PSICOLOGIA SOCIAL
Cuidado e Artes Circenses: O circo no cotidiano de
uma instituição de saúde mental
Care and Circus Arts: The circus in the daily life of a mental
health institution
Cuidado y Artes Circenses: el circo en el cotidiano de una
institución de salud mental
Luiza Fernandes Barros*
Prefeitura Municipal de Barbacena, Barbacena, Minas Gerais, Brasil
Walter Melo**
Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ, São João del-Rei, Minas Gerais,
Brasil
RESUMO
Este artigo busca compreender algumas ressonâncias da prática de
atividades circenses no cotidiano de uma instituição de saúde mental, a
partir da inserção em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras
Drogas, serviço substitutivo à lógica manicomial, pautado na atenção
psicossocial e em ações territoriais. Nesse sentido, o trabalho parte de uma
contraposição ao modelo biomédico, estabelecendo reflexões sobre as
práticas de circo a partir das noções de cuidado, de circo social e de trabalho
vivo em ato. Os encontros circenses fundamentaram-se em técnicas de
malabarismo, acrobacia e equilibrismo, por meio dos quais foram
consolidadas relações afetivas, cooperação e cuidado mútuo. O afeto
mostrou-se como um dos pilares das atividades, pelo qual se estabeleceram
relações de trocas, de cumplicidade e de confiança, além de possibilitar
surpreendentes evoluções técnicas. O trabalho de campo, apreendido por
meio de observação participante, diários de campo, fotografias, filmagens e
entrevistas semiestruturadas, proporcionou pontuar e refletir uma série de
ressonâncias da prática de artes circenses em uma instituição de saúde
mental, sendo tratadas neste artigo: a relação risco/segurança, evolução
técnica e cuidado.
Palavras-chave: circo, cuidado, CAPS, atenção psicossocial, artes
circenses.
ABSTRACT
This article aims to understand some resonances of the practice of circus
activities in the everyday life of a mental health institution, from the
insertion in a Center for Psychosocial Care Alcohol and other Drugs, a
substitute service to the asylum logic, based on psychosocial attention and
territorial actions. In this sense, the work opposes to the biomedical model,
establishing reflections on the circus practices from the notions of care,
social circus and live work in act. The circus meetings were based on
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicologia
Rio de Janeiro
v. 19
n. 3
p. 623-643
Setembro a
Dezembro de 2019
Luiza Fernandes Barros, Walter Melo
techniques of juggling, acrobatics and balancing, through which they were
consolidated affective relationships, cooperation and mutual care. Affection
was shown as one of the pillars of the activities, through which relations of
exchange, complicity and trust were established, as well as making possible
technical evolutions. Fieldwork, seized through participant observation, field
journals, photographs, filming and semi-structured interviews, provided a
point of reference and reflection of a series of resonances of the practice of
circus arts in a mental health institution, being dealt with in this article: the
risk/safety relationship, technical evolution and care.
Keywords: circus, care, CAPS, psychosocial attention, circus arts.
RESUMEN
Este artículo busca comprender algunas resonancias de la práctica de
actividades circenses en el cotidiano de una institución de salud mental, a
partir de la inserción en un Centro de Atención Psicosocial Alcohol y otras
Drogas, servicio sustitutivo a la lógica manicomial, pautado en la atención
psicosocial y en acciones territoriales. En ese sentido, el trabajo parte dese
efectúa una contraposición al modelo biomédico, estableciendo reflexiones
sobre las prácticas de circo a partir de las nociones de cuidado, de circo
social y de trabajo vivo en acto. Los encuentros circenses se fundamentaron
en técnicas de malabarismo, acrobacia y equilibrismo, a través de los cuales
se consolidaron relaciones afectivas, cooperación y cuidado mutuo. El afecto
se mostró como uno de los pilares de las actividades, por el cual se
establecieron relaciones de intercambio, de complicidad y de confianza,
además de posibilitar sorprendentes evoluciones técnicas. El trabajo de
campo, incautado por medio de observación participante, diarios de campo,
fotografías, filmaciones y entrevistas semiestructuradas, proporcionó
puntuar y reflejar una serie de resonancias de la práctica de artes circenses
en una institución de salud mental, siendo tratadas en este artículo: la
relación riesgo/seguridad, evolución técnica y cuidado.
Palabras clave: circo, cuidado, CAPS, atención psicosocial, artes circenses.
