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segunda-feira, 23 de julho de 2018

UM PRESIDENTE HONESTO


Wenceslau Braz foi eleito presidente do Brasil em 1914 e recebeu um país com uma “herança maldita” – a economia em situação vexatória e corrupção campeando. O país era comandado por um senador, Pinheiro Machado que manipulava o poder nos bastidores. Wenceslau só foi eleito por conta de seu apoio e, por isso sua aprovação era muito baixa na opinião pública.

Mas novo presidente não aceitou nenhuma indicação para ministérios feita por Pinheiro Machado, reduziu pela metade o próprio salário, ia para o trabalho com seu próprio carro, parou com as festas no palácio do Catete (a capital do país era Rio de Janeiro naquela época), aboliu as remunerações extras que deputados e senadores recebiam quando das reuniões extraordinárias do congresso, proibiu seus familiares de usarem transporte oficial e tomou outras atitudes que, se bem não resolviam o problema da economia, lhe deu moral e apoio popular para fazer reformas necessárias.
Apesar de enfrentar crises atrozes no país (como a guerra do Contestado no sul) e fora dele (Primeira Guerra Mundial), cercou-se de ministros probos, cuidadosos com o bem público, sérios e honestos tais como Pandiá Calógeras e Sabino Barroso. Também investiu com força na educação – criando concursos públicos para professores, p. exemplo.

Ao deixar o poder (aprovação popular altíssima), retirou-se para a vida particular morrendo aos 98 anos. Rodrigues Alves, seu sucessor, recebeu o Brasil, com a economia recuperada. Enfim em uma gestão de 4 anos Wenceslau Braz mostrou que é possível mudar.

Seu exemplo nos mostra três coisas:
1.       É possível mudar.
2.       É possível voltar ao que era antes já que a corrupção voltou a dominar.
3.       Por mais bem intencionado que um líder possa ser, a mudança só ocorre se todos a tomarem em suas próprias mãos.

Assim, brasileiros, não deixem o governo para os políticos. Precisamos deles, indubitavelmente, mas não podemos deixa-los à própria sorte. Senão o país seguirá neste rumo de tristeza para nós, gente comum e alegria para eles, que estão matando a galinha dos ovos de ouro.

Há muita preocupação em torno de quem será o próximo presidente. Nós nos dividindo em acusações fúteis, demonizando “coxinhas” e “petralhas”, e, enquanto brigamos entre nós, deputados federais e estaduais, senadores, vereadores e demais representantes do povo fazem seus jogos nos quais eles não perdem, apenas ganham. O país não é governado pelo presidente, que é manipulado pelo congresso e, por sua vez, manipula o congresso com o nosso dinheiro. E com os nossos direitos.

Tomara tenhamos condições de ter um novo Wenceslau, e que estejamos a seu lado para não permitir o retorno da assembleia de crápulas.

Recebam o meu abraço esperançoso, Aureo Augusto.

sábado, 3 de dezembro de 2016

CUIDADO DOS MORTOS

Muitas pessoas do meu conhecimento ficaram chocadas com a insensibilidade do Congresso Nacional frente ao acidente aeronáutico que levou à morte de esportistas do Chapecoense. A Colômbia fez uma bela cerimônia por conta do luto e até o serviço diplomático de outros países enviou pêsames ao governo brasileiro, o qual manteve-se praticamente como se nada acontecesse.

No entanto, se bem notamos, o Congresso e o Executivo nacionais demonstram bem pouca preocupação pelo povo, ou pelos acontecimentos que afligem à nação. Não há apreço pelo ser humano que vive na lide diária buscando o “pão nosso de cada dia”. O povo é lembrado em época de eleição ou faz-se um teatro de baixa qualidade no cotidiano político, onde os atores (deputados, senadores, presidentes...) executam uma pantomima tentando convencer às pessoas da veracidade de suas preocupações, induzindo-nos a crer que estas preocupações dizem respeito à pátria ou ao povo que mantém a pátria. Na realidade a preocupação resume-se a manter-se no cargo e ampliar as benesses que este pode trazer.
Parodiando Oscar Wilde in “O Retrato de Dorian Gray”, eu diria que a classe política, de regra, é como se fosse os produtos de uma loja de quinquilharias com todos os preços acima da tabela – ou do seu real valor. Sérios presidentes da república se sucedem, vetustos presidentes da câmara e do senado, nobres deputados e senadores, vereança – um bando de mendigos morais pavoneando-se qual cardeais da alta cúpula de uma opulenta igreja.

