Odi profanum vulgus et arceo

31/01/07

O Portugal de...




Não estraguemos isto com comentários. Enfim, só um: que diferença! Pronto, só mais outro: ó MEC, pá, ó das Pastilhas, vai-te lixar, moço.




Gravação original de RTP, Rádio Televisão Portuguesa (se ainda não mudou de nome); entrevista conduzida por Rui Ramos (nome citado de memória)

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28/01/07

Caçador de pérolas

Num dia como o de hoje, assim tórrido, dois graus à sombra, a fazer temer o pior naquilo que ao aquecimento global diz respeito, nada como sintonizar o já aqui sobriamente destacado programa de PRD na Antena 1; aquilo que "diz que é uma espécie de" programa de rádio sobre os blogs, dá aos Domingos pelas 11 da manhã, tem um artista convidado por semana e desta vez a estrela foi uma tal Miss Pearls.

Confesso que fiquei encantado, porque, sinceramente, não conhecia a personagem em si, estava muito longe de imaginar sequer existisse alguém neste mundinho dos blogs com uma voz tão catita e boazinha, cativante mesmo; aliás, ainda mais surpreendente, desconhecia que existisse alguém com tanta bondade não apenas na voz mas também na cabeça e no resto da pessoa; foda-se, que aquilo é uma bondade esmagadora, pode lá ser, olha, olha, e eu que pensava que isto da blogosfera não passa de saco de gatos, ninho de vespas, tugúrio de intriguistas, peneirentos e invejosos. Afinal, não, ele há por aí gente de bem, vai-se a ver e não é só estupores, também há destas pérolas verdadeiras.

E não apenas irradia bondade aos molhos, a tal Miss Pearls, como, imagine-se, deixa entrever uma insuspeitíssima costela de modéstia: "não tenho talento para escrever mais", disse ela. Caralhosmafodam se isto não é admiravelmente modesto; não percebo muito bem o que faz ali o advérbio, na avisada sentença, mas enfim, não se pode ter tudo, compreende-se ao menos o sentido.

Mas não é só. Diz ela que, segurem-se bem, "a blogosfera é insultuosa" e que, portanto, aos filhos-da-puta dos anónimos (ela não diz "filhos-da-puta", claro, bibliotecária e tudo) trata-os como a merda que são (ela também não diz "merda", nem isso), e vai daí colocou lá no blog dela um sistema de comentários seguríssimo, à prova de bojardas: "só passa mesmo aquilo que eu quero", acrescenta, e pois com certeza muito avisadamente. Fossem todos como esta senhora, assim higiénicos e selectivos, e muito pouco veneno, muito poucos insultos soezes nos perpassariam pela vista, o que já não seria nada mau. Mas qual quê; esta porra é uma bandalheira do caralho, o que se há-de fazer, vai qualquer sabujo a casa de cada qual e caga-lhe no tapete, por isso muito bem, "moderem-se" os comentários todos e faça-se passar apenas aqueles que mais agradam ao dono ou à dona do referido apetrecho de decoração e à limpeza deste. Fica assim explicado, afinal não havia mistério nenhum na coisa, para que raio existem comentários: para dizer bem, caralho. Quem não quiser dizer bem, ou alguma coisa que não interesse, assim vagamente, que vá morrer longe, pregar para outra Freguesia, ou o caralho que o foda; debitar observações depreciativas, insultos em geral, é como mijar, cada um com a sua e no seu próprio quintal, no seu próprio tapete se quiser. Pois é, o mesmo digo eu há um ror de anos e é por isso mesmo que não há aqui paneleirices dessas, máquinas de bajular, não tenho nenhum sistema lambe-cus electrónico ou virtual cá no boteco; o que tive, em tempos, retirei-o por causa disso mesmo, como diz a Senhorita Pérolas, aquela merda era só coisas que eu não queria, fodei-vos, ide lá chamar nomes para a puta que vos pariu. Não diz ela, que é pessoa educada e de formação, mas digo eu, que não só mas também.

O blog de cada um é a sua casa, o castelo de um homem; quem pretender insultar-me, é enviar e-mail, como de resto já muitos fizeram; depois, calma e sossegadamente, analisarei a qualidade dos nomes que me chamam, a forma como está redigida a missiva defenestrante, se não tem erros de Português, e tal, e então aprovarei ou não, consoante. Acho por isso perfeitamente a lógica da pérola. Presumo, de resto, que daí lhe advirá em grande parte a bondade de que é portadora: é que só ler coisas boas a nosso respeito dá cá uma moral que nem vos digo nem vos conto, de mais a mais porque desconheço pessoalmente a sensação. Mas lá que deve ser bom, deve. Imagino.

Em resumo, fiquei muito satisfeito com mais esta entrevista do PRD; a convidada não deixou os seus créditos por mãos alheias, por um lado, e por outro mostrou e demonstrou uma faceta que é do agrado geral ou, pelo menos, das pessoas bem formadas, a tal bondade. Custou-me um bocadinho que a entrevistada não respondesse a certa perguntinha mais apetitosa, que o recato devido impede divulgação (se ela já tinha sido "assediada" derivado ao blog), mas ainda assim, ficando para sempre na dúvida, considero o programa de hoje plenamente satisfatório. Inseriu-se com rigor na sua linha editorial, isto é, dar voz - em sentido literal - aos vinte ou trinta bloggers ditos "de referência", aqueles que toda a gente conhece; como disse a própria, e traduzindo em linguagem acessível ao mais idiota de nós todos, os badamecos: os blogs de referência servem para os outros se formarem. Ou, no original, pede-se o favor de não rir muito alto, "há alguns bloggers que eu ajudei a formar".

Inscrições AQUI.





----- Original Message -----
From: "misse pearls" [email protected]
Sent: Sunday, January 28, 2007 1:56 PM

"Ou, no original, pede-se o favor de não rir muito alto, "há alguns bloggers que eu ajudei a formar". "

Olá
Permita-me que  o corrija. Eu não disse isso. Disse "uma teia de blos que ajudei a formar." SIginfica uma teia de blogs da qual eu faço parte.  E por acaso de que gosto de fazer parte.

Com os meus cumprimentos
ISabel
uma tal Miss Pearls

_________________________________________________________________
MSN Hotmail, o maior webmail do Brasil.
http://www.hotmail.com




Pois, lá está: o problema reside precisamente nas teias. As teias é que é uma chatice. As teias, as teias.
Brrr!





Gravação do pugrama AQUI.

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23/01/07

Cinco anos, cinquenta cêntimos

- Eu lá recebi a tua carta...

Ega acudiu:
- Arranja-se tudo! Está tudo combinado! E com effeito eu não vim senão por um sentimento bucolico...
Muito discretamente Maria olhára para o rio. Ega fez então um gesto rapido com os dedos significando «dinheiro, só questão de dinheiro».
Os Maias, Eça de Queirós (cap. V, edição original); fonte Wikipedia

O debate de ontem à noite, na RTP, deixou em alguns espíritos um certo sentimento de frustração. Afinal, o homem, aquele sargento do exército com um metro e sessenta de altura e de carácter gigantesco, lá continua preso, enfiado algures numa cela aviltante. Depois de tudo quanto se disse, cada qual esgrimindo os seus argumentos o melhor que pôde e soube, o facto é que aquele herói, modesto e reservado, foi julgado, condenado e encarcerado - em vez de aplaudido, louvado e condecorado - pelo "crime" de protecção e auxílio a menor em risco.

Já praticamente toda a gente conhece a história, o triste episódio que mais uma vez manchará indelevelmente o sistema judicial português, essa implacável máquina trituradora. No entanto, este caso ainda é mais grave do que o costume, dado que se trata não apenas de flagrante injustiça como de pura e simples maldade, uma manobra perfeitamente sádica, perpetrada por quem detém o poder e se abstém do uso de qualquer espécie de senso comum. A criança está escondida algures, com a sua Mãe, e está muito bem; se não houver qualquer denúncia, ou "fuga de informação" à portuguesa, ao menos para já estarão ambas de perfeita saúde e em segurança.

O problema é o Pai da criança. Não se sabe quanto tempo cumprirá da pena de seis anos a que foi condenado, nem isso interessa agora; a questão é que não devia passar aquele homem bom um único dia privado da liberdade, de estar junto da sua família, de cuidar da sua filha. Essa é que é essa; tudo o mais não passa de ruído, razões descabeladas de quem apenas pretende ganhar alguma coisa com as grandezas e misérias da vida.

Ora, é evidente que a coisa se resolveria, por assim dizer, de forma queirosiana, isto é, facílima. O tal pai biológico da Esmeralda, Baltazar de sua graça, aquilo que quer é dinheiro, nada mais; será portanto uma questão de lhe dar o que ele pretende para largar de vez a "mercadoria", o "produto" que tem à venda, isto é, o ser humano para o qual deu em tempos uns mililitros de esperma.

