Odi profanum vulgus et arceo
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09/03/07

Referendo automático

Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da propriedade, se realizada, por opção do gatuno, quando a este der ganas, em qualquer estabelecimento ou mesmo na via pública?

Não concorda?

Pois, azarito. Nós cá, os do Governo português, achamos que sim, que o roubo deve ser livre, e portanto que se foda. O referendo está automaticamente aprovado.

Para já, à cautela, a coisa só "cobre" os roubos de produtos tabelados abaixo dos 96 euros, mas é só para já. Há que ter peninha da gatunagem pequenina, coitadinhos, esses pobres diabos que agora até vão perguntar às pessoas, antes de as roubar, quanto vale o relógio, o telemóvel, o colar, a pulseira, os brincos, o casaco; assim, com esta maravilhosa lei, se os bens a gamar ultrapassarem a fasquia, nada feito, o gatuno segue adiante, escolhe outra vítima, outro filho da puta qualquer, desses que andam por aí a exibir pertences quando há quem não tenha posses para lhes chegar - o que não é justo, como se sabe.

Assim, de uma penada, limpam-se as secretarias dos tribunais, esvaziam-se as cadeias e, principalmente, Portugal poderá passar a orgulhar-se de ter as taxas de criminalidade mais baixas do mundo e arredores. Aliás, sem ser preciso grande sorte, o crime acabará por desaparecer no nosso país; roubar um automóvel ainda é crime, pelo menos até ver, mas com esta lei (maravilhosa, já tinha dito?) até já não será bem assim, pois que se pode roubar um carro às peças, um pneu de cada vez, uma porta e depois outra, finalmente o motor, todo desmontado em pecinhas, ó maravilha, nenhuma delas de valor criminal, ora pronto, está o problema resolvido; até uma casa, um palacete se pode roubar, o estádio da Luz, o autódromo do Estoril, à vontadinha, trata-se de o ladrão não se armar em burro, tira primeiro as telhas, depois as caleiras, os caixilhos das janelas, enfim, desmonta aquela merda tijolo por tijolo, ripa por ripa, sapata por sapata - tudo de valor unitário inferior a 96 euros, ora aí está, não roubou coisa nenhuma, por conseguinte.

Caralho, que esta merda é brilhante. Que se fodam lá os referendos e essas tretas todas, nós cá é que sabemos da poda, que venha o primeiro e levante cabelo, foda-se, invejosos do caralho, vocês queriam era ter-se lembrado desta primeiro, seus morcões.

Pois fodei-vos, mas é, a gente despenalizou o aborto até às dez semanas, agora vai o roubo até aos 96 euros, a seguir alguma coisa jeitosa se há-de arranjar, sei lá, por exemplo, o homicídio. Boa! Toca a despenalizar o homicídio. Ora deixa cá ver, José. Ah, já sei. Assim.

Concorda com a despenalização do homicídio, desde que realizado sem oposição por parte da vítima, sendo esta maior de 80 anos e não havendo qualquer interesse em que ande por aí a chatear as pessoas com os seus problemas de reumático, e assim?

Caralho, José, esta ainda está mais bem esgalhada do que a outra. Foda-se. És o maior.

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15/02/07

Nove semanas e qualquer coisinha



O tempo necessário para um crime ainda o não ser. Mais qualquer coisinha e já é, ou já seria e passaria a ser.

Por outro lado, o não ser está prestes a deixar de ser um ser e passar a ser apenas uma coisinha qualquer.

Mais meia semana e já era.

Bem entendido, já era um crime. Um crime bem entendido.

Nove semanas e meia é a fronteira entre um filme e um filme de terror.

Já era. Já foi.



(Imagem de DVDPT)

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12/02/07

Bingo!

Numerologia
Desta, ainda não se lembraram os histéricos do NÃO... que também os há.
Se o SIM ganhar o referendo do próximo dia 11, alguma sumidade aparecerá com o seguinte ditame profundamente científico:

A América teve o 11 de Setembro, a Espanha teve o 11 de Março e Portugal teve o 11 de Fevereiro.

Logo surgirão também os patuscos do costume esgrimindo seus números algébricos, isto é, continhas e cálculos que demonstrarão à saciedade (e à sociedade) que nada acontece por acaso e que as piores catástrofes ocorrem nos dias onze de cada mês, por altíssimos e divinos desígnios mas também obedecendo a uma férrea lógica matemática.
Cada nação tem o onze que merece, um pouco à revelia daquilo que sucede com o futebol.
http://001.blogspot.com/2007_01_01_archive.html#116895432044117295#116895432044117295 (16/01/07)

O primeiro caso apareceu agorinha mesmo, logo a seguir ao referendo não vinculativo:

Venceu a cultura da morte!
11 de Setembro, 11 de Março, 11 de Fevereiro. Datas manchadas pela morte!
Mafalda : 2/11/2007 09:07:00 PM


Já existe um Professor Karamba, 42 anos de experiência há mais de 10 anos. Acho que também vou abrir consultório de bruxo.

Professor Karalhosmafodam

420 anos de experiência, cartomancia (Tarot, búzios, borras de café, caracoletas assadas)
dá consulta por telefone, por email, por carta ou por telepatia,
aproxima e afasta a pessoa querida, principalmente afasta,
trata de todos os assuntos relacionados com sorte e azar, em especial os de ganda galo
acerta sempre nas previsões, mesmo as mais difíceis, até chateia.
Marcar consulta através da secretária, Menina Cidália, esplêndida brochista.
Preços módicos, excepto para médicos.

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06/02/07

Descubra as diferenças

Estas duas empresas de reciclagem parecem iguais, mas não são; existem sete ligeiras diferenças entre elas. Descubra-as!




(Falta aqui o boneco de um dos "movimentos" pelo Sim ao aborto, patrocinado pelo BE; é muito parecido com estes dois, já o vi algures, mas não consigo encontrá-lo de novo; se, por acaso, o topar por aí, é favor enviar e-mail com o link.)


Imagens de
Comunidades Net
C.M. Tomar

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03/02/07

A culpa é das palavras

O referendo do próximo dia 11 está ferido de morte à nascença, e deveria por isso ser imediatamente abortado. Esse ferimento letal resulta da formulação da pergunta que o constitui:

Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?

Num referendo, tipicamente, o cidadão vota em uma de duas respostas possíveis: Sim ou Não. Pode abster-se, não votando, ou pode anular o seu voto, caso escreva no boletim qualquer outra coisa que não um X, no quadrado à frente de uma das duas opções, ou ainda no caso de entregar o boletim completamente em branco.

Sucede que, neste referendo, aquilo que é sujeito a plebiscito difere substancialmente do significado não apenas da pergunta no seu conjunto, enquanto fórmula a referendar, como quanto ao significado dos termos que a compõem.

No seu conjunto, porque envolve não uma mas três perguntas diferentes, cada uma das quais podendo ser formulada individualmente:

A. Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez?
B. Concorda com a realização da interrupção voluntária da gravidez em estabelecimento de saúde autorizado?
C. Concorda com a interrupção voluntária da gravidez realizada por opção da mulher?

Estas três diferentes questões, se sujeitas cada qual a referendo nacional, teriam necessariamente resultados diferentes.

1. Há quem esteja de acordo com as três questões, e por isso responderia Sim às três fórmulas.
2. Há quem esteja de acordo com a primeira e a segunda das questões, mas não quanto à terceira, e portanto votaria Sim quanto às formulações A e B, e optaria pelo Não no referendo à pergunta C.
3. Há quem esteja de acordo com as fórmulas referendárias A e C, mas que votaria Não quanto à B.
4. Há quem esteja de acordo com a despenalização voluntária da gravidez (referendo A), mas contra a realização da interrupção voluntária da gravidez em estabelecimento de saúde autorizado (referendo B), e contra a interrupção voluntária da gravidez realizada por opção da mulher (referendo C).
5. Há quem esteja contra, em qualquer dos casos, e por isso votaria Não no referendos A, B e C.

Por conseguinte, incluir na mesma formulação posta a referendo conceitos distintos - sujeitos a formulações autónomas - resulta num voto improcedente, já que as opções são apenas duas quando deveriam ser cinco.

