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TIMOR NA PRIMEIRA VIAGEM DE CIRCUNAVEGAÇÃO DO PLANETA

2011, Magazine Presidencia da Republica de Timor-Leste

Pouco se fala sobre o fato de que a viagem de Magalhães, importantíssima empresa, que contribuiu para o desenvolvimento da humanidade, passou pela ilha de Timor e que nos documentos desta viagem se encontram algumas das primeiras descrições européias desta ilha.

TIMOR NA PRIMEIRA VIAGEM DE CIRCUNAVEGAÇÃO DO PLANETA Andrés del Castillo Sánchez El Colegio de México A Primeira Volta ao Mundo. Foram os navegantes portugueses, que circunavegando a África realizaram o sonho de Cristóvão Colombo: alcançar Ásia por via marítima: em 1498, Vasco de Gama chegou à Índia, em 1511 caía o porto de Malaca em mãos lusitanas e pouco tempo depois chegavam às ilhas das especiarias e a Timor. Mas esta rota não podia ser utilizada pela coroa espanhola devido aos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. O descobrimento da América não parou os desejos espanhóis de alcançar as terras asiáticas e desde o começo do século XVI a coroa espanhola intensificou os esforços para encontrar um estreito no continente americano, que permitira a passagem entre o Oceano Atlântico e o Oceano que depois se chamaria Pacífico e, viajando até o oeste, alcançar as ilhas do Maluco, as ilhas das Especiarias. Esta façanha se conseguiu em 15191522 com a primeira viagem de circunavegação do mundo organizada pelo navegante português Fernão de Magalhães, consolidado por Juan Sebastián Elcano e financiado pela coroa espanhola. Esta famosa viagem confirmou a esfericidade da Terra e abriu uma nova janela para o conhecimento do mundo. Não obstante, pouco se fala sobre o fato de que esta importantíssima empresa, que contribuiu para o desenvolvimento da humanidade, passou pela ilha de Timor e que nos documentos desta viagem se encontram algumas das primeiras descrições européias desta ilha. A façanha da circunavegação de Magalhães começou no porto de Sanlúcar de Barrameda na Espanha em 20 de setembro de 1519 e terminou com o retorno, ao mesmo porto, três anos depois, em 6 de setembro de 1522 havendo percorrido, 14,000 léguas segundo sua contas. Das 1 cinco naves, com uma tripulação de pelo menos 237 homens regressou somente uma, “A Vitoria” com somente dezoito sobreviventes a bordo entre os sobreviventes encontrava-se Antonio Pigafetta, cronista da viagem. O próprio capitão da expedição, Fernão de Magalhães, não conseguiu consolidar esta viagem e morreu assassinado em 27 de abril de 1521, em uma batalha na ilha Mactan, nas Filipinas. Muito poucos documentos originais restam daquela navegação. Desapareceram o diário e o caderno de bitácora de Magalhães, o diário do cosmógrafo Andrés de San Martin e a relação de 2 Juan Sebastian Elcano . No entanto, se há conservado os cadernos de bitácora de Francisco Albo e Leon Pancaldo, o derrotero de Ginés de Mafra, todos da nau Trinidad e sobretudo e talvez os documentos mais famosos, as descrições de Antonio Pigafetta, que em seu regresso a Espanha entrevistou-se com o Imperador Carlos V em Valladolid e lhe fez entrega de um manuscrito com a descrição da viagem composto sobre a base das notas tomadas durante a navegação. Tanto o original entregue ao imperador por Pigafetta como uma copia enviada ao Papa em Roma, desapareceram com o tempo. Um pouco mais tarde entre 1523 e 1525, Pigafetta escreveu em quatro manuscritos uma nova relação da viagem que hoje em dia se conhece como a Primeira 3 viagem ao redor do mundo . Este volume manuscrito conta com detalhe a viagem de circunavegação ao redor do mundo em 1519-22. Os textos de Pigafetta converteram-se nas mais fidedignas e quase únicas