O tribunal condenou o sargento a seis anos de cadeia por sequestro agravado e ainda a uma pena pecuniária de 30.000 euros (seis mil contos), como "indemnização por danos morais" causados a esse Baltazar. Foram evidentemente dois absurdos de uma só vez, mas enfim, dane-se, o fulano quer é guita, que diabo, portanto é dar-lha. Seis mil não chegam, vê-se bem, o que é isso nos tempos que correm, logo há que arranjar coisa que se veja, e depressa, pagar a esse biltre, principescamente se preciso for, a ver se ele não larga de imediato a princesa que nunca viu e da qual nunca quis saber para nada.

Mas onde é que está a dúvida? Pois então, como serão pagos os honorários dos advogados que defendem esta "causa" absolutamente indefensável? Como todos conhecemos de ginjeira, ou ao menos de ouvir falar, os mercenários de toga fazem-se pagar, eles sim, principescamente. E depois há ainda as despesas do próprio, desse tal que tem nome de "rei mago", pois coitadinho, sabe-se lá para que precisará ele da massa, mas que está muito carente, lá isso vê-se logo, aquilo é uma carência danada. Pague-se-lhe, raios. Arranje-se uma subscrição pública, uma conta bancária para donativos, lance-se a campanha de recolha de fundos, propagandeie-se a causa, esta sim, uma causa verdadeira e justa.

Seis mil é manifestamente pouco, mas talvez com dez vezes mais, sessenta mil contos, muito provavelmente com isso já o homem prescindiria de quaisquer "direitos" sobre a menina. E se não forem 60 mil, que sejam 100 mil, ou 200 mil, ou um milhão de contos. O que são 5 milhões de euros a dividir por 10 milhões de portugueses? Toca 50 cêntimos a cada bico, cem pauzitos! É de borla, como se vê, fazer justiça em Portugal. Assim haja vontade e capacidade de mobilização. Qualquer industrial pode pagar as quotas de 100, 500, 1000 portugueses. Causa mais importante do que esta, iniciativa mais meritória, não existe.

Ajude a salvar uma família inteira de portugueses, apenas esportulando uma esmola que só chega para um café. Junte-se a esta causa com um simples gesto, uma moedinha de 5o cêntimos atirada à cara de um facínora, traficante de crianças, vigarista sem qualquer moral. Compre-lhe de peito aberto aquilo que ele tem para vender e que é, não a consciência que desconhece, não a bondade que abomina, mas simplesmente uma criança de cinco anos. Resgate essa criança ao pesadelo dos tribunais e das conveniências oficiais. Impeça que o braço da Lei faça mal à rapariguinha, porque esse braço de um espírito malvado quer obrigá-la a deixar à força os seus pais verdadeiros e à força pô-la a viver com um estranho.

Compreenda isto, por fim. Faça você também "um gesto rapido com os dedos significando «dinheiro, só questão de dinheiro»".

Gaste-o, por uma vez, bem gasto. É apenas dinheiro, é para ser gasto que serve. E guarde para si as considerações morais, os argumentos legais, e tudo aquilo que lhe possa ocorrer mais. Lembre-se apenas da Esmeralda. O resto não interessa.

Quanto ao dador de esperma, esse Palma Cavalão dos tempos modernos, que lhe faça muito bom proveito, que o gaste como quiser, de preferência longe, bem longe, em qualquer sítio edílico do Pacífico, rodeado de coqueiros e bebendo suas belas "Margheritas". Por mais idílico, por mais paradisíaco que seja o lugar onde se esconder, das profundas do Inferno já ninguém o livra.

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22/01/07

Adoro gajas boas



Ainda há pouco tive uma chatice com o motor do meu carro. Abri o "cápom", como se diz em Lixebôa, e detectei de imediato o problema mecânico, por assim dizer: é que, dos 45 cavalos que aquela merda devia ter, verifiquei eu próprio todas as cabeças, três morreram, um tem uma pata partida, dois apanharam tuberculose, um outro meteu baixa injustificada e fraudulenta, outro fugiu para parte incerta, e os restantes têm todos mais de 15 anos. Ora foda-se. Esta merda assim anda com uma manada de 37 cavalos força, e ainda por cima estes já não têm força nenhuma, que os pariu, danou-se, ando por aí de carruagem a ser puxado pelo equivalente a seis ou sete parelhas como deve ser. Não tarda nada, mais uns mesitos, e minha carroça transformar-se-á em verdadeira abóbora, assim como a da Cinderela, salvo seja, ou na melhor das hipóteses em algo parecido com um 2 cavalos, esse clássico do caralho.



Foto: não sei quê da Xareca

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20/01/07

Vira, Casaca

Paulo Casaca, a Portuguese politician and Member of the European Parliament for Portugal's Socialist Party (Partido Socialista), visiting Camp Ashraf, a Terrorist camp belonging to the Mojahedin-e Khalq of Iran based in Iraq. For more information about MKO, go to www.iranpeyvand.com



Notícia no Correio da Manhã
Notícia no Iran Peyvand

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19/01/07

Não

Uma gota de orvalho formou-se agora mesmo em cheio na ponta do teu nariz.
A tua mão na minha está fria, mas custa-me largá-la assim sem mais nada.
Acho que sorris, se calhar sim, quem sabe se os teus olhos fechados
me recordam ainda, ainda teimam em se não despedir dos meus.
Estás mais bela do que nunca assim posta em repouso,
serena por fim, e radiosa, a tua alma espreitando,
vês, lá de cima, por aquela frincha da janela.
Sossega agora, estou bem ao pé de ti,
finalmente sou o teu único homem;
por fim guardo eu a tua solidão.
É agora, agora, meu amor.
Não me desapontes,
leva-me contigo
por favor.
Sim?

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Paridade e Ubiquidade



Alaíde Costa(I), Bernardo Pires de Lima, Bruno Gonçalves, Bruno Vieira Amaral, Constantino Xavier, Gonçalo Curado, Henrique Raposo, Paulo Pinto Mascarenhas(I), Paulo Tunhas(I), Pedro Marques Lopes, Tiago Geraldo, Tiago Moreira de Sá, Vitor Cunha(I).
Estes são todos do blog Revista Atlântico... blogue. Aquilo ali no princípio, Alaíde, deve ser nome de gaja. E vai uma, salvo seja.

Director: Paulo Pinto Mascarenhas(II).

Conselho Executivo: João Marques de Almeida, Luciano Amaral(I), Rui Ramos(I), Vasco Rato(I)

Conselho Editorial: André Azevedo Alves, António Nogueira Leite, Constança Cunha e Sá, João Marques de Almeida, João Pereira Coutinho(I), José Manuel Morais Cabral, Leonardo Mathias, Lourenço Lucena, Luciano Amaral(II), M. Fátima Bonifácio, Manuel Falcão(I), Miguel Monjardino, Nuno Garoupa(I), Paulo P. Mascarenhas(III), Paulo Tunhas(II), Pedro Ferraz da Costa, Pedro Lomba, Pedro Marques Lopes, Rui Ramos(II), Vasco Rato(II), Vítor Cunha(II).

Duas gajas. E vão três.

Colaboradores (edição de Janeiro): Adolfo Mesquita Nunes, Alaíde Costa(I), Alexandre Borges, Alexandre Soares Silva, André Abrantes Amaral, André Azevedo Alves, Bernardo Pires de Lima, Bruno Alves, Bruno Cardoso Reis, Bruno Garschagen, Carlos Coelho, Constantino Xavier, David Lourenço Mestre, Fátima Vieira, Gonçalo Reis, Henrique Burnay, Henrique Raposo, Inês Teotónio Pereira, João Luiz Neves, João Miranda, João Pereira Coutinho(II), Joaquim Luiz Gomes, Jorge Madeira, José Nunes, Laura Abreu Cravo, Leonardo Ralha, Luciano Amaral(III), Manuel Falcão(II), Miguel Noronha, Nuno Amaral Jerónimo, Nuno Garoupa(II), Nuno Vieira Matias, Paulo Tunhas(III), Pedro Marques Lopes, Pedro Picoito, Rita Barata Silvério, Rodrigo Moita de Deus, Rui Ramos, Tiago Cavaco, Tiago Geraldo, Vasco Rato(III), Vítor Cunha(III).

Mais três. E vão seis.

Ilustração: Lucy Pepper, José Pedro Abreu

Oito.

Director de publicidade: Jorge Reis.

Oito.