O campo da saúde mental se apresenta como um processo social
complexo, caracterizado pela interação, convergente ou divergente,
entre quatro dimensões: jurídico-política, técnico-assistencial,
teórico-conceitual e sociocultural. A dimensão jurídico-política está
consolidada a partir da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS),
instituída pela Portaria n. 3.088 (2011), da Lei n. 10216 (2001) e da
Portaria n. 336 (2002), coerentes com a Constituição Federal (Brasil,
1988) e com a Lei n. 8080 (1990): “Trata-se de uma luta pela
inclusão de novos sujeitos de direito e novos direitos para os sujeitos
em sofrimento mental” (Amarante, 2007, p. 70). A dimensão técnicoassistencial inscreve o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) como
dispositivo privilegiado de ações territoriais, organizadas por equipe
interdisciplinar, destinadas ao acolhimento, cuidado, trocas sociais e
produção de subjetividade. A dimensão teórico-conceitual produz
uma inflexão, abandonando as noções de degenerescência e
periculosidade, passando a trabalhar a partir dos conceitos de
território, atenção psicossocial, cidadania e cuidado. A dimensão
sociocultural instaura um diálogo permanente com a sociedade,
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Luiza Fernandes Barros, Walter Melo
através de ações pautadas na arte, na economia solidária,
informação, debates, estudos, tendo como ponto de partida a
produção cultural e artística dos usuários, familiares e técnicos, a fim
de refletir sobre a loucura, sobre os hospitais psiquiátricos e a saúde
mental (Amarante, 2007).
Apesar de dialogar com as quatro dimensões, este trabalho possui
ênfase nesta última, a dimensão sociocultural, na medida em que
parte de uma ação que envolve a própria construção cultural dos
atores sociais envolvidos no processo de saúde, por meio de práticas
circenses. Nesta dimensão, a atuação proposta compreende-se na
esfera da arte, implicada em uma transformação cultural.
A relação entre as artes e o campo da saúde mental tem se mostrado
como uma das principais características da dimensão sociocultural da
Reforma Psiquiátrica brasileira (RPb) (Melo & Ferreira, 2011), tendo
Nise da Silveira (1981, 1992) como importante ator social (Melo,
2001, 2005; Mello, 2014). Nesse sentido, podemos destacar os
trabalhos que Nise da Silveira desenvolveu em diálogo com diversos
artistas: com Leon Hirszman no cinema (Avellar, 2001, 2011; Melo,
2010a), com Rubens Corrêa no teatro (Melo, 2010b) e com os
artistas concretos nas artes plásticas (Melo, 2011). Seguindo essa
tradição, diversos trabalhos foram desenvolvidos no âmbito da RPb,
dentre os quais: os grupos de teatro Os Nômades, do Espaço Artaud
(Melo, 2012; Sá, 2010, 2011), Pirei na Cenna, vinculado ao Centro de
Teatro do Oprimido (CTO) (Conceição, 2010) e Sapos e Afogados
(Oliveira, Melo, & Vieira-Silva, 2017), o grupo musical Harmonia
Enlouquece (Dantas, 2010, 2016), o bloco carnavalesco Tá Pirando,
Pirado, Pirou (Xisto 2009, 2011, 2012), o desfile do 18 de maio em
Belo Horizonte (Moura, 2011; Moura & Passos, 2012), o grupo de
ações poéticas Sistema Nervoso Alterado (Wanderley, 2011), dentre
outros.
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a inserção das
artes circenses no campo da saúde mental, a partir da compreensão
de algumas ressonâncias da prática do circo no cotidiano de um
Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS ad). A
inclusão de atividades circenses em instituições de saúde mental
dialoga diretamente com os preceitos da RPb, tendo como
parâmetros a atenção psicossocial (Amarante, 2007), a produção de
saúde e os processos de cuidado (Merhy, 1998; Merhy & Franco,
2003).
Por se tratar de uma manifestação da cultura corporal, o circo
permite construir uma rica variedade de movimentações, desde
formas bem simples até as mais complexas, além de apresentar
grandes contribuições no que diz respeito aos domínios cognitivo,
motor, afetivo/emocional e social (Santos, Belluci, Fajtlowicz, &
Bechara, 2012). Cognitivo no que se refere ao desenvolvimento da
atenção, concentração, raciocínio, imaginação, memorização e
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percepção. Motor, pois são atividades que contribuem para o ganho
de tônus muscular e hábitos posturais, além da melhoria das
capacidades físicas (flexibilidade muscular, mobilidade articular,
potência, etc). Emocional, pois as técnicas circenses desenvolvem
aspectos como coragem, ousadia, determinação, autodomínio,
autoconfiança e perseverança. E social, pois são práticas que
implicam relações pautadas na responsabilidade, iniciativa, disciplina,
respeito, cooperação, auxílio mútuo e espírito crítico.
Nesse sentido, além de trabalhar vários aspectos corporais, o circo
permite acessar e construir uma série de formas de se relacionar com
o próprio corpo, com o corpo do outro, com objetos e aparelhos. Para
além de uma atividade com caráter esportivo, o circo é uma arte,
uma expressão humana, um meio para criação, para acesso à magia,
ao fantástico, ao novo: “Isso ocorre porque as manifestações da
cultura corporal circense propiciam ao corpo experimentar uma rede
de signos (liberdade, desafio, aventura) a partir da vivência das
diversas sensações (medo, suspense e alegria)” (Santos et al., 2012,
p. 82).
