quinta-feira, 31 de março de 2011

No Casino Estoril falou-se de Martha de La Cal

Hoje, 30 de Março de 2011, no Casino Estoril, falou-se da saudosa Martha de La Cal.

Quem foi esta Senhora?

Foi uma jornalista americana radicada em Portugal que, durante mais de quarenta anos, foi aqui correspondente da revista americana Time.

Era a decana dos jornalistas estrangeiros. Foi co-fundadora da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal e é muito admirada e respeitada pelos colegas de profissão. Foi através dela que o vasto universo dos leitores da Time conheceu o nosso País. Por exemplo, a Revolução dos Cravos foi dada a conhecer por ela aos leitores da Time.

No passado dia 8 de Setembro, tive oportunidade de conversar com a Martha durante alguns minutos. Pareceu-me que estava então totalmente em forma. Simpática, conversadora, conhecedora do nosso país e das suas gentes.

Por isso, fiquei muito surpreendido quando, no dia 14 de Janeiro, ouvi a notícia de que a Marta de La Cal tinha acabado de falecer em consequência de um AVC, com 84 anos de idade.

Agora os colegas de profissão decidiram ligar o seu nome ao prémio que atribuem à personalidade do ano.

Em 2011, o “Prémio Personalidade do Ano Martha de La Cal” foi atribuído à Fundação Champalimaud pela esperança que representa o seu Centro para o Desconhecido, para a investigação e tratamento das doenças cancerosas.

Na cerimónia formal da entrega do prémio que decorreu na Galeria de Arte do Casino Estoril, foi feito um rasgado elogio a Martha de La Cal. Destaco também a particularidade de o Prémio ter passado de mãos entre mulheres, sendo que uma é a actual Ministra da Saúde e a outra o foi num governo do passado. Apesar da cor política que as separa, Ana Jorge e Leonor Beleza têm muito de comum, nomeadamente, uma grande obstinação e competência.

A minha aproximação a Martha de La Cal foi feita através de uma das minhas filhas. Quem criou filhos tem essa experiência. Muitos dos actuais amigos chegaram-nos através das relações deles. E diga-se que, às vezes, também através das ralações originadas por eles.

No caso em apreço, uma das filhas da Martha, a Justine, foi e é da estreita amizade de uma das minhas filhas.

O meu reencontro hoje com a Justine trouxe-me, de imediato, à recordação a sua ida à minha aldeia, a Capinha, integrando uma “Olive Team” de jovens para a colheita da azeitona. Foi uma experiência muito linda que recordo com saudade. Foi soberbo o convívio com esse grupo de jovens galhofeiros e simpáticos.

A "Olive Team" em acção no começo de Dezembro de 2004

Na altura, fins de 2004, estava ainda fresca a reportagem que a Martha tinha feito na Time sobre as virtuosas “Mães de Bragança” ameaçadas nos seus costumes de pureza ancestral por uma casa de alterne instalada na cidade. Com essa reportagem, a Martha deu, a esse modesto estabelecimento encobertamente aberto à mais antiga profissão do mundo, fama planetária, o que nunca terá acontecido com o Bairro Alto ou o Intendente. Isto só para falar de conhecidos bairros da capital, deixando de parte as Ruas das Mariazinhas que existem em muitas das vilas e cidades. Durante esse fim de semana, o motivo da referida reportagem serviu, de quando em quando, para meter buchas mais ousadas nas conversas, provocando boas gargalhadas.


Justine Collis observa a fase do começo do processo de produção do azeite no Lagar do João, na Capinha, ainda agora em actividade.

Parabéns à Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal pela iniciativa que tomou de ligar o nome da Martha ao Prémio Personalidade do Ano, e, em particular à sua actual Presidente, Adriana Niemeyer, aliás muito simpática, pelo trabalho que tem desenvolvido, que, de quando em quando, possibilita o nosso reencontro.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Panamá 2011 - As razões de uma viagem

O Panamá não seria um destino das minhas preferências para ir passar um dia de férias. Ainda me lembro bem dos tempos tumultuosos do fim do século XX, principalmente de um nome que, com má reputação, ficou conhecido à escala planetária: o General Noriega. Para mim o Panamá era um país de risco a que só iria por obrigação, profissional ou outra.