Oito gajas, 8, no meio de sessenta e um gajos, 61. Xi. Destes 61, ainda por cima, há dois que se chamam Luiz e não há nenhum Luís. Sim senhor. Isto é que é o verdadeiro magazine para cavalheiros. Se contarmos, porém, com a telefonista, a mulher das limpezas e a senhora dos bolos, que serve também chá e torradas no "coffee break", teremos para aí uns onze ou doze exemplares do belo sexo, lá pela redacção do "Atlântico"; nada mau, se bem que um pouco à revelia das conveniências políticas, para já não falar em aspectos legais, como a sobejamente conhecida "lei da paridade" e outras merdas que tais. O que farão estes marmanjos nas horas vagas, que não serão de resto tão poucas como isso? Isto é que é o verdadeiro paradigma do "sete cães a um osso", dá qualquer coisa como seis cavalheiros para cada dama disponível, caramba, como é dura a vida do periodista. Para agravar a coisa, e se atentarmos na pinta não muito esbelta da carinha laroca mais conhecida lá do sítio, teme-se o pior, aqueles bacanos devem andar a segregar queijinhos frescos que nem uns danados.

Mas isto da paridade, enfim, tem muito que se lhe diga; ninguém pode condenar um grupo de chavalos que assim se refugiam dos riscos e das maçadas que inevitavelmente acarreta a convivência com o mulherio, e ainda pior se houver gajas boas, como sabemos, perde a gente a concentração e não tarda nada está tudo fodido, é encornanços a torto e a direito, lá se vai o ganha-pão em menos de um fósforo. Agora quanto à ubiquidade, que é, como sabemos, um dom, aí é que a coisa se torna mais curiosa; ele há quem diga que isto é sempre os mesmos, os VIBs da blogaria desdobram-se em múltiplos papéis, debitam ideias brilhantes e textos impecáveis num ror de blogs, vão a jantares e a confraternizações blogueiras, onde mandam umas bocas foleiras, comparecem nas entrevistas mais mediáticas sobre o "fenómeno" bloguístico, nas quais discorrem com muito sentido humorístico, e ainda arranjam tempo para escrever umas colunazitas na imprensa generalista, onde sabiamente analisam o mundo bloguista.

Como se vê, ele há quem diga, mas diz mal; não são sempre os mesmos, não senhor, nem pensar, e que não lembre a ninguém sequer imaginar ter-se constituído uma seita, cá no bairro, longe vá o agoiro. Aquilo é tudo bons rapazes, alguns deles até dados às coisas do purismo, e tal. Todos identificados pelo nome, são de resto conhecidos por isso mesmo, verdadeiros portentos de identificação, não há que temer coisa alguma, quaisquer duas ou três engraxadelas bem dadas poderão garantir um bilhete de ingresso em tão selecta irmandade.

Não temais, pois, ó homens de pouca fé, porque a vossa horita há-de chegar. Esmifrai um pouco mais vossas artes bajulativas, treinai afincadamente vossos cérebros para a liturgia do beija-mão, e logo logo vereis recompensados os resultados de vosso esforço. Uma palavrinha elogiosa, uma referenciazinha, um linkezinho, vá lá, e tereis vós outros garantido o reconhecimento público, o triunfo mediático, ou, numa palavra, a glória. Claro que ser gaja não ajuda, a julgar pela amostra, mas nunca se sabe; anonimato também não, isso é coisa que repugna (mete nojo) àquela malta, de finos que são, por isso arranjai lá vós outros um nomezinho fixe, assim sonante, tipo Tio de Cascais imensamente liberal e porreta, por exemplo Luiz com zê, e complementai com duplo apelido, que sei eu, Matos Cruz, Ribeiro Machado, Alves da Cunha, ou assim. Vereis então, se me não engano, as portas que se vos abrirão. É certinho.

Toca a andar da perna que não chega para todos, vá. Aquela merda só custa oitocentos paus, que diabo. Tomai e bebei-lhes as palavras.

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18/01/07

Lá lá lá Bzzz Bzzz

«Um em cada oito homens estaria disposto a trocar a namorada por um iPod
Um em cada oito homens diz estar disposto a trocar a namorada por um dispositivo electrónico de um certo valor, como um iPod, revela uma pesquisa pouco usual da Gfk Nop(*), empresa de estudos de mercado. Mas não são apenas os homens que têm pouca estima pelas suas caras-metade. As mulheres também não estão convencidas do valor dos seus namorados, já que 6% das inquiridas trocavam o seu par por um equipamento de cinema em casa. Segundo o jornal El Mundo, esta conclusão não é de estranhar, já que o estudo afirma que o home cinema é útil, não incomoda, não deixa migalhas no sofá e funciona sempre que se pede carregando num botão, ao contrário de muitos homens.»
Diário de Notícias de hoje, suplemento de Economia, página 24
(*) No original, as letras estão trocadas

Caramba, quem me dera escrever assim, ter esta piada, este humor subtil. É de facto brilhante, convenhamos. E isto num muito sério e compenetrado suplemento de economia, note-se, com o acréscimo de credibilidade conferido pelo prestígio internacional da empresa de estudos de mercado Gfk Nop.

Os resultados não são nada surpreendentes, mas vê-los assim escarrapachados num jornal de grande circulação é que sim, e de que maneira. Com uma pequena objecção, no entanto: certamente não foram mostradas às inquiridas as mais recentes engenhocas na área dos Ipods; é que agora há uns, muito maneirinhos, ao que dizem as felizardas que já experimentaram, com formatos mais para o oblongo e que podem vibrar a velocidade regulável. Portanto, quando as respondentes responderam que trocariam o namorado (ou o marido, presume-se) por um home cinema, isso apenas se ficou a dever a uma certa dose de ignorância, visto os novos iPods com vibrador incorporado ainda não estarem suficientemente divulgados; certamente, houvesse já disso à venda em qualquer loja especializada, a percentagem daquelas que efectuariam a troca sem pestanejar subiria dos 6 para os 60%. Qual home cinema nem meio home cinema. Dêem-lhes um brinquedo desses, o verdadeiro quatro em um, telefone, música, e-mail e vibrador, a ver quantas não empontariam imediatamente o respectivo.

Aliás, este novo gadget reune as quatro vertentes principais da mulher que se quer moderna, ou seja, tagarelar, abanar o capacete, enviar mensagens e bater umas pívias. Como aquela merda traz jogos e mais uma data de extras, os mais caros até televisão têm, imagine-se o consolo absoluto, a paz de espírito e a alegria intrínseca, concentrados num único aparelhómetro, que seriam proporcionados ao carácter feminino de uma única assentada . Qual é a gaja que não prefere uma coisa daquelas a um banana qualquer? E quem diz um banana, diz dois ou três, claro. Para que precisam elas de um gajo, quando o aparelho faz o mesmo efeito, no essencial, ou ainda melhor, e ainda por cima não chateia nem um bocadinho? Aquilo é só mudar as pilhas ou pôr a bateria a carregar de vez em quando, e pronto, está feito: é só disfrute, não há cá arrufos, nem discussões, nem chatices de espécie alguma, e tudo a custos perfeitamente irrisórios.

E depois há as combinações possíveis, como por exemplo, isso para uma mulher deve ser o delírio total, conversar com um auricular (iPhone), enquanto ouve o Júlio Iglesias com outro (iPod) e, ao mesmo tempo, liga a vibração e introduz o aparelho ou faz com ele uma festinhas onde mais interessa (iPhode, modernamente iFod). Bolas, aquilo até dá para enviar mensagens em directo, sms genuinamente vaginais, correio electrónico directamente da parreca para a caixa de entrada do destinatário; não há qualquer risco, são à prova de fluidos e trazem vários "skins" (revestimentos) que se podem trocar, uns com piquinhos, outros com anéis, e às cores e assim.

O que é preciso é que a indústria e a tecnologia se aproximem cada vez mais daquilo que são as reais necessidades do mercado, e para isso há que atender primeiramente às urgências dos consumidores, neste caso consumidoras: o iPod com vibrador é uma primeira e muito eficaz resposta, àquelas e a estas, abrindo desde já caminho à mais antiga das aspirações femininas, isto é, a sua completa, total, absoluta emancipação.




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16/01/07

Numerologia

Desta, ainda não se lembraram os histéricos do NÃO... que também os há. Se o SIM ganhar o referendo do próximo dia 11, alguma sumidade aparecerá com o seguinte ditame profundamente científico:

A América teve o 11 de Setembro, a Espanha teve o 11 de Março e Portugal teve o 11 de Fevereiro.


Logo surgirão também os patuscos do costume esgrimindo seus números algébricos, isto é, continhas e cálculos que demonstrarão à saciedade (e à sociedade) que nada acontece por acaso e que as piores catástrofes ocorrem nos dias onze de cada mês, por altíssimos e divinos desígnios mas também obedecendo a uma férrea lógica matemática.

Cada nação tem o onze que merece, um pouco à revelia daquilo que sucede com o futebol.

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14/01/07

"Diz que é uma espécie de" programa de rádio

Parece que Pedro Rolo Duarte, o gajo mais militantemente anti-blogs que existe em Lisboa e arredores, agora tem um programa de rádio sobre... blogs. Extraordinário, se bem que um pouquinho esquisito. Enfim, para quem tiver interesse antropológico na coisa, é aos Domingos, na Antena 1, cerca das 11 da manhã.