1. Sim A, Sim B, Sim C.
2. Sim A, Sim B, Não C.
3. Sim A, Não B, Sim C.
4. Sim A, Não B, Não C.
5. Não A, Não B, Não C.

Isto quanto à fórmula posta a referendo, no seu conjunto ou, dizendo de outra forma, no seu todo de código significante. Porque, quanto às partes que o compõem, a esse código verbalizado, muito mais se pode constatar naquilo que respeita a rigor e isenção na terminologia utilizada, ou na ausência de ambas as coisas.

De facto, é completamente diferente utilizar a expressão "interrupção voluntária da gravidez" ou o substantivo "aborto". Mesmo dando de barato a improcedência da fórmula produzida, pelas razões anteriormente aduzidas, seria no mínimo espectável que os resultados do referendo fossem completamente diferentes, caso se substituísse a expressão pelo substantivo:

Concorda com a despenalização do aborto, se realizado, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?

Fosse esta a pergunta, mesmo admitindo como boa a formulação de três em uma, apenas alterando a designação do acto em si, e certamente os resultados seriam também diferentes daqueles que teremos em breve.

Muita gente desconhece em rigor, ou mesmo em absoluto, o significado de "interrupção" e de "voluntária", se bem que saiba perfeitamente (presume-se, em maioria) o que quer dizer "gravidez"; de igual modo, é provável que os dois primeiros termos em sequência ("interrupção voluntária"), mesmo para quem tenha uma ideia daquilo que significam isoladamente, se torne confuso quando em conjunto.

"Interrupção voluntária da gravidez" é, mais do que um evidente eufemismo, uma forma politicamente correcta de encobrir o facto, ou o acto em causa, com a aparente inocuidade de uma designação já de si armadilhada e tendenciosa; se bem que um dos significados de "interrupção" seja "cessação", não é essa a sua acepção mais comum; a "interrupção", associa-se geralmente a ideia de que algo que sucedia pára, temporária ou transitoriamente, mas que depois continua, retoma o seu curso; ora, este conceito é inaplicável ao aborto, como é evidente; a escolha deste termo em concreto revela, portanto, um indisfarçável tendenciosismo, já que tenta atenuar o vigor (e o rigor) do facto pela suavidade não determinista (ou terminal) da designação.

Outro tanto sucede com o adjectivo utilizado. As palavras contêm uma carga expressiva intrínseca, à qual não é estranho o uso e as escolhas que delas fazemos no quotidiano. A adjectivação como "Voluntária" implica uma percepção positiva que remete para o campo da valorização, quanto mais não seja por analogia: os voluntários, o voluntariado, a voluntariedade, são hoje em dia pessoas, fenómenos, actos extremamente apreciados e enaltecidos. A pragmática linguística, bem como a Retórica dos Clássicos, são pistas e disciplinas úteis para a compreensão daquilo que é o uso da Língua não como mero instrumento de comunicação, mas antes ou principalmente como arma de arremesso ou condicionador mental, para formatação da opinião e, em última análise, para a prossecução de determinados objectivos.

Aliás, como já várias pessoas referiram, a fórmula resulta em perfeito, completo, simples disparate, se atendermos ao facto de que postula duas vezes (em duplicado, portanto) o carácter voluntário do acto de abortar: depois de "interrupção voluntária", ainda se acrescenta "por opção da mulher"! Então, se é voluntária, havia de ser por opção de quem ou de quê? Ou, pela inversa mas na mesma, se é "por opção da mulher" poderia alguma vez não ser "voluntária"?

Note-se que, ao nível da discussão sobre o tema em apreço e, por consequência, ao nível do discurso interpessoal, a expressão completa "interrupção voluntária da gravidez" foi substituída pela sua sigla (IVG), que rapidamente se transformou em simples acrónimo: não se diz "aborto", é claro, e já nem sequer se utiliza a expressão politicamente arranjada para o efeito; depois de abolido da argumentação o significante mais próximo do significado, trocado aquele por uma expressão carregada de inocuidade, liquida-se ainda esta, através da lei do menor esforço, e passa a utilizar-se simplesmente um conjunto de letras que soa a algo de indefinível e, agora sim, despido de qualquer valor referencial: IVG, "a ivêgê", tem reminiscências de coisa técnica, avançada, progressista, qualquer coisa parecida com TGV, BCG ou RGB.

A acronimia representa, quando aplicada a uma questão tão delicada como o aborto, mais uma prova de que as palavras estão realmente armadilhadas, com a finalidade última e única de acabar por vencer pela força o que a razão impede: pela força da engenharia linguística, utilizando as palavras como bombas, pretende-se rebentar a capacidade de discernimento das pessoas.

E poderá perfeitamente ser isso o que vai acontecer no próximo dia 11: as palavras vão rebentar nas mãos daqueles que já se julgam vencedores e na consciência dos que se deixaram enganar.

Enganados, porque lhes dizem que se trata apenas de uma questão legal, quando essa é apenas a primeira de três questões.

Enganados, porque lhes sugerem que "ivêgê" não é o mesmo que "aborto".

Enganados, porque ninguém os avisou de que "a pedido" é o mesmo que "sempre que quiser".

Enganados, porque - se depois das dez semanas é crime - então o aborto clandestino depois das dez semanas continuará a existir.

Enganados porque - se depois das dez semanas é crime - o aborto antes das dez semanas passa a ser urgência hospitalar, gratuita e prioritária.

Mas enfim, se foram enganados, é natural, a culpa foi das palavras, não foi de ninguém em particular.

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16/01/07

Numerologia

Desta, ainda não se lembraram os histéricos do NÃO... que também os há. Se o SIM ganhar o referendo do próximo dia 11, alguma sumidade aparecerá com o seguinte ditame profundamente científico:

A América teve o 11 de Setembro, a Espanha teve o 11 de Março e Portugal teve o 11 de Fevereiro.


Logo surgirão também os patuscos do costume esgrimindo seus números algébricos, isto é, continhas e cálculos que demonstrarão à saciedade (e à sociedade) que nada acontece por acaso e que as piores catástrofes ocorrem nos dias onze de cada mês, por altíssimos e divinos desígnios mas também obedecendo a uma férrea lógica matemática.

Cada nação tem o onze que merece, um pouco à revelia daquilo que sucede com o futebol.

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12/01/07

Eia, temos aqui uma engraçadinha

A merdola de e-mail que se segue diz respeito ao post anterior.

----- Original Message -----
Sent: Friday, January 12, 2007 3:10 PM
Subject:Re: [Aliciante] New Comment Posted to 'Ainda há dúvidas?'

Olá,
o comentário apaguei-o porque considerei-o ofensivo. A linguagem utilizada é desnecessária e ao contrário do que primeiramente deduziste eu sou uma autentica ditadora e como o blog é meu eu apago os comentários que bem entender.
MAs tenho que te agradecer o post que fizeste sobre o assunto porque acreidta, sem ironia, me proporcionaste um dos momentos mais hilariantes que eu já vivi na blogosfera.
Obrigada mesmo
Mad

 
Em 11/01/07, [email protected] <[email protected]> escreveu:
A new comment has been posted on your blog Aliciante, on entry #381647 (Ainda há dúvidas?).

View this comment: < http://aliciante.weblog.com.pt/arquivo/2007/01/ainda_ha_duvida.html>
Edit this comment: <http://aliciante.weblog.com.pt/privado/index.cgi?__mode=view&_type=comment&id=861838&blog_id=152>
Name: Dodo
Email Address: [email protected]
URL: http://001.blogspot.com
Comments:

Não, nenhuma dúvida. Este é de facto o pior conjunto de palavras, em forma de versalhada, alguma vez escrito. "Inspirado" em Brecht, mas bera com'á ferrugem; nem o próprio conseguiria escrever tão mal.
E também não há qualquer dúvida sobre o direito que assiste à autora de cortar um braço, ou uma perna, ou ainda, se lhe apetecer, a própria cabeça. Não há quaisquer dúvidas sobre isso.

