadas antes do tempo, o céu vai ficando cada vez mais pequeno. Diria mesmo já meio inferno. Ainda ontem os jornais noticiaram que um pai falido se atirou para um poço, arrastando consigo o filho pequenino para a morte. Este é um sinal muito forte de que o Português está em liquidação. E mesmo quem não está nesse sufoco, e felizmente ainda é a maioria, anda a ser consumido pela preocupação. Vejam o caso dos reformados. Houve um senhor parlamentar que lhes chamou peste grisalha e os culpou da persistência da crise.
E, por outro, o Estado atirou-se aos reformados com uma sanha inusitada. Olhemos para o recibo de um reformado da classe média que toda a vida contribuiu para ter uma reforma.
De uma pensão bruta de 3.251,47 apenas recebeu, em Fevereiro, 1.594,54 Euros, ou seja, menos de metade. E dessa metade o Estado ainda vai caçar uma parte significativa, com o IVA de 23% e com as taxas nas facturas da água e da luz, e mais o IMI e outras formas de nos tirar dinheiro. Em conclusão, uma vez os noves fora fica quase nada.
Confirma-se, assim, a mensagem oculta da placa do Banco Privado / Português em Liquidação.
Esse autor explicava que os defuntos continuam a comunicar com os vivos sobre as mais variadas formas. O que era preciso era estar atento aos sinais. Estalinhos dos móveis de madeira e pequenos acidentes de entornar líquidos ou de deixar cair objectos eram alguns dos muitos exemplos que o autor dava. Eu nunca me apliquei a ouvir, a anotar e a interpretar tais sinais porque não acredito que isso tenha qualquer utilidade, sobretudo quando, a partir deles, se pretende adivinhar o futuro.
Quando eu era criança e brincava na minha aldeia com os meus companheiros, havia uma coisa bizarra que costumávamos fazer, sobretudo no começo das noites quentes de verão. Gostávamos de encostar os ouvidos a uma pedra da calçada, bem no chão, para ouvirmos os mortos a falar. Às vezes estávamos dois ou três a ouvir ao mesmo tempo e, de repente, saltávamos dizendo: eu ouvi. E a seguir acrescentávamos: vai acontecer qualquer coisa. Não me lembro de relacionar qualquer coisa com os ruídos que tenha ouvido, porque a nossa brincadeira acabava ali por medo de que os mortos se lembrassem de nos incomodar. Só mais tarde consegui ligar a causa do ruído ao efeito e fiquei aliviado porque afinal os ruídos não tinham nada a ver com os mortos. É que, naquele tempo, havia muitos carros de bois na aldeia e muitos animais ferrados e a tração das rodas ou o bater dos cascos nos paralelepípedos propagava-se pelo chão até certa distância tal como acontece com os carris do comboio ou com a areia da praia quando o mar lhe cai em cima.
Há uma crença africana de que a barriga das mulheres grávidas faz aumentar o céu. Quanto maior for a barriga maior o contributo da mulher para o tamanho do espaço celestial. Mas esse contributo só se concretiza se a criança nascer com saúde e puder ver, pois, de outro modo, o céu é reduzido drasticamente. Cada barriga que se esvazia antes do tempo determina um grande corte. Esta crença é bonita e, na verdade, não traz nada de novo. O céu só existe porque há olhos para o verem. Se não houvesse um par de olhos, pelo menos, a ver o céu, este não existia. E, mesmo vendo-o, sabemos que não existe. Na distância onde o vemos e para a frente é o cosmos que não tem limites. Nele se passeiam cometas, planetas, estrelas e constelações.
Assim todas as linguagens do oculto, do abstracto e do sobrenatural podem ter uma explicação natural. Mas há quem procure interpretar o seu ocultismo por entender o contrário. Por exemplo, ouvi dizer que, no dia em que Bento XVI anunciou a sua resignação, caíram, não no momento do anúncio mas mais tarde, dois impressionantes raios sobre a cúpula da Basílica de S. Pedro. Eu não cheguei a ver o vídeo que, me disseram, circulou na internet. Mas li interpretações de muito mau augúrio para a Igreja Católica.
Já noutro plano e bem mais perto de nós, reparei há dias numa placa identificativa que me pareceu estranha e que, por isso,fotografei.
Quem a fez tinha a intenção de dizer que ali é o Banco Privado Português, em Liquidação. Mas a mensagem que lá está, por virtude do uso de dois campos com cores diferentes, é que ali é o Banco Privado e que o Português está em liquidação. É estranha esta mensagem com algo de ocultismo, pois a parte no campo mais claro pode querer significar que o Português está a ser liquidado em todas as frentes.
E isso é mais do que verdade.
Por um lado, a juventude não tem condições económicas e sociais para constituir família e para procriar. E por isso, segundo a crença africana, as barrigas não contribuem para o aumento do céu. E quando as jovens, por descuido, ficam grávidas, optam muitas vezes pelo aborto porque não têm pão para elas e muito menos para elas poderem alimentar os filhos. E com tantas barrigas esvaziadas antes do tempo, o céu vai ficando cada vez mais pequeno. Diria mesmo já meio inferno. Ainda ontem os jornais noticiaram que um pai falido se atirou para um poço, arrastando consigo o filho pequenino para a morte. Este é um sinal muito forte de que o Português está em liquidação. E mesmo quem não está nesse sufoco, e felizmente ainda é a maioria, anda a ser consumido pela preocupação. Vejam o caso dos reformados. Houve um senhor parlamentar que lhes chamou peste grisalha e os culpou da persistência da crise.