Mas no meu caso, não me ficaria bem dizer que fui lá obrigado. A verdadeira razão, há que dizê-lo, foi a necessidade de encontrar tranquilidade. E acho que alcancei o objectivo. Na verdade, com um filha lá, tendo na lembrança muitas referências negativas, não dormia descansado.

É certo que a tecnologia, com destaque para o Skype, aproximam as pessoas. Mas agora é diferente. Já conheço os sítios por onde a minha filha se movimenta e por onde faz as suas rotinas. Vi o ambiente e as pessoas. E, no fim, trouxe de lá mais paz de espírito.

Pensava que o sobressalto que sentia antes de lá ir era só meu, próprio de pai galo. Mas acho que é comum a todos os pais e mães que têm filhos nas mesmas circunstâncias. E que até é muito comum, pois uma boa parte da nossa "geração à rasca" tem de emigrar. A minha geração investiu as suas economias na educação dos filhos e eles agora estão "à rasca" ou porque não arranjam trabalho ou porque têm de emigrar para ganharem a vida, enfrentando o desconhecido. Os pais, no geral, ficam em sobressalto.

Durante a minha estadia no Panamá, tive a oportunidade de aí encontrar uma jovem, filha de um quase patrício amigo. E, na minha última ida à minha terra, senti o interesse que os seus pais tiveram em falar directamente comigo para ouvirem notícias dela. Já lhes tinha mandado uma fotografia do nosso encontro ma sisso não foi suficiente.

Fiquei comovido quando vi os olhos da mãe  marejados a ouvir-me fazer o relato do nosso encontro. Não tirou os olhos das minhas palavras. E, no fim, limpou umas lagrimitas, respirou fundo e disse simplesmente: "Agora fico mais descansada!".

Os pais são assim. Acredito que os meus amigos, quase patrícios (de Peraboa!!!), não tardarão a ir ao Panamá ver a filha. Pelo meu lado, acho que fazem muito bem. Eu próprio penso voltar para ver mais alguma coisa do que me ficou por ver desse bonito País, e, claro, para matar saudades da filha e do genro.

Em tempos, ouvi contar que um dia perguntaram a uma mãe que tinha muitos filhos, de qual é que ela gostava mais.  A pergunta foi fácil mas a resposta foi difícil. Mas ela deu-a. E disse que gostava de todos por igual. Contudo, preocupavam-na mais uma filha que estava doente e dois dos filhos que estavam ausentes pois tiveram que emigrar para terras distantes.

É assim a vida, Menina, o que é que se há-de fazer...

Com esta pequena nota emocional, concluo o relato da minha viagem ao Panamá.

terça-feira, 15 de março de 2011

Panamá 2011 - A experiência de uma sala de cinema VIP

É normal haver nos grandes centros comerciais uma área reservada a salas de cinema. Mas não esperava ir encontrar no Panamá uma sala de cinema VIP.  O que é isto?

A primeira diferença sente-se logo no custo do bilhete que é o dobro do de uma sala de cinema normal. Uma vez lá dentro, ficamos surpreendidos por encontrarmos um anfiteatro de cómodas poltronas, tipo de  primeira classe de avião, ajustáveis até ao ponto de poder fazer uma cama confortável. Como tinha acabado de almoçar, logo pensei que seria inevitável uma soneca.

Um vez sentado, abeirou-se de mim uma linda rapariga que me entregou uma ementa e me explicou como o serviço funcionava. Há snaks preparados, com bebidas incluídas, suficientes para uma refeição ligeira. Ou há bebidas avulsas. Ou simplesmente pipocas. Acabei por escolher um chocolate quente, pois o ar condicionado estava bastante frio.

Tinha tudo para poder fechar os olhos e ir vendo a fita de vez em quando, para poder dizer que a tinha visto.

Porém enganei-me totalmente. O filme que passava era o "127 Horas" que relata a história de um rapaz que ficou preso numa aventura e teve de  amputar o seu próprio braço direito para poder sobreviver. Que raio de filme que nos prende do princípio ao fim, provocando-nos sufoco. A respiração pára devido ao suspense por nos sentirmos muito perto da realidade.