--
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http://www.sixapart.com/movabletype/

--
Mad
www.aliciante.weblog.com.pt


Ao abrigo do direito de resposta, e nomeadamente quanto ao articulado que prevê o poder discricionário de o autor de um blog mandar bardamerda quem lhe apetecer, desde que o faça em sua própria casa, o espaço que se segue é da exclusiva responsabilidade do dito cujo.


Ó Leninha, filha.
Uma dúvida singela: o que é que significa "linguagem desnecessária"? Ora porra; se ainda ali tivesse aposto uma qualquer caralhadazita, por exemplo, ainda vá que não vá; agora assim, a seco... bem... com essa é que já me fodestes, melher. E ainda, na sequência da mesma dúvida - que pelos vistos nenhuma versalhada asquerosa pode sequer aliviar - sempre gostaria de saber o que virá a ser isso da "linguagem adequada". Graxa? Avante camarada, avante? O nosso povo, o nosso povo, o nosso povo? Os direitos, os trabalhadores, os direitos, os trabalhadores? Um aborto por ano dá saúde e é bacano?

Só mais uma notinha de rodapé: quero bem que se lixe essa tua maniazinha do autoritarismo. Mais: caguei positivamente, nisso e ainda mais na tua suposta ironia. Se não querias comentários "desnecessários", tinhas duas hipóteses: ou não punhas lá as caixinhas para o efeito, ou escrevias tu mesma os teus próprios "comentários" com "linguagem necessária"... o que presumo seja o caso.

Juízo.

P.S.: de certa forma, devo apresentar as minhas desculpas à autora da versalhada; pensando bem, aquilo não é propriamente uma grandessíssima bosta; o superlativo é um exagero, do qual me penalizo; do mesmo modo, retiro o balizante temporal "alguma vez" da expressão inicial (relativo a "o pior conjunto de palavras"), substituindo-o, sem qualquer favor, por "jamais". Se lhe servir de consolação, a essa autora, lembre-se de que o seu não é caso único; o que há mais por aí, até de consagrados e tudo, é coisas de igual qualidade ou jaez, verdadeiros palimpsestos de cal sobre estuque, com grafitagens de assinatura por cima.

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11/01/07

Votai NÃO, por amor de Deus



E das Suas obras.

Imaginar que alguém pode impedir que um ser-humano chegue a tão divino estágio de desenvolvimento....

Como é possível obstar a que crianças como esta, um belo dia, tratem assim tão carinhosamente as laranjas e a restante fruta?

Mas que raio de seres diabólicos poderão pretender liquidar à nascença o desenvolvimento natural das criaturas, que elas cresçam, e tal?

Portugueses: votai como deve ser lá no referendo. Não sejais morcões.

Lembrai-vos das palavras do profeta: qualquer ser em gestação pode dar em algo como aquilo ali em cima, aquele monumento, aquele esplendoroso pedaço de céu.

Corações ao alto.


(Documentação política aqui)

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08/01/07

Não penso higiénico obrigado


Seria possível que alguém, daquele grupo folclórico designado por "feminista", me esclarecesse numa pequena dúvida? Sim? Obrigado. Então, ó meninas, era o seguinte: uma das maçadas mais comuns quando chega a hora de dar uma (ou "fazer amor", como vocês dizem), é o problemazito da, enfim, da, daquela coisa, a "chica" olá uquié, a bandeira do Japão, aquilo, enfim, a "coisa", pois, isso, pronto, o que gostaria de saber é como se pode pará-la, interrompê-la, em havendo necessidade e urgência.

Isto, ele há que perguntar a quem sabe, claro, e ninguém mais indicado para o efeito do que pessoal habilitado, esse mulherio libertário até à quinta casa que é capaz de tudo, como por exemplo interromper uma gravidez com toda a limpeza. Pois então, se são capazes dessa interrupção, que ouvi dizer ser lixada, então também devem ser capazes de interromper uma simples menstruação, digo eu. Para quem diz, assumida e corajosamente, que "na minha barriga mando eu", minha, delas, e eu, elas outra vez, entenda-se, pois que então vá lá, não se acanhem, expliquem aqui ao pessoal como se faz não a mais complicada mas a mais simplezinha, se fizesse o favor. Dava muito jeito, volta e meia, a gente, nós, os porcos machistas, podermos dizer à garota que se nos apresenta pela frente, altamente comível, olha, vai ali e interrompe essa merda, porque assim não dá jeito nenhum a pinocada. Convenhamos, é desconfortável e não muito higiénico, para já não dizer foleiro, um gajo aviar uma franganita em dias de cabidela, pois não é? Pois, pois é.

Atão vá. Dizei. Desvendai o mistério, ó chavalas que mandais em vossos buchos: como se interrompe o fluxo menstrual, hem? Vós, que sabeis tanto, que sabeis tudo sobre os mistérios da vida, quando ela começa e quando ainda não, ou quando está quase mas ainda não é bem, vós, que de chicas-espertas não tendes nada, nadinha, juro, deveis conhecer as técnicas para fechar a torneira da chica, pois não deveis?

De mais a mais, esta interrupção, ao contrário da outra, pode continuar logo após cumprida a função, é só entupir aquilo durante uma horita ou duas, nada mais, e ainda por cima tratando-se de uma coisa igualmente voluntária, sim, que a da gravidez já percebi que é também voluntária, mas ainda não entendi como raio é interrupção se depois não continua, e assim, são perplexidades aborrecidas, coisas de homem que sempre se atrapalha com as coisas de mulher.

Perdoareis, santinhas, por suposto, a articulação um bocadinho complicada da pergunta, de ar vagamente referendário, estas reminiscências de plebiscito, tamanha complicação cheia de vírgulas, e orações intercaladas e considerandos e parêntesis e ideias acessórias. Deve-se tal profusão de construções gramaticais a dois factos, a saber, por um lado o aborrecimento inerente à condição masculina do inquiridor, o qual, por conseguinte, patenteia óbvias dificuldades de expressão e clareza de raciocínio quando em presença de tão melindroso género de dúvidas, e, por outro lado, à curiosidade que para o mesmo inquiridor representa a presunção de que não entendereis vós outras, respondentes, a ponta de um corno daquilo que aqui se questiona.

De resto, e porque me fascina em absoluto o domínio igualmente absoluto que dizeis exercer sobre vosso ventre, o baixo e mesmo o alto, sempre gostaria que me esclarecessem acessoriamente como fazeis para reter, por exemplo, vossas águas e vossos outros despejos; ou seja, como fazeis para que vossa barriga interrompa voluntariamente a produção de fezes e de urina; grandes, imensos, poderosos esfíncteres tereis, moças, sempre vos digo, e mai-la extraordinária capacidade de retenção do mijo. Não, confesso, essa do "na minha barriga mando eu" parte-me todo; é admirável, caralho. Até pondes ovos só quando quereis e tudo, caralhosmafodam.

Mas enfim, não tergiversemos. Vamos lá mas é à vaca fria. Ora então, em resumo, dizia, quando me interrompi a mim próprio, como é então que se interrompe a menstruação? Aquela merda não volta para trás, pois não? Ou volta? Há algum medicamento que me possam aconselhar? Não para mim, evidentemente, mas para a minha parceira, claro, pois que ela também não aprecia lá muito o petisco assim com molho, pois que nós cá é mais a seco. Sem ser a ablação total dos ovários, que essa já é velha, não há nenhuma técnica mais recente e mais jeitosa? Uma rolha, talvez? E caberá no colo do útero? E serão comparticipadas, as rolhas uterinas?

Ui, que grande confusão vai por aqui. Quanta dúvida, quanta questão, quanta ignorância.

Com as melhores saudações libertárias, aguardando resposta com um módico de ansiedade sou,

de vexas
atento, venereador e obrigado

Dodo





(imagem de site de Robert Burns)

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14/12/06

Um blog pelo NIM

Não
Desde que foram inventadas coisas tão interessantes como o "planeamento familiar" e o "direito à igualdade entre os sexos", ter um filho deixou de ser um acto natural e passou automaticamente à categoria de simples acto administrativo; um outro artifício colateral, como sempre promovido pelas camadas mais esclarecidas e bondosas das populações, ternurentamente designado como "paridade", veio revestir de forma legal o direito de parir ou de não parir, concedendo a metade dos seres-humanos, as mulheres, o poder discricionário de escolha absoluta na matéria; a outra metade, os homens, deixa assim de ter voto nessa mesma matéria, remetendo-se definitivamente à sua insignificância histórica e biológica e limitando-se à sua condição básica de produtores e fornecedores de material genético; isto, é claro, enquanto não se arranja alternativa para tão irrelevante parceria.