E, por outro, o Estado atirou-se aos reformados com uma sanha inusitada. Olhemos para o recibo de um reformado da classe média que toda a vida contribuiu para ter uma reforma.
De uma pensão bruta de 3.251,47 apenas recebeu, em Fevereiro, 1.594,54 Euros, ou seja, menos de metade. E dessa metade o Estado ainda vai caçar uma parte significativa, com o IVA de 23% e com as taxas nas facturas da água e da luz, e mais o IMI e outras formas de nos tirar dinheiro. Em conclusão, uma vez os noves fora fica quase nada.
Confirma-se, assim, a mensagem oculta da placa do Banco Privado / Português em Liquidação.
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domingo, 10 de março de 2013
Passagem de ano em Cabo Verde – 26. Epílogo.
Reservámos o último dia da nossa viagem de fim de ano a Cabo Verde para o relaxamento. Escolhemos, para isso, o Hotel Pestana Trópico por nos parecer que tinha as condições necessárias. Já lá tinha estado em 1998, quando era apenas Trópico e não Pestana, e guardei uma boa recordação dessa estadia. Os quartos são amplos e confortáveis. A piscina é espaçosa e bem cuidada. Os serviços de bar e restaurante são bons.
Estava um sol radioso e quente e a temperatura exterior era suficiente para nos permitir andar em fato de banho sem arrepios mas também sem sentirmos calor. Havia, é certo, lufadas de vento que revolviam tudo, fazendo com que os sacos de lixo parecessem balões a querer libertar-se dos caixotes. Mas mesmo assim estava-se bem num dos lados mais resguardados da piscina.
Estávamos nós e um casal francês, ele e ela já acima dos cinquenta, com duas crianças, menino e menina, que nos pareceram gémeas, o que se confirmou. Perguntámos se eram netos. E eles: não, são filhos, vieram já um pouco tarde, mas trouxeram-nos muita felicidade. E pareciam muito felizes. Acabámos por partilhar dois dedos de conversa. A certa altura a senhora veio dizer que lhe tinham dito na recepção que havia missa dominical na Igreja de Nossa Senhora da Graça, lá no Platô, e que ela tencionava ir lá sozinha porque o marido queria ficar com os meninos. Ainda pensei em oferecer-me para ir com ela em táxi partilhado mas tive receio de que a minha espontânea disponibilidade fosse mal entendida. E assim por ali fiquei a ganhar coragem para ir para a água o que não foi fácil. Mas contados um, dois, três lá estava eu e o que custa é começar. Afinal a água não estava assim tão fria. A certa altura dirigi-me a um senhor que estava de pé junto a um dos cantos da piscina. Ele estava vestido como os empregados do hotel e ia pedir-lhe um colchão para as cadeiras. Disse-lhe olá e perguntei-lhe se era da organização e ele disse também olá e não disse mais nada. Logo me pareceu estranha a sua resposta e encolhi-me no que respeita à intenção de lhe pedir o colchão. Ele continuou hirto que nem uma torre sem tirar os olhos de nós. Concluí que estava ali para vigiar.
Fui dar mais um mergulho e a seguir, porque já era a altura de irmos à bucha do almoço, fui para o duche da piscina com a ideia de me lavar ao ponto de já não precisar de usar o banho do quarto. Estava no chuveiro quando reparei que o vento levava salpicos de água para longe. Então vi que, sem querer, estava a borrifar um grupo de cavalheiros que estavam sentados no anel exterior do bar a poucos metros do meu duche. Fechei a torneira e pedi-lhes desculpa. É o vento, disse. O senhor que estava do lado de lá da mesa olhou para mim com ar compreensivo. Ao cruzarmos os olhares vi que era uma cara que eu conhecia. Pus a cabeça a rebobinar e localizei aquela imagem na TV do Viviplace, em Nova Sintra, na ilha Brava, quando, num dos dias que lá passei, me detive a ver o que dizia um senhor que preenchia o pequeno ecrã. E também aí ele me atraiu a atenção por me parecer uma cara familiar mas não consegui saber de onde. Talvez da faculdade, sei lá. Era o Dr. Jorge Fonseca, Presidente da República de Cabo Verde que, no ecrã do Viviplace, se dirigia ao País em mensagem de ano novo. No dia 6 de Janeiro, domingo, pelas onze horas da manhã, tomava o pequeno-almoço com amigos ou talvez estivesse a fazer uma reunião de trabalho no Pestana Trópico da Praia.
Senhor Presidente desculpe mais uma vez se o salpiquei com a água do chuveiro sem querer. A culpa não foi minha foi do vento.
A seguir informei as minhas companheiras de quem andava por ali e, quando fomos para o bar, sentámo-nos num cantinho mais afastado. Quando o Senhor Presidente saiu cumprimentou simpaticamente os empregados do hotel e os clientes presentes.
