Pesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
abaceae) em Eqüídeos no
Int o
xi cação por Cr ot alar i a r et usa (F
(Fabaceae)
oxi
sem i -ár i do da P
ar aíba1
Par
Verônica Medeiros da Trindade Nobre2, Franklin Riet -Correa2, José Maria Barbosa
Filho 3, Ant onio Flávio Medeiros Dant as2, Ivon Macedo Tabosa2 e Jackson Silva
Vasconcelos2
ABSTRACT
.- Nobre V.M.T., Riet -Correa F., Barbosa Filho J.M., Dant as A.F.M., Tabosa I.M. &
ABSTRACT.Poi soni ng by Cr ot alar i a r et usa (F
abaceae) i n Equi dae i n t he sem i ar i d
Vasconcelos J.S. 2004. [P
(Fabaceae)
r egi on of P
ar aíba.
Par
aíba.] Int oxicação por Crot alari a ret usa (Fabaceae) em Eqüídeos no semi-árido
da Par aíba. Pesqui sa Vet er i nár i a Br asi l ei r a 24(3):132-143. Dept o Cl íni cas Vet er i nár i as,
Un i ver si d ad e Fed er al d e Cam p i n a Gr an d e, Pat o s, PB 58700-000, Br azi l . E-m ai l :
verônica.nobre@ uol.com.br
From 2000 t o 2003 eight cases of poisoning by Crotalaria retusa L. were obser ved in horses
on 8 farms in t he semiarid region of Paraíba and Ceará. C. retusa was found in all farms. The
m ai n cl i ni cal si gns w er e char act er i st i c of hepat i c encephal opat hy, w i t h dul l ness or
hyperexcit abilit y, head pressing, compulsive walking or circling and, occasionally, violent
uncont rollable galloping. Decreased cranial ner ve reflexes, at axia and weakness were also
obser ved. Ot her clinical signs were anorexia, weight loss, phot osensit izat ion and jaundice.
The clinical manifest at ion period varied from 4 t o 40 days, but most horses had a previous
hist or y of weight loss. At necropsy t he livers were hard, wit h irregular sur face and whit e
areas mixed wit h dark red areas and increased lobular pat t ern. Mild jaundice, ascit is,
hydropericardium and hydrot horax were also obser ved. Edema and moderat e congest ion
were seen in t he lungs. Hist ologic changes of t he liver were charact erized by fibrosis, mainly
periport al, megalocit osis and bile duct cell proliferat ion. Mult ifocal areas of cent rilobular or
midzonal hemorrhages were also obser ved. Cent rilobular hemorrhagic necrosis was present
in t wo horses. Alzheimer t ype II ast rocyt es were obser ved, isolat ed or in groups, mainly in
t he caudat e nucleus and cort ex in 4 horses. The poisoning was experiment ally produced in 1
adult horse and 3 adult donkeys. The horse received daily 100 g of C. ret usa seeds and died 52
days aft er t he beginning of t he experiment . The dried whole C. ret usa was mixed wit h grass
and given t o t he 3 experiment al donkeys at daily doses of 10g/kg, 5g/kg and 2.5g/kg,
respect ively. The donkey t reat ed wit h 5g per kg died 48 days aft er beginning of t he experiment
and t he ot her t wo were sacrificed at 120 days. Clinical signs and pat hology were similar t o
t hose obser ved in spont aneous cases, but Alhzeimer t ype II ast rocyt es were obser ved only in
t he donkey t hat died 48 days aft er t he beginning of ingest ion of t he plant mat erial. The
concent rat ion of monocrot aline in t he whole plant given t o t he donkeys was 0.5%.
INDEX TERMS: Poisonous plant s, plant poisoning, Crot alaria ret usa, Fabaceae, hepat ic cirrhosis, horse,
pirrolizidine alkaloids.
1
RESUM O
O.- De 2000 a 2003 oit o casos de int oxicação por
Crot alaria ret usa L. foram obser vados em eqüinos em 8 fazendas na região semi-árida da Paraíba e do Ceará. C. ret usa foi
encont rada no past o em t odas as propriedades. Os principais sinais clínicos foram caract eríst icos de encefalopat ia
hepát ica, com apat ia ou hiperexcit abilidade, pressão da cabeça, andar compulsivo ou em círculo e, ocasionalment e,
galope descont rolado e violent o. Decréscimo nos reflexos dos
Recebido em 12 de abril de 2004.
Aceit o para publicação em 23 de abril de 2004.
Trabalho financiado pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência
(PRONEX),. Proc.CNPq no.767102600.
2
Cent ro de Saúde e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina
Grande, 58700-000 Pat os, PB.
3
Dept o Ciências Farmacêut icas, Universidade Federal da Paraíba, ITF, 58057970 João Pessoa, PB.
132
Int oxicação por Crot alaria ret usa (Fabaceae) em Eqüideos no semi-árido da Paraíba
ner vos craniais, at axia e fraqueza foram t ambém obser vados. Out ros sinais clínicos foram anorexia, perda de peso,
fot ossensibilização e ict erícia. O curso clínico variou de 4 a
40 dias, mas muit os cavalos t inham um hist órico prévio de
perda de peso. À necropsia os fígados eram duros, com super fície irregular e áreas brancas mist uradas com áreas vermelho-escuras e com aument o no padrão lobular. Ict erícia
moderada, ascit e, hidropericárdio e hidrot orax foram t ambém obser vados. Edema e moderada congest ão foram obser vadas nos pulmões. As lesões hist ológicas do fígado foram caract erizadas por fibrose, principalment e periport al,
megalocit ose e proliferação de células dos duct os biliares.
