Esperava encontrar entre as palavras, uma descrição, algo que mostrasse a falta de apego que lhes ando a sentir. Somente, tanto elas como eu, por agora, pouco nos falamos.
Era uma Lata... Amarela com letras gordas Azuis… Lata enorme de leite em pó que não me recordo de beber… Mas sei que a Avó Branca a guardava na prateleira do vão da despensa onde rangiam as escadas de madeira que subiam para o sótão - lugar de todos os tesouros a par com o escritório do avô Dado. Pela tarde, depois de terem perdido a graça todas as brincadeiras no quintal, a Lata Amarela descia da prateleira e sem acanhamento brotavam dela dezenas de Botões que faziam do chão da sala uma paleta colorida. E eram Botões incríveis, de 2 ou 4 casas, verdes e azuis, rosa e vermelho, de madeira ou plástico, eram Botões enormes e muito pequenos. Eram imensos os Botões. E o chão da sala ficava a "mouco-mouco", dizia a avó Branca, tudo espalhado, tudo remexido, tudo fantástico… Para os por novamente na Lata eu pedia sempre a mesma coisa: - Vó, dá-me uma "falanga"!!!! E ela punha-me na mão sempre a mesma moeda de 2$50 que fazia brilhar os meus olhos… Não sei se pela moeda, se pelo prazer de os arrumar sempre de forma diferente: por cor: azuis, amarelos, brancos, vermelhos; por tamanho: os pequenos, os médios, os maiores, os mais maiores, os mais mais maiores; por feitio: os redondos, os quadrados; sei lá todos de uma só vez.. E no final, o melhor lanche do Mundo: uma carcaça com manteiga e uma caneca de cevada: -Com água Vó, para ser como tu!!!!! Acho que a minha cevada minha sempre uma pinga de leite, mas nenhuma carcaça nem cevada alguma vez tiveram o mesmo sabor…. E ficava, a comer, olhando a Lata Amarela e imaginando uma nova forma de arrumar os Botões!
Tenho de procurar a Lata Amarela, qualquer dia a Madalena já pode brincar com ela! Curiosamente, a Madalena tem já uma mania: por vezes deixo-a brincar com as molas de estender a roupa, hoje de manhã foi o delírio no chão da cozinha e, quando dou conta, tenho em cima da cadeira, todas as molas azuis! E não eram só as azuis claras, eram mesmo todas as azuis! 13 meses hã!
Não são mais do que 2 a 3 minutos de pura intimidade em que voltas a ser só minha, em que os teus olhos consomem a minha luz... e vão ficando pesados, pesados... e vão fechando... e fazes força para os manteres abertos, para me veres, para ficares mais uns segundos comigo... e passo-te a mão pela testa, afago-te o cabelo... e fecham... lentos... serenos... com a certeza que quando se abrirem me iram ver de novo... a sorrir para ti...