À noite fomos jantar no Restaurante Titi Sushilounge no Complexo Ondas do Mar, com os bons amigos Ana Marta e Zé e seus dois rebentos. Amorosos. Lindos. Simpáticos. Embora com ementa japonesa, o restaurante é explorado por um português que se desfez em amabilidades para connosco, tornando o seu estabelecimento numa aberta sala de convívio apresentando os clientes uns aos outros. Gostei do ambiente familiar que nos proporcionou. E mais. No fim preocupou-se em organizar o regresso dos clientes a casa, do tipo tu vais para tal sítio, podes levar fulano. E para nós arranjou-nos a boleia de um simpático casal que, no percurso, nos deu a conhecer o sumário da sua história de vida e que é que ele trabalha em Moçambique e ela em Cabo Verde e que, apenas de quando em quando, se encontram, ou lá em Moçambique ou cá em Cabo Verde.
O dia passou depressa e chegou a altura de arrumar a bagagem para, no dia seguinte bem cedinho, sairmos para o aeroporto. E assim foi. No dia sete de Janeiro, segunda-feira, estávamos lá a tempo e horas para as formalidades de embarque. Mais uma vez houve a cena da balança e da grelha de medidas para triagem da bagagem que pode passar ou não para bordo. Como não trazíamos nada pedimos aos funcionários para nos deixarem passar e avançamos. Eles, após alguma hesitação, lá nos deixaram seguir.
Eram onze horas e doze minutos quando levantámos voo. Durante uma boa parte da viagem distraí-me a ver a sombra do avião espelhada nas nuvens. Ora ficava mais perto e aumentava, ora se distanciava e diminuia, ora desparecia completamente. Mas quando estava mais perto era impressionante porque nos dava a sensação de irmos a esquiar sobre as nuvens.
Às treze horas e quinze minutos o comandante chamou-nos a atenção par vermos a ilha da Grã Canária.
Às quinze horas estávamos a aterrar em Lisboa.
Como sempre, na aproximação aproveitamos para tirar algumas fotografias aéreas da nossa linda cidade de Lisboa.
Post Scriptum - No Bom pano cai a nódoa – O bom pano é o hotel Pestana Trópico na cidade da Praia. A nódoa é o facto de, nos três dias que lá passámos, de 5 a 7 de Janeiro de 2013, nos quartos 202 e 206, não termos conseguido tomar um banho de água quente. Reclamámos, mais do que uma vez, junto da recepção, onde nos disseram que os nossos quartos estavam no fim do circuito da água e que tínhamos de abrir as torneiras e esperar. Muita água deixámos correr… para nada. Bastava que nos tivessem mudado para uns quartos mais próximos do início do circuito. Mas só vimos encolher de ombros. E mais uma nota negativa. Aplicaram-nos a mesma tarifa para um quarto duplo e um individual só porque foram marcados em momentos e por canais diferentes. O nosso desconforto foi grande e foi muita a água que correu, para nada. Como em Cabo Verde a água é um bem precioso, pedimos desculpa ao Povo Cabo-verdiano por este esbanjamento involuntário e inútil. E já agora uma nota positiva para o simplinho Hotel América. Quando chegámos a Cabo Verde foi lá que ficámos, uma noite apenas. E apesar de ser de madrugada tinham alguém à espera que logo correu ao táxi a ocupar-se das nossas malas e a levá-las até aos quartos. E tivemos direito a duche de água quente e a um bom pequeno-almoço. E pagámos um preço muito, muitíssimo inferior. E, no Pestana Trópico, só se ocuparam das nossas malas após o check in.
Estava um sol radioso e quente e a temperatura exterior era suficiente para nos permitir andar em fato de banho sem arrepios mas também sem sentirmos calor. Havia, é certo, lufadas de vento que revolviam tudo, fazendo com que os sacos de lixo parecessem balões a querer libertar-se dos caixotes. Mas mesmo assim estava-se bem num dos lados mais resguardados da piscina.
Estávamos nós e um casal francês, ele e ela já acima dos cinquenta, com duas crianças, menino e menina, que nos pareceram gémeas, o que se confirmou. Perguntámos se eram netos. E eles: não, são filhos, vieram já um pouco tarde, mas trouxeram-nos muita felicidade. E pareciam muito felizes. Acabámos por partilhar dois dedos de conversa. A certa altura a senhora veio dizer que lhe tinham dito na recepção que havia missa dominical na Igreja de Nossa Senhora da Graça, lá no Platô, e que ela tencionava ir lá sozinha porque o marido queria ficar com os meninos. Ainda pensei em oferecer-me para ir com ela em táxi partilhado mas tive receio de que a minha espontânea disponibilidade fosse mal entendida. E assim por ali fiquei a ganhar coragem para ir para a água o que não foi fácil. Mas contados um, dois, três lá estava eu e o que custa é começar. Afinal a água não estava assim tão fria. A certa altura dirigi-me a um senhor que estava de pé junto a um dos cantos da piscina. Ele estava vestido como os empregados do hotel e ia pedir-lhe um colchão para as cadeiras. Disse-lhe olá e perguntei-lhe se era da organização e ele disse também olá e não disse mais nada. Logo me pareceu estranha a sua resposta e encolhi-me no que respeita à intenção de lhe pedir o colchão. Ele continuou hirto que nem uma torre sem tirar os olhos de nós. Concluí que estava ali para vigiar.