E a nós? Cabe-nos o silêncio mormacento dos dias de labuta tentando construir uma vida decente sob tributação indecente que mantém quadrilhas que se alternam no poder.
Não estranhemos a displicência para com parentes e amigos dos mortos, afinal, em alguma medida todos nós, gente comum, não passamos de mortos para a sanha dos abutres que se locupletam da nossa impotência.
Porém, não creio que os mortos serão sempre mortos. Em que pese o formol que conserva o cadáver político em nosso país, como no livro Incidente em Antares de Érico Veríssimo, os mortos sairão a caminhar.

Caminhamos, enquanto o tempo passa, nós, as pessoas comuns aprendemos. Aos poucos vamos olhando com olhar crítico o que nos diz a imprensa, os discursos dos políticos e seus atos, a lógica de uma economia centrada no lucro e nos que auferem os lucros.... Devagar, evolutivamente, aprenderemos a dizer não.

Os abutres políticos desdenham do tempo porque creem que vivem da morte (o silêncio das consciências), desprezam os ciclos da vida porque alimentam-se daquilo que aparentemente não muda (a desmemoria de nossa gente), desconhecem a evolução porque apoiam-se na estabilidade da ignorância que eles fomentam em segredo (a educação que produz disfuncionais).

E apesar de suas verdades elaboradas na mentira, os políticos verão o mudar dos tempos. E verão que eles são os cadáveres de sua própria imoralidade.
Sei que nem todos são bandidos, mas a maioria é, e, mesmo assim, com essa maioria, não conseguem conter a mudança que se frágua em segredo e a maioria um dia será minoria. Aguardemos.


Recebam um abraço revoltado de Aureo Augusto

sábado, 27 de agosto de 2016

ABAIXO A BURGUESIA

Quando ia para as passeatas nos idos dos sessenta do século XX, esse era um dos motes que mobilizavam os estudantes: Abaixo a Burguesia! Eu ia, morrendo de medo da polícia, procurando o mais possível não ficar muito exposto, o que não foi difícil já que, mirrado como era, passava despercebido. Na época eu não sabia bem o que falava, mas lia Marx tentando saber – e não adiantou muito.

Na época eu não percebia que burguesia é evolução. Tomemos o século XVIII por exemplo. Dois países: França e Holanda (Países Baixos). A França era invejada como centro de civilização. Seus nobres empoados desfilavam em carruagens douradas, usando trajes caríssimos, comportando-se conforme regras esotericamente elaboradas, os homens inclinando-se reverentemente diante das mulheres sacudindo as mãos ou lenços de forma cuidadosa, com um sentido de honra aristocrática. Tudo muito bom, muito bonito, mas não passavam de parasitas intolerantes que viviam às custas dos agricultores e dos burgueses que trabalhavam diuturnamente e sustentavam o bando de parasitas “bem-nascidos”.
A Holanda havia emergido de cruentas guerras de independência contra a Espanha. Seu povo, constituído de agricultores e comerciantes burgueses, era industrioso, prezava a limpeza, a tolerância e não se aplicavam demasiadamente em amostrar-se em público. Os Holandeses mostraram-se bem próximos do que hoje entendemos como democracia. No seu país não havia tantos pobres, párias, miseráveis quanto na rica França. A renda per capita da Holanda era bem maior, pois a riqueza era bem melhor distribuída, já que a burguesia amava a competência, enquanto a aristocracia (como na França) reconhecia o direito de sangue, a origem nobre.

