Obviamente, censurava-o
Se nunca leu uma crítica literária que começa por pesar o livro em análise, não perca mais tempo. O Expresso publicou no seu site a "crítica" (as aspas são minhas) ao mais recente livro de Miguel Sousa Tavares (via corta-fitas). O caso mereceu alguma atenção porque a direcção do jornal recusou a publicação deste mesmo texto no jornal, e a autora, Dóris Graça Dias, argumentava ter sido censurada pelo facto de Miguel Sousa Tavares também escrever no Expresso. O seu caso parece simpático, e propício às teorias da conspiração que tanto sucesso costumam fazer, mas não resiste a uma leitura do seu texto. É confrangedor. Nem a um aluno do 1.º ano da extinta Universidade Independente se perdoava um texto tão desconexo. Em nenhum momento se critica o livro de Miguel Sousa Tavares. Não li o "Rio das Flores", nem pretendo ler, mas não é preciso conhecer o livro para perceber que tudo o que motiva Dóris Graça Dias é a sua embirração com o sucesso editorial de Miguel Sousa Tavares. Não deixa de ser curioso, aliás, que a informação mais detalhada que nos transmite sobre a obra é a sua tiragem e peso.
Tudo o que MST disser sobre a sua própria escrita, o seu romance histórico é gratuito. Que o escreveu a pedido de muitas famílias, que passou três anos muito duros, quase dois a documentar-se e um fechado em casa a escrever, sem viajar: nada disto interessa a um leitor; nada disto interessa à literatura, diz Dóris Graça Dias. Não interessa à literatura, como não devia importar à critica literária. Que as declarações do autor, posteriores à publicação do livro, sirvam de instrumento epistemológico para a análise de uma obra literária diz mais sobre a qualidade da “critíca” do que sobre o “Rio das Flores”. O seu texto foi censurado? Sei lá. Censurável era publicá-lo.