Fui dar mais um mergulho e a seguir, porque já era a altura de irmos à bucha do almoço, fui para o duche da piscina com a ideia de me lavar ao ponto de já não precisar de usar o banho do quarto. Estava no chuveiro quando reparei que o vento levava salpicos de água para longe. Então vi que, sem querer, estava a borrifar um grupo de cavalheiros que estavam sentados no anel exterior do bar a poucos metros do meu duche. Fechei a torneira e pedi-lhes desculpa. É o vento, disse. O senhor que estava do lado de lá da mesa olhou para mim com ar compreensivo. Ao cruzarmos os olhares vi que era uma cara que eu conhecia. Pus a cabeça a rebobinar e localizei aquela imagem na TV do Viviplace, em Nova Sintra, na ilha Brava, quando, num dos dias que lá passei, me detive a ver o que dizia um senhor que preenchia o pequeno ecrã. E também aí ele me atraiu a atenção por me parecer uma cara familiar mas não consegui saber de onde. Talvez da faculdade, sei lá. Era o Dr. Jorge Fonseca, Presidente da República de Cabo Verde que, no ecrã do Viviplace, se dirigia ao País em mensagem de ano novo. No dia 6 de Janeiro, domingo, pelas onze horas da manhã, tomava o pequeno-almoço com amigos ou talvez estivesse a fazer uma reunião de trabalho no Pestana Trópico da Praia.
Senhor Presidente desculpe mais uma vez se o salpiquei com a água do chuveiro sem querer. A culpa não foi minha foi do vento.
A seguir informei as minhas companheiras de quem andava por ali e, quando fomos para o bar, sentámo-nos num cantinho mais afastado. Quando o Senhor Presidente saiu cumprimentou simpaticamente os empregados do hotel e os clientes presentes.
À noite fomos jantar no Restaurante Titi Sushilounge no Complexo Ondas do Mar, com os bons amigos Ana Marta e Zé e seus dois rebentos. Amorosos. Lindos. Simpáticos. Embora com ementa japonesa, o restaurante é explorado por um português que se desfez em amabilidades para connosco, tornando o seu estabelecimento numa aberta sala de convívio apresentando os clientes uns aos outros. Gostei do ambiente familiar que nos proporcionou. E mais. No fim preocupou-se em organizar o regresso dos clientes a casa, do tipo tu vais para tal sítio, podes levar fulano. E para nós arranjou-nos a boleia de um simpático casal que, no percurso, nos deu a conhecer o sumário da sua história de vida e que é que ele trabalha em Moçambique e ela em Cabo Verde e que, apenas de quando em quando, se encontram, ou lá em Moçambique ou cá em Cabo Verde.
O dia passou depressa e chegou a altura de arrumar a bagagem para, no dia seguinte bem cedinho, sairmos para o aeroporto. E assim foi. No dia sete de Janeiro, segunda-feira, estávamos lá a tempo e horas para as formalidades de embarque. Mais uma vez houve a cena da balança e da grelha de medidas para triagem da bagagem que pode passar ou não para bordo. Como não trazíamos nada pedimos aos funcionários para nos deixarem passar e avançamos. Eles, após alguma hesitação, lá nos deixaram seguir.
Eram onze horas e doze minutos quando levantámos voo. Durante uma boa parte da viagem distraí-me a ver a sombra do avião espelhada nas nuvens. Ora ficava mais perto e aumentava, ora se distanciava e diminuia, ora desparecia completamente. Mas quando estava mais perto era impressionante porque nos dava a sensação de irmos a esquiar sobre as nuvens.
Às treze horas e quinze minutos o comandante chamou-nos a atenção par vermos a ilha da Grã Canária.
Às quinze horas estávamos a aterrar em Lisboa.
Como sempre, na aproximação aproveitamos para tirar algumas fotografias aéreas da nossa linda cidade de Lisboa.
Post Scriptum - No Bom pano cai a nódoa – O bom pano é o hotel Pestana Trópico na cidade da Praia. A nódoa é o facto de, nos três dias que lá passámos, de 5 a 7 de Janeiro de 2013, nos quartos 202 e 206, não termos conseguido tomar um banho de água quente. Reclamámos, mais do que uma vez, junto da recepção, onde nos disseram que os nossos quartos estavam no fim do circuito da água e que tínhamos de abrir as torneiras e esperar. Muita água deixámos correr… para nada. Bastava que nos tivessem mudado para uns quartos mais próximos do início do circuito. Mas só vimos encolher de ombros. E mais uma nota negativa. Aplicaram-nos a mesma tarifa para um quarto duplo e um individual só porque foram marcados em momentos e por canais diferentes. O nosso desconforto foi grande e foi muita a água que correu, para nada. Como em Cabo Verde a água é um bem precioso, pedimos desculpa ao Povo Cabo-verdiano por este esbanjamento involuntário e inútil. E já agora uma nota positiva para o simplinho Hotel América. Quando chegámos a Cabo Verde foi lá que ficámos, uma noite apenas. E apesar de ser de madrugada tinham alguém à espera que logo correu ao táxi a ocupar-se das nossas malas e a levá-las até aos quartos. E tivemos direito a duche de água quente e a um bom pequeno-almoço. E pagámos um preço muito, muitíssimo inferior. E, no Pestana Trópico, só se ocuparam das nossas malas após o check in.
sexta-feira, 8 de março de 2013
Passagem de ano em Cabo Verde – 25. Um Platô cheio de história
Do Hotel Pestana Trópico até ao Platô, a colina mais antiga da cidade da Praia, fomos a pé. O percurso é relativamente longo mas faz-se bem seguindo pelo passeio marginal. A aragem que vem da baía ajuda-nos a compensar o calor do sol. No lado esquerdo temos um casario colorido e alinhado ao longo da estrada e arrumado na colina, em que sobressai, porque está identificada, a Embaixada do Brasil. E no lado da praia, dita do Gamboa, vemos, logo no início, as carcaças de dois barcos naufragados e abandonados, e depois um excelente campo de manutenção física com vários aparelhos para utilização livre dos cidadãos.