Para quem descreveu sistematicamente a blogosfera como "puro ruído", entre outros mimos de igual calibre, para quem mediatizou a escola anti-blogosférica, de facto o tacho - ter um programinha de rádio sobre o tema - vem mesmo a calhar e adequa-se determinantemente, não apenas à figura tola como ao carácter ressabiado da personagem. Claro que, entretanto, muita água passou debaixo das pontes, desde que PRD nos fez o favor de expor a sua aversão a esta coisa rasca do bloguismo, e agora apenas restam uns quantos ecos da contestação que, timidamente, alguns bloggers se atreveram a manifestar contra tão descabeladas e estúpidas argumentações; houve mesmo, em devido tempo, quem se sentisse vagamente incomodado com as diversas e sistemáticas diatribes do radiofonista, mas enfim, já lá vão uns anitos e, como sabemos, a memória - mesmo, ou principalmente, a virtual - é curta, curtíssima.

Portanto, e vendo bem o caso, não será de estranhar que semelhante personalidade, histericamente alérgica a blogs e a tudo aquilo que eles representam, seja agora premiado com uma emissão radiofónica semanal cujo tema é precisamente aquilo que tanto dizia odiar; trata-se, por assim dizer, de dar ao cão aquilo que o cão mais gosta de morder, coisa que, de resto, o dito canídeo se encarrega de fazer com toda a ganância e empenho. De facto, a julgar pela amostra de hoje, a ração semanal de ossos para roer há-de por força ser extremamente suculenta, apetitosa; o animal convida um fulano qualquer que tenha um blog e fá-lo descascar alarvemente em todos os outros, exceptuando naturalmente o seu próprio e os dos "intocáveis", os pachecopereirianos. A conversa descamba fatalmente para a dicotomia preferida dos eleitos, ou seja, nós (eles), os bons, os maravilhosos, aqueles que contam, e os outros (nós), o "lixo" barulhento, os que não contam para nada, os que "nem sequer existem" e a respeito dos quais a única atitude "decente" é o mais puro, soberano, imperial desprezo. É, portanto, sem qualquer surpresa, a conversa do costume.

O convidado de hoje era não sei quem da Revista Atlântico e que já teve um blog chamado O Acidental. Realmente, esse moço que foi ao tal programa de rádio estava não apenas pessoalmente identificado, com nome próprio e dois apelidos, como se identificou igualmente por extenso com a paranóia que o radialista mantém e nem se esforça por disfarçar; e porque torna e porque deixa, sempre a mesma treta, o velho discurso elitista de quem se julga paradigma de algo, ou referência, ou o que quer que seja de superior em relação à manada, aquelas massas ignaras que somos nós todos, os outros, os "anónimos", desprezíveis e abjectos, por conseguinte e por definição. Citando de memória, o rapaz dos três nomes proferiu a sentençazinha habitual, ou seja, "o anonimato repugna-me". Pobrezinho. Quanta repugnância. Com entrevistados destes, com entrevistas assim, até se ouvem em fundo os ganidos de prazer do mastim, adivinha-se a baba que lhe escorre do focinho, o próprio vírus da raiva atravessa facilmente as ondas hertzianas e adentra-nos a casa. A preocupação central, quando não a única, é desacreditar, apoucar, amesquinhar a "cambada", malhar no ferro frio da sua irrelevância; com isto, evidentemente, releva-se o brilhantismo dos poucos "eleitos", à cabeça dos quais surge a figura esplendorosa do convidado ocasional, a importância decisiva que os selectíssimos membros do clube têm no cenário político, a sua maestria exclusiva nas coisas da escrita e, por fim mas não menos importante, como são eles e apenas eles que valem realmente a pena, que têm interesse, que possuem livros em casa e são os mais belos representantes da pensante espécie.

Claro que, assim para badamecos como eu, este tipo de coisas chateia-me; gosto pouco de que me chamem burro, ou ignorante, lerdo, ou simplesmente merdoso; então quando me chamam essas merdas em público, e de mais a mais não sendo possível responder cara-a-cara, confesso, fico fodido. E não apenas me chamam nomes, esses cabrões, como ainda têm o desplante de me atirar com o labéu da cobardia para riba dos lombos; é a conhecida ladainha do "cobarde" que se "esconde" por detrás do anonimato, enfim, já toda a gente conhece o paleio. Por mim, estou farto de dizer, seus caras de caralho, que não se me dava nada de fazer engolir o insulto, esse em especial, a qualquer um de vocês, mano-a-mano, quando e onde mais aprouvesse ao primeiro que se chegasse à frente.

Não adianta sequer tentar explicar a diferença entre um autor anónimo e um cobarde anónimo. Já deu para ver que essa gente que se julga a nata, simplesmente porque assina a própria trampa, porque assina o que defeca, apenas se ouve a si mesma e ao seu círculo particular de cagões; não são nata coisa nenhuma, são quando muito borra, e com bastante escumalha à mistura. O suposto anonimato é uma coisa que se explica por si mesma; quem persiste na sua condenação cega e radical, demonstra uma impenetrabilidade que apenas poderá resultar ou de conjecturas idiotas ou de algum instinto grupal, primitivo e simiesco. O suposto anonimato é suposto, não imposto; resulta não apenas de uma escolha pessoal como, ou por consequência, de uma atitude individual. São portanto, realmente, coisas não apenas diferentes como opostas: é o indivíduo a sós com o mundo, é a personalidade que defronta os outros e se confronta a si mesmo, é a independência total da ideia, finalmente despojada de um corpo que a transporta - e do nome que esse corpo tem, a fronteira da sua liberdade.

Recusar liminarmente a diferença, apanágio das supostas elites, persistindo na visão redutora e meramente insultuosa do anonimato, demonstra não apenas a mais constrangedora das simplicidades como uma profunda desonestidade intelectual. O que não constitui surpresa alguma, no caso, se atendermos ao facto de essas mesmas elites serem, como todos os grupos humanos estruturados, desprovidas de intelecto; no grupo, ao grupo e para o grupo, não convém que o indivíduo pense. Sabendo qual a motivação intrínseca do espírito gregário, e por exclusão de partes, fácil se torna concluir de que lado estão a estupidez, a ignorância e a própria cobardia.

Esta espécie de programa de rádio, com o locutor de serviço à cabeça, pode por conseguinte vir a tornar-se no órgão de propaganda de um "pensamento blogosférico" oficial: acéfalo, normativo, ditatorial e muito, muito, muito identificado. A merda está no ar.




(imagem de http://www.officepirates.com/officepirates/categoryresults/0,26922,2_date_desc_Funny,00.html)

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13/01/07

Grandes Portugueses


O maior Português de todos os tempos



Filictum Lusitanicus




Imagem de Escola Secundária de Pedro Nunes - Ciências Naturais - 8º ano

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12/01/07

Eia, temos aqui uma engraçadinha

A merdola de e-mail que se segue diz respeito ao post anterior.

----- Original Message -----
Sent: Friday, January 12, 2007 3:10 PM
Subject:Re: [Aliciante] New Comment Posted to 'Ainda há dúvidas?'

Olá,
o comentário apaguei-o porque considerei-o ofensivo. A linguagem utilizada é desnecessária e ao contrário do que primeiramente deduziste eu sou uma autentica ditadora e como o blog é meu eu apago os comentários que bem entender.
MAs tenho que te agradecer o post que fizeste sobre o assunto porque acreidta, sem ironia, me proporcionaste um dos momentos mais hilariantes que eu já vivi na blogosfera.
Obrigada mesmo
Mad

 
Em 11/01/07, [email protected] <[email protected]> escreveu:
A new comment has been posted on your blog Aliciante, on entry #381647 (Ainda há dúvidas?).

View this comment: < http://aliciante.weblog.com.pt/arquivo/2007/01/ainda_ha_duvida.html>
Edit this comment: <http://aliciante.weblog.com.pt/privado/index.cgi?__mode=view&_type=comment&id=861838&blog_id=152>
Name: Dodo
Email Address: [email protected]
URL: http://001.blogspot.com
Comments:

Não, nenhuma dúvida. Este é de facto o pior conjunto de palavras, em forma de versalhada, alguma vez escrito. "Inspirado" em Brecht, mas bera com'á ferrugem; nem o próprio conseguiria escrever tão mal.
E também não há qualquer dúvida sobre o direito que assiste à autora de cortar um braço, ou uma perna, ou ainda, se lhe apetecer, a própria cabeça. Não há quaisquer dúvidas sobre isso.

--
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http://www.sixapart.com/movabletype/

--
Mad
www.aliciante.weblog.com.pt


Ao abrigo do direito de resposta, e nomeadamente quanto ao articulado que prevê o poder discricionário de o autor de um blog mandar bardamerda quem lhe apetecer, desde que o faça em sua própria casa, o espaço que se segue é da exclusiva responsabilidade do dito cujo.