versões oficiais da expedição. Antonio Pigafetta, era um erudito veneziano nascido em Vicenza, Itália, ao redor de 1490 e que acompanhou a Magalhães como cronista da viagem. Da descrição da viagem escrita por Pigafetta sobrevivem quatro versões manuscritas: uma em italiano e três em Francês, dos quatro, a versão em Francês que pertence a Biblioteca da Universidade de Yale é o manuscrito mais completo e esplêndido quanto a sua produção, inclui 23 mapas iluminados e maravilhosamente traçados. A obra de Pigafetta é importante, não só como fonte de informação a cerca da própria viagem, como também inclui uma detalhada descrição dos povos e idiomas do Sudeste da Ásia e, entre elas, está a descrição da ilha de Timor. Esta não é a mais antiga descrição européia de Timor que se conhece, entre as mais antigas está a de Duarte Barbosa no Livro do que vi e ouvi no Oriente de 1516, mais, a de Pigafetta adquire importância por haver sido escrita no contexto da primeira viagem de circunavegação do mundo. Desde o primeiro quarto do século XVI, as referencias de Timor começam a aparecer com mais freqüência e com dados mais completos nas crônicas, nos diários de navegação e na documentação das expedições portuguesas e espanholas. Para as navegações espanholas, as primeiras menções de Timor provem da obra de Pigafetta. A expedição espanhola, depois de sua passagem por Filipinas e Molucas visitou a ilha de Timor. Segundo as crônicas da expedição, a nau Vitória partiu das Molucas em 21 de dezembro de 1521 com una tripulação que se compunha de 47 europeus e 13 indígenas, Juan Sebastián Elcano era o capitão. Rumo á ilha de Timor eles fizeram “aguada” em diversas ilhas e se provisionaram de pimenta, madeira e outras mercadorias. Chegaram a Timor em 26 de janeiro de 1522, pondo-se imediatamente Elcano em tratos com os indígenas para tratar acerca da aquisição de víveres. Não conseguiram facilmente comercializar com os timorenses, as exigências da população forçaram-lhes a usar métodos mais agressivos, 4 fazendo prisioneiro ao régulo de Balibo e seu filho e exigindo víveres em troca de sua liberdade . A nau Vitória esteve ancorada cerca de três semanas em um porto que as crônicas chamam de Batutaria, aparentemente localizada na costa norte da ilha de Timor, que pela similitude fonética e a localização geográfica relacionamos com a população de Batugade, no atual distrito de Bobonaro, outros estudos colocam este porto na costa Sul da ilha. A obra de Pigafetta faz uma descrição mais ou menos detalhada de Timor e do comercio do sândalo: Aqui se encontra o sândalo branco - só aqui-, gengibre, búfalos, porcos, cabras, galinhas, arroz, figos, cana-de-açúcar, laranjas, limões, cera, amêndoas, feijões e outras coisas, além de papagaios de diversas cores. … Pigafetta menciona como principais autoridades da ilha aos quatro irmãos reis de Suai cujas populações as identificam como Oibich (¿), Lichsana (¿), Suai e Cabanaza (Camenaça) e continua descrevendo que Oibich é a maior, em Cabanaza nos foi dito que se encontra muito ouro e se compra todas as coisas com pedaços de ouro. O sândalo chama muito a atenção do cronista que faz uma descrição de como se corta e se comercializa esta madeira preciosa e menciona como desde outras ilhas mais distantes como, Java ou Luzon (em Filipinas) chegam embarcações a Timor para intercambiar este precioso produto. Nesta outra parte -da ilha- adquirem os de Java e de Malaca todo o sândalo e toda cera. Encontramos um junco de Luzon que aqui havia vindo em busca de sândalo. Esta população são de gentios. Quando vão cortar o sândalo, lhes aparece o demônio em diversas formas, dizendo-lhes que podem pedir tudo o que quisessem, de maneira que se punham