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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Buscando um relacionamento...

Faz tempo que não escrevo aqui, mas sinceramente não tenho tido vontade quase nenhuma. Tenho sentido necessidade de viver outras coisas, a impressão que tenho é que andei meio que olhando a vida passar e não gosto disso, daí saí para o mundo novamente. Mas depois que você fica tanto tempo dentro de uma ostra, esse processo não é tão simples. Acabei me afastando de muita gente, outros se afastaram de mim, não culpo tanto os outros mas a mim mesma. Enfim

Nesse processo de se voltar para fora, me bateu uma vontade enorme de ter um relacionamento com alguém. Acho que chega de tanta solidão! Mas isso também não é algo que dependa só do nosso querer, não depende só da busca,  mas de uma série de acontecimento, junção dos astros, sorte e tal.  E quando depende de sorte, não tenho nenhuma nesse setor... rs.

Então resolvi "atacar" de todos os jeitos. Me escrevi em dois sites de relacionamento, ando entrando na sala de bate papo da UOL, saindo também, porque o velho método olho no olho funciona bem melhor. Mas como minha voz não ajuda muito, nem sempre esse método surte todo o bom resultado que poderia, então vou pela internet também que não precisa da voz.

No entanto ser transexual não é uma questão simples, ou irrelevante quando se busca um relacionamento. Sempre tem o velho dilema de falar ou não falar que é transexual e se optar por falar, decidir quando é o melhor momento. Eu já passei por todas as situações possíveis nesse sentido. Já comecei falando que sou, e o estigma pesa bastante, todo o estereótipo vem na frente e é difícil quebrar isso.  Já comecei relacionamento sem dizer que era, em alguns casos o desastre foi tão grande que sinceramente não sei se tenho estrutura para aguentar o tranco. Então pelo menos na internet opto por falar de cara. Nos sites de relacionamento coloco que sou trans e na sala de bate papo também, mas pessoalmente, olho no olho,  a coisa é bem mais complicada, porque não dá para dizer: "- Oi tudo bem? Meu nome é Cris, sou uma mulher transexual!". Primeiro vejo se pelo menos vai rolar um segundo encontro, porque se for só o primeiro, não passo por esse estresse mesmo.

Mas vamos as peculiaridades virtuais. Na sala de bate papo, quando os caras veem o meu nick e me chamam, diria que a esmagadora maioria quer matar a curiosidade, ou sexo virtual, ou mesmo um sexo escondido, de preferência na minha casa, porque é 0800 e eles não precisam ser vistos comigo. Muitos têm fantasias bizarras, ou uma noção de mulher transexual, completamente deturpada. De qualquer maneira, se tiver paciência de "garimpar", sempre se tira um ou outro divertido, inteligente, que tem um papo até que envolve. Mas até agora todos que conheci foram com objetivo de sexo. E todos com aquele clichê, do tipo, quando se abre a câmera, começa: "levanta aí para eu te ver", depois "tira a roupa". E eles não tem o menor pudor, se levantam de pau duro mesmo se achando o máximo, muitos já vão se masturbando mesmo. Essa parte toda depende do meu dia, de quanto tomei de vinho, se estou sobria, se estou de bom humor e tal... rs. No geral não tenho muita paciência e desligo tudo na cara mesmo, sem nem dar tchau.

Nos sites de relacionamento a coisa é diferente. Eles veem minha foto e mandam o email. Para a maioria pouco importa o que está escrito no perfil. E nesse caso o que está escrito no perfil, pode fazer toda a diferença para o cara. Por conta deles não lerem o que está escrito, acabo ficando em várias saias justas. Até tinha jurado para mim mesma que nunca mais entraria em sites de relacionamento exatamente por esse motivo, mas já que estou nessa fase de tentativas resolvi arriscar de novo, mas não levo muita fé nesse canal. Acho até que conversei com caras mais interessantes e que renderam algo mais na sala de bate papo.

Se conheci algum desses caras da internet pessoalmente? Sim, dois deles, nada de interessante emocionalmente ou intelectualmente falando, mas é claro que se a finalidade maior é o sexo, eu vou escolher os mais gatos, e nesse quesito a coisa rolou satisfatoriamente.