Uma vez terminada a projecção, acenderam-se as luzes e reparei que ainda tinha uma boa parte do chocolate por beber. E, além disso, estava com uma valente dor de costas, pois preparei a cama para me deitar e acabei por ficar de costas levantadas, sem apoio, de olhos fixos no écran. E tudo passou num ápice.

Não esperava ir viver uma experiência destas no Panamá.

domingo, 13 de março de 2011

Panamá 2011 - Os pulmões da cidade - O Parque Omar

Já falei, numa postagem anterior, do Cerro de Ancón, um excelente pulmão da cidade do Panamá onde, além do mais, se pratica o culto pela natureza e se desfruta de excelentes vistas sobre toda a cidade e sobre o Canal.

Gostei também de visitar uma outra zona  verde que tem uma utilização diferente e que é actualmente conhecido por Parque Omar. Era um enorme campo de golfe destinado a elites. Alguém, acredito que bem intencionado, resolveu meter mãos à obra e tentar adquiri-lo para o colocar à disposição da população em geral, com entrada livre para toda a gente. Esse Alguém foi o General Omar Torrijos Herrera, cujo nome aparece ligado a outras inciativas políticas, sociais e patrióticas. O processo de negociação com o Clube de Golfe foi longo. Ficou concluído em Agosto de 1973.


São 65 hectares de espaços verdes onde predomina o silêncio, vendo-se, relativamnete longe, os edifícios altos da cidade. O circuito de manutenção tem três quilómetros e meio de extensão.

Hoje o Parque Omar tem uma polivalência notável.


Nele existe um enorme parque infantil, com muitos baloiços e outros aparelhos de que as crianças gostam.

Tem um pavilhão de festas.

Tem a Biblioteca Nacional.


 Foi lá que, pela primeira vez, consegui ler o La prensa,  um dos dois jornais díários do Panamá.

Na altura em que visitámos este Parque, verificámos que o enorme espaço estava a ser utilizado por muitas crianças e adultos.

É notório que aparece destacada a intenção de prestar tributo à actual Primeira Dama, a Senhora Martinelli. Há diversos espaços dedicados ao seu nome, incluindo lugares de estacionamento reservados que têm escrito Primeira Dama.

Durante a nossa visita, abeirou-se de nós um alegre grupo de crianças, que, com a sua insuspeita simplicidade, insistiu para tirar fotografias connosco.

Todo o local nos pareceu muito seguro. No entanto, já vimos na internet  relatos de casos de senhoras que foram molestadas em pontos menos abertos do percurso de manutenção, com protestos de indignação por parte de utilizadores frequentes.

O parque de estacionamento é amplo e gratuito.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Panamá 2011 – Os pulmões da cidade – El Cerro de Ancón

A Cidade do Panamá que goza de brisas marítimas e não sofre de grande poluição industrial, beneficia ainda de dois importantes pulmões verdes, que sentimos prazer em visitar.

Um deles é o Cerro de Ancón. O outro é o Parque Omar.


Vistas da cidade nova do Panamá e da Baía, a partir do Cerro de Ancón

De toda a cidade do Panamá é visível uma enorme bandeira nacional içada permanentemente no topo de um monte verde, que, ao flutuar majestosa, indica a direcção do vento e enche os panaminanos de auto estima. Se lhes perguntarmos que bandeira é aquela, eles dizem-nos, com orgulho, que é a bandeira nacional do Panamá a flutuar no Cerro de Ancón.

A partir de então sentimo-nos na obrigação de a ir ver de perto.

O acesso, para quem vai de carro, está bem coordenado para evitar entupimentos. E ficamos admirados pelo zelo com que a natureza é aí valorizada. Há avisos que apelam ao asseio e ao respeito pelas plantas e animais. Nota-se o cuidado pró activo dos visitantes em corresponder a esses avisos.

