"Estudar o Zen
é estudar a si mesmo.
Estudar a si mesmo
é se esquecer de si mesmo.
Esquecer de si mesmo
é estar uno com todas as coisas."
Mestre Dogen
Este ano, me dei como presente de aniversário, um curso de Mindfulness em formato de retiro, num lugar muito especial. O Mosteiro Zen Budista de Ibiraçu.
Estive no mosteiro ainda muito jovem, há uns 20 anos atrás, o lugar já era lindo naquela época. Sempre quis voltar lá, mas ainda não tinha aparecido a oportunidade. Quando vi que o curso de meu interesse seria naquele local fechei no mesmo momento ( e olha que não foi barato não!).
O mosteiro é um lugar lindo, um espaço de paz e serenidade dentro da mata atlântica! Quando cheguei naquele local, e coloquei as minhas coisas no quarto, um imenso sentimento de gratidão acampou em mim, sentei no colchão e apenas dei graças a Deus por poder estar naquele lugar!
Foram 03 dias de curso com muita aprendizagem e principalmente gratidão. Nunca fui tão fundo no meu processo de autoconhecimento como naqueles 03 dias.
E também nunca fui tão disciplinada!(Rsss)! Como disse o curso era em formato de retiro.
O retiro zen budista é baseada na disciplina, na atenção, na vida participativa e no respeito ao próximo. Não se prega nenhuma religião. A culinária do mosteiro é ovo-lacto vegetariana. Os alimentos são preparados pelos próprios praticantes, sob orientação do responsável pela cozinha (Tenzo). Todas as refeições são realizadas em conjunto e seguindo um ritual disciplinado e formal.
Os monges também nos ensinaram o zazen, que é a base da prática Zen Budista. O objetivo do zazen é "apenas sentar", com a mente aberta, sem apegar-se aos pensamentos que fluem livremente. Esse também é o objetivo do Mindfulness. Então vivenciei o mindfulness na fonte e de forma plena.
Em alguns momentos o monge Dogen nos falava algo. Foi com ele que ouvi pela primeira vez sobre a palavra usura sob uma forma tão diferente.
Quando pensamos em usura pensamos em pessoas com apego exagerado ao dinheiro, avarenta, mesquinha, que não compartilha nada com ninguém e só querem as coisas para elas. O monge nos trouxe o conceito de usura vinculada à pessoa, ele alertou que muitos de nós vivemos com usura, não com usura de coisas, objetos, dinheiro, mas usura de nós mesmos! Guardamo-nos para nós mesmos, não nos doamos para o outro, não nos colocamos, não compartilhamos, nos enclausuramos em nós e não nos deixamos ver como realmente somos! Guardamos o que somos, o que sentimos e o que sabemos para nós mesmos, isso é usura!
O que ele falou bateu forte em mim, pois sou uma pessoa bem calada, observadora. Ficar calada, na minha, não trocar informações ou afeto é usura! Usura de mim! Venho buscando ao longo do tempo superar essa usura emocional e compartilhar esse texto também é uma forma de fazer isso. Então, gratidão à você que me lê!
Nascemos para compartilhar, para doar afeto, conhecimentos, emoções! Ninguém nasce sozinho, precisamos um dos outros, não somos uma ilha, aliás, em muitos casos, ser ilha adoece!
Foto por Adriana Leão
E você? Como você está? Sozinho em meio a uma multidão? Está vivendo numa ilha? Fechado? Você tem usura de si? Você doa afeto? Espalha amor? Dá atenção? Tem algo que atrapalha você de ser quem você é?