Ó Leninha, filha.
Uma dúvida singela: o que é que significa "linguagem desnecessária"? Ora porra; se ainda ali tivesse aposto uma qualquer caralhadazita, por exemplo, ainda vá que não vá; agora assim, a seco... bem... com essa é que já me fodestes, melher. E ainda, na sequência da mesma dúvida - que pelos vistos nenhuma versalhada asquerosa pode sequer aliviar - sempre gostaria de saber o que virá a ser isso da "linguagem adequada". Graxa? Avante camarada, avante? O nosso povo, o nosso povo, o nosso povo? Os direitos, os trabalhadores, os direitos, os trabalhadores? Um aborto por ano dá saúde e é bacano?

Só mais uma notinha de rodapé: quero bem que se lixe essa tua maniazinha do autoritarismo. Mais: caguei positivamente, nisso e ainda mais na tua suposta ironia. Se não querias comentários "desnecessários", tinhas duas hipóteses: ou não punhas lá as caixinhas para o efeito, ou escrevias tu mesma os teus próprios "comentários" com "linguagem necessária"... o que presumo seja o caso.

Juízo.

P.S.: de certa forma, devo apresentar as minhas desculpas à autora da versalhada; pensando bem, aquilo não é propriamente uma grandessíssima bosta; o superlativo é um exagero, do qual me penalizo; do mesmo modo, retiro o balizante temporal "alguma vez" da expressão inicial (relativo a "o pior conjunto de palavras"), substituindo-o, sem qualquer favor, por "jamais". Se lhe servir de consolação, a essa autora, lembre-se de que o seu não é caso único; o que há mais por aí, até de consagrados e tudo, é coisas de igual qualidade ou jaez, verdadeiros palimpsestos de cal sobre estuque, com grafitagens de assinatura por cima.

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Yo no creo en censura pero que la hay, hay

Talvez aliciado pela designação, ou provavelmente por mero acaso, tropecei ontem em certo blog, não desfazendo, no qual deparei com a versalhada mais execrável que imaginar se possa e, por mero desfastio, resolvi deixar meu modesto comentário.

Nele, comentário, em resumo, qualificava a dita versalhada de "o pior conjunto de palavras alguma vez escrito" e acrescentava (cito de memória) que aquilo era uma espécie de Brecht mal parido, sendo que nem o próprio seria capaz de escrever assim tão mal; sobre o conteúdo do arrazoado palavroso, e nomeadamente quanto ao direito que assiste a qualquer mulher de decepar a si mesma uma perna, um braço, ou mesmo a própria cabeça, pois que não existem de facto quaisquer dúvidas a respeito, é fazerem o favor e deceparem-zi-a à vontade. Enfim, foi qualquer coisa deste género, como se vê sem absolutamente nada de ofensivo ou desprestigiante seja para quem for.

Qual não é a minha surpresa, porém, quando verifico hoje terem essas parcas observações sido liminarmente apagadas. Ora, isto é muito estranho, de mais a mais em se tratando de um blog pois que cheio de pinta esquerdista, pois que por suposto muito amigo dos pobrezinhos, e assim, militantemente pró-aborto, calculo que bué de anti-americano, anti-bushista, etc. e tal. A coisa apenas poderá ter resultado de lapso técnico, não posso crer em algo diferente. Pode lá ser, uma coisa dessas! Onde já se viu, os camaradas a apagar aquilo que não lhes convém?! Mas desde quando?

Terá existido lapso técnico, pois sim, isso é que não oferece qualquer dúvida. E daqui se lança, por conseguinte, o apelo: alguém seria capaz de recuperar aquele meu humilde comentário?

Seria uma obra de caridade, meritória mesmo, que alguém o resgatasse das profundas do inferno cibernético em que certamente terá caído por engano; e que depois fizesse o favor de o remeter para o e-mail dos camaradas, que já devem andar aflitos, coitados, à procura do dito, não vá alguém mais maldoso pensar que eles apagaram aquilo porque não lhes agradava ou, quem sabe, ele há gente para tudo, que fazem censura lá no boteco, cruz, credo, longe vá o agoiro.

Agradecimentos antecipados, penhorados e eminentemente prá-frentex.

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11/01/07

Simpatias?

simpatias para parar de suar demasiadamente

????

"Simpatias"?


????

Caralhosmafodam.


Hmmmm? Hem? Como? Mas como "simpatias"?


Não será... terapias?


Aaaaaaaahhhhhhhh...

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Votai NÃO, por amor de Deus



E das Suas obras.

Imaginar que alguém pode impedir que um ser-humano chegue a tão divino estágio de desenvolvimento....

Como é possível obstar a que crianças como esta, um belo dia, tratem assim tão carinhosamente as laranjas e a restante fruta?

Mas que raio de seres diabólicos poderão pretender liquidar à nascença o desenvolvimento natural das criaturas, que elas cresçam, e tal?

Portugueses: votai como deve ser lá no referendo. Não sejais morcões.

Lembrai-vos das palavras do profeta: qualquer ser em gestação pode dar em algo como aquilo ali em cima, aquele monumento, aquele esplendoroso pedaço de céu.

Corações ao alto.


(Documentação política aqui)

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08/01/07

Melhor comentário blogosférico 2006

O júri de Viseu dá 10 pontos ao rapaz do "Foda-se" e 8 ao golfinho ubíquo.
Comentário de: Rita Soares
link: http://aspirinab.weblog.com.pt/2006/12/o_discurso_de_aceitacao_mais_t.html#comment-595950


É favor dirigir-se ao nosso caixa, a fim de receber o seu prémio (20 pontos).


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Não penso higiénico obrigado


Seria possível que alguém, daquele grupo folclórico designado por "feminista", me esclarecesse numa pequena dúvida? Sim? Obrigado. Então, ó meninas, era o seguinte: uma das maçadas mais comuns quando chega a hora de dar uma (ou "fazer amor", como vocês dizem), é o problemazito da, enfim, da, daquela coisa, a "chica" olá uquié, a bandeira do Japão, aquilo, enfim, a "coisa", pois, isso, pronto, o que gostaria de saber é como se pode pará-la, interrompê-la, em havendo necessidade e urgência.

Isto, ele há que perguntar a quem sabe, claro, e ninguém mais indicado para o efeito do que pessoal habilitado, esse mulherio libertário até à quinta casa que é capaz de tudo, como por exemplo interromper uma gravidez com toda a limpeza. Pois então, se são capazes dessa interrupção, que ouvi dizer ser lixada, então também devem ser capazes de interromper uma simples menstruação, digo eu. Para quem diz, assumida e corajosamente, que "na minha barriga mando eu", minha, delas, e eu, elas outra vez, entenda-se, pois que então vá lá, não se acanhem, expliquem aqui ao pessoal como se faz não a mais complicada mas a mais simplezinha, se fizesse o favor. Dava muito jeito, volta e meia, a gente, nós, os porcos machistas, podermos dizer à garota que se nos apresenta pela frente, altamente comível, olha, vai ali e interrompe essa merda, porque assim não dá jeito nenhum a pinocada. Convenhamos, é desconfortável e não muito higiénico, para já não dizer foleiro, um gajo aviar uma franganita em dias de cabidela, pois não é? Pois, pois é.

Atão vá. Dizei. Desvendai o mistério, ó chavalas que mandais em vossos buchos: como se interrompe o fluxo menstrual, hem? Vós, que sabeis tanto, que sabeis tudo sobre os mistérios da vida, quando ela começa e quando ainda não, ou quando está quase mas ainda não é bem, vós, que de chicas-espertas não tendes nada, nadinha, juro, deveis conhecer as técnicas para fechar a torneira da chica, pois não deveis?

De mais a mais, esta interrupção, ao contrário da outra, pode continuar logo após cumprida a função, é só entupir aquilo durante uma horita ou duas, nada mais, e ainda por cima tratando-se de uma coisa igualmente voluntária, sim, que a da gravidez já percebi que é também voluntária, mas ainda não entendi como raio é interrupção se depois não continua, e assim, são perplexidades aborrecidas, coisas de homem que sempre se atrapalha com as coisas de mulher.

Perdoareis, santinhas, por suposto, a articulação um bocadinho complicada da pergunta, de ar vagamente referendário, estas reminiscências de plebiscito, tamanha complicação cheia de vírgulas, e orações intercaladas e considerandos e parêntesis e ideias acessórias. Deve-se tal profusão de construções gramaticais a dois factos, a saber, por um lado o aborrecimento inerente à condição masculina do inquiridor, o qual, por conseguinte, patenteia óbvias dificuldades de expressão e clareza de raciocínio quando em presença de tão melindroso género de dúvidas, e, por outro lado, à curiosidade que para o mesmo inquiridor representa a presunção de que não entendereis vós outras, respondentes, a ponta de um corno daquilo que aqui se questiona.