Utilizando uma terminologia porventura menos técnica, e optando por uma outra mais futebolística e, portanto, de muito mais fácil digestão, digamos que estão actualmente reunidas as condições para que o acto de procriar dependa exclusivamente da vontade individual; isto é, engravidar deixa de ser uma consequência natural do acto sexual, sendo a finalidade exclusiva deste a fruição do prazer, passando a fecundação a depender de uma "decisão" que será tomada - exclusivamente - pela mulher. De onde se conclui que os métodos contraceptivos, largamente difundidos desde meados do século passado, deixam agora de fazer qualquer sentido; se ainda se mantêm, se ainda alguém os utiliza, isso deve-se a mero comodismo, ou a agudíssima pragmática existencial, já que tomar a pílula é uma actividade bastante menos maçadora do que abortar - pelo menos, quanto ao aborto cirúrgico, porque os métodos abortivos químicos não diferem grandemente, em penosidade, da muito prática tarefa de engolir um comprimido.

Estamos de facto perante uma verdadeira revolução, não apenas de um ponto de vista sociológico mas, principalmente, numa perspectiva biológica; ainda não é a erradicação total da componente animal na espécie humana, ainda continuamos a ter necessidades fisiológicas básicas, comer, beber, urinar, defecar, mas a necessidade, o impulso, aquilo a que alguns chamam instinto reprodutor deixa de ser inerente à nossa espécie; ao contrário de todas as outras, desde os mamíferos aos insectos, têm agora os humanos ou, em rigor, metade dos humanos, o poder de decidir se uma fecundação é ou não viável, deve efectuar-se ou não; e, em última análise, se ainda assim a Natureza ultrapassar todas as barreiras artificialmente criadas, se ou no caso de todos os métodos anticoncepcionais falharem, então proceder-se-á a uma remoção cirúrgica do ser cuja formação terá sido meramente acidental. Discussões mais ou menos filosóficas, mais ou menos académicas e retóricas, sobre a fronteira temporal que delimita a viabilidade (legal, não técnica) daquela remoção serão de todo irrelevantes, já que o facto em si permanece: existe remoção, extracção, ablação daquilo que, em circunstâncias normais, viria a tornar-se um indivíduo; às duas ou às seis semanas, aos três meses ou até imediatamente antes do parto iminente, o acto abortivo é, por definição, rigorosamente a mesma coisa; a pressuposta reserva moral consiste mais na maior ou menor facilidade de verificação do que em qualquer destrinça técnica - torna-se bastante mais fácil aceitar o "produto" de um aborto com algumas semanas de gestação, uma massa sanguínea indestrinçável a olho nu, do que observar os membros e as vísceras estraçalhadas de um feto com alguns meses. A questão "moral" do acto abortivo dependerá, por conseguinte, da medida da capacidade individual de encaixe face ao horror, e não da medida do horror em si.

É, de facto, visualmente aceitável que um minúsculo rolo de gaze seja atirado para um balde cirúrgico; ao fim e ao cabo, aquele resto é do tamanho do que sobra de uma apendicectomia, por exemplo, e poderia passar perfeitamente por tão simples e irrelevante e dispensável apêndice. Para uma mulher distinguir as partes em formação do embrião que acabou de lhe ser extraído, e dependendo obviamente do estágio de desenvolvimento deste, seria necessário não apenas utilizar um bom microscópio, ou potentíssima lente de aumentar, como dispor de um sistema nervoso absolutamente glacial. Já o resultado de raspagem ou de aspiração, ou de ambas as técnicas combinadas, se fosse mostrado à ex-progenitora poderia causar nela estragos de várias etiologias, e não apenas a nível neurológico. Não competirá ao Estado, ou às empresas e aos profissionais que se dedicam à actividade, a tarefa - quiçá pedagógica - de mostrar à mulher que abortou aquilo que sobrou, e também não será de esperar que uma ou outra possua um nível de curiosidade tão elevado; ao fim e ao cabo, não estamos a falar propriamente de extrair um dente, sequer um quisto sebáceo, coisas que, mesmo essas, muito raramente são mostradas a quem delas se vê livre, e é portanto natural que - de mais a mais numa ocasião tão sensível - outro tanto suceda com aquele tipo de lixo hospitalar. Há que preservar alguma sanidade mental, mesmo ou principalmente quando o horror se banaliza, e a isso obriga também a algum módico de recato e a alguma higiene visual.

Do mesmo modo que ninguém deseja uma dor de dentes, ou que ninguém aprecia particularmente criar, por exemplo, uma bela pedra no rim e, com ela, sofrer dores insuportáveis, também poderá ser compreensível que se não deseje em certo momento uma gravidez, que uma criança nasça em determinadas circunstâncias. O problema é que uma criança não é propriamente um dente cariado ou uma excrescência calcária; um feto não é algo que se retire simplesmente com o auxílio de instrumentos cirúrgicos e se atire para o balde dos despejos com um suspiro de alívio. São coisas diferentes, obviamente, e por isso não podem nem devem ser encaradas como similares, obedecendo aos mesmos princípios, quaisquer que eles sejam, nem sequer de conveniência e de urgência. Uma gravidez pode ser inesperada, ou inconveniente, mas nunca - nesta acepção - poderá ser indesejada; ou, se o for, terá de ser suportada - por todos, mas principalmente pela mãe, condição para a qual ainda se não arranjou substituto à altura das exigências.

Uma gravidez pode ser, isso sim, absolutamente inviável; o que é uma história completamente diferente.




Sim
Se considerarmos, de forma radical, que uma nova vida se inicia no momento da fecundação, então seríamos forçados a aceitar como bom o facto de não ser possível a concepção sem a presença de ambos os componentes indispensáveis e fundamentais, o óvulo e o espermatozóide. Portanto, como não existiria o todo sem as partes, seria crime liquidar ou inviabilizar tanto aquele como aquelas; ou seja, todos os métodos anticoncepcionais teriam de ser erradicados e poderíamos mesmo chegar ao ponto de considerar a própria masturbação como algo de condenável, já que se trataria de desperdício puro e simples de um dos componentes essenciais.

Não chegando a esse ponto de fundamentalismo, e até porque se deve atender ao facto de não ser biologicamente sustentável a reprodução em massa, então passaríamos ao estágio seguinte, isto é, quando houve fecundação e se formou o zigoto. Será este o limite, temporal e técnico, para a interrupção de uma gravidez "não desejada"? Sabendo que seria inviável que aquele óvulo fecundado vingasse fora do útero materno, poderemos considerar que estamos perante uma vida humana em formação? Ou trata-se apenas de uma consequência natural de um processo biológico, transitório e de igual forma reversível, à semelhança do processo químico que leva à destruição do óvulo, através do contraceptivo oral?

Se a contracepção, por algum motivo, não foi eficaz, e se existe realmente uma fundamentação válida e irreversível para a interrupção, então será legítimo que uma mulher se socorra dos métodos subsequentes para que a gravidez não prossiga; desde que o faça assim que a gravidez for detectada, e logo que estejam disponíveis os meios técnicos para a interromper, estaremos em todo o caso perante uma extensão drástica dos métodos que, tendo falhado, e independentemente da ou mesmo contra a vontade da mulher acabaram por ser responsáveis por essa gravidez indesejada; quando falharam os métodos tradicionais, os processos químicos ou os dispositivos fisiológicos, e quando é de todo inviável, por motivos fisiológicos ou outros, rigorosamente determinados, que aquela criança complete a gestação e nasça, então será melhor que exista um último recurso - um último processo contraceptivo, mas já numa fase embrionária de gravidez.