Os estudos sobre circo no campo da saúde mental são relativamente
novos e ainda pouco documentados. Assim, temos trabalhos que as
abordam no âmbito da saúde e da educação inclusivas (Silva, 2012)
e, diretamente relacionadas ao campo da saúde mental, temos
pesquisas referentes à arte da palhaçaria (Assis, 2010; Barboza,
2016; Gómez, 2017). A inclusão de doutores palhaços em ambientes
de tratamentos se caracteriza como a principal marca da relação
saúde/circo.
Além do emblemático Dr. Hunter Doherty “Patch” Adams, médico
norte-americano, que atua desde 1972, constata-se historicamente a
presença de outros palhaços nos hospitais. Segundo Castro (2005),
Michael Christensen, diretor do Big Apple Circus de Nova York,
apresentou-se em um hospital em 1986 e, ao saber sobre as crianças
internas que não puderam assistir sua apresentação, foi de leito em
leito improvisando sobre a realidade do hospital e seus pequenos
pacientes. Estava criada a semente do projeto Clown Care Unit. O
brasileiro Wellington Nogueira participou do grupo de 1988 a 1991 e,
quando retornou ao Brasil, criou os Doutores da Alegria.
A presente proposta difere dessas perspectivas em três aspectos: (1)
o público-alvo é, exclusivamente, de um serviço de saúde mental
(CAPS ad de um município do interior de Minas Gerais); (2) as
atividades circenses são praticadas pelos usuários e funcionários da
instituição; (3) não está fundamentada na técnica do palhaço, mas
em práticas de acrobacia, malabarismo e equilibrismo. A escolha por
essas modalidades se deu pelo fato de, tradicionalmente, elas serem
consideradas disciplinas básicas para o aprendizado circense. Básicas
no sentido de dar base, pois permitem o treinamento do equilíbrio,
ganho de força, flexibilidade, consciência de corpo e movimento,
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coordenação motora, noção de giro, entre outros aspectos
importantes para o desenvolvimento das artes circenses. Na Escola
Nacional de Circo (ENC), por exemplo, essas modalidades são
exigidas a todos os alunos, que somente após cumpri-las terão
possibilidade de montar sua grade com outras disciplinas (Santos,
2016).
As atividades no CAPS ad foram propostas de maneira livre, ou seja,
a participação não foi obrigatória, e ocorreram de 12 de junho a 20
de setembro de 2017, duas vezes por semana, totalizando 27
práticas circenses em 100 dias. Posteriormente, foram realizadas 12
entrevistas, sendo sete com usuários e cinco com profissionais da
instituição, sobre as percepções que tiveram em relação às atividades
e suas possíveis ressonâncias. Além disso, foram efetuadas
observações do cotidiano da instituição, materializadas no diário de
campo, e as atividades circenses foram fotografadas e filmadas.
Assim, o corpus da pesquisa foi configurado e cada procedimento
metodológico proporcionou o acesso a importantes elementos de
análise.
Após o período de práticas circenses e concluídas as entrevistas, o
material foi organizado em categorias e analisado a partir da
hermenêutica (Gadamer, 2002), criando condições para a implicação
dos pesquisadores durante o trabalho de campo, mas também na
interpretação do material, levando em consideração as perspectivas e
pré-conceitos de pesquisadores e participantes. Assim, ao lidarmos
com os dados e com os afetos, percebemos a repetição de
determinados aspectos, evidenciados nas falas, observações e
convivência. Dessa maneira, foram criadas oito categorias a partir
das ressonâncias que as atividades circenses produziram nos
frequentadores – profissionais e usuários – do CAPS ad, sendo elas:
(1) relação risco/segurança, (2) evolução técnica, (3) cuidado, (4)
implicação no tratamento, (5) quebra de estigmas, (6) “agora eu não
uso droga, eu uso patins, perna de pau”, (7) reconhecimento do lugar
das oficinas no serviço de saúde mental e (8) aspectos corporais.
Cabe ressaltar que todas essas categorias estão intimamente
relacionadas. Neste artigo, abordaremos os três aspectos iniciais: a
relação risco/segurança, a evolução técnica e o cuidado. Esses
aspectos serão analisados a partir das noções de cuidado (Merhy,
1997; Merhy & Franco, 2003), de circo social (Cassoli, 2006; Gallo,
2010a, 2010b; Lafortune & Bouchard, 2011) e de trabalho vivo em
ato (Merhy, 1997, 2014; Merhy & Franco, 2003), concebidos,
respectivamente, como conceito de observação direta, conceito de
observação indireta e conceito teórico (Minayo, 2007).