A aristocracia é um sistema onde uma pessoa tem prerrogativas sobre as demais apenas pelo fato de ter uma ascendência (ou nome) nobre. Não importa se é um crápula ou um imbecil, tendo nascido em berço de ouro será tratado de forma diferenciada e despreza com toda a força da alma aos demais, sem nome. Quando vemos filmes em que príncipes e princesas vivem em palácios ou casas senhoriais, encantados com os bons modos que demonstram e as belas roupas, não nos esqueçamos que aquilo se sustentava a partir da ideologia de que os muitos devem servir a uns poucos escolhidos por eles mesmos (os poucos) para postar-se no ápice da sociedade. Aquele príncipe tão digno, altivo e distinto, tão capaz de atitudes nobres, não trabalhava, e, no máximo, aprendera apenas a matar e a saquear (e isso era o seu conceito de dignidade).
Enquanto isso, os burgueses holandeses (e os franceses e de outros países) diligentemente construíam um mundo novo, onde o valor seria derivado do trabalho, do esforço, e não do nome. Eram preconceituosos, sim, mas nunca tanto quanto os aristocratas. Eles representaram a possibilidade da democracia no mundo moderno.

Os movimentos antiburguesia tendem a um comportamento democrático num primeiro momento, mas ao assumirem o poder tornam-se arremedos da aristocracia, quando começam a amar o poder, sempre em nome do povo. Na democracia pode ocorrer (e é frequente) uma degeneração onde quem ascende vira “aristocrata” passando a se considerar superior (porque ascendeu) e desejando preservar na família posses, títulos, cargos, recursos lançando mão de expedientes escusos muitas vezes.
Na União Soviética formou-se uma aristocracia burocrata (a Nomenklatura) e nos Estados Unidos os grandes trustes labutam no sentido de manter-se acima das leis.

Quando, no século passado, protestamos contra os valores burgueses, estávamos certos na medida em que tais valores careciam de revisão, adequação, purificar-se de determinadas injustiças, muitas delas, herança das ideias aristocráticas.

Tantos de nós que querem uma sociedade mais justa, tão frequentemente crê que um grupo (ou partido, ou um líder) será capaz de fazer a grande mudança. Mas quando acreditamos em um grupo, um partido, ou um líder, sem considerar aqueles que são contrários, ou olhando os demais como rebanho a ser liderado, estamos apenas retornando aos valores pré burgueses, involuindo em direção à aristocracia. Precisamos ir além da burguesia e não recuar ao passado.


Recebam um abraço burguês (rs) de Aureo Augusto.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

INCÊNDIO NA CHAPADA, POLÍTICA "INCENDIÁRIA"

Aqui no Vale do Capão estamos impactados com os incêndios florestais que grassam nas bandas do Riachinho, na trilha para Lençóis entre outros lugares. Como sempre admiramos a coragem, dedicação e competência dos brigadistas anti-incêndio, mas ao mesmo tempo ficamos sem entender a repetição da história. O nosso país tem muitos incêndios estranhos, como aquele que grassou na Secretaria de Educação de Salvador.
Impressiona-me também um tipo de incêndio sem fogo: Aquele que acontece nas prefeituras onde ocorre alternância política. Tomo conhecimento de diversas localidades onde móveis foram surrupiados pela equipe que se retira do poder, computadores, motores dos carros, entre outros pertences da prefeitura, ou seja, do povo e não da equipe de governo. Além desta forma de roubo, há o roubo das informações. Arquivos, dados, documentos, subsídios necessários à gestão desaparecem sem deixar rastros, informações essenciais para a governança futura são sonegadas como uma vingança inútil, mas prejudicial à população.

A Chapada carece de algo mais para proteger-se dos periódicos incêndios. O governo tem mantido as brigadas e tomado outras atitudes protetoras, porém está claro que estamos precisando de uma ação mais consistente, tanto no quesito prevenção – que envolve educação – quanto na área do combate ao fogo quando ele se manifesta. Da mesma forma os “incêndios” políticos precisam de um combate mais consistente. Muitos prefeitos que perderam a reeleição ou que não conseguiram diplomar seus candidatos fazem de tudo para dificultar a vida do seu sucessor, através do aumento da folha de pagamentos chamando funcionários aprovados em concurso (que nunca foram chamados antes para haver lugar para aliados), fazem dívidas, deixam de pagar certos direitos do funcionalismo etc. enfim fazem jogadas com o dinheiro público e com a sociedade.