A seguir temos no lado esquerdo o edifício da central eléctrica que é muito bonito e está bem cuidado. E seguimos o nosso percurso.
E à frente vai ganhando volume o Platô, a colina onde se desenvolveu a cidade da Praia com a cabeça de toda a sua organização governativa e administrativa das ilhas de Cabo Verde.
Parece uma grande caravela virada para o mar, com um grande timoneiro na proa, neste caso a estátua do navegador Diogo Gomes. Um pouco mais atrás está um grande obelisco e que imaginamos como sendo o mastro principal dessa enorme caravela comandada por Diogo Gomes.
Subimos ao convés da caravela e logo notamos pelas datas, 1460 1960, que o obelisco é um marco comemorativo dos quinhentos anos dos descobrimentos. Mas a praça em que se encontra causa-nos um grande choque porque tem a linguagem veemente do abandono e destruição, embora esteja limpa.
No obelisco todos os dizeres informativos se perderam com a excepção das datas, que escaparam porque estão lá muito no alto. A estranha linguagem é intensificada pelo contraste da praça destroçada com o cuidado colorido dos edifícios envolventes, nomeadamente a Presidência da República, que fica mesmo ao lado.
Também os dizeres informativos da grande estátua do navegador Diogo Gomes desapareceram.
Só conseguimos saber que era a estátua de Diogo Gomes porque fomos ver aos livros.
As vistas a partir do Platô são abertas, vastas, deslumbrantes. Conseguimos ver a selecção nacional de Cabo Verde, os Tubarões Azuis, no estádio da Várzea, em preparação para o campeonato africano de futebol que se efectuou no início de 2013 e em que a selecção teve um desempenho notável.
Logo abaixo vemos uma rotunda que tem no meio três varões de ferro brancos com alturas diferentes. O conjunto é conhecido por o monumento à fome. Cabo Verde, devido à sua localização geográfica e às condições climáticas com pouca chuva, atravessou, no passado, picos de fome, por vezes com erupções sociais violentas. Este monumento pretende recordar uma dessas desastrosas ocorrências ocorrida em 20 de Fevereiro de 1945 quando, no seguimento de tumultos gerados pela fome, houve o assassinato em massa de 232 pessoas e o ferimento grave de 47. Hoje, felizmente, os tempos são outros, com mais e melhores recursos. Um bom planeamento da logística e dos recursos de frio e conservação bem como um melhor aproveitamento dos recursos locais permitem garantir a armazenagem de alimentos suficiente para prevenir crises sociais graves como as que ocorreram no passado.
O antigo quartel mantém os seus traços originais, sendo ainda visível num canto a carcaça de um velho carro de combate aí abandonado pelo exército português.
O Platô é, no seu conjunto, um precioso manual de história. Muitos dos nomes originais das ruas (por exemplo Serpa Pinto, Fontes P. de Melo, Alexandre Corvo, Banco Nacional Ultramarino, Visconde São Januário) foram preservados. Há estátuas de antigos governadores que se encontram bem conservadas.
A Praça Alexandre Albuquerque, nome de um homem que foi duas vezes governador de Cabo Verde e que a mandou construir em 1924, é um excelente exemplo da boa estética e arquitectura e do respeito dos cabo-verdianos pela sua história do passado.
Para ali convergem as outras ruas com as suas diversificadas actividades. O espaço é amplo e harmonioso. Ali sentado, em qualquer ponto da praça, o cidadão vê a Câmara Municipal, a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Graça, a Casa Feba e a Casa do Leão. O coreto é elegante e está bem cuidado. A praça é iluminada por energia solar. Tem internet livre o que muito contribui para que seja um excelente ponto para repouso e convívio.
No outro extremo do Platô está o edifício do Liceu que, com o bairro envolvente, é um bom exemplar da história e da elegância da arquitectura do século passado. O liceu foi construído em 1960 e foi então chamado Liceu Adriano Moreira. Pouco tempo após a independência, os cabo-verdianos decidiram rebaptizá-lo com o nome de Domingos Ramos, um natural de Cabo Verde que morreu nas matas da Guiné Bissau durante a guerra colonial.
Uma rua pedonal, a Rua 5 de Julho, liga a Praça Alexandre Albuquerque à Praça Domingos Ramos onde o liceu se encontra. No percurso é possível ver muitos edifícios ainda na sua traça antiga, de cores variadas, e dar uma olhadela ao colorido mercado municipal.
Para descansar escolhemos a esplanada do Restaurante Aviz, local que nos recomendaram para uma bebida ou uma refeição. Aí almoçámos, mas, francamente, ficámos muito desapontados com o serviço, incomodados com o tempo que nos fizeram esperar, e pela fraca qualidade da comida. Enfim, no nosso ponto de vista e de acordo com a experiência que tivemos, apenas a localização justifica a menção deste restaurante.