De resto, e porque me fascina em absoluto o domínio igualmente absoluto que dizeis exercer sobre vosso ventre, o baixo e mesmo o alto, sempre gostaria que me esclarecessem acessoriamente como fazeis para reter, por exemplo, vossas águas e vossos outros despejos; ou seja, como fazeis para que vossa barriga interrompa voluntariamente a produção de fezes e de urina; grandes, imensos, poderosos esfíncteres tereis, moças, sempre vos digo, e mai-la extraordinária capacidade de retenção do mijo. Não, confesso, essa do "na minha barriga mando eu" parte-me todo; é admirável, caralho. Até pondes ovos só quando quereis e tudo, caralhosmafodam.

Mas enfim, não tergiversemos. Vamos lá mas é à vaca fria. Ora então, em resumo, dizia, quando me interrompi a mim próprio, como é então que se interrompe a menstruação? Aquela merda não volta para trás, pois não? Ou volta? Há algum medicamento que me possam aconselhar? Não para mim, evidentemente, mas para a minha parceira, claro, pois que ela também não aprecia lá muito o petisco assim com molho, pois que nós cá é mais a seco. Sem ser a ablação total dos ovários, que essa já é velha, não há nenhuma técnica mais recente e mais jeitosa? Uma rolha, talvez? E caberá no colo do útero? E serão comparticipadas, as rolhas uterinas?

Ui, que grande confusão vai por aqui. Quanta dúvida, quanta questão, quanta ignorância.

Com as melhores saudações libertárias, aguardando resposta com um módico de ansiedade sou,

de vexas
atento, venereador e obrigado

Dodo





(imagem de site de Robert Burns)

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06/01/07

10

Sei que algo não se fez.
9
Sei que és quem não me ouve.
8
Sei que devia ser mais afoito.
7
Sei que o teu céu é mais leve.
6
Sei que não sou como tu és.
5
Sei que já não te sinto.
4
Sei que já não aguento.
3
Sei que perdi a vez.
2
Sei que há depois.
1
Sei o negrume.

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Consultório sentimental - XXIV

Parole

(...) é uma mulher que é capaz de dizer as coisas mais bonitas deste mundo, coisas que me deixavam esmagado e a pensar que sou o maior pirata que existe, porque às vezes a tratava mal e, se calhar, não lhe dava o devido valor. E depois é isto, ou seja, nada. Não resta absolutamente nada dessas belas, lindas, emocionantes, definitivas palavras. Definitivamente nada. Acho que as mulheres falam assim como quem espirra; é um impulso, uma simples força da natureza, uma compulsão. Não significa nada, em suma. Nada, e nunca. Isto confunde-me, sabe?(..)
João M., Porto



Pois sei. Olá se sei. O Grande Gajo Lá De Cima equipou as mulheres não apenas com sexo e restantes adereços característicos e diferenciadores mas também com um aparelho vocal - e principalmente uma língua, salvo seja - daqui até ao Brasil. Não falemos porém da personalidade falatória e conversadeira, porque isso é sabido e conhecido, e atenhamo-nos antes à particularidade mais aborrecida para nós homens, consistindo esta na capacidade inata que a fêmea possui para debitar grandiloquências sem qualquer significado e sem a mínima importância.

Qualquer patego sabe que a "sua" gaja lhe dirá, mais tarde ou mais cedo, tudo aquilo que ele, patego, mais quer ouvir. Não existe mulher alguma que nunca tenha dito - a umas não desprezíveis dezenas ou, quem sabe, em alguns casos , até a largas centenas de gajos - coisas tão belas como "tu és o meu homem", ou "sou tua, quero ser tua, toda tua", ou ainda, um verdadeiro clássico, "nunca houve outro homem para mim, tu és único"; isto como tema, ou dando-lhe outras voltas, ou seja, com as respectivas variações, por certo não seria difícil constituir um acervo de lamechices muito razoável, em dimensão e em alucinação. Qual é o homem que nunca ouviu, pelo menos uma vez na vida, juras descabeladas de "amor eterno"? Quantos de nós não se julgarão ainda os maiores lá do bairro e arredores, pois que por via da insistência, da persistência de quejandos laudatórios encómios femininos? Escutamos até à exaustão coisas tão extraordinárias, a respeito de nós mesmos, que difícil se torna, quando não impossível, para nós ficar indiferente e seguir adiante. Elas sabem perfeitamente, está-lhes na massa do sangue, puxar-nos o lustro ao ego. É com isso, de resto, que ganham direito a uma série de extras, como umas quantas horas suplementares de sexo desenfreado, até porque nada é mais excitante para um homem do que ser reconhecido como tal; e, para esse efeito, nada melhor, evidentemente, do que uma mulher.

Enfim, caro J.M., somos levados à certa que nem uns pategos. Bem, nem sempre, mas geralmente. Quando levamos com a dose de paleio, parole, parole, parole, somos todos verdadeiros parolos. Vamo-nos abaixo das canetas. Gaja que nos ponha nos píncaros, com seu refinadíssimo béu-béu, garante para si umas belas de umas pinocadas e para nós a mais do que adequada dose de anestesia mental; ou seja, o elogio feminino funciona em duas vertentes, a saber, o incremento libidinoso do macho, por um lado, e a constituição de uma reserva de bovinidade no mesmo, para o futuro, por outro.

Todas as belas e "únicas" palavras que determinada mulher diz a um homem determinado são, de resto, determinantes para a táctica de guerrilha feminina, servindo exclusivamente para uma finalidade meramente prática: a conservação do statu quo que, naquele exacto momento, mais lhe interessa. E todas essas belas e "únicas" palavras já foram, são ou serão repetidas até à exaustão com um número proporcional de novos ou velhos destinatários. O mesmo é dizer, nada do que deste jaez uma mulher possa articular, seja em que ocasião ou circunstância for, possui o mais ínfimo significado ou o mais pequeno valor intrínseco. É aquilo que no millieu da prostituição se designa por conversa: "de encher" ou "falta de ar" ou ainda "para jogar fora"; isto é, como dizem as putas em sua genial clarividência, o que uma mulher diz a um homem, no acto de conversação amorosa, no ambiente de alcova e em horas mais hormonais, vale tanto como uma sandes de merda sem pão.

Ao amigo João tais coisinhas ainda vão fazendo confusão porque o amigo João ainda deve ser muito novinho. Mas descanse, porque também muito gajo velho e relho se derrete com esse tipo de patacoadas; há gente para tudo, como sabemos, e o que não falta por aí é gajos que adoram que lhes enfiem caca pelas orelhas abaixo; desde que a sua gajinha lhes sussurre umas palavrinhas melosas, de vez em quando, até não se importam nada de a levar a "sair com os amigos"... dela. Ou seja, a lógica é mais ou menos esta, lá na cabecinha do corno-manso-que-adora-que-lhe-batam-coiros: pois sim, vai lá, diverte-te, manda lá uns pirafos por aí com um gajo qualquer, tudo bem, mas antes, ó coisinha, se fáxabôri, diz-me umas palavrinhas jeitosas, assim, sei lá, meiguinhas e tal.

Por exemplo e amostra: que se chegue à frente a primeira que nunca gabou o tamanho do mangalho de seu momentâneo companheiro de brincadeiras.

Então? Nada? Ninguém se chega à frente? Pois, bem me parecia.

É preciso ser completamente imbecil ou, na melhor das hipóteses, menor de catorze anos, para cair em semelhante número. Todas as mulheres, talvez em resultado da fascinação natural que o órgão sexual masculino origina em suas imaginações delirantes, embasbaca para os ditos e por sistema lhes gaba as qualidades. Isso não tem nada de mais e não vale, como o resto, porra nenhuma. É só naquele momento, dado o entusiasmo que as assalta e que as põe a arfar de emoção. E que nunca viram tal coisa, ou uma coisa assim, e tal, e tal, e também que, pois sim, não é que tenham grandes termos de comparação, mas enfim, lá que é grandalhão, enorme, oh, oh, pois é, ai é, é.

Tretas. Bull shit. Quinze dias depois, quando não quinze minutos depois, a deslumbrada garota estará dizendo rigorosamente a mesma coisa a outro caramelo qualquer. E quem diz mangalho, ou caralho, que é uma coisa por assim dizer palpável, quiçá mensurável, sopesável e avaliável, diz cabelo, ou olhos, ou ombros, ou bíceps, ou outra merda qualquer; ou diz também outro tipo de características já não tão palpáveis, como a personalidade ou a bravura, ou ainda não mensuráveis, como o sorriso ou a dentadura, para já não ir mais longe, àquilo que de todo não se pesa nem se avalia, seja a inteligência seja a cultura livresca. Tudo serve para dar graxa ao cágado, para fazer inchar o sapo, desde que os objectivos primordiais sejam alcançados exclusivamente naquele momento, naquele lugar e com aquela pessoa. Depois, logo se verá quando, onde e com quem o processo se repetirá.