Ár eas m ul t i f o cai s d e hem o r r agi as cen t r o l o bul ar es o u
mediozonais foram t ambém obser vadas. Necrose hemorrágica
cent rolobular est ava present e em dois eqüinos. Foram obser vados ast rócit os Alzheimer t ipo II, isolados ou em grupos
principalment e no núcleo caudat o e córt ex em 4 eqüinos. A
int oxicação foi produzida experiment alment e em 1 eqüino e
3 asininos. O eqüino adult o, recebeu diariament e, 100 g de
sement es de C. ret usa e morreu aos 52 dias após o início do
experiment o. C. ret usa int eira, seca foi mist urada com capim
e dada a 3 asininos adult os em doses diárias de 10 g/kg, 5 g/
kg e 2,5 g/kg respect ivament e. O asinino t rat ado com 5 g/kg
morreu aos 48 dias após o início do experiment o e os out ros
dois foram sacrificados aos 120 dias. Os sinais clínicos e a
pat ologia foram similares aos obser vados nos casos espont âneos, alguns ast rócit os Alzheimer t ipo II foram obser vados
soment e no asinino que morreu após 48 dias do inicio da
ingest ão. A concent ração de monocrot alina na plant a int eira
administ rada aos asininos foi 0,5%.
TERMOS DE INDEXAÇÃO: Plant as t óxicas, int oxicação por plant as,
Cr ot alar i a ret usa, Fabaceae, ci r r ose hepát i ca, ci r r ose hepát i ca,
encefalopat ia hepát ica, eqüinos, alcalóides pirrolizidínicos.
INTRODUÇÃO
Mais de 600 espécies do gênero Crot alaria são encont radas
em diversas regiões do mundo, sendo a maioria t óxica para
animais (Williams & Molyneux 1987). As variedades t óxicas
mais conhecidas são Crot alaria spect abilis, Crot alaria crispat a,
Crot alaria ret usa, Crot alaria dura e Crot alaria globifera (Barri &
Adam 1981). Em diversos países foram descrit os casos de int oxicação por Crot alaria, cont endo alcalóides pirrolizidínicos
(AP), em eqüinos (Gibbons et al. 1953, Gardiner et al. 1965,
Arzt & Mount 1999, Pit t & Mckenzie 2002), bovinos (Barri &
Adam 1981, Wint er et al. 1990), suínos (Peckham et al. 1974,
McGrat h & Duncan 1975), aves (Nort on & O’Rourke 1979, Alfonso et al., 1993) e caprinos (Barri & Adam 1984). C. ret usa e
C. cr i spat a são r esponsávei s pel a doença denom i nada
Kimberley horse disease ou Walkabout disease na Aust rália
(Rose et al. 1957a,b, Gardiner et al. 1965).
Na década de 1990 foram descrit os casos de int oxicação
espont ânea por Crot alaria spp em diferent es est ados brasileiros. No Est ado de Minas Gerais foi descrit o um surt o de int oxicação em eqüinos por C. juncea (Nobre et al. 1994). Em bovinos foi descrit a a int oxicação por Crot alaria spp. no Mat o
Grosso do Sul e em Minas Gerais (Lemos & Barros 1998). Na
133
Paraíba, foram document ados casos de int oxicação por C.
ret usa em ovinos (Dant as et al. 1999), eqüídeos e bovinos (Nobr e et al . 2004). Int oxi cação por AP t am bém t em si do
reproduzida experiment alment e no Brasil em bovinos com
C. anagiroides (Tokarnia & Döbereiner 1983), em rat os e cabras com C. spect abilis (Medeiros et al. 1994) e em suínos
com C. spect abilis (Souza et al. 1997, Torres et al. 1997).
Eqüinos int oxicados por Crot alaria ret usa apresent am um
quadro clínico de anorexia, at ordoament o, mal est ado geral,
irrit abilidade, bocejos, espasmos musculares, incordenação,
cabeça baixa, agressividade, andar a esmo e galope sem rumo
(Gardiner et al. 1965, Nobre et al. 2004). Sint omat ologia semelhant e foi relat ada na int oxicação de eqüinos por out ras
espécies de Crot alaria (Arzt & Mount 1999, Pit t & Mckenzie
2002). Os achados de necropsia são caract eríst icos de uma
doença hepát ica crônica. O fígado encont ra-se firme, aument ado de volume (Gibbons 1953, Gardiner et al. 1965, Nobre
et al. 1994, Arzt & Mount 1999) e com aspect o mosqueado
(Arzt & Mount 1999). Nos pulmões as principais alt erações
obser vadas são edema e congest ão pulmonar com áreas consolidadas no parênquima (Gardiner et al. 1965, Nobre et al.
1994). Hist ologicament e as principais alt erações são observadas no fígado e i ncl uem fi br ose, hepat om egal oci t ose
(Gibbons et al. 1953, Gardiner et al. 1965, Arzt & Mount 1999),
necrose (Gardiner et al. 1965), vacuolização de hepat ócit os
(Nobre et al. 1994), hemorragia (Arzt & Mount 1999), e em
alguns casos, proliferação de duct os biliares (Gardiner et al.
1965, Arzt & Mount 1999). Os pulmões podem apresent ar
alveolit e fibrosant e difusa, com espessament o de sept os
int eralveolares, edema e infilt rado inflamat ório mononuclear
e, principalment e, macrófagos espumosos (Gardiner et al.
1965, Nobre et al. 1994). Eqüinos submet idos a est resse met abólico ou nut ricional na seca, carga de t rabalho pesada ou
gravidez, são mais prováveis de serem afet ados pela doença
(urra net al. 1996). A doença crônica é a forma usual da int oxicação e os sinais clínicos ocorrem semanas a meses após a
plant a t er sido ingerida. Os danos hepát icos são progressivos e a mort e pode ocorrer meses ou at é mesmo anos após a
ingest ão de plant as cont endo AP (Cheeke 1998).
Est e t rabalho t em como objet ivo descrever os casos de
int oxicação por C. ret usa em eqüinos no semi-árido, no período de 2000 a 2003, complement ando um t rabalho ant erior
no qual foram descrit os surt os de int oxicação por C. ret usa na
mesma região (Nobre et al. 2004). É descrit a t ambém a reprodução experiment al da int oxicação em t rês asininos e um
eqüino. Dados iniciais sobre a reprodução experiment al foram publicados ant eriorment e (Nobre et al. 2004).
