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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

O RANÇO ARISTOCRÁTICO

Fui e sou testemunha, tanto na qualidade de mero observador, como na condição de participante efetivo, de diversos movimentos de variadas matizes que buscam melhorar – alguns sinceramente, outros não – o mundo.
Quando jovem frequentei assustado o diretório acadêmico do Colégio Central da Bahia, onde cursei o científico. Foi uma época de perseguições e os militares me metiam um medo tão atroz quanto o que sentia dos líderes do diretório com seu pregão religioso anti-imperialista. Tudo bem, sou um cara medroso e por isso seguramente poucos da minha geração tiveram o mesmo grau de susto. No entanto, lembro-me que os militares estavam defendendo a democracia, contra os comunistas insanos e os líderes do diretório defendiam a democracia contra os militares que na realidade defendiam a burguesia.
A burguesia naquela época para mim era uma coisa perversa, responsável pela pobreza e pela exploração do homem pelo homem – é assim que se dizia. Depois que a mulher foi incluída na conta dos despossuídos.
O capitalismo, instrumento burguês de dominação, era a fonte de todo o mal e isso era indiscutível no meio em que eu frequentei a partir daí, e era indiscutível porque na verdade não era discutido. Resolvi ler Marx, o Capital, e me esforcei, mas me perdi o tempo todo. E, o pessoal que militava nas hostes do bem não o havia lido, exceto um único colega, que conversava muito comigo e me ensinava e esmiuçava Hegel, Engels, Marx, muito mais fácil que a leitura. Lembro-me dele, magro, curvo, nariz aquilino, pele clara como impensável em um baiano daquela época, bem intencionado até a medula, o único que realmente sabia o que falava e como tal rejeitado tanto à direita quanto à esquerda (da qual queria participar sem sucesso). A dificuldade que eu encontrava em estar a seu lado era que ele era excessivamente estudioso – e todos os excessivamente estudiosos passam pelo dilema que foi a vida de Hamlet – e eu um tanto preguiçoso e ademais lia e relia a Anatomia da Paz de Emery Reves.

Por alguma insanidade eu queria a paz. É fácil dizer que isso era porque eu era e sou um covarde, nada pronto pra uma briga. Seguramente essa característica teve seu papel, mas seria reducionismo alheio à verdade outorgar a apenas isso o meu pacifismo precoce. No plano pessoal isso era seguro, mas no plano geral, social digamos, até que era corajoso, pois estava na contramão de tantos ao meu redor que progrediam desde as brigas de turmas de rua, até a propaganda revolucionária (tanto a favor quanto contra o regime militar).
Naquele tempo eu me sentia tendo que escolher entre os militares que me tiraram tantos dos meus amigos (amigos dos quais admirava a coragem), ou os militantes de esquerda que me remetiam aos pogroms soviéticos, à invasão da Hungria e ao esmagamento da Primavera de Praga... Hoje as coisas são algo diferentes, mas não tanto a mais quanto gostaria.

Ocorre-me que temos um tremendo medo de reconhecer a diferença como essencial à vida social, como aliás vem pregando com algum sucesso o pensador Leandro Karnal. Deveríamos observar mais cuidadosamente a biologia. Onde há maior diversidade há mais resiliência e resistência ambiental. O Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, estava se degradando ecologicamente e ninguém conseguia saber o porquê. A reintrodução dos lobos fez o parque voltar à vitalidade. Eles controlaram a população de certos herbívoros que antes se proliferavam e acabaram com a vegetação rasteira na beira dos rios e córregos.

Na nossa vida social e no relacionamento dentro da sociedade precisamos de todos os tipos de gente, ou, dito melhor e mais acertadamente, de todos os tipos de opiniões. E, a oposição a um governo, se exercida em boa-fé (imploro que leiam sobre a boa-fé no “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” de Comte-Sponville), e principalmente se o governo é exercido em boa-fé é absolutamente essencial e necessária para o bom andamento da coisa pública.

Mas o que vi foi um desastre patrocinado por uma elite ciosa de seu mundinho de regalias às custas de todo um povo laborando em condições frequentemente insalubres auferindo salários ignóbeis. O Brasil entrou numa espécie de Idade Média, da qual a muito custo tateamos para sair e, as notícias que vêm de Brasília não são nem um pouco alvissareiras. Pois conquanto nós, o povo, continuamos tateando para sair, outros, que podemos chamar de “elite” às claras ou disfarçadamente tudo faz com o intuito consciente ou não de manter tudo como está, ou seja, na contramão da diversidade.
Podemos chamar de “elite” não apenas quem nasceu em berço de ouro, mas também quem o conquistou, por vias políticas ou por labuta, mas que assume uma postura classista (disfarçada ou não) – e veja que existem pessoas muito ricas que não fazem parte dessa “elite”.