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A Relação Risco/Segurança
Nas mais de 1500 horas de curso na ENC, além das aulas
diretamente relacionadas às atividades circenses, são enfatizados os
ensinamentos para que sejam aprimorados os aspectos de segurança
(Santos, 2016). Para tal, foi realizado, dentre outras atividades, o
curso NR-35: Prevenção de Acidentes e Sistemas de Proteção contra
Quedas para os Trabalhos em Altura, ministrado por uma empresa
especializada. Mais do que o aprendizado, cria-se uma cultura de
segurança. Esse princípio básico da vida circense foi levado para as
atividades no CAPS ad.
A novidade sobre pesquisas relacionadas às atividades circenses criou
alguns receios na comunidade acadêmica, com temores sobre os
riscos apresentados aos usuários do CAPS ad. Dessa maneira, o
termo cuidado estava ligado, inicialmente, a dois aspectos negativos:
receio, na universidade; e perigo, para o CAPS ad. Ambos,
inadequados à RPb. Assim, a vida fica restrita, pois qualquer ação do
usuário pode ser considerada de risco para si ou para os outros. Ao
enfatizarmos a cultura de segurança, contraposta ao receio e ao
perigo, possibilitamos o debate sobre a noção de cuidado na
universidade, na Secretaria Municipal de Saúde e no CAPS ad. Dessa
maneira, uma proposta de trabalho foi elaborada e o projeto foi
aprovado na Comissão de Ética com Pesquisas Envolvendo Seres
Humanos, sob o protocolo nº 78900017.4.0000.5151.
Durante a execução das atividades circenses no CAPS ad, as
acrobacias na segunda altura sempre impressionaram tanto os
profissionais de saúde quanto os usuários. Várias vezes eram feitos
comentários que perpassavam a questão da confiança, o grau de
responsabilidade e as várias maneiras de tocar o corpo do outro:
Eu vi que pessoas que sempre se comunicaram destes
desconhecimentos em termos institucionais, que via até os
usuários com esse corpo fragilizado, de uma forma bem
recortada, se surpreenderem também positivamente nesse
sentido, de falar assim: “Cê viu fulano, está subindo em cima
daquela menina, meu Deus, ela é doida” (...) a atividade
conseguiu de alguma forma desconstruir esses discursos, essas
percepções do sujeito limitado (Referência Técnica, 2017).
E o F gente? Ninguém dá nada pelo F. Ele super inteligente.
Tinha hora que eu ficava com medo. Meu Deus do céu, a L
[pesquisadora] é doida. As coisas que você fazia com ele, se
entregava, na confiança... com o F (Usuário do Serviço, 2017).
Através de cuidados mútuos, pesquisadores, usuários e funcionários
possibilitaram novas significações para o cuidado em saúde. O termo
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cuidar passa a ser relacionado com fazer segurança de maneira
mútua: auxiliando na movimentação; na prontidão para atuar de
forma pontual e efetiva, se for necessário; garantindo a integridade
física de todos através da cooperação e não pelo receio ou pelo
perigo. Para tanto, a cultura circense foi fundamental. Esse cuidado
compartilhado envolve, necessariamente, a responsabilidade de
cuidar dos outros e se deixar cuidar por eles. Cuidar do outro no circo
é imprescindível, não se faz circo sozinho, é regra de segurança e
também uma necessidade. Essa noção foi apresentada desde o
primeiro dia de atividades e, juntos, formamos uma rede de
segurança. Na imagem (Figura 1) da segunda altura temos, atrás da
figura acrobática, o posicionamento de quem cuida.
Figura 1. Segunda altura
As atividades circenses desenvolvidas respeitaram as características e
interesses individuais, o que implicou em constante reformulação da
metodologia e dos exercícios propostos. E, mesmo não visando um
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ideal técnico a ser alcançado, é inegável que ocorreu, de maneira
surpreendente, uma grande evolução entre os participantes. As
atividades circenses foram desenvolvidas progressivamente a partir
de técnicas educativas e das particularidades individuais. Nesse
sentido, durante os três meses de trabalho, os vínculos afetivos
(Silveira, 1981, 1992) foram ampliados, criando as condições
necessárias para o aprendizado e a colaboração.
Escutar as histórias de vida foi extremamente importante nesse
processo de integração entre os participantes. E, apesar de as
equipes de saúde muitas vezes negligenciarem os aspectos laborais,
evidenciando uma dificuldade de integração entre os movimentos de
saúde mental e de saúde do trabalhador (Bernardo & Garbin, 2011),
consideramos que esses são aspectos fundamentais nas histórias de
vida, tanto para as possíveis correlações com o adoecimento psíquico
quanto para as potencialidades no tratamento e, em nosso caso,
também para as atividades circenses. Assim, os relatos sobre as
funções de pedreiro, serventes, adestrador de cavalos, servidor
público, ex-militar, dona de casa, auxiliar de serviços gerais,
vendedora, oficineiro, artesão, motorista de caminhão e operador de
guincho ganharam espaço e auxiliaram no reconhecimento de cada
participante e no modo como cada um se apropria das atividades
propostas. Outro fator levado em consideração para a organização
das atividades foi a diferença de idade, entre 25 e 70 anos.