MA
TERIAL E M ÉTODOS
ATERIAL
Int o
xi cação espont ânea em eqüi nos
oxi
Os dados referent es à epidemiologia e sinais clínicos foram
colhidos junt o aos propriet ários dos animais e Médicos Vet erinários
e obser vados em visit as as propriedades afet adas com o problema.
Os casos ocorreram em oit o propriedades no período de 2000 a
2003. Set e animais foram necropsiados. Fragment os de t ecidos,
incluindo fígado, int est inos, rins, baço, pulmões, coração e encéfalo
foram fixados em formol a 10%, processados rot ineirament e para
Pesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
134
Verônica M. da Trindade Nobre et al.
est udo hist ológico e corados pela coloração de hemat oxilina e eosina
(HE). O fígado e pulmão foram corados t ambém pelo Tricrômico de
Masson. No encéfalo foram clivados fragment os do córt ex front al,
occipit al, pariet al e t emporal; núcleos da base e cápsula int erna;
t álamo e hipot álamo, colículo rost ral, cerebelo, pont e e medula
o bl o nga. Em 4 ani m ai s f o r am p r o cessad o s, t am bém , co r t es
t ransversais e longit udinais da medula cer vical, t orácica e lombar. O
Eq ü i n o 2 f o i n ecr o p si ad o p el o vet er i n ár i o at u an t e, sen d o
encaminhado apenas o fígado ao Laborat ório de Pat ologia Animal.
Co m o co n t r o l e p o si t i vo p ar a as l esõ es h i st o l ó gi cas d e
encefalopat ia hepát ica foi ut ilizada uma lâmina cedida pelo Dr. Brian
Summers (College of Vet erinar y Medicine, Cornell Universit y) de
fragment o do núcleo da base com numerosos ast rócit os Alzheimer
t ipo II, oriunda de um cavalo com encefalopat ia hepát ica de causa
desconhecida. O animal apresent ava como sinais clínicos depressão,
at axia, pressão da cabeça em objet os e andava em círculo. No exame
hist ológico do fígado verificou-se fibrose e necrose hepat ocelular.
Foram ut ilizados ainda, como cont role negat ivo, encéfalos de dois
cavalos sacrificados no Laborat ório de Pat ologia Animal, com frat uras
de membros. Fragment os do encéfalo foram clivados nas mesmas
regiões e seqüência dos que foram encaminhados nos animais com
int oxicação espont ânea por C. retusa. Desses mesmos animais colheuse t ambém fragment os do pulmão e fígado para cont role das lesões
hepát icas e pulmonares.
Em t rês eqüinos foram realizados exames sangüíneos para
det erminação das enzimas aspart at o aminot ransferase (AST), ãglut ami lt ransferase (GGT), creat i ni na qui nase (CPK) e fosfat ase
alcalina (FA).
Col et a da pl ant a
Foram colhidas amost ras da plant a para ident ificação bot ânica da
espécie exist ent e na região e para análise fit oquímica no Laborat ório
de Tecnologia Farmacêut ica da UFPB. Para análise fit oquímica foi
ut ilizada a plant a int eira seca a sombra, moída, macerada com et anol
a 95%, concent rada em aparelho de rot avapor e em seguida procedida
à ext ração dos alcalóides e ident ificação dos const it uint es por análise
espect rofomét rica (Barbosa Filho et al. 1997).
Int o
xi cação exper i m ent al em eqüi nos e asi ni nos
oxi
Para reproduzir a int oxicação por Crot alaria ret usa em eqüídeos
ut ilizaram-se um eqüino macho adult o sem raça definida e quat ro
asininos adult os de ambos os sexos da raça Jument o Nordest ino, os
quais foram pesados e alojados em baias individuais com comedouros
e bebedouros. Foram realizados exames clínicos usuais, vermifugação
e vaci n ação an t i -r áb i ca. Os an i m ai s r eceb i am d i ar i am en t e
aliment ação a base de capim-elefant e picado e farelo de milho ou
t rigo. Ant es da administ ração de capim o eqüino recebeu diariament e
durant e 52 dias, 100 g (0,4 g/kg) de sement es de C. ret usa moídas em
moinho de cereais e mist uradas a 1 kg de farelo de milho. Os asininos
receberam durant e 30, 90 e 120 dias, 10 g/kg, 5 g/kg e 2,5 g/kg,
respect ivament e, das part es aéreas de C. ret usa no est ágio adult o,
seca a sombra e moída, mist urada a 1 kg de capim-elefant e picado
ou farelo de milho. Um quart o asinino não recebeu a plant a e ser viu
como cont role.
Aos 52 dias o eqüino morreu e foi necropsiado. O asinino
que ingeriu 5 g/kg, morreu aos 48 dias e os asininos que ingeriram
10 g/kg e 2,5 g/kg, foram sacrificados aos 120 dias e necropsiados.
Colet aram-se fragment os de fígado, rim, pulmão, coração e encéfalo,
os quais foram incluídos em parafina, cort ados em secções de 5µ e
corados pela hemat oxilina e eosina (HE) para est udo hist ológico das
lesões. Os cort es do encéfalo foram feit os nas mesmas regiões que
as dos casos espont âneos.
RESUL
TADOS
RESULT
Int o
xi cação espont ânea
oxi
Epi dem i ol ogi a e si nai s cl íni cos. Os dados de cada caso
de int oxicação por Crot alaria. ret usa est ão no Quadro1. Foram obser vados oit o casos de int oxicação por C. ret usa, sendo set e verificados na Paraíba e um no Ceará. Os Eqüinos 1,
4, 5, 6, 7 e 8 eram solt os no past o nat ivo e suplement ados
com capim elefant e e ração comercial de font e indet erminada.
Os Eqüinos 2 e 3 est avam solt os no past o e não recebiam
suplement ação.
Em seis eqüinos a doença t eve evolução variável ent re 4 e
15 dias. No Eqüino 1 a doença evoluiu em 20 dias e no Eqüino
8, evoluiu em 40 dias. Apenas um animal adoeceu em cada
propriedade. Na propriedade C, em anos ant eriores t inha
ocorrido a mort e de dois eqüinos, com sint omat ologia semelhant e. Em t odas as propriedades havia C. ret usa no past o
(Fig.1).