O que mais me horroriza é que o gestor que se retira nem sempre é responsabilizado pelos seus erros. Ora, se ele não paga o INSS dos funcionários, a prefeitura futura é que passará pelo dissabor de pagar o ônus do erro. Sou leigo nestes assuntos, mas sei que a prefeitura de Palmeiras terá que pagar INSS de muito tempo atrás. Como fazer? Como começar o governo se já existem limitações financeiras derivadas de erros passados?

Penso que este “incêndio” só será apagado quando a justiça tiver suficiente agilidade para rapidamente obrigar o prefeito faltoso a pagar do bolso dele todos os erros que tenha cometido. Que seus bens sejam disponibilizados, leiloados, que os recursos auferidos sejam usados para compensar os desastres que haja causado. Professoras aqui em Palmeiras descobriram que em gestões antigas tiveram os recursos recolhidos pela prefeitura usados para outros fins que não garantir-lhes a aposentadoria. Mas aqueles que usaram desonestamente o dinheiro destas professoras estão muito bem de vida e circulam livremente com seus bens, fingindo serem pessoas de bem.

O Brasil peca pela morosidade. Incêndios reais e metafóricos grassam nas matas e nas repartições públicas. Nós, o povo, aguardamos brigadistas e bombeiros, juízes e legislação séria.
Recebam um abraço preocupado de Aureo Augusto em 11/1/13.

domingo, 28 de outubro de 2012

COISA BOA


Tem uma coisa que me causa alegria neste momento no Brasil:
Tenho acompanhado o julgamento do Mensalão no Supremo Tribunal e fico admirado que em um país como o nosso, que é democracia há tão pouco tempo já mostra um avanço inacreditável. O Supremo Tribunal está julgando e condenando pessoas que traíram a república fazendo jogatinas que, caso não viessem à luz da opinião pública teriam a possibilidade de enfraquecer a democracia. A compra de votos, o uso de recursos públicos ou não para subornar deputados e senadores, alugarem legendas, negociar fidelidades são ações que subvertem o estado democrático. Isso acontece com frequência dentro dos estados livres e precisa ser coibido. A lei é a solução. Porém em um país como o Brasil, a lei é lenta e, às vezes não cumpre o seu papel.

Mas desta vez, apesar de tudo, apesar de tantos empecilhos, o fato é que o partido que está no poder vê homens que jogam (ou jogaram) importante papel no comando do partido sendo julgados e condenados. Sei que ainda acontecem grandes injustiças, mas isso é sensacional.
Pense se isso estivesse acontecendo no Brasil de 20 anos atrás! Eu duvido que os governantes não interferissem de forma bem assertiva – impedindo com o exército ou com manobras infalíveis o desfecho desfavorável. Penso que em muitos países de nossa América Latina um julgamento como este seria impossível. Ainda mais em época de eleições.

Não deixemos de ver aquilo que está errado e merece correção, porém celebremos este momento!
Recebam um abraço de celebração de Aureo Augusto.