Além da diferença etária, outros fatores apontam para a necessidade
de se ter consciência sobre os próprios limites. Assim, desde o início,
enfatizamos a importância de todos informarem as lesões que tinham
sofrido ao longo da vida, bem como dores e incômodos atuais. Assim,
ficamos sabendo que vários participantes apresentavam problemas
físicos (na coluna, no joelho, no tornozelo e no punho). Tendo
consciência sobre os limites e as dificuldades, é possível saber
quando é necessário parar e por onde é possível transitar sem danos.
No sexto diário de campo, fizemos as seguintes observações sobre as
condições físicas de alguns participantes:
(...) segundo os discursos ouvidos nestes seis encontros, os
usuários possuem os mais diversos comprometimentos
corporais, em função de acidentes variados, muitos envolvendo
o uso abusivo de substâncias, outros não. Noutro dia D falou
que havia caído de uma barragem com uns 30 metros, ficando
mais de seis meses sem andar. V quebrou a tíbia e a fíbula em
um acidente de moto, além de ter pino nos punhos e a patela
quebrada. P caiu de 40 metros em uma escalada devido a uma
falha técnica e teve sérios comprometimentos. Em outro
momento pulou da janela de um apartamento quando fora
trancado. T rompeu os ligamentos e tendões da mão, não
conseguindo mais dobrar alguns dedos, e constantemente tem
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as pernas, braços e cabeça machucados em virtude das brigas
(Diário de Campo, 2017).
Essas informações são extremamente importantes para a criação de
metodologias próprias para cada participante, pautadas no respeito
pelas diferenças, na possibilidade de autonomia e no cuidado que
permeia a cultura circense. Esse respeito pelas diferenças individuais
e pelos limites apresentados por cada um foi um dos aspectos que
proporcionou o envolvimento de vários participantes nas práticas
circenses.
Os encontros de acrobacia, malabarismo e equilibrismo se
concretizaram a partir da participação tanto de usuários quanto de
funcionários da instituição. O serviço possui um público rotativo, que
se altera bastante com o passar dos dias. Conforme as características
da instituição, as atividades de circo, no decorrer dos 100 dias,
também tiveram um público com bastante rotatividade, foram
aproximadamente 40 participantes, sendo que 22 consentiram em
colaborar com a pesquisa. Durante as 27 práticas circenses houve
variação em relação à frequência dos participantes. Alguns estiveram
envolvidos com as atividades do início ao fim. Teve também quem
decidiu voltar pra sua terra natal, quem foi tentar novos rumos para
a vida em outra cidade. Aqueles que tiveram alta durante o processo
e voltaram a trabalhar; aqueles que chegaram à instituição no meio
ou perto do encerramento das práticas; teve quem foi preso; quem
foi internado; quem recaiu e ainda não tinha voltado. Todos eles, que
definitivamente não se traduzem nesses aspectos explicitados,
possuem singular importância, afinal de contas, juntos fizemos um
laço.
Além dos usuários do serviço, alguns funcionários da instituição se
envolveram com as atividades. O vigia (segurança) esteve presente
de forma mais efetiva, mostrando grande interesse e potencial.
Participaram, também, de maneira mais pontual, a psicóloga, a
técnica administrativa e a gerente. Todas com sorriso no rosto,
saindo de sua zona de conforto. Para proporcionar um amplo leque de
possibilidades de participação, as atividades circenses oferecidas
foram bem variadas: acrobacia (de solo e coletiva), malabarismo
(bolas, claves, argolas, devilstick e bambolê) e equilibrismo
(slackline, rola-rola, latão, perna de pau e monociclo):
Você viu, tem pessoa debilitada aqui ó, que participou da aula
de circo. Eu mesmo vi e presenciei, é uma coisa pra todo
mundo, é pra todo mundo. Não tem esse ou aquele. Cê viu,
tinha uns limitados ali, que mesmo assim tinha coisa pra eles,
nem que seja jogar a bola pra cima (Usuário do Serviço, 2017).
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(...) eu acho que foi super tranquilo, porque tinha atividade pra
todo mundo, não era ‘isso aqui só vai abranger algumas
pessoas’. Tinha o que cada uma pessoa conseguia se adaptar
ali e tinha pra cada um (Referência Técnica, 2017).