Os principais sinais clínicos eram cerebrais, caract erizados por depressão (Fig.2) alt eração do comport ament o, moviment os involunt ários, pressão da cabeça cont ra objet os
(Fig.3), andar a esmo ou em círculos e galope desenfreado
com bat idas em cercas ou out ros obst áculos. Alguns animais
apresent avam ainda sinais de compromet iment o do t ronco
encefálico, caract erizados por at axia, com permanência de
membros ant eriores e post eriores em abdução (Fig.4) ou cruzados, bat idas da part e ant erior dos membros em objet os
ao serem forçados a ult rapassá-los e arrast ar das pinças durant e a marcha. Apresent avam t ambém alt erações dos núcleos dos ner vos cranianos caract erizadas por facilidade para
ext rair forçadament e a língua e permanência da mesma parcialment e fora da cavidade oral (Fig.5), reflexo pupilar dimi-
xi cação por Cr ot alar i a r et usa em eqüi nos
oxi
Quadr o 1. Dados epi dem i ol ógi cos em 8 sur t os de i nt o
Eqüino/Pro- Nº de
priedade eqüinos
1 -A
2 -B
3 -C
4 -D
5 -E
6 -F
7 -G
8 -H
5
31
6
4
5
20
7
6
Idade
(anos)
Sexo
Raça
Mês da
mort e/ ano
Evolução
da doença
Local de
ocorrência
3
12
1
9
2
Adult o
12
Adult o
F
M
M
F
M
M
F
M
SRD
Puro Sangue Inglês
Mest iço Quart o de Milha
Mest iço Appaloosa
Puro Sangue Inglês
SRD
Quart o de Milha
Quart o de Milha
Jan. 2000
Mai. 2001
Abr. 2002
Mai. 2002
Out . 2002
Out . 2002
Out . 2002
Out . 2003
20 dias
15 dias
15 dias
4 dias
5 dias
15 dias
10 dias
40 dias
Pat os,
São José Bonfim, PB
Pat os, PB
São José Bonfim, PB
Pat os, PB
Sant a Terezinha, PB
Pat os, PB
Maurit i, CE
Pesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
Int oxicação por Crot alaria ret usa (Fabaceae) em Eqüideos no semi-árido da Paraíba
1
3
Fig.1. Crot alaria ret usa, município de Pat os, Paraíba. No det alhe a
vagem com sement es reniformes e a folha most rando format o
caract eríst ico, com emarginação do ápice (ret uso), det alhe que
confere nome a espécie.
Fig.3. Eqüino 7 most rando pressão da cabeça cont ra a parede, na
int oxicação por C. ret usa.
nuído e dificuldade de deglut ição. Eqüino 8 apresent ou debilidade dos membros post eriores e ant eriores durant e a marcha. Eqüino 4 apresent ou lesões de fot ossensibilização na
face. No Eqüino 5 obser vou-se secreção cat arral pelas narinas e no Eqüno 7 abort o. Em t odos os casos havia hist ória de
anorexia e emagreciment o.
Os t est es bioquímicos do soro sangüíneo revelaram aument o da AST e CPK no Eqüino 4 e aument o da AST, GGT e
fosfat ase alcalina nos Eqüinos 5 e 8.
Cl assi fi cação e anál i se fi t oquím i ca da pl ant a. A plant a
foi classificada como Crot alaria ret usa L. Um exemplar foi deposit ado no Herbário Lauro Pires Xavier do Laborat ório de
Tecnologia Farmacêut ica da Universidade Federal da Paraíba
ident ificada como Agra & Góis 3607 (JPB). A análise fit oquímica
de 4.500 kg das part es aéreas da plant a revelou como principal alcalóide pirrolizidínico a monocrot alina, numa concent ração de 0.5%(Azevedo Junior et al. 2000).
Achados de necr opsi a. Todos os animais apresent aram
mal est ado geral e Eqüino 5 exibia escoriações em diversas
135
2
4
Fig.2. Eqüino 8 most rando marcada depressão e encost ando a cabeça na cerca, na int oxicação por C. ret usa.
Fig.4. Eqüino 3 most rando at axia caract erizada por abdução dos
membros ant eriores, na int oxicação por C. ret usa.
regiões do corpo, principalment e nos membros. A maioria
dos ani mai s apresent ou líqui do na cavi dade abdomi nal.
Eqüino 5 apresent ou hidropericárdio. Os Eqüinos 5 e 6 apresent aram hemorragias no epicárdio e miocárdio.
A l esão m ai s pr oem i nent e em t odos os ani m ai s foi
verificada no fígado que t inha consist ência aument ada, com
cápsula levem ent e esbr anqui çada, super fíci e i r r egular e
alt ernância de áreas amareladas ou pálidas ent remeadas com
áreas vermelho-escuras, sem uniformidade (Fig. 6). Eqüino 5
apresent ou pont os esbranquiçados na super fície capsular.
Os Eqüinos 5 e 6 exibiram áreas avermelhadas no fígado. Os
pulmões da maioria dos animais apresent am-se edemat osos
e congest os. Eqüino 4 apresent ou áreas mult ifocais de 1-2
mm dist ribuídas por t odo o órgão e abscessos com pus consist ent e formando aparent ement e camadas, concênt ricas semelhant e à cebola. Os Eqüinos 5 e 6 apresent aram equimoses
na super fície pulmonar. Os rins da maioria dos eqüinos eram
levement e congest os. O rim do Eqüino 5 exibiu edema na
cápsula. Alguns animais exibiam discret a ict erícia. Não foPesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
136
Verônica M. da Trindade Nobre et al.