O que é grave e se pode de facto tornar chato, é em calhando a gente escutar tais lamechices e alarvidades da boca de alguém de quem desgraçadamente se gosta. Aí é que é a foda total. Um perigo. Porque, evidentemente, não é lá por a gente gostar dessa pessoa que ela deixa de ser uma mulher como as demais. Falou, fodeu. Depende da experiência ou, melhor dizendo, das experiências que um tipo teve, e da forma como as ditas marcaram o dito. É que há coisas que não se esquecem e, por mais agarrado que um homem esteja, sempre e para sempre transportará consigo, por debaixo da carapaça, todo o seu passado, todas as outras, coisas ditas e mulheres que as disseram. Existe uma espécie de lei universal para a linguagem do amor: o que se diz único e belo é sempre trivial e comum, mas não para quem ouve. Daí, pelo peso da tradição e pela tonelagem do sentido, ser normal no casal a expressão "mas o que é que tu queres dizer com isso?"

Geralmente, um homem utiliza uma espécie de servo-croata para se expressar, enquanto a mulher lhe responde em Mandarim; ou vice-versa, claro. O problema reside nas expressões-chave, precisamente aquelas que o elemento feminino debita por sistema e por desfastio, enquanto que o masculino é muito mais reservado e parcimonioso. É normal que um homem reserve para determinada pessoa uma expressão, um nome, um substantivo por si mesmo inventado, e que nunca mais o utilize com outra mulher; é uma espécie de deferência, de homenagem, de presente secreto e não expresso; ora, tal coisa é praticamente impossível até para a compreensão do mais elaborado cérebro feminino. A mulher utiliza a expressão verbal, e nomeadamente nas suas formas mais carinhosas, exactamente como quem faz palavras-cruzadas: para que encaixem umas nas outras e sirvam para alcançar um resultado final. Enfim, não as medem. É meia-bola e força.

Claro que depois dá nisto. Temos aqui nosso amigo João pior do que estragado (o resto da mensagem demonstra isso, mas não é para aqui chamado), sem saber o que há-de fazer à porca da vida, e tudo por causa de umas simples palavrinhas. Revoltado e amargurado, nosso João. Sejamos compreensivos e complacentes, pois. Qualquer de nós ficaria igualmente fodido, fosse o caso connosco. Por aquela sucessão de pretéritos, apenas na parte transcrita da mensagem, é fácil entender o que se passou. A moça voou, não é, amigo João? E levou com ela as belas palavras que eram só suas e de mais ninguém. E agora já não são só suas, as belas palavras, e... o resto a gente imagina. Não valerá talvez a pena escarafunchar em demasia.

Pois é. Como dizia o outro, o ganzado, o amor é fodido. E o pior de tudo é que a gente fica sempre com aquela sensação de vazio absoluto, aquele sabor terrível na boca que nos deixa mudos. Desaprendemos de falar. Faltam-nos as palavras, as nossas, e não foi o gato que nos comeu a língua; foram elas, as palavras, que fugiram para parte incerta, escondidas no bico de uma avezinha de arribação.

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Às vezes, um benfiquista...



... até fica azul.

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O som do sono

Este é o sítio do silêncio
onde a paz finalmente dorme
e nada mais perturba a eternidade.
Este é o sítio do silêncio
onde se entende sem ouvir
e se cria pela força do pensamento.
Este é o sítio do silêncio
onde a água corre mansamente
para um mar de absoluta calmaria.
Este é o sítio do silêncio
onde as árvores marulham docemente
embaladas pela brisa mais suave.
Este é o sítio do silêncio
onde só as aves podem cantar
e o sol brilhar e a noite cair.
Este é o sítio do silêncio
onde se compreende por fim o paraíso
como vale a pena deixar a vida sem ruído
e que não acordar nunca mais faz todo o sentido.

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05/01/07

Vampiros




Existem cartazes nas ruas, anúncios na televisão e na rádio: dê sangue. As mensagens, seja em que meio for, são bastante claras: dar sangue é um acto de puro altruísmo que pode salvar a vida a alguém; para o dador não existe qualquer risco ou incómodo - o que não é exactamente assim - e o receptor até pode vir a ser, quem sabe, o mesmo dador ou algum dos seus familiares mais próximos - o que também não é exacto.

Naquele que se diz ser o maior hospital da península ibérica, existe uma coisa que se chama Associação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue, onde não é de todo possível dar... sangue; o serviço de recolha de sangue foi, aliás, desactivado no Hospital de Santa Maria há já um bom par de anos. De resto, também não existem meios para o efeito na maior parte dos Hospitais Centrais e nos Centros de Saúde do país.

Um simples telefonema para qualquer das inúmeras associações de dadores é suficiente para constatar a seguinte, triste, espantosa realidade: é praticamente impossível dar sangue em Portugal; existem, pelos vistos, apenas três locais fixos, um no Norte, outro no Centro e outro no Sul; as recolhas fora destes "centros" são por regra efectuadas por "brigadas" - o que não deixa de ter a sua piada.

Quer dizer: quem vai a um hospital não pode dar sangue, por exemplo enquanto espera pela sua vez para a consulta, ou aproveitando o facto de ali se deslocar para visitar uma pessoa internada ou mesmo, simplesmente, porque ali foi tratar de uma qualquer papelada. Nada disso. Para dar sangue, ou se vai expressamente a um dos três "centros" de recolha permanente (com horário de função pública, ainda por cima), todos eles situados, respectivamente, atrás do sol posto, no cu de Judas e em Coisa Da Mãe Street, ou se espera pela próxima "campanha" de recolha, no emprego, no centro paroquial, no grupo de escuteiros lá da terra ou coisa que o valha. Como são essese assuntos planeados, coordenados, divulgados, pouco se sabe; é o quarto mistério da Santíssima Trindade.

O que é amplamente divulgado, isso sim, é que há necessidade de sangue nos hospitais; fazem-se campanhas publicitárias, certamente caríssimas, convidam-se actores e outras figuras públicas para divulgar os "apelos", mas, mas, mas: quando a ocasião se proporciona, quando o cidadão por fim se resolve, muito bem, vamos a isto, então é neste braço ou é neste, aí é que a coisa corre mal - agora não, aqui não podemos.

Aqui há uns anos, eu, que até recebi uma medalhinha por ser dador benévolo e que tinha a mania de ir dar sangue sempre que via uma carrinha de recolha, fosse onde fosse, caí na asneira de entrar numa espécie de autocaravana, em pleno centro de Braga (por assim dizer), com aquele espírito altruísta e sorridente de quem se vai mais uma vez sujeitar a 15 minutos de seca; primeira surpresa, afinal a "operação" não seria feita ali; aquilo era só um posto médico móvel completo, totalmente equipado para qualquer intervenção de emergência, quanto mais para uma simples recolha de sangue, mas o "posto" propriamente dito tinha sido montado num prédio em frente; que era só subir umas escadinhas; lá subi as escadinhas, achando um pouco estranho que houvesse pó e caliça por todo o lado, e também estranhando o ar de ruína que tudo aquilo exalava; no primeiro andar, uma sala enorme com soalho em ripas, lixo e estuque pelos cantos, o tecto ameaçando desabar a qualquer momento; por detrás de uma secretária, um tipo de bata branca. Mostrei o cartão de dador e acabou por não ser preciso dizer mais nada, felizmente, porque já nesse tempo estava completamente farto de responder sempre da mesma forma sempre às mesmas perguntas. Seguimos então para a sala ao lado, eu e mais o gajo da bata branca; uma cadeira de praia, daquelas a que se chama espreguiçadeira, assim a modos que articulada em três pontos, faz tec-tec-tec e dá para ajeitar melhor a cabeça, aconchegar o tronco, esticar mais ou menos as pernas.

É giro, vá lá, mas achei esquisito. Um sorriso enfiado deve ter dado para disfarçar a coisa, mas esse sorriso apagou-se-me instantaneamente quando o fulano da bata branca me enfiou a agulha no braço e colocou o saco para o sangue... no chão! Naquele chão imundo, nojento, onde não era nada difícil adivinhar, aqui e além, umas quantas caganitas de ratazana, no meio de montes de cal, cimento, bocados de tijolo, pedaços de papéis e restos de plástico. Mas enfim, pensei, que seja pelas alminhas; e lá fiquei, quieta e pacientemente abrindo e fechando a mão, para evitar a dormência e como mandam as regras de boa doação. Porém, sucedia que, tendo a agulha um buraco em bisel, este persistia em encostar à face interior da veia e, portanto, o sangue tinha alguma dificuldade em fluir. A ver se a gente se entende: a agulha é metida numa daquelas veias azuis e salientes que se situam, regra geral, na dobra interior do cotovelo, e é fixada com um adesivo colado à pele, para nem sair nem oscilar grandemente; a agulha está ligada a um tubo plástico, flexível, que vai dar finalmente ao saco de recolha; o furo por onde o sangue entra, na agulha, não é a direito, transversalmente, mas cortado em diagonal, num ângulo de, por hipótese, 25º; estes pormenores servem para que se perceba aquilo que estava a acontecer, e que era o seguinte: o sangue não corria, entupia-se, o saco enchia-se lentamente de espuma sanguinolenta.

