Trabalho no Tribunal de Justiça desde 1992 e de todos esses anos, nove anos trabalhei no cartório que estou atualmente. Confesso que quando fui para lá estranhei bastante, um povo "caxias", tudo muito certinho, tudo muito perfeitinho, como nunca tinha visto em nenhum outro cartório e sempre foi um lugar que nunca se encaixou no esterótipo do serviço público onde nada anda, nada funciona. Lá tudo sempre funcionou muito bem.
Com o tempo, fui me apegando às pessoas, a gente foi formando um grupo legal, divertido, unido, pra cima, uma turma que estava sempre brincando, trabalhando muito, mas sempre com muito bom humor. Organizávamos festas, saíamos para as baladas, enfim era uma turma unida. Com o tempo meio que virou uma família mesmo, onde todos se ajudavam. Sempre me senti bem lá, acolhida, compreendida. Claro que como todo "casamento" tinha seus dias ruins, mas na soma o saldo sempre foi bem positivo.
Mas em 09 de março desse ano recebemos a notícia que nosso cartório seria extinto para que pudesse ser aberto um outro cartório num outro fórum. Na verdade é o que eles chama de transformação, já que a existe uma lei que limita um número x de cartórios, então como tinha uma necessidade muito maior de um cartório nesse outro fórum, eles aproveitaram que o nosso ficou sem juiz por conta da nossa juíza ter sido promovida a desembargadora e foi o escolhido.
Com isso temos convivido no decorrer desse ano com esse fantasma da extinção. Quando vai ser? Como vai ser? Para onde vamos? Para que cartório iremos? Ficaremos no mesmo fórum ou não? Enfim uma novela mexicana estressante demais que se arrastou por todos esses meses, mas que agora chega em seus últimos capítulos. Do dia 03 ao dia 10 de outubro será a redistribuição dos processos. Ou seja, do dia 13 estaremos todos em algum lugar que ainda não sabemos...
Nesse cartório eu fiz uma grande amiga, aquela para quem eu conto tudo, aquela com quem compartilho meus dias, aquela com quem convivo cinco dias da semana uma de frente para outra. Uma sabe tudo da vida da outra. Acho que nossa convivência é mais do que muitos casamentos, é uma cumplicidade enorme, são muitas horas de convivência, em muitos momentos em que a gente está de péssimo humor e sempre relevando e sempre se respeitando. Se a gente se destendeu umas três vezes nesses nove anos, foi muito. Acho que de tudo isso, perder essa convivência com essa amiga é o que mais me dói, é o que mais me entristece. Eu sei que a gente vai continuar sendo amiga, a gente já conversou sobre isso, mas sabemos que igual ao que é, não será. Essa possibilidade de estarmos juntas tanto tempo assim, não teremos mais. A vida vai se encarregar de levar cada uma por um caminho, mesmo que a amizade permaneça intacta, mas essa convivência a gente não vai ter, e a gente lamenta isso.
Quando você encerra um ciclo porque achou necessário é uma coisa, mas quando encerram um ciclo por você, sem que você queira, fica como se algo tivesse quebrado dentro da gente....