Quadr o 2. P
xi cados espont aneam ent e
Prr i nci pai s aspect os hi st opat ol ógi cos do fígado de eqüi nos i nt o
oxi
por Cr ot alar i a r et usa, com r efer ênci a à gr avi dade da l esão a
Eqüino
Fibrose
(Ficha)
Periport al Int ralobular
1 (Pn.01-00)
2 (Pn.48-01)
3 (Pn.63-02)
4 (Pn.106-02)
5 (Pn.227-02)
6 (Pn.233-02)
7 (Pn-259-02)
8 (Pn-257-03)
++
++
++
+++
++
+
+++
++
+
++
+++
+
++
-
Megalo- Proliferação
cit ose
duct al
++
++
+++
+++
++
+
++
++
++
++
+++
++
+
++
+++
+
Necrose
Vacuolização
Cent rolobular Individual
de hepat ócit os
++
+++
++
-
++
++
+++
+
+
++
++
+
+
+
++
+
Hemorragia
++
++
+
++
+++
+++
++
a
+ + + acent uada, + + moderada, + discret a, - ausent e.
Fig.5. Eqüino 3 most rando prot usão da língua causada por lesões na
medula oblonga (núcleo do XII par craniano), na int oxicação por
C. retusa.
ram obser vadas alt erações macroscópicas significat ivas nos
demais órgãos.
Achados hi st ol ógi cos. A principal alt eração hist ológica
foi verificada no fígado (Quadro 2). A maioria dos cort es, caract erizou-se por variáveis graus de fibrose, predominant ement e periport al, às vezes com infilt rado inflamat ório, principalment e mononuclear. Havia proliferação de células dos
duct os biliares no espaço port a e em alguns casos int ralobular.
Megalocit ose est ava present e no fígado de t odos os animais,
sendo caract erizada pelo aument o do cit oplasma e do núcleo, que t inha a cromat ina nuclear dist ribuída irregularment e. (Fig. 7)
Os Eqüinos 5 e 6 apresent avam necrose hemorrágica preferencialment e cent rolobular, associada à congest ão e hemorragias, que coaleciam com áreas vizinhas em alguns corPesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
t es. Ainda pode-se obser var vacuolização de hepat ócit os, principalment e cent rolobulares, nos Eqüinos 1, 2, 5, 6 e 7 e nódulos regenerat ivos no Eqüino 3 (Fig. 8). Nos rins obser vouse marcada congest ão com hemorragias preferencialment e
na medular, sendo mais acent uadas nos Eqüinos 5, 6 e 8. Havia
discret a vacuolização do epit élio t ubular nos Eqüinos 1, 3, 7
e 8. No Eqüino 7 obser varam-se t ambém, cilindros hialinos.
Os Eqüinos 1, 7 e 8 apresent avam algumas células t ubulares
aument adas de t amanho, sugerindo megalocit ose.
Nos pulmões a principal alt eração foi congest ão e edema,
sendo marcada no Eqüino 1. Obser vou-se, ainda, discret o
espessament o de sept os int eralveolares nos Eqüinos 3 e 5.
Os Eqüinos 3, 5 e 6 apresent aram discret o espessament o da
parede das art eríolas. As lesões foram melhor visualizadas
nos cort es corados pela t écnica de Tricomico de Masson .
Eqüi no 1 exi bi u i nfi l t r ado i nfl am at ór i o pr i nci pal m ent e
mononuclear, mais acent uado na região perivascular. Nos
Eqüinos 3 e 8 obser varam-se algumas células endot eliais
t um efei t as. Eqüi no 4 apr esent ou pneum oni a m ul t i focal
granulomat osa difusa, sugest iva de infecção por Rhodococus
equi .
Em t odos os cort es do encéfalo, com exceção do eqüino
2, havia congest ão e discret as hemorragias, principalment e
perivasculares. Os Eqüinos 1, 5, 6, 7 e 8 exibiram ast rócit os
aument ados, com núcleos vesiculares e arranjados aos pares
ou múlt iplos (Fig. 9) sendo mais evidenciados no núcleo
caudat o e nos fragment os do córt ex. Est as células são denominadas de ast rócit os Alzheimer t ipo II (Summers et al. 1995).
Int o
xi cação exper i m ent al em eqüi nos e asi ni nos
oxi
Si nai s cl íni cos. O eqüino aliment ado com farelo de milho cont endo 100 g de sement e de C. ret usa apresent ou, após
15 dias de administ ração, anorexia progressiva, corriment o
nasal bilat eral, depressão e incoordenação. Aos 51 dias de
experiment o o animal apresent ava-se agit ado, andando em
círculos, com incoordenação, arrast ando as pinças, e deit ando e levant ando-se rapidament e. Post eriorment e permaneceu em decúbit o lat eral at é a mort e, aproximadament e 24
horas após.
O asinino que ingeriu a dose de 5 g/kg morreu aos 48 dias
de experiment o e os demais ingeriram a plant a durant e 120
dias e foram sacrificados. Todos os animais experiment ais
Int oxicação por Crot alaria ret usa (Fabaceae) em Eqüideos no semi-árido da Paraíba
6
137
7
2
8
Fig.6. Fígado com superfície de cort e irregular most rando alt ernância
de áreas claras esbranquiçadas com áreas vermelho escuras, sem
uniformidade, na int oxicação espont ânea por Crot alaria ret usa.
(Equino 7)
9
Fig.7. Fibrose hepát icapreferencialment e periport al, megalocit ose
(set a) e discret a proliferação de células epit eliais dos duct os
biliares (cabeça de set a). HE, obj. 20. (Eqüino 3)
Fig.8. Fibrose e nódulos regenerat ivos no fígado, na int oxicação espont ânea por C. ret usa. HE, obj. 20. (Eqüino 3)
Fig.9. Ast rócit os Alzheimer t ipo II, caract erizados por núcleos aument ados de volume e com aspect o vesicular, agrupados (set as)
ou isolados (cabeça de set a), no encéfalo (Núcleo caudat o), na
int oxicação espont ânea por C. ret usa. HE, obj. 40. (Eqüino 8)
apresent aram anorexia, depressão, cabeça baixa e discret a
ict erícia. O animal que morreu aos 48 dias de experiment o
apresent ou 24 horas ant es da mort e, sinais ner vosos, incluindo incoordenação e t remores musculares; durant e a marcha arrast ava as pinças e ant es de morrer jogou-se cont ra a
cerca.