Os próprios interesses sociais, em geral, estão envolvidos no acto mais individual das sociedades humanas. São inúmeros e seria fastidioso exemplificar os mais característicos, desde a gravidez em resultado de violação à detecção de malformações gravíssimas no feto; o simples bom-senso se deverá encarregar de destrinçar aquilo que é daquilo que não é aborto legítimo, quando não necessário e mesmo indispensável - nomeadamente quando ambas as vidas, de mãe e filho, estão em risco e é possível salvar uma delas; deixar morrer a mãe, quando a criança estava condenada à partida, apenas por questões "de princípio", de moralidade institucionalizada e empedernida, seria tão criminoso como fazer aquilo que a mesma moral condena. Trata-se, por vezes, de optar pelo menor dos males, de sobrepor o valor da vida como expoente máximo da existência e não a morte como seu denominador comum.

Determinar aquilo que é vida, quando é vida ou a partir de que momento existe vida, não podendo depender da decisão individual, terá de resultar por força de um contrato social tácito... como todos aqueles que regulam a vida em comunidade. Dependerá do bom senso das instituições que regulam as relações humanas e, por inerência, das pessoas que produzem a legislação. Nessa medida, será curial equiparar a utilização de um simples espermicida à injecção de substâncias tóxicas para o óvulo fecundado, provocando assim o aborto; do mesmo passo, e se essa técnica não resultar, por exemplo, a remoção cirúrgica do feto morto poderá salvar a vida da mãe e, nesse caso, inserir-se-á no mesmo quadro de legitimidade. Em situações limite, e dentro dos prazos determinados e das condições enumeradas, o acto médico poderá chegar à realização do aborto sem quaisquer consequências legais para os adultos responsáveis envolvidos.

A gravidez não é uma doença que se possa tratar nem deve ser encarada como uma fatalidade que se possa remediar. Poderá ser uma bênção e, nesse caso, motivo de regozijo, mas poderá resultar também de circunstâncias fortuitas, algo que não deveria ter acontecido e, então, estaremos perante algo a cumprir, uma obrigação; ou pode suceder ainda que se transforme em verdadeira maldição, em algo de extremo, de impossível, cuja única hipótese de resolução é a eliminação física de um dos seres envolvidos, ou para salvar a vida do outro ou porque a do primeiro seria de todo inviável.

Mulher alguma deverá ser obrigada a levar uma gravidez até ao fim se, comprovadamente, isso porá em sério risco a sua própria vida; nenhum ser humano poderá ser obrigado a nascer se, comprovadamente, a sua vida constituir uma tortura insuportável, para os que o rodeiam ou para si próprio. Admitir como fatalidade irreversível a simples fecundação de um óvulo por um espermatozóide, imputando a responsabilidade por tudo aquilo que possa ter corrido mal a alguma entidade abstracta e, por omissão de assistência, condenar à morte ou o filho ou a mãe, ou ambos, é um crime comum, previsto e punido por lei: homicídio por recusa ou omissão de auxílio.


NIM
A gravidez comprovadamente inviável, aquela que resultou de violação e a que pode pôr em risco a vida da parturiente, em todos esses casos a legislação actual (vigente) permite a remoção cirúrgica do feto, de forma medicamente assistida e nas instituições do Estado; essa mesma legislação permite ainda a chamada "interrupção voluntária da gravidez" a pedido da mulher, o que, sendo imensamente discutível, constitui uma enorme clareira, um vazio legal onde poderá caber qualquer espécie de abuso. Abuso de substância e, principalmente, abuso do espírito da lei.

O aborto, clandestino ou caseiro, sempre existiu e presume-se que não acabará nunca. Desde sempre as mulheres introduziram objectos estranhos na vagina e ingeriram substâncias várias para provocar a expulsão do embrião; quando também isso não resulta, muitas recorrem aos serviços de "curiosas", sejam elas parteiras ou não, reformadas ou não, com alguma espécie de formação ou sem formação alguma. Também há quem se socorra dos serviços de pessoal especializado para, por exemplo, abater a tiro ou simplesmente dar uma sova em alguém, e não é pelo facto de isso suceder que deverá ser considerado como inevitável... e muito menos como aceitável, ou justo, ou legal; a teoria do facto consumado, tão esgrimida pelos "aborcionistas", não pode, de um ponto de vista moral, merecer a mínima credibilidade. Assim como é comummente aceite que tanto os executores mandados como aqueles que encomendaram o "serviço" sejam punidos, também as abortadeiras devem ser condenadas, conjuntamente com a ou as pessoas que pagaram: a própria mãe, ou o pai biológico da criança que não chegou a ser, ou ainda qualquer pessoa que possa ter forçado a situação ou contribuído para que ela sucedesse.

A legislação vigente prevê a maior parte dos casos, se não todos, em que o aborto é não apenas legal como moralmente considerado legítimo; a questão reside nas motivações inerentes e em certos limitadores temporais; o enquadramento legal está perfeitamente definido e não consta que enferme de grandes lacunas. Os argumentos "aborcionistas" da soberania individual sobre a vida alheia ("na minha barriga mando eu" e enormidades semelhantes) tentam empurrar as limitações legais, temporais e de excepção, para o vazio absoluto, isto é, postulando a abolição de qualquer entrave legal ao aborto: pretendiam inicialmente o aborto "livre" até às oito semanas, apenas a pedido da mulher, depois passaram para as dezasseis, depois para as vinte, e finalmente para as 24 - seis meses de gestação. No limite, e numa progressão geométrica, atingir-se-ia então o paradigma da "liberdade" abortiva se fosse possível abortar até à véspera do dia previsto para o parto, ao fim de nove meses incompletos, 269 dias. Segundo essa lógica, já agora, porque não tornar legal o assassínio de um recém-nascido durante, digamos, o seu primeiro ano de vida? As fundamentações seriam as mesmas, a "inviabilidade" ou a "inconveniência" daquele ser, e, portanto, também se poderia talvez pensar em estender ainda mais o prazo de validade do assassinato legal, quem sabe se para todo o período da infância, quem sabe se até ao fim da adolescência ou mesmo, de forma absolutamente radical, até ao fim da vida ou sempre que a alguém desse ganas de esganar outrem.

Tendo havido consciência, resultando uma gravidez de um acto voluntário, quaisquer circunstâncias fortuitas ou transitórias que a possam dificultar deverão ser consideradas como não impeditivas para que essa gravidez seja levada a termo. Porém, em certos casos, devidamente fundamentados, caberá ao Estado - ou seja, à comunidade - suportar os encargos de um nascimento não "desejado", viabilizando, por um lado, a vida do nascituro, e inviabilizando, por outro lado, o pretexto da incomportabilidade que os progenitores poderiam alegar.

O âmago da questão é puramente moral, não meramente técnico. E a moral, ao contrário da técnica, releva e resulta de princípios. Uma coisa é evitar uma gravidez, outra completamente diferente é acabar com ela. A fronteira estará, porque se trata de moral e esta é o fundamento do equilíbrio, na área da presunção de inocência, o mesmo é dizer, das motivações atinentes: uma coisa é não poder, de facto, outra é não querer, pura e simplesmente. Utilizar o aborto como método contraceptivo é uma evidente manifestação do mais puro egoísmo, de abominável egocentrismo, e patenteia o mais horripilante e altaneiro desprezo pela vida, ou seja, em última análise por si próprio. Utilizar como bandeira ou como "ideal" a legalização da carnificina, a chacina sistemática dos inocentes, é a negação absoluta dos mais elementares conceitos que definem a humanidade: consciência, razão, inteligência. Abolir por decreto a compaixão, a bondade, o altruísmo, em nome de uma hipotética "liberdade" para matar, seria o reconhecimento final e definitivo de que falhámos em toda a linha, de que afinal estava tudo errado, é melhor começar de novo e, para isso, para começar de novo, há que exterminar a nossa própria espécie.