Figura 2. Improviso sobre a bola de equilíbrio e, ao fundo, slackline
Essas observações apontam para a extensão das atividades circenses
para além do espaço tradicional do circo, caracterizando o circo social
como uma ramificação que enveredou pelo ensino das atividades
para grupos em vulnerabilidade. A metodologia pedagógica do circo
social foi utilizada por diversos programas ao redor do mundo, como,
por exemplo: (1) Women’s Circus– criado em 1986, na Austrália, com
aulas para mulheres vítimas de agressões sexuais; (2) Circus in
Ethiopia – criado em 1991 como ferramenta para prevenir a infecção
pelo vírus HIV; (3) Cirque du Monde – criado em 1993, em
Quebec/Canadá, pelo Cirque du Soleil, promovendo atividades
circenses para jovens de classes populares; e (4), no Brasil, a partir
da criação das primeiras escolas de circo na década de 1970,
surgiram projetos sociais como ferramenta pedagógica de valorização
dos diferentes saberes dos educandos, principalmente crianças e
adolescentes em situações de vulnerabilidade (Lafortune & Bouchard,
2011). Sobre as práticas de circo social no Brasil, afirma Gallo
(2010b):
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O circo social atua predominantemente com base nas teorias de
Paulo Freire, especialmente no que diz respeito à Pedagogia do
Oprimido.
Este
arcabouço
teórico
permite
aos
instrutores/educadores interagirem, no próprio trabalho, com o
conceito das diferenças, sejam elas de gênero, etnia ou
culturais; diferenças entre educadores e atendidos ou entre
projetos e contextos de atuação (p. 28).
O circo social se constitui, portanto, como um caminho para atingir
outros objetivos, considerados de relevância social, como a saúde
(Lafortune & Bouchard, 2011). Mas, se as atividades circenses
desenvolvidas no CAPS ad se aproximam em alguns aspectos da
concepção de circo social, não podemos deixar de levar em
consideração as críticas tecidas por Cassoli (2006) sobre o “caráter
específico de suas práticas: a filantropia” (p. 26). Dessa maneira, o
circo se alia a práticas filantrópicas como maneira de criar novas
tecnologias de intervenção social, atendendo ao público que,
historicamente, recebeu caridosos auxílios da Igreja e de instituições
médicas. As propostas de circo social, segundo o autor, podem
provocar, portanto, modos de produzir disciplina, em busca do ser
humano correto e/ou curado.
As atividades circenses que desenvolvemos no CAPS ad seguem
posição contrária à proposta normatizadora, presente em muitas de
nossas instituições de saúde, notadamente de saúde mental. Vale
ressaltar que, no momento em que apontamos algumas semelhanças
entre a nossa proposta e a noção de circo social, não almejamos
nenhum padrão de normalidade e nem mesmo estabelecemos,
simplesmente, uma transposição do circo social para a realidade dos
serviços de saúde mental. A proposta de circo social serve-nos,
apenas, de parâmetro e como possibilidade de reflexão sobre as
práticas circenses no campo social, como é o nosso caso. Dessa
maneira, podemos estabelecer o contexto para a criação de novas
práticas e concepções de cuidado no campo da saúde mental,
inseridas no movimento de RPb.
Observamos que as práticas de cuidado em saúde podem estar sob a
égide do receio e do temor, produzindo submissão. Assim, o usuário
de um serviço de saúde mental passa a ser visto como perigoso para
si e para os outros, sendo tutelado e suas ações cerceadas. Mas, se
inserirmos a noção de cuidado na perspectiva da RPb, passamos a ter
percepções diferentes – ético-filosófica, técnica-instrumental e
política –, voltadas para a emancipação do sujeito e para a
humanização das práticas assistenciais (Ballarin, Carvalho, &
Ferigato, 2010).
Nesse sentido, podemos dizer que a inclusão das atividades circenses
em instituições de saúde mental dialoga com os princípios propostos
pela Política Nacional de Humanização – PNH (Brasil, 2003) que,
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 623-643, 2019.
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Luiza Fernandes Barros, Walter Melo
através de um conjunto de estratégias, busca alcançar a qualificação
da atenção e da gestão no Sistema Único de Saúde (SUS). Logo, a
proposta da PNH abre espaço para a construção de saberes
interdisciplinares, fundamentais para o desenvolvimento de
atividades que se colocam nas regiões de fronteiras entre arte e
saúde mental (Melo, 2010b) ou entre saúde e cultura (Melo, 2012).