O asinino que não foi aliment ado com a plant a e ser viu
como cont role não apresent ou nenhuma alt eração clínica.
Achados de Necropsia. Os animais experiment ais exibiram perda da condição corporal e mau est ado nut ricional. O
eqüino apresent ava aproximadament e 5 lit ros de líquido levement e amarelado e límpido na cavidade abdominal. O fígado
encont rava-se duro com áreas vermelho- escuras alt ernadas
com áreas esbranquiçadas. Os pulmões eram vermelhos escuros com discret a quant idade de espuma na t raquéia e brônquios. Os rins est avam levement e congest os, principalment e
na junção cort iço-medular. Nos int est inos, principalment e no
delgado, o cont eúdo est ava mais fluido que o normal.
Os asininos que foram sacrificados aos 120 dias apresent aram líquido na cavidade abdominal. Os fígados de t odos
os animais experiment ais t inham a cápsula esbranquiçada
com áreas amareladas alt ernadas com áreas vermelhas escuras e t inham consist ência aument ada. Os pulmões de t odos
os animais exibiam discret o edema e congest ão e os rins eram
levement e pálidos.
Achados hi st ol ógi cos. As principais alt erações microscópicas foram obser vadas no fígado. No cavalo, o fígado apresent ou severa desorganização do parênquima, megalocit ose,
severa vacuolização de hepat ócit os e discret a fibrose periport al. Nas áreas cent rolobulares se verificava perda de hepat ócit os e subst it uição por t ecido conjunt ivo jovem. Os pulmões
apresent avam discret o edema e congest ão. Nos rins observou-se discret a vacuolização mult ifocal de células t ubulares
e discret a congest ão.
Os asininos que ingeriram Crot alaria ret usa na doses de 10
g/kg e 2,5 g/kg apresent aram no fígado, discret a fibrose
Pesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
138
Verônica M. da Trindade Nobre et al.
periport al com infilt ração de células mononucleares indiferenciadas no t ecido fibroso. Os hepat ócit os, principalment e das
áreas cent rolobulares, exibiam severa vacuolização micro vesi cul ar, sendo que al guns hepat óci t os apr esent avam
vacúolos maiores. Havia, t ambém, hepat ócit os necrót icos,
hepat ócit os com ret enção de bile e out ros com megalocit ose.
Algumas áreas cent rolobulares exibiam hemorragias, principalment e no animal que ingeriu 10 g/kg diariament e. Verificou-se ainda hemossiderose . O animal que morreu aos 48
dias exibiu fibrose discret a, preferencialment e periport al,
megalocit ose, desorganização do parênquima hepát ico, com
hepat ócit os necrót icos e severa vacuolização de hepat ócit os,
preferencialment e nas áreas cent rolobulares. Obser vou-se
t ambém congest ão difusa e hemorragias principalment e
cent rolobulares, além de severa ret enção biliar e proliferação de células de duct os biliares.
O asinino que ingeriu 10 g/kg de C. ret usa diariament e
apresent ou áreas de pneumonia int erst icial com engrossament o do sept o que exibia células mononucleares e discret a
quant idade de t ecido conjunt ivo. Havia maior acúmulo de
t ecido conjunt ivo localizado perivascularment e. O animal que
ingeriu 5 g/kg exibiu áreas de pneumonia int erst icial com
infilt ração de células mononucleares e t ecido conjunt ivo,
hiperplasia do epit élio bronquiolar e congest ão severa. O
animal que ingeriu 2,5 g/kg não apresent ou lesões significat ivas nos pulmões.
Nos rins do animal que ingeriu 5 g/kg da plant a obser vouse marcada congest ão e nefrose discret a. Em alguns t úbulos
as células epit eliais apresent am-se vacuolizadas, enquant o que
em out ros est avam necrót icas. Havia a presença de alguns
cilindros hialinos. Os asininos que ingeriram doses de 10 g/
kg e 2,5 g/kg diariament e não apresent aram lesões significat ivas nos rins.
Nos cort es do encéfalo do asinino com mort e nat ural aos
48 d i as ver i f i car am -se d i scr et o s gr up o s d e ast r ó ci t o s
Alzheimer t ipo II, sendo bem evidenciados no núcleo caudat o.
Os out ros dois asininos não apresent aram alt erações no cérebro.
DISCUS
SÃO E CONCLUSÕES
DISCUSSÃO
O diagnóst ico de int oxicação por Crot alaria. ret usa, foi baseado nos sinais clínicos e lesões caract eríst icas, pela presença
da plant a nas propriedades onde ocorreram os casos e pela
reprodução da doença em 1 eqüino e em 3 asininos. Casos
semelhant es vêm sendo obser vados há 10 anos no semi-árido da Paraíba e regiões circunvizinhas. De 1996 a 1999 ocorreram 15 casos da doença (Nobre et al. 2004) e nest e t rabalho são descrit os mais 8 casos.
Na região semi-árida as est ações do ano não são bem
est abelecidas, percebendo-se apenas duas est ações, a das
chuvas (janeiro a junho) e a da est iagem (julho a dezembro).
O período de chuvas é bast ant e irregular e em alguns anos
quase não chove nest a região. No primeiro período do ano C.
ret usa brot a em áreas de baixio, próximo a açudes e rios t emporários. Nos primeiros meses da est ação seca é vist a na fase
adult a, em sement ação, sendo abundant e nas áreas referiPesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
das, muit as vezes se const it uindo na única plant a verde. Nos
meses de novembro e dezembro ocorre escassez da plant a,
sendo que nas áreas irrigadas e próximas a açúdes ela ainda
est á present e, em diversos est ágios de cresciment o (brot ação,
floração e sement ação). No período mais seco do ano, com o
past o seco, os animais t endem a procurar as áreas ribeirinhas de açudes e áreas irrigadas a procura de past o verde,
podendo ingerir Crot alaria. Apesar das diferenças na dist ribuição das chuvas e, port ant o, da disponibilidade de forragem nas duas épocas do ano, não foi const at ada dist ribuição
sazonal da enfermidade. Nos oit o eqüinos est udados nest e
t rabalho, quat ro casos ocorreram no primeiro período do ano,
chuvoso, e quat ro casos no período de est iagem. Também
não foi obser vada dist ribuição sazonal nos casos que ocorreram de 1996 a 1999, ocorrendo 9 casos no primeiro período
do ano e 6 casos no período seco (Nobre et al. 2004). A ocorrência da doença durant e o ano int eiro sugere que os eqüinos
ingerem a plant a durant e t odo o ano, independent e da disponibilidade de forragem. C. retusa em cresciment o é palat ável
para eqüinos, que comem a plant a desde a fase de muda at é
quando est á com aproximadament e 12 a 18 cm (Rose et al.