Sabe bem sentir o cheiro da floresta tropical húmida, ver e ouvir, aqui e ali, as aves exóticas. Já não se notam as enormes crateras deixadas pela retirada de muitas toneladas da pedra usada na construção do Canal, pois já foram disfarçadas por acção da própria natureza ou por construções de utilidade social que não ofendem a paisagem.

Há, no topo do monte, tabuletas dispersas com pedaços de poesia que contribuem para que o nosso espírito se sinta ainda mais enleado pelo deslumbramento das vistas.

Soñava yo com mi regreso un dia;
de rodillhos mi tierra saludar;
contarle mi nostalgia, mi agonia,
y a su sombra tranquila descansar.

Sé que no eres el mismo; quiero verte
y de lejos tu cima comtemplar;
me queda el corazón para quererte,
ya que no puedo junto a ti llorar.

Centinela avanzada, por tu duelo
lleva mi lira um lazo de créspon;
tu ángel custodio remontose al cielo…
ya no eres mio, idolatrado Ancón.


Ficamos surpreendidos pela estátua vivificante da figura de Doña Amelia Denis de Icaza que escreveu estes versos no poema chamado “El Cerro de Ancón”, em 1906, quando este monte já estava sob domínio americano.

As vistas sobre toda a cidade do Panamá e sobre o Canal fizeram-nos sentir que foram bem aplicadas as horas que passámos a visitar este miradouro natural do Cidade do Panamá.

Vistas para o lado do Canal, vendo-se o aeroporto municipal
 e, mais ao fundo, as comportas de Miraflores.

domingo, 6 de março de 2011

Panamá 2011 - Linda cidade, linda baía, mas sem praias

A cidade do Panamá tem uma linda baía cheia de recortes. Quando a maré está a encher, o mar fica coberto de longas linhas paralelas fazendo lembrar os efeitos que o vento faz nas searas dos campos alentejanos. Depois, a partir de certa altura, alguns dos traços paralelos ficam brancos, à maneira de um telhado meio coberto de neve.


À noite, a baía tem ainda mais encanto porque fica povoada de muitos milhares de pequenas luzes, desde a costa até à linha do horizonte, onde se alinham os muitos barcos que aguardam a sua vez de entrar no Canal.




Mas quando a maré está baixa, a baía mostra uma imensa mancha de lodo fedorento e o melhor é estar longe.


A Cidade do Panamá não tem praias, o que é compensado por um grande número de piscinas. Quem quiser ir a banhos de mar tem de viajar de avião para as Caraíbas ou ir de carro à procura de uma praia, por uma centena de quilómetros ou mais, pela estrada que vai na direcção da Costa Rica.

Foi isso que fizemos no sábado, 19 de Fevereiro de 2011, com a vantagem de termos podido atravessar a Ponte das Américas que une a parte norte do Continente à parte sul, separadas pelo Canal. Ir ao Panamá e não atravessar esta ponte é quase o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa.



A estrada que seguimos não é uma auto-estrada, se bem que tenha duas vias de cada lado. Durante muitos quilómetros, foi a cena do pára arranca. Soubemos depois que tudo era devido a um camião com um longo atrelado que tinha avariado.

Das várias praias possíveis, escolhemos à sorte e fomos dar à Praia do Coronado, a oitenta e dois quilómetros da capital.

A primeira surpresa que tivemos foi que toda a zona é um enorme condomínio fechado, reservado exclusivamente a condóminos e residentes. Normalmente teríamos de nos identificar à entrada. Mas naquele dia, como estavam com empeendimentos em venda, entregaram-nos um folheto de promoção e deixaram-nos passar.

Um bonito prtão de uma das moradias da Praia do Coronado
São muitos quilómetros de moradias térreas com jardim, piscina e, por vezes, campos de ténis. Junto à praia há pelo menos dois grandes empreendimentos altos em propriedade horizontal. Há uma rua paralela à linha da costa e os privilegiados que aí têm as suas moradias têm acesso directo à praia. Os outros têm o acesso dificultado.


Há construção até ao limite da areia da praia. Algumas moradias estão mesmo alcantilhadas sobre a praia. De quando em quando, podemos mesmo dizer que, com muita raridade, há como que umas quelhas estreitas que permitem aos residentes  que não têm as moradias junto à praia e aos visitantes aceder à mesma.