Em todos os dias de atividades chegávamos ao CAPS com os
materiais necessários: equipamento de som, de foto/filmagem,
computador, bolinhas, claves, argolas, bambolê, slackline, rola-rola,
perna de pau. Além disso, alguns equipamentos ficavam guardados
no almoxarifado do CAPS: cesto de bolas, latão, devilstik, outro rolarola e colchonetes. De maneira contrária à submissão aos
tratamentos disciplinares, pautados pelo modelo biomédico (Capra,
1982), as atividades circenses propiciaram, pouco a pouco,
movimentos de emancipação. Em diversas ocasiões, enquanto os
materiais de trabalho ainda estavam sendo levados para dentro do
CAPS, o equipamento de som já estava montado, o slackline estava
sendo armado e o treinamento havia começado. Esse cuidado com os
materiais de trabalho e com a organização das atividades se estendia
para o cuidado com a execução das atividades e para a colaboração
com o outro, principalmente no aprimoramento das técnicas circenses
e no fazer a segurança para o outro. Havia, portanto, envolvimento,
autonomia e cooperação:
Se a razão existente aí estiver centrada no ‘trabalho vivo’, é
indicador que a relação entre trabalhador e usuário, para a
produção da saúde, se dá sob parâmetros de implicação mútua,
no reconhecimento que ali há o encontro de sujeitos que têm
juntos protagonismos na produção da saúde e, sobretudo,
estão
presentes
diretrizes
de
intervenção/relação
de
acolhimento, estabelecimento de vínculo e responsabilização
(Merhy & Franco, 2003, p. 316).
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Figura 3. Torre
Segundo Merhy (1997, 1998, 2014), o trabalho vivo em ato se
estabelece em processos de relações (tecnologias leves). Entende-se
que todo profissional de saúde é um operador do cuidado e que, ao
atuar pela perspectivadas tecnologias leves, pode produzir relações
de acolhimento, responsabilização e vínculo. Assim, é estabelecido
um trabalho que vai além do cumprimento de procedimentos
padrões, que se constrói na relação com o usuário, tendo este como
protagonista.
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 623-643, 2019.
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Luiza Fernandes Barros, Walter Melo
Notou-se que havia uma implicação mútua, de responsabilização e
autonomia nas atividades que poderiam estar associadas à noção de
trabalho vivo. Um movimento de produção de saúde estabelecido
pelo encontro com o sujeito, relacionado ao campo das tecnologias
leves (Merhy, 1998; Merhy & Franco, 2003). A dimensão do afeto
mostrou-se como um dos pilares das atividades, pelo qual se
estabeleceram relações de trocas, de cumplicidade, de confiança. Os
laços estabelecidos possibilitaram realizar um trabalho de campo que
ultrapassou seu objetivo principal de praticar atividades circenses,
abrangendo várias dimensões do sujeito, da sua relação com o uso
de substâncias, com seu próprio corpo, com o tratamento, abordando
temas como redução de danos, medicação, trabalho, família,
psicoterapia, estruturação do serviço, entre outros.
Eu me identifiquei mais foi com a acrobacia, achei mais
interessante, acho mais legal. Você trabalha ter um equilíbrio
ali, fortalecimento do corpo. Pra mim trabalha muito mais o
corpo que qualquer outro exercício. O malabarismo ‘cê’
trabalha muito coordenação motora (...). E fisicamente eu
acabei criando um pouco mais de resistência, eu tava
justamente parado mesmo. Foi um exercício né? Você sai um
pouco do sedentarismo, e isso pra mim foi muito bacana, eu
senti diferença no meu corpo (Usuário do Serviço, 2017).
Pra ser sincero ela me deu até mais força pra continuar meu
tratamento. Porque eu tava pensando até em desistir mesmo.
Juntou um monte de coisa né? Eu tinha parado de usar droga,
mas pra mim ainda estava usando droga, porque eu tô inútil
ainda. Me sinto uma pessoa inútil. Apesar dos pesares, eu ter
feito algumas coisas lá em casa, tá ajudando meu pai... mas
me sinto meio inútil. No financeiro, porque infelizmente a gente
tá numa sociedade que cobra a gente, e isso querendo ou não
eu não tenho como escapar (...). E aqui me ajudou também, eu
vi que eu era um pouco capaz de fazer as coisas, a acrobacia.
Eu tava me sentindo bem zero mesmo, sair de uma vida
agitada (...) do nada parei tudo. Tudo na minha vida parou. Aí
eu coloquei na balança: o que é melhor? Eu com droga ou eu
sem droga? Porque pra mim não tava tendo muito motivo deu
ter parado não, muito ganho não. Aí eu comecei a colocar na
balança e aí logo você chegou, trazendo essa oportunidade pra
gente e eu aceitei bem, né? Eu me entreguei mesmo para essa
parte aí e pra mim foi maravilhoso. Me envolvi, e toda segunda
e quarta eu fazia questão de tá aqui, porque não é sempre que
eu consigo vim (Usuário do Serviço, 2017).
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Luiza Fernandes Barros, Walter Melo
Considerações Finais
O percurso desenvolvido busca compreender algumas ressonâncias
da inserção da prática de atividades circenses em um serviço
substitutivo à lógica manicomial, pautado na atenção psicossocial e
em ações territoriais, sendo elas: a relação risco/segurança, evolução
técnica e cuidado. Nesse sentido, contrapõe-se ao modelo biomédico,
estabelecendo reflexões sobre a noção de cuidado a partir de
tecnologias relacionais, evidenciando o trabalho vivo em ato. A base
das atividades circenses realizadas no CAPS ad encontra-se,
portanto, além das técnicas de circo, nas relações afetivas, na
cooperação e no cuidado mútuo. O afeto mostrou-se como um dos
pilares das atividades, pelo qual se estabeleceram relações de trocas,
de cumplicidade e de confiança, além de possibilitar surpreendentes
evoluções técnicas.