Eu sei que vendem o meu sangue. Eu sei que as campanhas são uma treta que não somente gera milhões para quem as produz como não tem - a treta - qualquer efeito prático na população em geral. Há quem dê sangue e há quem o venda; se há quem o venda, é porque há quem o compra; logo, aquele que é dado acabará fatalmente por ser vendido. Tudo isto é nojento, para dizer o mínimo. Mas, mesmo sabendo que estas coisas são assim, custa um bocado passar por episódios que tais, recolhas e dádivas sem um mínimo de condições.

Se as coisas tivessem corrido normalmente, eu estaria dali para fora ao fim de um quarto de hora, vinte minutos ou, vá lá, meia hora. Mas o maldito saco teimava em não encher. O tipo da bata branca veio ver o que se passava, umas duas ou três vezes, mas duvido sinceramente de que fizesse a mais pequena ideia - não apenas disso mesmo como - daquilo que estava ali a fazer. Eu próprio tentei endireitar a agulha, dentro da veia, a ver se aquilo começava a escorrer normalmente. Mas nada. Depois de, sei lá bem, talvez três quartos de hora, o homem desistiu, tirou-me a agulha, pôs um penso e ajudou-me a levantar.

Assim que me pus em pé, caí redondo no chão. E de pouco mais me lembro. Devo ter passado pelas brasas e sonhado. Que aqueles tipos da bata branca vendem o sangue que eu dou a peso de ouro. Que existem redes organizadas de tráfico internacional, com gentes e agentes que fazem fortunas colossais à conta desta espécie de "solidariedade". Que essa gente, e esses agentes, está tudo metido também no tráfico de órgãos para transplante e sabe-se lá em que mais. Que o polvo estende os seus tentáculos ao meio artístico, à grande finança, aos partidos políticos, às instituições estatais. Que ninguém é inocente e que o sangue, fonte essencial de vida, pode ser algo que transporta consigo a mentira, o crime, a morte.

Continuo a dar sangue, quando por mero acaso esbarro com uma "roulotte". Mas nunca hei-de esquecer, por mais anos que viva, aquela bata, aquele labrego da bata, toda aquela imundície abjecta. E além disso, hoje em dia, sei um bocadinho mais sobre o que é "dar sangue" em Portugal.

É uma tristeza. Nada apagada e muito vil.



(Imagem de... não interessa; isto é tão deprimente que, uma vez sem exemplo, vai a fonte incógnita)

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03/01/07

As botas do pescador(*)

Há uns dias, assistimos - horrorizados e quase em directo - a um espectáculo macabro: a morte por afogamento de alguns pescadores, cujo barco encalhou e adernou a cinquenta metros de terra firme. Parece que andavam ao robalo naqueles baixios, quando a distância mínima em relação à costa deveria ser de meia milha; parece também que os meios de socorro tardaram a chegar e por isso morreram os marinheiros, à excepção de um, ucraniano, que resistiu ao frio e à tempestade, sendo depois içado para um helicóptero de socorro. Nenhum daqueles homens, a bordo da traineira, usava colete salva-vidas, faltando apurar se tal coisa existiria na embarcação.

Arrepelam-se agora as consciências porventura mais atentas e prestimosas, umas pelo atraso no auxílio, outras pela genérica e atávica "falta de condições" da "arte" piscatória, outras ainda por simples perplexidade: como é possível aqueles homens terem perdido a vida ali, a poucas dezenas de metros da rebentação?

Se bem que tal coisa possa parecer, por exemplo a um extraterrestre que nos visitasse, um bocadinho estúpida, uma das razões - se não a principal, pelo menos das mais importantes - para mais esta tragédia foi um incrivelmente imbecil complexo, que é simultaneamente característica e idiossincrasia portuguesa: o receio de parecer "bicha". Se toda a tripulação tivesse colocado os coletes de salvação, como é de lei, muito provavelmente todos ou pelo menos alguns não se teriam afogado. Acontece que, é voz corrente e é verdadeira e fundamental vox populi, usar colete é "coisa de maricas"; com todas as variantes, no caso aplicando-se à pesca e aos pescadores, "homem que é homem" não usa aquelas "merdas amaricadas", o "verdadeiro macho", o pai de família honrado, caga de alto e fresco em tais paneleirices. Não é de estranhar por isso que os próprios armadores e mestres das embarcações, eles próprios viris até dizer chega, se estejam igualmente cagando nessas irrelevantes coisinhas, não cuidando de ter a bordo porra nenhuma que possa salvar seja lá quem for; quando muito, compram umas bóias maradas, só a fingir, apenas para evitar multas e outros aborrecimentos. Não custa adivinhar que, mesmo com as ondas já galgando a amurada, qualquer embarcadiço achará preferível morrer afogado do que - se por acaso tiver o azar de se safar - vir a ser apelidado de "panasca", por ter envergado o colete.

O fenómeno está muito mais disseminado no corpus sociológico português do que seria de esperar, mesmo para uma personalidade mais retrógrada ou ignorante. Passar por homossexual, ou sequer ter alguma coisa a ver com aquilo que se imagina ser o maneirismo "gay", constitui um verdadeiro terror para qualquer português, e não apenas nas classes mais operárias, por assim dizer.

Pelo mesmíssimo motivo, as nossas estradas continuam a fabricar defuntos em série: porque é coisa de "gay", para um motociclista, ligar o farolim - mesmo, ou principalmente - de noite; o verdadeiro acelera é aquele que anda às escuras, os outros, os raros que fazem o que a lei determina, são uma cambada de maricas; para o automobilista "macho", isto é, para 90% dos condutores, incluindo mulheres, fazer pisca à direita é "gay"; cumprir o código da estrada, por extenso, por grosso e por atacado, é evidentemente coisa de "roto". Colocar o cinto de segurança, isso então é que é a paneleirice suprema mas enfim, as multas são pesadas, pronto, há que acatar.

Também pelo mesmo motivo, Portugal é recordista europeu de acidentes de trabalho, não apenas no sector das pescas mas em todos os sectores. Mas onde já se viu uma "bichona" a trabalhar nas obras, por exemplo? E então, para que servem essas merdas de barreiras de protecção, capacetes de serviço, e luvas, e capas, e botas? O colete salva-vidas atrapalha tanto a faina do pescador como as luvas a labuta do electricista de alta-tensão; ao fim e ao cabo, vendo bem, toda essa trapalhada da segurança atrapalha toda a gente, em Portugal, e mal se entende porque é que nos outros países as mesmas coisas não fazem a mínima confusão a ninguém. No fundo, no fundo, deve ser porque nós por cá somos todos muito mais homens do que a estrangeirada toda, esses mariconços do piorio. Quando um gajo cai de um andaime abaixo, foi azar, pronto, mas lá que o homem era valente, ai isso era, até montava sempre os andaimes sem resguardos e tudo. Se um tipo morre porque leva com um barrote na cabeça, idem, idem, aspas, aspas, que isso de capacetes é para "panascas". Aquele ali foi electrocutado por falta de material de isolamento, mas não faz mal, era rijo, rijíssimo. E o outro que "lerpou", coitado, andava a passar cabos nos postes, não tinha cinto, despencou de trinta metros.

Os exemplos são inúmeros e saem todos os dias nos jornais. Também toda a gente finge que estas coisas não existem, ou que não são exactamente assim. Mas existem e são. A principal causa de morte em Portugal é a estupidez; mas estupidez é apenas o nome genérico da doença, a sua etiologia; doença esta que é escorada por uma cultura de ignorância pura e suportada pelo embrutecimento sistemático veiculado pelos meios de comunicação; esta maleita que afecta de forma terminal todo um povo manifesta-se através de diversas facetas, ou variantes, das quais a mais perigosa é a obsessão pela virilidade, a mania da testosterona, o tique determinista da brutalidade enquanto valor.

Em Portugal, o terror ao "parece gay" transformou-se no maior assassino em série de que há memória. Trata-se, de facto, de um "sniper" social, sempre emboscado, sempre pronto a atirar e sempre de forma absolutamente certeira e letal, com a agravante de que é um atirador sem rosto, sem corpo, sem carabina, e que sequer precisa de mira telescópica: atinge as suas vítimas no cérebro, nos hábitos, nos costumes. Nunca falha e, geralmente, mata não apenas as suas vítimas como aqueles que as rodeiam.



(*) É botas porque sandálias é gay.



P.S., a 8 de Janeiro: sobre este assunto, fala quem sabe; se bem que não retire uma linha ao que escrevi sobre a paranóia do "parecer gay", admito perfeitamente estar enganado quanto à tragédia dos pescadores; reconheço sem qualquer esforço que posso ter sido enganado pela campanha de desinformação dos (ir)responsáveis governamentais e institucionais. Tenho, de resto, alguma experiência pessoal de como os meios de socorro (não) funcionam no mar português. As minhas sentidas condolências aos familiares das vítimas.

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