Isso não ocorre porque capitalismo, ou porque comunismo, ou porque falta religião ou porque insanos. Em alguma parte de todo o processo o economicismo acabou por suplantar o cuidado do com o povo ou com a coisa pública. Não se governa pelo bem das pessoas e sim pelo bem da economia, enquanto esse “bem” mantém, por exemplo, grupos muito ricos tendo suas dívidas perdoadas para manter o funcionamento do sistema, enquanto gastos com a saúde ou a educação dos mais pobres são denunciados como abusos socialistas.

O que temos é uma junção de um equívoco, onde as pessoas são esquecidas, com a má fé de políticos e seus asseclas em um verdadeiro complô contra uma possível democracia diversificada e bela.

Vamos ver aonde isso vai chegar.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

INCÊNDIO NA CHAPADA, POLÍTICA "INCENDIÁRIA"

Aqui no Vale do Capão estamos impactados com os incêndios florestais que grassam nas bandas do Riachinho, na trilha para Lençóis entre outros lugares. Como sempre admiramos a coragem, dedicação e competência dos brigadistas anti-incêndio, mas ao mesmo tempo ficamos sem entender a repetição da história. O nosso país tem muitos incêndios estranhos, como aquele que grassou na Secretaria de Educação de Salvador.
Impressiona-me também um tipo de incêndio sem fogo: Aquele que acontece nas prefeituras onde ocorre alternância política. Tomo conhecimento de diversas localidades onde móveis foram surrupiados pela equipe que se retira do poder, computadores, motores dos carros, entre outros pertences da prefeitura, ou seja, do povo e não da equipe de governo. Além desta forma de roubo, há o roubo das informações. Arquivos, dados, documentos, subsídios necessários à gestão desaparecem sem deixar rastros, informações essenciais para a governança futura são sonegadas como uma vingança inútil, mas prejudicial à população.

A Chapada carece de algo mais para proteger-se dos periódicos incêndios. O governo tem mantido as brigadas e tomado outras atitudes protetoras, porém está claro que estamos precisando de uma ação mais consistente, tanto no quesito prevenção – que envolve educação – quanto na área do combate ao fogo quando ele se manifesta. Da mesma forma os “incêndios” políticos precisam de um combate mais consistente. Muitos prefeitos que perderam a reeleição ou que não conseguiram diplomar seus candidatos fazem de tudo para dificultar a vida do seu sucessor, através do aumento da folha de pagamentos chamando funcionários aprovados em concurso (que nunca foram chamados antes para haver lugar para aliados), fazem dívidas, deixam de pagar certos direitos do funcionalismo etc. enfim fazem jogadas com o dinheiro público e com a sociedade.

O que mais me horroriza é que o gestor que se retira nem sempre é responsabilizado pelos seus erros. Ora, se ele não paga o INSS dos funcionários, a prefeitura futura é que passará pelo dissabor de pagar o ônus do erro. Sou leigo nestes assuntos, mas sei que a prefeitura de Palmeiras terá que pagar INSS de muito tempo atrás. Como fazer? Como começar o governo se já existem limitações financeiras derivadas de erros passados?

Penso que este “incêndio” só será apagado quando a justiça tiver suficiente agilidade para rapidamente obrigar o prefeito faltoso a pagar do bolso dele todos os erros que tenha cometido. Que seus bens sejam disponibilizados, leiloados, que os recursos auferidos sejam usados para compensar os desastres que haja causado. Professoras aqui em Palmeiras descobriram que em gestões antigas tiveram os recursos recolhidos pela prefeitura usados para outros fins que não garantir-lhes a aposentadoria. Mas aqueles que usaram desonestamente o dinheiro destas professoras estão muito bem de vida e circulam livremente com seus bens, fingindo serem pessoas de bem.

O Brasil peca pela morosidade. Incêndios reais e metafóricos grassam nas matas e nas repartições públicas. Nós, o povo, aguardamos brigadistas e bombeiros, juízes e legislação séria.
Recebam um abraço preocupado de Aureo Augusto em 11/1/13.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