enfermos durante alguns dias. O sândalo se corta somente em determinadas fases da Lua; ja que de outra forma não estaria pronto. As melhores mercadorias para comercializar o sândalo- são: tecido vermelho, tecidos, foices, ferro e cravos. Esta ilha está toda habitada, e é muito larga do nascente ao poente, apesar de que seja curta do sul para o norte. Está situada a 10 graus de latitude meridional e a 164 graus e meio de longitude da linha de demarcação. -Tordesilhas- A ilha se chama Timor. A versão em francês da Biblioteca da Universidade de Yale possui um mapa da ilha de Timor, onde se marcam algumas populações entre elas Suai. Este é um dos mais antigos mapas europeus da ilha Timor, seu desenho está muito distante da realidade, porém, adquire muita importância por sua antiguidade. Na descrição de Pigafetta relata pela primeira vez em crônicas européias o uso do belak ou círculos metálicos (de ouro ou prata) tradicionais na vestimenta timorense. Também chama a atenção do cronista às jóias, pulseiras e objetos de joalheria que tanto homens como mulheres usam. De Timor, a expedição saiu em 11 de fevereiro de 1522 para iniciar a travessia do Oceano Índico. Em 6 de maio do mesmo ano dobravam o Cabo da Boa Esperança, na África, e, depois de muitas aventuras, chegaram com sua avariada nau ao Porto de Sanlúcar de Barrameda em 6 de setembro de 1522. Esta importante navegação, de máximo valor científico na panorâmica dos descobrimentos espanhóis e portugueses do século XVI, mostrou a rota a Timor desde as Filipinas e desde esta ilha a Europa e situou no plano da realidade o sonho colombino de laçar a Europa com a Ásia Oriental pela rota de Ocidente, comprovando de forma empírica a teoria da esfericidade da terra. Bibliografía ESTEVE BARBA Francisco, 1964 Historiografía Indiana. Madrid, Gredos. DEL CASTILLO, Andrés, 1999: “Entre Portugal e Indonesia: el surgimiento del nacionalismo en Timor Este”, en Revista Española del Pacífico Madrid, año IX, núm. 10, Asociación Española de Estudios del Pacífico. FERNANDEZ DE NAVARRETE, 1964. Colección de los viajes y descubrimientos que hicieron por mar los españoles desde fines del siglo XV, PIGAFETTA, Antonio, 1536: Primeira viagem a volta do mundo, Venecia. PIGAFETTA, Antonio, 1525 (ca). Journal of Magellan's Voyage (manuscrito original, Biblioteca da Universidade de Yale EUA). PIRES, Tome; 1515 (publicada pela primeira vez em 1944) Suma Oriental que trata do Mar Roxo até aos Chins, London, The Hakluyt Society 1 O número exato de expedicionários é discutível. Pigafetta afirma que eram “duzentos e trinta e sete” mas as listas citadas por Fernández de Navarrete incluem 239 que saíram de Sanlucar e 26 que se uniram a expedição durante sua escala nas Canárias, um total de 265. A lista de sobreviventes citada também por Fernandez de Navarrete consta de 18 homens. 2 Esteve Barba 1964 50 Relazione del primo viaggio intorno al mondo, escrita em italiano, que foi publicada em Venecia em 1536 . Yo solo fui a tierra a hablar con el jefe de una ciudad llamada Amaban para que nos diera provisiones. Me dijo que me daría búfalos, cerdos y cabras, pero no pudimos ponernos de acuerdo porque pedía demasiadas cosas por un búfalo. Nosotros, teniendo pocas cosas y atormentados por el hambre, retuvimos en el barco a un jefe de otra ciudad con su hijo. La ciudad se llamaba Balibo, y por miedo a que lo matáramos, nos dieron de inmediato seis búfalos, cinco cabras y dos cerdos, y para completar el número de diez puercos y diez cabras, nos dio un búfalo, porque así lo habíamos exigido. Luego lo regresamos a tierra contentísimo, porque llevaba tela, paños indios se seda y algodón, hachas, navajas indias, tijeras, espejos y cuchillos. 3 4