sábado, 12 de dezembro de 2009

MEDICINA OCULTA NO COTIDIANO 16

Acabou que ontem não consegui postar pq tive que fazer uma viagem para participar de um encontro do Instituto Chapada, onde os diversos municípios que fazem parte da empreitada mostraram seus resultados. O esforço dos educadores e políticos locais para superar as enormes dificuldades que enfrenta a educação me emocionaram em diversos momentos. Um dia volto a falar sobre isso.
Há um aspecto oculto da medicina que merece consideração. O conhecimento de si. Veja o que pensei uma vez sobre isso:
CONHECER(-SE)
Não é fácil, e não necessariamente por falta de disposição moral, assumir a proposta socrática de conhecer-se como base para a vida. Como função vital. Estudar a si mesmo do jeito que Montaigne queria. O principal desta não facilidade é o fato de que falta-nos, falta-me, percuciência. Falta competência. Percebo isso quando leio comentários a filmes, a livros, a obras de teatro e outras formas de arte, quando releio livros... É impressionante o quanto deixo escapar, o quanto não vejo. Dito melhor, o que não vi na leitura anterior.
Uma boa parte da população mundial não se interessa por conhecer a si mesmo. Penso, por exemplo, na infinidade de pessoas que, habitando os países muçulmanos satisfazem-se apenas com tocar o chão com a testa cinco vezes por dia e lançar diatribes contra o Ocidente, como se apenas a ambição (que não é pouca) dos países ocidentais fosse a causa de seus males, esquecendo-se dos séculos de estagnação que lhes atingiu pela incompetência em superar os impasses a que levou o poderoso imperialismo árabe, da implícita e mesmo ímpia desigualdade social que sempre os caracterizou, além da ganância de dinheiro e poder dos seus próprios dirigentes (os ayatolás que dominam o Irã rapidamente se fizeram os mais ricos) enquanto ao povo em geral só resta apresentar-se como voluntário para o exército dos homens-bomba. Também me lembro dos palestinos, cujo maior inimigo nominal, Israel, lhes causa menos estrago do que a corrupção e a ação de uma minoria fanática a serviço (freqüentemente inconsciente) de interesses o mais das vezes internacionalistas pan arábicos ou pan muçulmanos, que pouco se interessa pela questão das pessoas que residem na Palestina. Tais interesses nominalmente voltados para salvar as almas muçulmanas, o mais das vezes rezam a cartilha do jogo do poder e da satisfação de processos inconscientes traumáticos, pouco ou nada vinculados à questão árabe, palestina, muçulmana, humana... Penso também nos milhares de cristãos que se crêem compelidos por uma força demoníaca para o mal e que, portanto, necessitam de pastores ululantes e padres sussurrantes capazes de conjurar o mal que, um pensar cuidadoso sobre o si mesmo traria um efeito, no mínimo, gerador de autonomia. Talvez tivesse razão Voltaire ao considerar que a religião caso não existisse teria que ser inventada, pois que tem o forte papel de servir de freio para determinadas ações perniciosas. Sim, talvez tenha razão, mas, Nietzsche também não se enganou ao considera-la uma crueldade. Quantos se martirizam por ela? Quantos desviam seu caminho por ela? Embora tantos nela encontrem conforto, o que é bom e