CONGRESSO NACIONAL E DEMOCRACIA

Recentemente recebi um e-mail com este conteúdo:
"O Congresso Nacional é um local que: se gradear vira zoológico, se
murar vira presídio, se colocar uma lona em cima vira circo, se colocar lanternas vermelhas vira prostíbulo, e se der descarga não sobra ninguém”.
O triste é que há bastante verdade nisto. Mas há também existem riscos nesta avacalhação. Podemos confundir a qualidade das pessoas ali presentes com a democracia e, também podemos esquecer que naquela casa existem pessoas decentes, conquanto não sejam a maioria.
Notem que uma parte dos congressistas era aliada do regime militar que ditou as regras do jogo político em nosso país. Para eles, o nome do congresso pode ser jogado na lama, pois isso ativa naqueles que têm pouca memória o desejo de um regime forte, de direita, que teoricamente acabe com a lambança suposta ou realmente generalizada. Outra importante parcela dos congressistas tem pouca claridade quanto ao que é e como é democracia e, na realidade, não se sentiria constrangida no caso em que nosso país fosse acometido por um regime forte de esquerda. Uma ditadura dominada por um partido único, que não admitisse oposição, como na China ou na ex-União Soviética seria desejável para estas pessoas, desde que eles estivessem no partido dominante. Daí não se espere da maioria dos deputados e senadores uma postura em que a casa que eles freqüentam fique acima de qualquer suspeita.
Por isso, caro leitor, não espere que nossos representantes no Congresso Nacional (salvo algumas exceções honrosas) estejam real e efetivamente preocupados com isso ou aquilo que esse ou aquele dos seus membros pratica de imoral, ilegal, irregular. Enquanto nós, aqueles que acreditamos no regime democrático, queremos um congresso forte, capacitado a apoiar e a confrontar o poder executivo, preparado para legislar pelo bem comum, os deputados e senadores não entendem a necessidade disso. Importa, isso sim, que estejam no poder, pois, dessa maneira, arrancam nacos do erário público, ou locupletam-se com as benesses que o poder proporciona. Quando ficamos horrorizados com absurdos inadmissíveis como o Jetom, com combinações e maquinações secretas, eles apenas ficam constrangidos porque foram apanhados com a mão na massa. Tal qual o ladrão contumaz que foi apanhado roubando galinha. O problema para ele, não é a própria honra ou coisa parecida, é que a partir daquele momento ficou marcado e pode ser que os vizinhos fiquem de olho. Contará apenas com a memória falha dos observadores para poder aproveitar os descuidos. É muito triste ver as coisas deste modo, que é o mais realista. Os nossos representantes no poder legislativo, infelizmente são, na melhor das hipóteses, despreparados. Nos municípios, nos estados e no nível federal. As exceções existem, mas apenas confirmam a regra, segundo a qual, toda regra (menos esta) tem exceção.
Ainda não nos acostumamos com a democracia. Neste sistema a nação pertence a cada um de nós. Somos nós que legislamos pelo bem de todos. Como o país é muito grande (bem como sua população) não é possível que cada um de nós freqüente o Congresso. Por isso elegemos os nossos representantes. Estes deveriam postar-se ali não como defensores do próprio emprego e sim como arautos de soluções para nossas necessidades comuns. Porém, o próprio processo de eleição está sobrecarregado de ranço clientelista, tornando-se um toma-lá-dá-cá, onde a compra de votos ou a negociação de vantagens toma o lugar da discussão de princípios ou de programas. A atividade política em nosso país ainda é excessivamente conspurcada pelo jogo de interesses pessoais. Isso dá margem (entre cidadãos incautos) a desejos fantasiosos de que surja um personagem forte, bom e santo, que liderará as massas e as conduzirá ao paraíso. O paraíso não existe. Existe apenas a nossa responsabilidade pessoal. Hitler, Mussolini, Pol Pot, Lênin, Stálin, Perón, Napoleão Bonaparte, Napoleão III, Idi Amin… estes são alguns exemplos de nosso passado triste. O que eles têm em comum? Muitas promessas e milhares ou milhões de mortos. Justiça, talvez no início, em alguns casos, depois, o de sempre; os aliados do ditador dividem entre si o melhor, mas poucas vezes participam do sofrimento da grande maioria. O salvacionismo, como o sebastianismo, é sempre para as massas, e, como sabemos, as massas são para serem conduzidas. Gado, alcatéia, cardume. Seja para sair a matar, seja para correrem desesperados sem direção; a massa não pensa, e é fácil de dominar (e assustar); basta encontrar alguém em quem por a culpa (com justiça ou não) e em quem descarregar a raiva. O remédio para isso é educação e democracia.
Vivemos uma democracia. O dito acima mostra que não tenho fantasias quanto ao caráter daqueles que nos representam. Mas isso não me deprime. O processo é este. É assim que as coisas acontecem. Trata-se de uma educação. E educação é aos poucos. Devagar as pessoas vão aprender que quem compra voto quer de volta o que gastou com grande lucro, quem hoje rouba aproveitando-se das vantagens do poder, amanhã roubará muito mais. Aos poucos nós os brasileiros iremos tirando os votos daqueles que não os merecem.
Meu voto é caro demais para ser comprado. Tão caro que só pode ser dado, e escolherei com cuidado quem receberá este presente, que é uma procuração. Não votarei nos vereadores, deputados estaduais ou federais e senadores que não merecem minha confiança, que estão envolvidos com situações escusas. Eles são em grande parte os responsáveis pelas dificuldades que eu mesmo enfrento no dia-a-dia de estradas esburacadas, excesso de imposto, criminalidade etc.
Há uma campanha correndo a internet, solicitando que mudemos a cara do Congresso. Muito bem. Estou nessa. Não vou votar em quem não merece minha confiança. Não vote em quem você não confiaria sua carteira. Vamos mudar o Congresso!
Em 28/9/09