Do Platô descemos à Várzea para darmos uma olhadela ao mercado tradicional de Sucupira. É um vasto espaço coberto com tendas e tendinhas coladas umas às outras, onde se vendem panos coloridos e vemos alfaiates artesanais em plena laboração. Aí estão expostos os mais diversos artigos, não faltando a música das aparelhagens dos estabelecimentos que dão ao local o ambiente de uma feira. Atravessámos quase todo o espaço do mercado para chegarmos àquela que nos parecia ser a última tenda. E foi aí que começámos a mexer nos tecidos enquanto o lojista nos observava e nos ia fazendo recomendações. A certa altura ele pegou numa peça de tecido e tirou medidas com o seu metro em madeira. Eu ajudei e depois comentei que era um bom emprego ficar ali como ajudante dele. Ele riu-se e disse que nunca se sabe, com esta crise… E perguntei-lhe como se chamava e logo contou a sua história. Rocha Vicente. Esteve em Portugal durante o serviço militar. Fez a recruta e a especialidade em Viseu. Foi incorporado num batalhão para Angola. Foi desmobilizado em Março de 1974 e um mês depois deu-se o 25 de Abril. Agora, se a vida lhe correr bem, ainda gostava de voltar a Portugal para rever amigos e os lugares que conheceu.
E eu espero voltar a Cabo Verde e ao mercado de Sucupira para rever o amigo Rocha Vicente e voltar a comprar tecidos coloridos na sua tenda.
Também os dizeres informativos da grande estátua do navegador Diogo Gomes desapareceram.
Só conseguimos saber que era a estátua de Diogo Gomes porque fomos ver aos livros.
As vistas a partir do Platô são abertas, vastas, deslumbrantes. Conseguimos ver a selecção nacional de Cabo Verde, os Tubarões Azuis, no estádio da Várzea, em preparação para o campeonato africano de futebol que se efectuou no início de 2013 e em que a selecção teve um desempenho notável.
Logo abaixo vemos uma rotunda que tem no meio três varões de ferro brancos com alturas diferentes. O conjunto é conhecido por o monumento à fome. Cabo Verde, devido à sua localização geográfica e às condições climáticas com pouca chuva, atravessou, no passado, picos de fome, por vezes com erupções sociais violentas. Este monumento pretende recordar uma dessas desastrosas ocorrências ocorrida em 20 de Fevereiro de 1945 quando, no seguimento de tumultos gerados pela fome, houve o assassinato em massa de 232 pessoas e o ferimento grave de 47. Hoje, felizmente, os tempos são outros, com mais e melhores recursos. Um bom planeamento da logística e dos recursos de frio e conservação bem como um melhor aproveitamento dos recursos locais permitem garantir a armazenagem de alimentos suficiente para prevenir crises sociais graves como as que ocorreram no passado.
O antigo quartel mantém os seus traços originais, sendo ainda visível num canto a carcaça de um velho carro de combate aí abandonado pelo exército português.
O Platô é, no seu conjunto, um precioso manual de história. Muitos dos nomes originais das ruas (por exemplo Serpa Pinto, Fontes P. de Melo, Alexandre Corvo, Banco Nacional Ultramarino, Visconde São Januário) foram preservados. Há estátuas de antigos governadores que se encontram bem conservadas.
Para ali convergem as outras ruas com as suas diversificadas actividades. O espaço é amplo e harmonioso. Ali sentado, em qualquer ponto da praça, o cidadão vê a Câmara Municipal, a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Graça, a Casa Feba e a Casa do Leão. O coreto é elegante e está bem cuidado. A praça é iluminada por energia solar. Tem internet livre o que muito contribui para que seja um excelente ponto para repouso e convívio.
No outro extremo do Platô está o edifício do Liceu que, com o bairro envolvente, é um bom exemplar da história e da elegância da arquitectura do século passado. O liceu foi construído em 1960 e foi então chamado Liceu Adriano Moreira. Pouco tempo após a independência, os cabo-verdianos decidiram rebaptizá-lo com o nome de Domingos Ramos, um natural de Cabo Verde que morreu nas matas da Guiné Bissau durante a guerra colonial.
Uma rua pedonal, a Rua 5 de Julho, liga a Praça Alexandre Albuquerque à Praça Domingos Ramos onde o liceu se encontra. No percurso é possível ver muitos edifícios ainda na sua traça antiga, de cores variadas, e dar uma olhadela ao colorido mercado municipal.
Para descansar escolhemos a esplanada do Restaurante Aviz, local que nos recomendaram para uma bebida ou uma refeição. Aí almoçámos, mas, francamente, ficámos muito desapontados com o serviço, incomodados com o tempo que nos fizeram esperar, e pela fraca qualidade da comida. Enfim, no nosso ponto de vista e de acordo com a experiência que tivemos, apenas a localização justifica a menção deste restaurante.