louvável, outros apenas aprofundam os conflitos, como vimos na Irlanda do Norte (católicos contra protestantes), no Paquistão e outros países da Ásia, onde cristãos são massacrados por muçulmanos, no Iraque onde sunitas e xiitas se matam mutuamente etc. Religião, economia e política, salvações que se tornam maquinações do mal... Creio que devido a nossa incompetência de conhecer a si mesmo, tornando-nos alvos fáceis de manipulações. Claro que o mundo não é feito apenas da minha, ou da nossa, subjetividade. No entanto, solipsismos à parte, o fato é que o não entendimento do que somos em si é causa de grande mal.
Os irlandeses estão longe daqui, bem como os conflitos no Oriente Médio. O Vale do Capão, local onde resido, descansa uterino sob a chuva suave e o gorjeio das aves matinais. Mas em sua devida escala aqui se repete o que no mundo transborda. Cá, como lá, vamos vivendo nossas limitações. O desejo de ser aceito, no mínimo, bem como o desejo de ser mais do que se é, em plano intermediário, além da vontade de ter o poder sobre os demais, mandar, dominar estão pautados, lado a lado, com a vontade de viver em paz, estar em harmonia com os demais e com o ambiente. Alguns moradores me impressionam pela sua capacidade de elaborar um sistema de valores baseados em sentimentos e raciocínios cuidadosos, mesmo que não tenham tido a oportunidade da alfabetização. Pessoas como o velho Anísio ou Maninho (Luís Quati). Outro dia, em meio a uma conversa na pizzaria de Daniel (La Piedra), pensei alto que esta coisa de ir a restaurantes é muito antiga. Araci, senhora sofrida e vivida neste vale, mãe e avó, de repente, do nada, me perguntou:
- E Deus, Aureo, existe desde quando?
Surpreso fiquei, confesso, com a pergunta. Ela queria saber. E saber é algo maravilhoso. Claro que já havia aprendido no catecismo e nas missas que Deus é eterno. No entanto, o que é e como é esta eternidade. Melhor seria um filósofo e educador para conversar com ela. Na falta, comentei para ela que dentro desta linha de pensamento que inclui a existência de Deus e sua eternidade, há cerca de 20 dias Deus existia. Claro. Há mil anos também. Há um milhão de anos idem. Para onde quer que viajemos no passado e no futuro ali Ele estará. Disso a conversa derivou para a própria existência humana e a possibilidade de uma alma e de que também seja ela eterna. Os olhos dela brilhavam e mesmo, em dados momentos marejaram, com as descobertas de uma conversa! Ao terminar o papo, ocorria um clima entre nós de descoberta da nossa amplitude. A, por assim dizer, literatura que havia sido experimentada na conversação, nos trouxe a sensação de que há e somos algo maior do que nossos pequenos e grandes egoísmos. E de que podemos conduzir-nos de melhor forma do que o fazemos no dia a dia, na medida em que mais vezes nos portemos com a consciência desta consciência. Que nos pode levar para além da política politiqueira, da religião sectarista, da economia voltada para o mero ‘levar sempre a melhor’. Sem negar política, economia ou religião, como elementos reais e componentes históricos inegáveis da vida e saúde humanas.
Recebam um abraço, Aureo Augusto.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