1957a). Na região semi-árida C. ret usa encont ra-se em cresciment o exat ament e no período de chuvas, onde normalment e exist e past o para os animais. No ent ant o, não se pode descart ar que haja uma maior ingest ão da plant a em épocas
menos chuvosas, principalment e nas áreas irrigadas, onde a
plant a é encont rada em t odas as fases de cresciment o. Os
animais adoecem post eriorment e em períodos variáveis após
a ingest ão, devido ao efeit o progressivo da lesão. Sabe-se
que a int oxicação crônica por alcalóides pirrolizidínicos em
eqüinos manifest a-se t ipicament e como uma hepat opat ia
progressiva que se desenvolve num t empo variável após ou
durant e a ingest ão de doses t óxicas (Cheeke 1998, Denham
2002). Considerando esses fat os é evident e a necessidade
de se evit ar o past oreio de eqüinos em áreas invadidas por C.
ret usa, independent e da época do ano. Na Aust rália a incidência parece ser sazonal, com os animais ingerindo a plant a
nos meses chuvosos (janeiro, fevereiro e março) e adoecendo
num período variável de 3 a 6 meses após a ingest ão. Em
áreas onde a incidência é part icularment e alt a, um apreciável número de casos ocorre no período seco, de novembro a
dezembro (Rose et al. 1957a). Na Ilha de Páscoa (Chile) a int oxicação por Crot alaria spp em eqüinos é sazonal, ocorrendo à maioria dos casos no verão (dezembro a fevereiro), período em que o past o geralment e é seco (Narlesky 1999, Arzt
& Mount 1999). Segundo Peckham et al. (1974) e Hooper &
Scanlan (1977), a ingest ão de Crot alaria sp ocorre quando há
escassez de past agem ou quando há a cont aminação de aliment os ou ração pela plant a ou pelas sement es. È import ant e salient ar, t ambém, que eqüinos sob condições de est resse
met abólico ou nut ricional e na gravidez apresent am mais
facilment e a doença (Curran et al. 1996).
Um fat o que chama a at enção, levando-se em consideração a igual suscept ibilidade de bovinos e eqüinos a int oxicação por alcalóides pirrolizidinicos (Cheeke 1998), é a maior
freqüência da int oxicação em eqüinos do que em bovinos na
região semi-árida. Durant e o período de 1996 a 2003 foram
Int oxicação por Crot alaria ret usa (Fabaceae) em Eqüideos no semi-árido da Paraíba
obser vados 23 casos em eqüinos e soment e 3 em bovinos
(Nobre et al. 2004). Considerando a maior população de bovinos e a aparent ement e igual suscept ibilidade dest as espécies à int oxicação por AP, parece evident e que a maior freqüência em eqüinos se deve a maior palat abilidade da C. retusa
para eqüinos do que para os bovinos. Na Ilha de Páscoa ocorrem surt os de int oxicação por C. grahamiana com incidência
da doença t ant o em eqüinos quant o em bovinos, embora os
aut ores não quant ifiquem os casos (Arzt & Mount 1999). Out ro
fat or import ant e a se levar em consideração é o não apareciment o da doença de forma espont ânea em asininos, já que
est a espécie apresent ou a doença de forma experiment al. No
semi-árido exist e uma população considerável de asininos e
muit os são criados solt os no past o. Considerando que na região há mais asininos de que eqüinos, uma possível causa
dest a diferença na ocorrência da doença é que os asininos
não ingerem C. ret usa. No ent ant o, deve-se considerar t ambém a possibilidade de que os asininos não t enham acesso a
plant a, já que os jument os se encont ram, geralment e, em
áreas de past os menos nobres, onde não se obser va a plant a.
A int oxicação não t em sido obser vada em mulas, o que possivelment e est eja associado, t ambém, as possibilidades de
ingest ão da plant a. Segundo Rose et al. (1957a) a doença em
mulas e asininos ocorre ocasionalmente em áreas severamente
afet adas. Os aut ores descrevem poucos casos em mulas e um
caso em jument o.