Ser "aborcionista", militante em movimentos "pró-aborto", não é como ser, por exemplo, contorcionista, ou benfiquista militante; será talvez igualmente estúpido mas não é de forma alguma tão inocente. Raia o absurdo que alguém exprima as suas "convicções" a favor de algo que é a expressão máxima da desgraça, da infelicidade, da miséria a que não escapa a nossa mortal condição. Ser adepto do "não", pelo contrário, apenas porque sim, ou seja, porque não, é um contra-senso óbvio e enferma da mesma irracionalidade, possuindo o mesmo valor intrínseco de, por exemplo, o facto de se não gostar de beringelas. A uns já não interessa para nada a questão inicial, que era a condenação formal de quem abortasse; agora interessam-se exclusivamente pelo aspecto lúdico da coisa, por assim dizer, e estão já promovendo o aborto como um bem em si, algo estimulante que se deve "praticar" com regularidade; a outros já não lembra os abortos que fizeram, ou que mandaram fazer, sempre por excepcionais e justificadíssimos motivos, como se sabe, e estão presentemente mais interessados em terraplanar quaisquer sentimentos de culpa e em ganhar na secretaria o que não é possível conquistar no campo.

O que está em causa não é ver quem "ganha" uma partida, se os vermelhos de sangue que são a favor, se os cinzentos do não radical; isto não é um desafio, até porque, seja qual for o resultado da contagem final, ambas as "equipas" terminarão empatadas: o que vai a referendo é a consciência de cada qual, o seu discernimento, o seu sentido de justiça. É por isso que voto NIM, convictamente e em força. Fique a lei como está. Ou retire-se os pedidos da ementa.

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24/09/06

Eventualmente

10. Uma mulher (e o pulha que a pressiona) que aborta deve sentir apenas uma coisa: o peso da sua consciência. O peso do estado da lei - não é para aqui chamado.
Blogue- Revista Atlântico


Eventualmente. "Uma mulher (e eventualmente o pulha que a pressiona)".

Porque, eventualmente, também acontece a mulher abortar sem sequer dizer água-vai (águas-vão) ao pai da futura ex-criança.

Eventualmente, se frequentemente for excessivo, mulheres abortam contra a vontade do parceiro.

Eventualmente, uma mulher pode não saber quem é o tal, ao certo, ou a quem ir contar a novidade. Ou calar-se, pura e simplesmente por não ter eventualmente a certeza.

E porque, ele há coisas do diabo, pode suceder que, eventualmente, a consciência se ausente para parte incerta.

Eventualmente, as variantes e as variáveis invalidam juízos horizontais e definitivos.

Eventualmente, se faz o favor. Eventualmente é importante.

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19/10/05

Consultório sentimental V

(11) Não conceberás
Estando em preparação azafamada, nas complicadas e imensas cozinhas dos palácios de Belém e de S. Bento, a legislação que irá finalmente despenalizar o aborto, cumpre tecer algumas considerações a respeito. Não sobre a faceta mais escatológica e terminal, por assim dizer, não sobre o aborto propriamente dito, mas apenas - de acordo com o carácter modesto deste blog - a propósito dos seus diversos sucedâneos, ou seja, sobre as formas e métodos que estão ao alcance de qualquer, e que poderão com toda a limpeza impedir que se chegue a tal extremo.

De facto, existem diversas, variadas, e algumas até divertidas formas de evitar o envio de fetos, feitos em pedaços, para a incineradora. Actualmente, é todo um arsenal que está ao dispor de quem pretender evitar raspagens e aspirações, ou métodos mais anacrónicos de aborto, como a agulha de tricot. Existem imensos métodos anticoncepcionais, em suma, e é sobre esses que incidirá, por conseguinte, a presente consulta. Desta vez, não respondemos directamente a nenhum dos inúmeros e-mails recebidos, até por questões de recato e sigilo, mas pensamos responder assim a todos eles, de forma genérica, abrangente, e de certa forma igualmente cirúrgica.

Nos estranhos tempos que vão correndo, verifica-se que a chamada "sexualidade" deixou, na espécie humana, de ser um acto natural e corriqueiro; ao contrário de qualquer outra espécie animal (com a excepção, ao que se diz, dos golfinhos, que fodem que nem uns desalmados, e dos coelhos, que também), nos humanos a coisa transformou-se em algo semelhante a um "direito". É vulgaríssimo escutar pessoas, aparentemente em seu perfeito juízo, e até políticos e pessoas de idade, referindo-se ao acto sexual como algo que deverá ser obrigatoriamente "gratificante" e, para mais, "praticado" regularmente, a tantas vezes ao dia, à semana, ao mês e ao ano; presume-se e geralmente aceita-se que, abaixo dos números considerados como "normais", ou a gaja é frígida (caso raríssimo) ou o gajo é impotente ou, no mínimo, sofre de "disfunção eréctil"; nos casos de míngua libidinosa masculina, pode também acontecer que o gajo tenha entretanto dado em paneleiro, ou assim, mas sobre este particular a coisa complica-se em extremo. Enfim, abreviando, consiste esta teoria, vagamente terrorista, numa coisa absolutamente única no universo: qualquer pessoa sexualmente "insatisfeita" tem todo o direito a ser ressarcida, seja através da troca de parceiro, seja por via do "tratamento" compulsivo deste; daí o aumento vertiginoso da taxa de divórcios e idem aspas da venda de comprimidos para a falta de tesão. Fala-se, estuda-se e perora-se, acaloradamente como convém, sobre "performances" sexuais, sobre a importância do tamanho (comprimento e espessura) dos pénis, sobre as medidas de peito, cintura e ancas (ou tamanho das mamas, ou qualidade das coxas, por exemplo), e vai proliferando alarvemente uma indústria paralela que se dedica a inquéritos sobre os hábitos e as "preferências" (posições, orifícios favoritos) de homens e de mulheres; muito mais destas e sobre estas do que daqueles e sobre aqueles, evidentemente, o que não retira um átomo ao carácter alienado do assunto, se considerado de um ponto de vista meramente zoológico.

Nesta conformidade, portanto, e no pressuposto de que hoje em dia é socialmente obrigatório foder, e foder "bem" ainda mais obrigatório é, a humanidade vai-se entregando cada vez mais e mais profundamente, salvo seja, a tão interessante e refrescante actividade. Desaparecida a motivação genética, porque já não existe qualquer necessidade de propagação de uma espécie que se propagou em evidente demasia, resta o factor absolutamente lúdico do acto em si. Vivemos tempos em que as relações sexuais são um fim em si mesmo, é foder por foder, e de preferência até um gajo ficar tuberculoso ou acabar por lhe cair a gaita, e sempre sem a mais ínfima relação com a motivação biológica do acto: a concepção. Só que, pelos vistos, a Natureza (ou Alguém que a criou) esqueceu-se de um pequeno, irritante, lixado pormenor, a saber, desligar ou interromper as nossas funções biológicas, como a produção de óvulos, na mulher, e de espermatozóides, no homem. Aí é que a coisa correu mal. Assim, quando tudo nos empurra e todos nos atropelamos para foder o mais possível, surge essa não pequena maçada de um dos parceiros (até ver, a mulher) poder engravidar, e para mais com alto grau de probabilidade, tanto mais alto quanto mais teimar.

Assim, para suprir esta incompatibilidade entre o cariz biologicamente reprodutor e o impulso socialmente promotor do acto sexual, criou-se a necessidade imperativa de artificialmente subverter o processo; surgiram, portanto, os métodos anticoncepcionais. Principalmente a partir da segunda metade do século XX, explodiu uma nova indústria, a da contracepção, primeiro com o preservativo masculino e depois com a chamada "pílula"; o primeiro já existia desde a Antiguidade, feito principalmente de tripa de porco, mas foi com a produção industrial de uma nova substância, o látex, que se democratizou e globalizou a sua utilização; o aparecimento do contraceptivo oral, em finais da década de 50, completou o processo de separação do acto sexual da concepção. Sem grande necessidade de divagações filosóficas sobre a origem da galinha e do ovo, será perfeitamente pacífico admitir que a chamada "revolução sexual", com todo o cortejo de "direitos das mulheres" (e quejandos), foi algo que surgiu depois do aparecimento destas "ferramentas"; sem o preservativo e a "pílula", não apenas uma série de "direitos" teriam ficado no tinteiro como a ninguém ocorreria hoje que foder é uma obrigação e o orgasmo um direito.