A chegada à areia decepcionou-nos. Por um lado, tínhamos ainda fresca a recordação das praias de San Blas das Caraíbas. Por outro, esperávamos encontar areia branca e águas serenas e transparentes. Mas o que vimos foi uma praia de areia preta, muito semelhante à Praia de Hac Sa de Macau, e um mar com águas agitadas e turvas, com ondas traiçoeiras que faziam redemoínhos de envolvimento.



Não havia banheiros, nadadores salvadores, bandeiras de sinalização ou equipamaneto de salvamento. Quem quisesse ir à água tinha de o fazer por seu próprio risco.


As gaivotas são mais pequenas que as do nosso Algarve e menos ruidosas.


Na areia da praia apanhava sol uma comprida e linda iguana das Caraíbas que posou o tempo suficiente para a podermos fotografar.


Apesar de tudo, a Praia do Coronado deixou-nos boas recordações, porque, além do mais,  fizemos lá um excelente piquenique, onde o manjar mais apreciado foi o feijão frade da minha quinta da aldeia, a Capinha, bem regado com azeite da  minha produção. Foi um regalo.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Panamá 2011 - Os três marcos da independência

O Panamá foi conquistando a sua independência total por fases.

O primeiro grande passo foi a libertação da Coroa Espanhola, em 28 de Novembro de 1821. Ficou a integrar, a partir de então, a Colômbia.

Contudo, em 3 de Novembro de 1903, o País conseguiu libertar-se da soberania colombiana com o apoio aberto dos Estados Unidos. Este apoio surgiu porque a Colômbia se opunha à abertura do Canal e os americanos viam grande interesse económico e estratégico em executar essa obra. O Congresso Colombiano rejeitou, de modo categórico, o Tratado Herran-Hay, que permitia aos americanos tomarem conta do empreendimento, e, uma vez concluído, explorá-lo a título perpétuo.

Os panamianos revoltaram-se e proclamaram a independência.

Placa evocativa, existente no Passeio Esteban Huertas, construído por cima da muralha marítima do Casco Antiguo.

No entanto, o processo do  relacionamento com a Colômbia parece ser uma questão mal resolvida. Basta olharmos para o mapa do actual Panamá para verificarmos que a zona da fronteira entre os dois países parece ser uma imensa terra de ninguém. Nenhuma das estradas panamianas chega até à fronteira colombiana e há uma total ausência de povoações relevantes. Parece haver aí um espaço ideal para as insondáveis movimentações da guerrilha e do narco-tráfico.

Libertados da tutela colombiana, o Tratado Herran-Hay foi para a frente. Com ele os americanos ganharam, não só o direito de construir e administrar o Canal, mas também os poderes de soberania, a título perpétuo, sobre toda a zona envolvente, a troco de uma renda anual actualizável. No entanto, na segunda metade do Século XX, tiveram a sua presença muito dificultada devido à contestação popular, com o assassinato de alguns dos seus cidadãos e actos de sabotagem dos seus interesses. Mas a partir da era Carter, os Estados Unidos compreenderam  que as condições tinham mudado e acabaram por abdicar da cláusula da perpetuidade, bem como de alguns dos direitos de administração. E, finalmente, em 31 de Dezembro de 1999, entregaram toda a gestão do Canal aos panamianos e sairam do País.

Agora, as águas turvas dos anos oitenta e noventa já assentaram e o Panamá cultiva, cada vez mais, o apreço pelos americanos e pelo que eles fizeram. E repõem, na praça pública, os ídolos que antes derrubaram.



Precisamente no momento em que passeávamos pela Avenida Balboa, estava a ser ultimado, no local próximo daquele em que se encontra a estátua de Vasco Nuñez Balboa, um monumento à memória do Presidente Roosevelt, cuja placa informativa fala por si.

O Canal está gora em grandes obras de alargamento, onde, curiosamente, há empresas portuguesas envolvidas.

terça-feira, 1 de março de 2011

Panamá 2011 - O que há cá e não há no Panamá

Estamos habituados, na nossa vida quotidiana, a usufruir de uma série de coisas simples de cujo valor só nos apercebemos quando não as temos.