E eu espero voltar a Cabo Verde e ao mercado de Sucupira para rever o amigo Rocha Vicente e voltar a comprar tecidos coloridos na sua tenda.
quarta-feira, 6 de março de 2013
Passagem de ano em Cabo Verde – 24. Do Tarrafal até à Praia
Foi com pena que, no dia cinco de Janeiro de 2013, deixámos a simpática vila do Tarrafal, escolhendo, para momento de despedida, um último café no Restaurante Baía Verde, para reter na memória a repousante vista sobre a praia. Queríamos chegar à capital ainda nesse dia, percorrendo os cerca de setenta quilómetros de estrada sem perder a oportunidade de pararmos aqui e ali para vermos melhor aquilo que nos parecesse merecer uma observação mais atenta.
O percurso tem muitas vistas deslumbrantes sobretudo nas zonas montanhosas da serra da Malagueta e da zona de Santo António. Por exemplo aquele lindo postal em que a estrada serpenteia lá muito em baixo mostrando-se e escondendo-se alternadamente como se estivesse a desafiar-nos para jogarmos com ela às escondidas.
Ou então lembramos aquele outro postal em que mais perto de nós há um arranjo colorido de montanhas que se sobrepõem umas nas outras imitando as pétalas de um grande girassol meio aberto e virado ao contrário e, lá mais longe, assomando por cima de um grande manto de nuvens brancas há o topo de uma montanha recortada no céu azul que nos parece ser o cume do vulcão da ilha do Pico.
A certa altura vimos, no lado esquerdo da estrada, abaixo do nível desta, uma colina encimada por uma igreja branca e decidimos parar aí para ir gozar por algum tempo aquelas lindas vistas, tão semelhantes às do nosso Minho.
Descemos a pé por uma rua com um declive bastante acentuado e chegámos à igreja de Santa Catarina.
Tem uma localização excelente e encontra-se virada para o lado da estrada, tendo portanto a retaguarda virada paras a paisagem larga dos vales em redor.
Isto da orientação das igrejas tem razões que a razão não entende, pois parece claro que a Santa gostaria mais de passar a eternidade a olhar para aqueles horizontes sem fim do que para a limitada vista da encosta de um monte já coberto de casas.
Além de estar bem localizada e de, em tudo nos fazer lembrar o Minho, esta igreja tem ainda a particularidade de ter um muro sineiro em vez de uma torre sineira.
Na verdade os vários sinos encontram-se dispostos no muro no lado do ângulo traseiro direito da igreja.
E tem ainda uma outra particularidade. Os sinos foram fundidos em Braga e ofertados pela paróquia de Vila Cova, Barcelos, à paróquia de Santa Catarina no ano de 1965. Tudo isto terá acontecido, imaginamos, por empenho de alguém que sendo originário de Vila Cova se dedicou à terra de Santa Catarina como se fosse a sua terra de origem.
A festa de Santa Catarina, no calendário litúrgico, tem lugar no dia 25 de Novembro de cada ano. Provavelmente será por essa altura que os diversos andores que se encontram cobertos de pó numa arrecadação por baixo do templo sairão à rua para transportarem a Santa e os amigos que com ela habitam numa colorida procissão.
Santa Catarina é o nome de um vasto concelho com sede em Assomada. O lugar em que a igreja se encontra é a Achada Falcão que em Janeiro de 2013 apresentou na Assembleia Municipal uma petição para ser promovida a vila.
Prosseguimos o nosso percurso e, antes de entrarmos na capital, vamos passar pela Cidade Velha que em 26 de Junho de 2009 passou a integrar a lista do património mundial da Humanidade da UNESCO. Fica a apenas quinze quilómetros da Praia. A sua história é muito rica e facilmente pode ser lida em vários trabalhos publicados na internet. Foi ponto de paragem obrigatório para os antigos navegadores portugueses, nomeadamente Vasco da Gama.
Ao depararmos com o pelourinho e olharmos a praça em redor tivemos a sensação de estarmos a chegar ao centro de uma antiga cidade portuguesa e ainda mais porque em frente do edifício da Câmara Municipal estava estacionada uma mabulância dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima.
Aproveitámos a rede de internet livre da praça para actualizarmos a nossa informação usando os nossos ipnones. E a seguir começámos a imaginar as muitas histórias que desde a fundação em 1492 até àquele dia ali terão ocorrido. Histórias de navegadores, piratas e corsários, tombeiros de escravos,inflamados homens da religião,de amor e de ódio, de conquistas e derrotas.
Na praia onde fundearam os muitos actores dessas histórias estavam agora pequenos barcos de pesca na fase de venda avusla de pescado.
Depois da nossa visita, ficámos com impressão de que a verdadeira cidade monumental já não está ali e tem de ser adivinhada a partir das ruínas. As ruínas da sé catedral são um bom exemplo desta afirmação.
Mas não só. Este anúncio da Cerveja Sagres é um expressivo sinal do declínio da presença portuguesa.
E também a igreja da misericórdia e de outras mais já só são referenciadas pela existência de algumas pedras trabalhadas.
É incompreensível como a Cidade Velha, que foi tão importante durante séculos, chegou ao estado de ruína e destruição. Como causas são apontadas as muitas investidas impiedosas de piratas franceses e corsários ingleses e o abandono em que durante muito tempo esteve o seu património, sujeito à predação e furto. Contudo hoje o aspecto da cidade é cuidado e vê-se que os cabo-verdianos de agora têm orgulho na sua história e que a tentam preservar tendo conseguido escrever a Cidade Velha na lista do Parimónio da Humanidade elaborada pela Unesco, projecto a que esteve ligado o arquitecto português Sisa Vieira.