Mas sendo assim mesmo, e não havendo nada a fazer, então o melhor será utilizar as ditas ferramentas contraceptivas com a máxima eficácia - no sentido de que não haja realmente gravidez "não desejada" e, por conseguinte, necessidade de abortar.

Sobre a "pílula", muito pouco há a dizer ou, melhor, já está tudo dito - e por pessoas com muito mais autoridade. O que nos interessa, aqui e agora, é escalpelizar o preservativo masculino; não com muita força no bisturi, é claro, não vá a coisa romper.

O grande problema do preservativo masculino é ser extremamente chato, maçador; ao contrário do que nos querem fazer crer, geralmente através de campanhas televisivas nas quais são sempre mulheres a dar a cara (pois claro), a chamada camisa-de-Vénus representa a negação do próprio acto. Toda a gente finge que aquilo é muito fácil de pôr e de tirar... mas não é: para colocar um preservativo como deve ser, é necessário - das duas uma - ou muita, mas mesmo muita experiência, ou tirar um curso sobre o assunto. Aquela merda, além de ser a coisa mais empata-fodas que existe, tem uma terrível tendência a enrolar de novo, de volta à posição original, antes não muito, esporadicamente durante, e frequentemente depois da ejaculação. Quantos de nós nunca insultaram aquilo, de "puta que pariu esta merda" para cima? Qual é o homem que aprecia, quando está engalfinhado, quando já não apetece nada parar, quando a vertigem se torna incontrolável, ter de parar, respirar fundo, contar até cem, e procurar febrilmente a porcaria da camisinha? Depois, ainda é necessário abrir a puta da embalagem, que parece feita de "kevlar", rasgá-la à dentada, tirar a dita cuja, desenrolar uns centímetros, tendo o cuidado de usar o lado com desenrolar mais fácil, encaixá-la na gaita, puxar para baixo com cuidado. Pronto. Finalmente, com sorte apenas dois ou três minutos depois de ter interrompido o coito, aí temos o instrumento preparado para uma fodinha estéril. Só que, entretanto, e dois ou três minutos é tempo mais do que suficiente para isso, já toda a excitação se escapou, evaporou-se. Ora foda-se, ocorre dizer. É preciso recomeçar tudo de novo.

Como escreveu Miguel Esteves Cardoso, o saudoso MEC, estas merdas deviam ser, como a roupa, algo de aspergível, ou seja, uma coisa que se pudesse pôr com um simples "spray": pchh e já está. Mas não. Aquilo é mesmo uma chatice, e das antigas. E para tirar é ainda mais chato do que para pôr. É preciso ter muito cuidado, ir lá com a mão, segurar a camisinha (pelo gargalo baixo) e, enquanto a gente se tira de riba da mulher, sempre nunca largando, retirar a gaita encamisada, sem largar o conjunto; por fim, recolher o "produto" por atacado, plac, e se calhar dar um nó na ponta, não vá o Diabo tecê-las.

Não há merda mais chata. O preservativo é a pior cagada que alguma vez se inventou. Puta que pariu o preservativo. Romance? Qual romance! Não há romance encamisado, caralho. Chega a ser uma coisa nojenta. Foder uma gaja com preservativo não é, como dizem os burgessos, o mesmo (ou sequer parecido) que chupar um rebuçado ainda embrulhado. É pior. Que se foda o rebuçado, mais a metáfora pindérica. Foder uma mulher com preservativo é uma chatice do caralho. Perde-se o mistério. Perde-se a excitação. Perde-se a tesão. É fodido.

Mas: é melhor. Nada a fazer. Seja pelas alminhas. Caralhosmafodam. Não podiam inventar um método igualmente eficaz mas um bocadinho menos nojento? Porque será que ninguém fala disto, ao menos, a ver se alguém inventava uma coisinha melhor?

Como método anticoncepcional, a camisinha não colhe, em sentidos figurado e literal; tanto é que, em muitas e documentadas ocasiões, aquilo ou se solta, ou rompe, ou já vem roto de fábrica. Este é outro dos muitos aspectos negativos que toda a gente cala, a respeito. Também nunca ouvi falar em tamanhos, ou que diferenças existem entre as diversas marcas de preservativos, mas aqueles e estas existem; alguns não servem, não cabem, ou ficam tão apertados que incomodam; outros contêm espermicidas ou outras substâncias que podem provocar reacções alérgicas, ardor ou prurido.

Como método de prevenção das DST, pelos mesmos motivos, também não é grande coisa. Basta um leve roçar de unhas para o látex rasgar, geralmente de forma invisível a olho nu, e é evidente que ambos os riscos permanecem - tanto o da gravidez como o da transmissão de doenças. Com a agravante de que o uso de preservativo implica uma sensação de segurança absolutamente falsa, como se vê. Quanto mais não seja por isto mesmo, colocar máquinas de venda automática de preservativos, nos estabelecimentos escolares portugueses, é uma evidente estupidez e uma quase criminosa, peregrina, perigosíssima ideia; o alvo politicamente correcto da Esquerda em geral é, de facto, os estabelecimentos de Ensino Básico e Secundário e não as Universidades, onde qualquer caloiro pode e deve andar sistematicamente "prevenido". Ora, para jovens dos 10 aos 18, ter à disposição aquela espécie de "self-service" preservacional, como qualquer vulgar máquina de refrigerantes, é um convite, é um valente empurrão para o facilitismo; é o mesmo que dizer-lhes: "ide e fodei à vontade, não há problema, estais bem protegidos". É mentira, claro, mas a juventude acredita piamente em tudo aquilo que os adultos dizem, desde que não seja sobre trabalho, estudo ou responsabilidade.

Tirando essa aberração esquerdista, para já ainda apenas na forma tentada, não há alternativa ao preservativo, de facto. É incomparavelmente melhor usar do que não usar, mas seria igualmente producente que o tema fosse mais discutido, publicitado, e mesmo vulgarizado e democratizado. A começar pelos preços: é ridículo que uma simples camisa-de-Vénus custe 1, ou 2, ou mesmo 3 Euros, dependendo da marca, do local de compra e do número de preservativos por embalagem; por exemplo, e com este pormenor pretendendo apenas esclarecer as camadas mais ingénuas da população, qualquer homem que requisite os serviços de uma profissional é obrigado a liquidar uma sobretaxa, correspondente ao "custo" do preservativo; ou seja, em concreto e em linguagem mais acessível, um gajo, quando "vai às putas", paga o serviço pretendido (ou serviços, entre um e três), conforme a especialidade e a qualidade da escolhida, e ainda é forçado a dar mais um quanto (desconheço a cotação actual) "p'rá camisinha". Também existe a variante "sem camisa" mas, por um serviço desses, as raras profissionais que o praticam fazem-se pagar principescamente. Porquê? Porque existem ainda pessoas que o fazem, sem qualquer espécie de "protecção", clientes e prostitutas?

Por tudo aquilo que antes ficou dito: porque essa "protecção" é em grande parte ilusória, como as prostitutas sabem perfeitamente; porque os "clientes" são homens e, por conseguinte, absolutamente parvos, no que ao sexo diz respeito, quando não em relação a tudo o mais; porque o "risco" é um poderoso acepipe erótico, e arriscar a vida é o supra-sumo dos perigos, o mais excitante ; e porque, finalmente, o preservativo é uma chatice do caralho, em sentido lato, e cada qual julga que é apenas ele quem pensa isso.

Soluções milagrosas, não há. Num dos filmes de Woody Allen, há uma cena em que o autor e uma actriz envergam um preservativo integral, da cabeça aos pés, mas é bem possível que a coisa não seja lá muito prática. Talvez a conjugação de diversos factores e a tomada de várias medidas em simultâneo possa ajudar.

Em primeiro lugar, a higiene: muito sabão macaco, muito duche, muito bidé (já vai sendo tempo de os portugueses se deixarem de paneleirices - o bidé não é uma coisa "só para mulheres"); depois, as senhoras devem usar muita carga de Dystron (ou qualquer outra marca de desinfectante vaginal), e os cavalheiros devem habituar-se a bons (e caros) sabonetes líquidos com desinfectante e/ou espermicida.