A cultura da segurança é um dos elementos fundamentais para a
organização de atividades circenses e nos fez refletir sobre o quanto
o circo pode ensinar às instituições de saúde mental, nas quais
cuidado, muitas vezes, se confunde com receio e temor. Assim, o
cuidado mútuo, presente nas atividades circenses, possibilita
processos de autonomia, de emancipação e de autocuidado,
contrapostos à tutela e à falta de liberdade que pautam o cotidiano
de muitos usuários de serviços de saúde mental.
Figura 4. O ‘Lançamento’, tradicional nos encontros de circo, no
encerramento das Práticas Circenses no CAPS ad.
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 623-643, 2019.
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Luiza Fernandes Barros, Walter Melo
No circo, fazer a segurança está diretamente relacionado aos atos de
cuidado com a integridade do outro, estipulando um cuidado
compartilhado. Nesse caso, quem cumpre o papel de segurança –
função ora exercida por um ora por outro – atuará de acordo com as
necessidades para auxiliar no desdobramento da tarefa, diminuindo o
risco e servindo de base para as conquistas do outro. Nesse sentido,
além da participação de usuários e de profissionais da saúde nas
atividades circenses, foi muito significativa a participação do vigia
(segurança) da instituição. Inicialmente acostumado ao cuidado e à
segurança relacionados aos atos de vigiar, controlar e conter, o
segurança colaborou para a construção de novos significados para a
noção de cuidado.
Algumas limitações e desdobramentos podem ser pensados a partir
do trabalho. O estudo apresenta restrições no que se refere à
replicabilidade das atividades, uma vez que exige do profissional o
domínio das técnicas circenses para realização das práticas e criação
de metodologias individuais. Por ser uma atividade temporária,
mesmo que anunciada, constatou-se certa ruptura no cotidiano do
serviço, sendo verbalizado por integrantes da instituição o desejo de
continuidade das práticas. O fato de se ter acesso a pouco material
bibliográfico e a outras experiências documentadas academicamente
destaca a importância de se produzir teoricamente e construir
diálogos sobre o entrelaçamento das artes circenses e a saúde
mental.
Ressalta-se aqui a importância da manutenção e construção de
propostas de tratamento que se fundamentam no cuidado em
liberdade, no afeto, na relação, na autonomia, sendo inadmissível o
isolamento, abusos físicos, mentais e medicamentosos enquanto
estratégia para lidar e tratar sujeitos em sofrimento psíquico e/ou
que fazem uso abusivo de substâncias. Nesse sentido, compreendese que este trabalho encontra-se alinhado com a Luta Antimanicomial
e com a Reforma Psiquiátrica, por ter em sua base um exercício
pedagógico centrado na potência da liberdade, construído no
encontro, na relação que se estabelece com o sujeito, para além da
realização da técnica circense em si. Uma proposta que não pretende
se estabelecer aqui enquanto uma forma de tratamento, um modelo,
mas que apresenta a maneira como as artes circenses, atreladas aos
aspectos citados neste estudo, se mostraram como uma possibilidade
de atuação em uma instituição de saúde mental, perpassando a
dimensão do cuidado, da produção de saúde, do vínculo, provocando
também rupturas no meio acadêmico e no serviço em questão.
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Endereço para correspondência
Luiza Fernandes Barros
Universidade Federal de São João del-Rei
Departamento de Psicologia
Rua Padre João Pimentel, 80, Dom Bosco, CEP 36301-158, São João Del Rei - MG,
Brasil
Endereço eletrônico:
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Walter Melo
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Departamento de Psicologia
Rua Padre João Pimentel, 80, Dom Bosco, CEP 36301-158, São João Del Rei - MG,
Brasil
Endereço eletrônico:
[email protected]
Recebido em: 06/03/2019
Reformulado em: 24/06/2019
Aceito em: 16/08/2019
Notas
* Psicóloga no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil de Barbacena/MG;
Mestre em Psicologia pela UFSJ; Formada pela Escola Nacional de Circo.
** Coordenador do Núcleo de Estudo Pesquisa e Intervenção em Saúde
(NEPIS/UFSJ); Doutor em Psicologia Social pela UERJ; e Pós-Doutorado pela
Sorbonne.
Financiamento: CAPES (bolsa de mestrado concedida à primeira autora)
Este artigo de revista Estudos e Pesquisas em Psicologia é licenciado sob uma
Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial 3.0 Não Adaptada.
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