Sectarismo cansado e sem futuro
Líder da Autoeuropa vetado pelo PCP para o Congresso da CGTP. António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa e militante do Bloco de Esquerda, não passou na triagem para a lista para o Conselho Nacional, a ser votada pelo congresso de 15 e 16. Controlada pelo sector mais ortodoxo do PCP, a direcção daquele sindicato excluiu o nome de Chora, quer como delegado, quer como potencial membro do Conselho Nacional. António Chora fala mesmo de "veto político" e recusou o convite para assistir ao congresso dos próximos dias 15 e 16. A Autoeuropa representa 20% dos filiados no sindicatos dos metalúrgicos, um valor que sobe para mais de metade se lhe somarmos as empresas do parque industrial de Palmela. Nenhum dos seus dirigentes conseguiu lugar nos cinco nomes do sindicato que fazem parte da lista candidata ao Conselho Nacional da CGTP.
O problema não é só António Chora ser do Bloco de Esquerda. À frente da Comissão de Trabalhadores da maior fábrica em território nacional, negociou um acordo em que aceitou trocar dias de trabalho e metas de produtividade pela garantia dos postos de trabalho e de investimento futuro na empresa. O acordo foi um sucesso e tornou-se mesmo uma referência internacional. Ninguém foi despedido e, depois de dois anos de congelamento salarial, os aumentos têm sido bem superiores à inflação. A empresa continua em Portugal e tem assegurada a produção para um par de anos, investindo mais 500 milhões de euros.
O sindicato dos metalúrgicos, e os sectores mais ortodoxos do PCP, nunca lhe perdoaram o acordo. Consideraram-no uma cedência. Ao contrário da Autoeuropa, onde sempre fizeram campanha contra a comissão de trabalhadores e contra António Chora, o seu modelo foi o que foi seguido na Opel da Azambuja. Quando a administração da GM propôs um acordo semelhante ao que vigorava em Palmela, lançaram a empresa numa série de greves inconsequentes até que, em referendo, os trabalhadores recusarem a estratégia da Comissão de Trabalhadores e aceitarem o acordo proposto pela empresa. Só que, por essa altura, alguém com maior sentido negocial já tinha aceite um acordo mais favorável à GM em Saragoça. O acordo podia não ter resultado e evitado a deslocalização da Opel, é certo, mas a casmurrice de sindicalistas que tentam combater o capitalismo globalizado do século XXI com as estratégias do século XIX, traçou inapelavelmente o destino 1200 trabalhadores.
É este o modelo sindical que não suporta exemplos como o de António Chora. Cansado e velho, acumula derrotas e acrescenta desesperança à classe trabalhadora que diz representar, enquanto continua sentado há mais de 20 anos nos gabinetes dos sindicatos. António Chora ficou de fora. Em seu lugar entrou Manuel Bravo, antigo delegado sindical da Merloni, uma empresa deslocalizada vai para mais de 3 anos. De então para cá é funcionário do sindicato dos metalúrgicos.