MEDICINA OCULTA NO COTIDIANO 9

Hoje é dia de assunto ligado a Saúde. Hoje trago para vc a questão da responsabilidade pessoal neste assunto.
TODO MUNDO DE ÓCULOS!
Dalva está se queixando dos óculos novos. Disse que cada vez que os coloca vê tudo caindo. “A rua fica caindo do lado”, “o povo cai pro lado...” E por isso obrigou-se a não usar o equipamento que a custo comprou.
Estava eu em Salvador quando apareceram por aqui algumas pessoas que se diziam oculistas e o povo acorreu em massa. Alguns dias após o meu retorno reparei que o Vale do Capão em peso estava usando lentes. O exame foi gratuito (gente generosa!), mas os óculos, naturalmente, pagos. Os resultados não foram completamente satisfatórios. Uma prova disso é que (comenta-se a boca pequena) até o pessoal de uma determinada família que adora usar óculos, nem eles estão conseguindo desfilar com as novas lentes que lhes foram receitadas. Dalva já falou que vai atrás pra recuperar o dinheiro que investiu ou pelo menos dar um jeito de fazer as coisas deixarem de desabar, de cair pros lados, escorrer pelas beiradas do seu campo de visão. Recuperar o dinheiro importa, assim como corrigir um erro de diagnóstico, porém convém pensar um tanto no pouco que damos de atenção à nossa saúde. Penso até em mim mesmo, que apesar de médico, às vezes me deixo levar por inércia e procrastinação, não observando os cuidados devidos. Penso também na alegria daquelas pessoas “encandiladas” com a possibilidade de um exame grátis, mesmo sem saber se bom; usam um velho adágio: “De graça, até prego na testa”. Ora! É esperado que o oculista (se é que era oftalmologista mesmo) grátis queira compensação pelo serviço, do mesmo jeito que o político que compra voto vai querer de volta o seu investimento.
A quem nós entregamos o nosso corpo, alma, futuro, sociedade, bem-estar? Uma vez um amigo me disse que estava muito preocupado com o fato de que todos nós entregamos nossa vida a outros sem permitir-nos o controle da situação. Médicos, políticos, professores, motoristas, cozinheiros, entre outros nos conduzem:
Médicos: Freqüentemente deixamos de fazer perguntas cuidadosas quanto ao diagnóstico e a terapêutica de nossos males; deveríamos aprender da nossa saúde e da nossa cura, exigir claridade nas explicações. Existem excelentes médicos no mundo (a par de outros não tanto), mas mesmo que encontre um Hipócrates extraordinário, ainda assim ele por si só é incapaz de saber de mim com a intimidade com que eu mesmo sei.
Políticos: Os políticos tantas vezes definem diretrizes para a nossa sociedade e para a economia que favorecem mais a eles mesmos e aos seus partidos do que à população. Nós idiotamente uma infinidade de vezes esquecemos de vigia-los; Há uma certa quantidade de políticos honestos, mas que podem errar. Deixa-los com toda a responsabilidade é, no mínimo, uma idiotice (no sentido grego).
Educadores: Milhares de professores tornam-se responsáveis pela educação de nossos filhos e filhas; às vezes não preparam (em parte porque não sabem preparar) aulas, não planejam, nem fazem formação continuada até porque nem sempre os coordenadores pedagógicos cumprem suas 25 funções expressas na LDB; centenas de secretários de educação desconhecem ou não querem conhecer suas obrigações e não passam de capachos de prefeitos e governadores. Enfim, inusitadas vezes, nós, pais e mães, esquecemos ou negligenciamos nossa participação na educação. Mesmo contando com professores excelentes, coordenadores maravilhosos, secretários de educação impecáveis, ainda assim não temos o direito de delegar apenas a eles a educação de nossos filhos.
Motoristas: Em toda parte aí estão eles e, muitas vezes, são mal formados, ou estão sendo explorados pelas empresas trabalhando acima de suas capacidades, aumentando em muito a possibilidade de acidentes. Por que não prestar atenção neles, ver como estão, se possível protestar, discutir o caminho (táxi), não deixar em suas mãos toda a nossa vida naqueles momentos em que entregamos nossos rumos ao volante por eles manejado?
Cozinheiros, assim como as indústrias de alimentos, restaurantes, lanchonetes, vendedores de rua, em profusão, fazem qualquer coisa para que suas comidas sejam consumidas. A adição de conservantes, colorantes, edulcorantes, sal, açúcar, espessantes entre outros produtos cujos efeitos sobre nossos corpos são, para dizer o mínimo, imprecisos, é um dos meios utilizados para pescar-nos pelo paladar (“peixe morre pela boca”) e, nós nem sequer lemos os rótulos!
Entregamos nosso destino a outros e, nem sempre estes outros são idôneos e, quando o são, mesmo assim, passíveis de erro. Como tal, é tarefa nossa cuidar para que a nossa entrega aos profissionais competentes seja temperada pela natural e desejável presença de nossa consciência. No mínimo para que não aconteça de o mundo escorrer pelas bordas do nosso campo de visão.
Recebam um abração, Aureo Augusto.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