E também a Fortaleza de S. Filipe situada no topo do monte a mais de cem metros do nível do mar se encontra restaurada.
Vista do vale da Ribeira Grande a partir da entrada para a Fortaleza de S. Filipe
Depois da visita à Cidade Velha o nosso destino era o Hotel Pestana Trópico da Praia e é lá que a nossa história vai recomeçar.
O percurso tem muitas vistas deslumbrantes sobretudo nas zonas montanhosas da serra da Malagueta e da zona de Santo António. Por exemplo aquele lindo postal em que a estrada serpenteia lá muito em baixo mostrando-se e escondendo-se alternadamente como se estivesse a desafiar-nos para jogarmos com ela às escondidas.
Ou então lembramos aquele outro postal em que mais perto de nós há um arranjo colorido de montanhas que se sobrepõem umas nas outras imitando as pétalas de um grande girassol meio aberto e virado ao contrário e, lá mais longe, assomando por cima de um grande manto de nuvens brancas há o topo de uma montanha recortada no céu azul que nos parece ser o cume do vulcão da ilha do Pico.
A certa altura vimos, no lado esquerdo da estrada, abaixo do nível desta, uma colina encimada por uma igreja branca e decidimos parar aí para ir gozar por algum tempo aquelas lindas vistas, tão semelhantes às do nosso Minho.
Descemos a pé por uma rua com um declive bastante acentuado e chegámos à igreja de Santa Catarina.
Tem uma localização excelente e encontra-se virada para o lado da estrada, tendo portanto a retaguarda virada paras a paisagem larga dos vales em redor.
Isto da orientação das igrejas tem razões que a razão não entende, pois parece claro que a Santa gostaria mais de passar a eternidade a olhar para aqueles horizontes sem fim do que para a limitada vista da encosta de um monte já coberto de casas.
Além de estar bem localizada e de, em tudo nos fazer lembrar o Minho, esta igreja tem ainda a particularidade de ter um muro sineiro em vez de uma torre sineira.
Na verdade os vários sinos encontram-se dispostos no muro no lado do ângulo traseiro direito da igreja.
E tem ainda uma outra particularidade. Os sinos foram fundidos em Braga e ofertados pela paróquia de Vila Cova, Barcelos, à paróquia de Santa Catarina no ano de 1965. Tudo isto terá acontecido, imaginamos, por empenho de alguém que sendo originário de Vila Cova se dedicou à terra de Santa Catarina como se fosse a sua terra de origem.
A festa de Santa Catarina, no calendário litúrgico, tem lugar no dia 25 de Novembro de cada ano. Provavelmente será por essa altura que os diversos andores que se encontram cobertos de pó numa arrecadação por baixo do templo sairão à rua para transportarem a Santa e os amigos que com ela habitam numa colorida procissão.
Santa Catarina é o nome de um vasto concelho com sede em Assomada. O lugar em que a igreja se encontra é a Achada Falcão que em Janeiro de 2013 apresentou na Assembleia Municipal uma petição para ser promovida a vila.
Prosseguimos o nosso percurso e, antes de entrarmos na capital, vamos passar pela Cidade Velha que em 26 de Junho de 2009 passou a integrar a lista do património mundial da Humanidade da UNESCO. Fica a apenas quinze quilómetros da Praia. A sua história é muito rica e facilmente pode ser lida em vários trabalhos publicados na internet. Foi ponto de paragem obrigatório para os antigos navegadores portugueses, nomeadamente Vasco da Gama.
Ao depararmos com o pelourinho e olharmos a praça em redor tivemos a sensação de estarmos a chegar ao centro de uma antiga cidade portuguesa e ainda mais porque em frente do edifício da Câmara Municipal estava estacionada uma mabulância dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima.
Na praia onde fundearam os muitos actores dessas histórias estavam agora pequenos barcos de pesca na fase de venda avusla de pescado.
Depois da nossa visita, ficámos com impressão de que a verdadeira cidade monumental já não está ali e tem de ser adivinhada a partir das ruínas. As ruínas da sé catedral são um bom exemplo desta afirmação.
Mas não só. Este anúncio da Cerveja Sagres é um expressivo sinal do declínio da presença portuguesa.
E também a igreja da misericórdia e de outras mais já só são referenciadas pela existência de algumas pedras trabalhadas.
É incompreensível como a Cidade Velha, que foi tão importante durante séculos, chegou ao estado de ruína e destruição. Como causas são apontadas as muitas investidas impiedosas de piratas franceses e corsários ingleses e o abandono em que durante muito tempo esteve o seu património, sujeito à predação e furto. Contudo hoje o aspecto da cidade é cuidado e vê-se que os cabo-verdianos de agora têm orgulho na sua história e que a tentam preservar tendo conseguido escrever a Cidade Velha na lista do Parimónio da Humanidade elaborada pela Unesco, projecto a que esteve ligado o arquitecto português Sisa Vieira.
E também a Fortaleza de S. Filipe situada no topo do monte a mais de cem metros do nível do mar se encontra restaurada.
Vista do vale da Ribeira Grande a partir da entrada para a Fortaleza de S. Filipe
Depois da visita à Cidade Velha o nosso destino era o Hotel Pestana Trópico da Praia e é lá que a nossa história vai recomeçar.
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