Pessoalmente também tenho tentado, mas sinceramente o olho no olho não tem tido tanta diferença da net, sexo rápido é o que mais tenho encontrado. Mas o que importa é que  mudei, saí do modo ostra, para o modo tentativa, acho que esse modo é mais a cara de como levei toda a minha vida. Vamos ver no que vai dar... rs.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Qual o lugar da mulher trans na nossa sociedade?


Muitas vezes me pergunto se a mulher trans tem realmente um lugar na nossa sociedade, ainda tão machista. Quando vivia como um gay, tinha uma posição mais bem definida socialmente, era gay e me relacionava com homens gays, passava por todos os preconceitos que esse grupo passa, mas tinha uma posição bem definida. Ser uma mulher trans é viver numa espécie de limbo social. A gente é percebida como mulher, no dia a dia, o preconceito que percebemos é pouco, mas só até alguém saber que você não é geneticamente mulher, mas uma mulher que teve um corpo de homem. É meio que não está incluída, nem entre os héteros e nem entre os gays.

A impressão que tenho quando digo que sou transexual é de ter enganado as pessoas me passando pelo que não sou, ou seja, por mulher. Quando a situação é de relacionamento amoroso a coisa fica muito, muito pior. Quando se é gay você tem os outros gays para se relacionar e, acontecendo, é uma relação entre iguais. Quando você é transexual, quem exatamente é o seu parceiro? Diria que os homens que se relacionam com transexuais são héteros, mas grande parte dos héteros não se relacionam com mulheres trans, simplesmente porque não nos veem como mulheres, mas como gays castrados, transformados, como um engano, uma farsa. Acho mesmo que seu eu fosse gay não estaria sozinha hoje em dia. Mas como mulher transexual minhas chances nessa esfera diminuem drasticamente, tanto da parte dos homens em relação a mim, quanto da minha parte em não aceitar homens que não vejam como mulher. Porque homens no geral adoram se divertir com as transexuais, sexualmente falando, mas namorar mesmo. Daí ser só objeto sexual para as horas de tédio é algo de que não preciso.

Aí muita gente tá se perguntando o motivo de ter feito a transformação, se ser gay me deixava numa posição mais bem definida. E respondo que não tive essa escolha. Nós transexuais não escolhemos odiar o sexo que nascemos, não escolhemos olhar no espelho e sentir um profundo desgosto por não reconhecer aquele ser refletido, não escolhemos preferir destruir aquele corpo a ter que continuar com ele, não escolhemos desejar ardentemente mudar essa situação, numa espécie de quase compulsão incontrolável. É óbvio que se  pudesse escolher ficar como gay e ser feliz, o teria feito. Teria me poupado sofrimentos extras, como a mudança do corpo. E tenham a certeza que tentei e muito ser gay, mas foi algo impossível.

Mesmo com todas as dificuldades de ser uma mulher transexual, mesmo tendo perdido a relação com minha família por conta disso, mesmo tendo perdido a relação com a grande maioria de pessoas do meu passado, porque hoje em dia me sinto uma pessoa meio que sem conexão com meu passado, como se tivesse destruído uma identidade para que outra surgisse a partir dali. Mesmo com tudo que perdi, o ganho de olhar no espelho e me reconhecer como mulher que sempre senti ser, o prazer de ser recebida como mulher em todos os ambientes que vou, realmente isso só quem dá valor é quem nasceu num corpo invertido.

Dizer que sou feliz como mulher transexual acho um excesso. Ser transexual já traz um sofrimento extra para o resto da vida, acho meio difícil alguém achar legal ter nascido transexual, já que a gente tem que andar sempre contra a "correnteza da natureza". Situação diferente de ser gay que é uma questão social e sexual. Ser transexual é uma questão social, de gênero, de identidade e porque não dizer que é uma questão médica, pois sempre envolve cirurgias e administração de hormônios.

De qualquer maneira se me perguntarem hoje se faria tudo de novo, com certeza faria. Se me perguntarem se tive mais ganhos do que perdas, não saberia responder. Mas certamente foi a única opção que tinha e se era a única, não era uma opção, mas sim uma condição.