Enumero a seguir uma série de facilidades a que estamos habituados em Portugal mas de que sentimos a falta no Panamá.

- Os táxis não têm taxímetro - Há muitos táxis de cor amarelinha a circular na rua.

Imagem da Avenida Balboa onde são visíveis carros de cor amarela, que são táxis.

No entanto, a maneira de proceder do taxista panamiano é bem diferente da dos taxistas de Lisboa. O custo do trajecto tem se ser discutido e acordado previamente. Não existe o conceito de exclusividade. Podemos ir num táxi já com o preço da viagem acordado e ele pára ao primeiro sinal que lhe fizerem, enquanto tiver lugares disponíveis. É a filosofia do autocarro.


Quando seguimos num táxi, a todo o momento pode entrar mais um... ou mais uma.

Na Avenida Balboa apanhámos um táxi cujo condutor já tinha ao seu lado uma passageira panamiana. Ela tinha o dinheiro pronto na mão que era um dólar e alguns trocos. O custo normal do nosso percurso seria também um dólar e tal. No final, o condutor pediu-nos três dólares, porque éramos três passageiros. O método aplicado foi o do táxi autocarro. Cada passageiro deve pagar o seu bilhete individualmente como o faria se fosse de autocarro. Só que, neste caso, o custo seria bem inferior.

- Os prédios não têm caixas de correio - Isto porque não há distribuição postal. Cada família é obrigada a alugar um apartado na estação de correios mais próxima. Pode ter que aguardar muitos meses que lhe seja adjudicado um apartado. Entretanto, se  estiver à espera de algum correio tem de ir passando pela estação de correios mais próxima para ver se lá há alguma coisa em seu nome na posta restante. Para remessas urgentes terá de recorrer à UPS ou à DHL.

- Não há postos de venda de jornais - Procurámos, por toda a cidade do Panamá, um quiosque ou outro tipo de venda, para comprar um jornal diário. Não conseguimos encontrar nenhum. A certa altura alguém nos informou que no supermercado tal vendiam jornais. Mas esse supermercdo era bastante longe. Apenas conseguimos ler os jornais na Biblioteca Nacional, no Parque Omar.

O diário La Prensa tem um fomato de 56x30 cm o que nos pareceu estranho.

O La Prensa de 20 de Fevereiro de 2011 trazia, na 2.ª página, este apontamento sobre Saramago.

E falava das dificuldades na recuperação do bairro histórico Casco Antiguo.

E enumerava os principais projectos pendentes na recuparação do Casco Antiguo.

Fora isso, só na viagem de regresso é que conseguimos obter no avião um exemplar dos dois diários panamianos: o "La Prensa" e o "Panamá América".

Primeira página do panamá América de 20 de Fevereiro de 2011.

Pelos vistos, o povo panamiano consegue viver bem sem a imprensa escrita.

- Os carros não têm matrícula à frente - Há muitos carros a circular sem matrícula. Na generalidade, têm placa de matrícula apenas atrás. À frente, no lugar da chapa de matrícula, têm o nome da marca do carro, ou não têm nada, ou têm mensagens publicitárias ou de conteúdo religioso como por exemplo "Grande solo Dios". Por vezes têm figuras de santos.

- Não há bidés nem banheiras, nem polibans nas casas de banho -.O chão das cabines de duche  é tão só de cimento ou de azulejo.

- Não há muitos caixotes de lixo na via pública - Mas, mesmo que houvesse, porque é notória uma deficiência de civilidade, o cidadão panamiano joga ao chão os objectos de que se descarta no preciso local em que se encontra. Latas, garrafas, plásticos e papéis aparecem em abundância em qualquer sítio, mesmo nos locais mais cosmopolitas.

A cablagem de eletricidade e comunicações é muito antiquada, fazendo contraste com o aspecto moderno de muitos dos edifícios.


- Não há saneamento na Baía do Panamá - Por isso, quando a maré está baixa, o melhor é não andar na rua nem ter janelas abertas.