Segundo, a precaução: ser dador de sangue tem uma série de benefícios, dos quais o mais importante é estarmos a par - ao menos de seis em seis meses - com a nossa condição de não portadores de qualquer DST; não quero saber que espécie de vigarices fazem as entidades com o meu sangue, se o vendem a peso de ouro ou se o traficam no mercado clandestino; estou-me nas tintas para a abolição de "taxas moderadoras" que a condição de dador me confere; mas, ao menos, sei que (além de poder ajudar a salvar uma vida, o que já não seria pouco) não vou transmitir a ninguém nem SIDA, nem Sífilis, nem nenhum dos tipos de hepatite.

Terceiro, o conhecimento: saber quais os riscos associados ao uso do preservativo implica saber utilizá-lo; conhecer os riscos associados às relações sexuais ocasionais implica saber evitá-los minimamente. É de extrema conveniência tentar pensar com a cabeça de cima e não com a de baixo; quando isso não puder de todo ser evitado, usar uma bateria de contraceptivos - cones vaginais, espermicidas, desinfectantes e... água, muita água.

Por fim, em quarto lugar mas de forma igualmente fundamental, usar a imaginação: existem muito mais maneiras de "praticar sexo" do que a simples penetração. Nestas coisas do sexo "seguro", vale muito mais a sensação de que falta qualquer coisa do que a possibilidade de algo poder vir a estar a mais. É que, na barriga das mulheres, ao contrário do que algumas alucinadas dizem, não são elas quem manda - é a Natureza, a mesma, omnisciente e omnipresente Mãe universal, que engendrou uma imensidão de castigos e maldições para quem a tenta enganar.

Por alguma razão, que se saiba, não existem doenças sexualmente transmissíveis em mais espécie alguma, além da nossa. Nenhum macaco, ou cavalo, ou porco, ou elefante, se arrisca a apanhar um "esquentamento". Tampouco a uma vaca, ou cabra, ou gata, ou baleia, ocorre a possibilidade de impedir e muito menos de interromper uma gravidez "não desejada". Os outros animais não sabem o que é o "planeamento familiar" e desconhecem o conceito de foda lúdica.

Nisso reside, aliás, o que de fundamental distingue o homo eroticus de todas as outras formas de vida. Afinal, somos seis mil milhões, no universo, e estamos todos absolutamente sós. Cada qual entretido com o seu próprio umbigo. Ou, bem, um pouquinho mais abaixo.

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01/09/04


Vou ali (ao barco) e já volto

Olha que realmente, esta coisa do Borndiep não foi nada mal achada. É do mais puro agit-prop(*), e por isso é um burucuju muitíssimo bem esgalhado o que práí vai. Donde se conclui que estão vivos e recomendam-se, os camaradinhas revolucionários, por mais missas por alma que as gentes de bem lhes rezem e por mais serviços fúnebres que lhes possamos encomendar e recomendar. Não adianta, esse gajedo agarrou-se agora a esta teta libertária e vai mamando o seu leitinho, altruísta e vitaminado, de olhos angelicamente fechados - como sempre e como faz parte.

Digamos que, abusando um pouco de imagens e metáforas rebuscadas, o esquerdismo bem pensante é uma espécie de loba da lenda romana, com as suas oito tetas (ou mais, ou menos, conforme o boneco e as necessidades do momento); actualmente, as esquerdas mamam à vez nas tetas, revezando-se e alternando o bico, de acordo com a ocasião: a solidariedade em geral, o amor aos pobrezinhos em particular, a agressão ianque aos travessos iraquianos, a barbárie sionista, a ecologia, o meio ambiente (a teta mais pequenina, terceira fila a contar dos quartos traseiros), a protecção das espécies, o buraco do ozono. Oito. Oito mamas, oito causas, o que vem a dar rigorosamente no mesmo. Nelas se revezam, sôfregos e atropelando-se como bacorinhos, os ideólogos da coisa - seja ela qual for em determinada ocasião - grunhindo docemente e rebolando-se de gozo.

Nesta mesma acepção metafórica, Rómulo e Remo simbolizam os cabecilhas da seita; conforme o nível de comparação ou de análise (de cima para baixo, ou do geral para o particular, ou ainda do mais rasca para o menos rasca), teríamos então Marx e Lenine, ou Staline e Mao Tse Tung, ou, cá pela paróquia e por puro gozo tergiversante, Francisco Louçã e Carlos Carvalhas.

Este barquito que agora deu à costa é também um símbolo, mas é antes disso uma prova, uma evidência da técnica subversiva habitual e de cartilha. As mulheres em geral (e o aborto em particular) interessam tanto aos cabecilhas, aos ideólogos e aos executantes do "progresso" como interessou, no momento histórico mais conveniente, o Vietname, ou Timor, ou o lince da Malcata, ou os direitos dos consumidores: nada, não interessou para nada. O que está em causa não é o conteúdo da contestação mas a sua validade enquanto pretexto para o fim em vista - agitação e propaganda. Assim que o Darfur, por exemplo, deixar de ser ideologicamente rentável, ou seja, assim que o sangue deixar de correr nas ruas e desaparecer o circo mediático do horror, imediatamente os mesmos se virarão para outro lado e se irão apossar daquilo que (daquela "causa" que) tiver na altura mais potencialidades. Como se revezam os bácoros, também se revezam as causas em cada teta, é consoante, em vez do buraco do ozono pode estar o anti-tabagismo, ou o anti-racismo no lugar da ecologia, o anti-semitismo em vez dos iraquianos, etc., aqui a ordem dos factores é obviamente e completamente arbitrária. Mas aquilo que mais apetece, para mamar, é coisinhas mais simplezinhas, mais fáceis, que dêem para muito barulho com pouca maçada, coisas mais populares e de que o povo já tenha ouvido falar.

Como que por milagre ou predestinação, são sempre os mesmos quem aparece quando se trata de resolver algum problema social; e aparecem tanto mais quanto mais grave for esse problema, o que é uma estranha e intrigante coincidência. Como se fossem eles os detentores exclusivos da bondade, como se fossem os únicos a pretender o bem alheio e a correcção das injustiças. Como se possuíssem a patente da justiça e fossem eles os próprios inventores do conceito. Por outro lado, esta manobra de aproveitamento, de canibalização da nobreza de sentimentos, implica duas coisas igualmente simples e cuja mensagem subliminar será a única a ficar gravada: nós somos os bons, portanto não somos os culpados disto, logo os culpados são aqueles e portanto eles é que são os maus. É isto que fica nos espíritos simples de que falava o Messias; na cabeça de 999 em cada mil seres humanos, a realidade não é o que é mas apenas aquilo que parece que é ou, em alternativa e na melhor das hipóteses, aquilo que seria bom que fosse.

As mulheres têm os seus "interesses" e os seus "direitos" tão defendidos pela clique dos esquerdistas como tiveram as "massas trabalhadoras" durante a longa noite comunista.

Esta "causa", esta teta libertária, é apenas mais um pretexto para os mesmos de sempre se chegarem à frente. Quando esta mama secar, passam à seguinte; e assim sucessivamente, até que se acabem as mamas e, nesse caso, voltam à primeira - que já teve, entretanto, o tempo suficiente para se revigorar. As "causas" são cíclicas e recorrentes, já ninguém fala da Eritreia, nem do Sudão, nem do Sahara, nem sequer da SIDA. Causas "levezinhas", como o anti-nuclear, por exemplo, já deram o que tinham a dar - sem ter sido resolvido ou sequer modificado fosse o que fosse - e foram substituídas por outras, mais suculentas e apropriadas. Agora é o "direito ao aborto", logo será outro "direito" qualquer. O que estiver a dar.

Também alguns portugueses utilizaram a técnica do barco mediático; foi em Timor, há não muitos anos, e até ia um ex-presidente da República a bordo, lembram-se? Pois, nessa altura Timor "estava a dar"... que falar. Nada mais. Porque, no fim de contas, os camaradinhas sabem disso perfeitamente, é de falar que se trata. Nada mais. Nada mais.

Nada mais.



(*) do Russo, "agitatsiia" + "propaganda"

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