DESEJOS
Quem sabe não seria a hora de falar da falta de desejo? Fiz essa pergunta a mim mesma ontem quando pensava nessa blogagem coletiva proposta pela minha amiga Glorinha . Olha eu aí andando na contra mão. Não é que eu seja uma pessoa sem sonhos, plenamente realizada, daquelas que nada desejam porque têm tudo. Mas preciso falar dessa experiência que vivi e da dificuldade que foi encontrar a saída: a falta de desejo sexual.
Aos 34 anos simplesmente parei de menstruar, assim do nada. Depois que tive meu segundo filho, com 31 anos, comecei a sentir os sintomas da pré menopausa. Mas nem imaginei o tamanho do problema e nem sequer cogitei a possibilidade de menopausa precoce e da impossibilidade de futuramente ter outro filho (um terceiro) ou uma filha como sempre desejamos. Mas não deu mesmo. Em maio de 1999 foi embora para nunca mais voltar. Exames solicitados constataram útero e ovários envelhecidos e atrofiados. Paciência! Paciência? De quem? O que mais faltou foi paciência. Imagine uma mulher nova, com um marido também jovem e que só tem vontade de dormir, não se encanta mais com a sedução, nem se preocupa mais com os desejos do outro e nem com seu próprio desejo, pois ele desapareceu como fumaça.
Achei essa explicação bem plausível: "há, na nossa cultura, uma supervalorização da maternidade; imperceptivelmente a mulher se considera valorizada por ser - ou por poder ser - mãe; na menopausa, esta possibilidade desaparece, e a associação que fazemos entre sexualidade e reprodução se esfacela. É quase como se disséssemos: "se não vou gerar filhos, o que justifica o ato sexual?" Fonte: http://www.brevesdesaude.com.br/ed08/desejo.htm
Hoje lembrando disso tudo e contando parece que nem foi tão difícil. Talvez eu jamais consiga expressar em palavras o que foi vivido por mim e por ele. A dificuldade de falar sobre isso com os médicos, os médicos que minimizavam o problema, os remédios que não ajudavam e os que, quando ajudavam traziam outros tantos efeitos colaterais. Foi um sufoco! Olhando pra trás, as vezes me pergunto como não perdi meu companheiro. Como ele suportou tudo aquilo? Será que apenas o amor bastou? Disseram-me tantas vezes que para o homem o amor não é o bastante.
Precisei buscar a saída. Encontrar a luz no final do túnel porque não escolhi viver sozinha. Precisei recuperar a auto estima, reconsiderar tantas coisas, buscar o desejo esquecido em algum lugar pelos hormônios perdidos. Aprendi a redesenhar-me, voltei a ser inteira.
Eu quero passar todos os dias na tua vida
Na hora da chegada e na breve hora da partida
Ouvir tua voz em tantos sons e melodias
Lembrar de ti por tua paz, por teu amor e alegria.
E na alegria eu vou passar todos os dias do teu lado
No aconchego do teu corpo delicado
Dar-te meus braços em abraços bem selados
Trocar contigo mil beijos e afagos
E nesses tantos beijos e afagos tão bem dados
Faremos juntos um caminho de carinho escancarado
Cumprindo bem nosso destino lado a lado.
Nosso destino de sermos dois e, assim, de sermos sempre:
Dois amantes, dois amados, dois corações apaixonados...
Eternamente, entre nós, enamorados!
Adriano Hungaro
Nunca senti tanta dificuldade em falar sobre um sentimento. Fiquei muito preocupada em me expor, mas também aliviada por poder partilhar isso. Espero que, considerando a dificuldade, o texto tenha ficado claro e coerente.
Aos queridos e queridas que passam por aqui deixo o meu abraço carinhoso.