CONGRESSO NACIONAL E DEMOCRACIA

Recentemente recebi um e-mail com este conteúdo:
"O Congresso Nacional é um local que: se gradear vira zoológico, se
murar vira presídio, se colocar uma lona em cima vira circo, se colocar lanternas vermelhas vira prostíbulo, e se der descarga não sobra ninguém”.
O triste é que há bastante verdade nisto. Mas há também existem riscos nesta avacalhação. Podemos confundir a qualidade das pessoas ali presentes com a democracia e, também podemos esquecer que naquela casa existem pessoas decentes, conquanto não sejam a maioria.
Notem que uma parte dos congressistas era aliada do regime militar que ditou as regras do jogo político em nosso país. Para eles, o nome do congresso pode ser jogado na lama, pois isso ativa naqueles que têm pouca memória o desejo de um regime forte, de direita, que teoricamente acabe com a lambança suposta ou realmente generalizada. Outra importante parcela dos congressistas tem pouca claridade quanto ao que é e como é democracia e, na realidade, não se sentiria constrangida no caso em que nosso país fosse acometido por um regime forte de esquerda. Uma ditadura dominada por um partido único, que não admitisse oposição, como na China ou na ex-União Soviética seria desejável para estas pessoas, desde que eles estivessem no partido dominante. Daí não se espere da maioria dos deputados e senadores uma postura em que a casa que eles freqüentam fique acima de qualquer suspeita.
Por isso, caro leitor, não espere que nossos representantes no Congresso Nacional (salvo algumas exceções honrosas) estejam real e efetivamente preocupados com isso ou aquilo que esse ou aquele dos seus membros pratica de imoral, ilegal, irregular. Enquanto nós, aqueles que acreditamos no regime democrático, queremos um congresso forte, capacitado a apoiar e a confrontar o poder executivo, preparado para legislar pelo bem comum, os deputados e senadores não entendem a necessidade disso. Importa, isso sim, que estejam no poder, pois, dessa maneira, arrancam nacos do erário público, ou locupletam-se com as benesses que o poder proporciona. Quando ficamos horrorizados com absurdos inadmissíveis como o Jetom, com combinações e maquinações secretas, eles apenas ficam constrangidos porque foram apanhados com a mão na massa. Tal qual o ladrão contumaz que foi apanhado roubando galinha. O problema para ele, não é a própria honra ou coisa parecida, é que a partir daquele momento ficou marcado e pode ser que os vizinhos fiquem de olho. Contará apenas com a memória falha dos observadores para poder aproveitar os descuidos. É muito triste ver as coisas deste modo, que é o mais realista. Os nossos representantes no poder legislativo, infelizmente são, na melhor das hipóteses, despreparados. Nos municípios, nos estados e no nível federal. As exceções existem, mas apenas confirmam a regra, segundo a qual, toda regra (menos esta) tem exceção.
Ainda não nos acostumamos com a democracia. Neste sistema a nação pertence a cada um de nós. Somos nós que legislamos pelo bem de todos. Como o país é muito grande (bem como sua população) não é possível que cada um de nós freqüente o Congresso. Por isso elegemos os nossos representantes. Estes deveriam postar-se ali não como defensores do próprio emprego e sim como arautos de soluções para nossas necessidades comuns. Porém, o próprio processo de eleição está sobrecarregado de ranço clientelista, tornando-se um toma-lá-dá-cá, onde a compra de votos ou a negociação de vantagens toma o lugar da discussão de princípios ou de programas. A atividade política em nosso país ainda é excessivamente conspurcada pelo jogo de interesses pessoais. Isso dá margem (entre cidadãos incautos) a desejos fantasiosos de que surja um personagem forte, bom e santo, que liderará as massas e as conduzirá ao paraíso. O paraíso não existe. Existe apenas a nossa responsabilidade pessoal. Hitler, Mussolini, Pol Pot, Lênin, Stálin, Perón, Napoleão Bonaparte, Napoleão III, Idi Amin… estes são alguns exemplos de nosso passado triste. O que eles têm em comum? Muitas promessas e milhares ou milhões de mortos. Justiça, talvez no início, em alguns casos, depois, o de sempre; os aliados do ditador dividem entre si o melhor, mas poucas vezes participam do sofrimento da grande maioria. O salvacionismo, como o sebastianismo, é sempre para as massas, e, como sabemos, as massas são para serem conduzidas. Gado, alcatéia, cardume. Seja para sair a matar, seja para correrem desesperados sem direção; a massa não pensa, e é fácil de dominar (e assustar); basta encontrar alguém em quem por a culpa (com justiça ou não) e em quem descarregar a raiva. O remédio para isso é educação e democracia.
Vivemos uma democracia. O dito acima mostra que não tenho fantasias quanto ao caráter daqueles que nos representam. Mas isso não me deprime. O processo é este. É assim que as coisas acontecem. Trata-se de uma educação. E educação é aos poucos. Devagar as pessoas vão aprender que quem compra voto quer de volta o que gastou com grande lucro, quem hoje rouba aproveitando-se das vantagens do poder, amanhã roubará muito mais. Aos poucos nós os brasileiros iremos tirando os votos daqueles que não os merecem.
Meu voto é caro demais para ser comprado. Tão caro que só pode ser dado, e escolherei com cuidado quem receberá este presente, que é uma procuração. Não votarei nos vereadores, deputados estaduais ou federais e senadores que não merecem minha confiança, que estão envolvidos com situações escusas. Eles são em grande parte os responsáveis pelas dificuldades que eu mesmo enfrento no dia-a-dia de estradas esburacadas, excesso de imposto, criminalidade etc.
Há uma campanha correndo a internet, solicitando que mudemos a cara do Congresso. Muito bem. Estou nessa. Não vou votar em quem não merece minha confiança. Não vote em quem você não confiaria sua carteira. Vamos mudar o Congresso!
Em 28/9/09