O curso clínico da int oxicação por AP é variável, podendo
ser de poucas semanas a meses. Na Aust rália foi obser vado
um eqüino com sinais clínicos int ermit ent es durant e 18 meses (Rose et al. 1957a). Os animais com int oxicação nat ural
no semi-árido apresent aram curso clínico variando ent re 5 a
20 dias. Um animal apresent ou sinais clínicos int ermit ent es
durant e 40 dias. O animal pode exibir a forma aguda da doença ao consumir plant as cont endo AP em grande quant idade por um curt o período de t empo ou a forma crônica com
ingest ão esporádica de pequenas quant idades da plant a por
um período prolongado (Curran et al. 1996), porém a forma
aguda da doença é rarament e vist a em condições nat urais
(Bull 1961). Normalment e pode ocorrer um período de t rês a
cinco meses ent re o consumo da plant a e o desenvolviment o
dos sinais clínicos da doença (Curran et al. 1996), porém, um
est udo clinico-pat ológico da t oxicose por Senecio jacobaea em
pôneis evidenciou dois padrões clínicos da progressão da
doença: um processo de hepat opat ia crônica com mort e em
6 a 22 semanas (2 a 5 meses); e um processo de doença crônica ret ardada, onde os animais permanecem clinicament e
normais at é ant es da mort e em 38 a 58 semanas (9 a 14 meses). Os aut ores advert em que nest es casos t ardios é necessário que os vet erinários fiquem at ent os porque os animais
apresent am-se normais, enquant o que a hepat opat ia progressiva est á ocorrendo (Craig et al. 1991). Às vezes os animais
apresent am recuperação quando ret irados do past o cont endo plant as com AP (Gorder 2000). Porém na maioria das vezes, quando os sinais clínicos da t oxicose por AP aparecem,
os danos hepát icos são irreversíveis, havendo poucas exceções, onde os animais sobrevivem e apresent am melhoras na
est rut ura e nas funções hepát ica (Craig et al. 1991). É impor-
139
t ant e que est es animais que sobrevivem sejam acompanhados periodicament e com exames de bioquímicos e biopsia
hepát ica (Mendel et al. 1988). As diferent es respost as ou resist ência individual dos animais as pirrolizidinas podem reflet ir : a det oxificação bact eriana no t rat o gast rint est inal; a
t axa de conversão, no fígado, dos AP a pirróis t óxicos; e a
capacidade ant i-oxidat iva individual do animal. A quant idade de AP ingerida na aliment ação t ambém é import ant e (Craig
et al. 1991).
Os sinais clínicos e os aspect os pat ológicos apresent ados
pelos animais int oxicados nat uralment e e experiment alment e são consist ent es com as descrições publicadas nas int oxicações de eqüinos por Crot alaria spp (Gibbons et al. 1953,
Rose et al. 1957a,b, Gardiner et al. 1965, Arzt & Mount , 1999,
Nobre et al. 1994, Denham 2002) e out ras plant as cont endo
alcalóides pirrolizidinicos (Tennant et al. 1972, Seaman 1978,
Knight et al. 1984, Gava & Barros 1997, Creeper et al. 1999,
Gorder 2000, Radost it s et al. 2000) e com as t oxicoses crônicas por pirrolizidinas em out ras espécies animais (Peckham
et al. 1974, McGrat h & Duncan, 1975, Nort on & O’Rourke
1979, Barri & Adam 1981, Barri & Adam 1984, Barri et al.
1988, Wint er et al. 1990, Alfonso et al. 1993).
O quadro clínico-pat ológico apresent ado pela maioria dos
animais int oxicados nat uralment e e experiment alment e é consist ent e com o de uma insuficiência hepát ica. A insuficiência
hepát ica ocorre quando 70%ou mais da capacidade funcional
do fígado é perdida (Tennant 1997), o que ocorre quando há
perda de 80%a 90%do parênquima, podendo ser vist o, t ant o
em hepat opat ias t óxicas agudas quant o crônicas (Kelly 1993).
Em um est udo para avaliar t est es bioquímicos como indicadores de doença hepát ica subclínica em eqüinos expost os a
t oxi cose por AP, ver i f i cou-se que a at i vi dade da gam a
glut amilt ransferase (GGT) no soro é um t est e eficient e para
caract erizar a doença subclínica nos eqüinos. A elevação dos
nívei s de GGT no sor o sangüíneo t em um al t o gr au de
especificidade para danos hepát icos. A GGT normalment e est á
limit ada ao ret iculo endoplasmát ico liso, onde o sist ema de
oxidase mist a é at ivo. Os AP são at ivados por est e sist ema,
onde causam danos e ocorre a liberação da GGT no soro (Curran
et al. 1996). Em pôneis int oxicados experiment alment e com
Senecio jacobaea a GGT foi o t est e enzimát ico mais seguro para
indicar o começo e a cont inuidade das alt erações hepát icas
(Craig et al. 1991). A elevação dest a enzima foi document ada
t ambém em eqüinos com int oxicação nat ural e experiment al
por Senecio jacobaea (Giles 1983, Garret et al. 1984, Gorder 2000),
Senecio vulgaris (Gulick et al. 1980, Lessard et al. 1986, Mendel
et al. 1988) e Cynoglossum officinale (Knight et al. 1984). É import ant e cit ar que apesar de ser considerado um bom t est e
para avaliar a lesão hepát ica induzida por AP, nem t odos os
animais que apresent am aument o de GGT desenvolve sinais
clínicos da doença (Giles 1983). Em alguns casos a GGT pode
apresent ar queda e ret ornar a valores de ant es da exposição
do animal aos AP (Craig et al. 1991). Est a queda foi int erpret ada por Lessard et al. (1986) como um bom indicador no prognóst ico. Segundo Craig et al. (1991) é int eressant e monit orar
os animais sobrevivent es a int oxicação por AP com t est es
enzimát icos. Quando for obser vado aument o nas enzimas,
Pesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
140
Verônica M. da Trindade Nobre et al.
principalment e GGT deve-se fazer uma biopsia hepát ica para
verificar o grau das lesões hepát icas. A fosfat ase alcalina (FA)
também foi analisada nos eqüinos com intoxicação por C. retusa
no semi-árido. Nos animais que foram dosados houve um aument o marcant e da mesma. Est a enzima apesar de não ser
hepat o-específica, aument a nos casos de danos hepát icos em
decorrência de sua liberação na super fície sinusoidal dos
hepatócitos, bem como na regurgitação das iso-enzimas biliares
nos casos de colest ase. Nas t oxicoses por AP ocorrem ambas
sit uações (Craig et al. 1991).
As principais lesões obser vadas no fígado dos animais int oxicados nat uralment e e experiment alment e confirmam o
que foi descr i t o por di ver sos aut or es que r egi st r ar am
hepat opat i as causadas por pl ant as cont endo al cal ói des
pirrolizidinicos, incluindo megalocit ose, fibrose periport al
(Gibbons 1953, Rose et al. 1957a,b, Gardiner et al. 1965, Mut h
1968, Knight et al. 1984, Kelly 1993, Nobre et al. 1994, Arzt &
Mount 1999), hiperplasia (Knight et al, 1984, Arzt & Mount
1999) e proliferação de células dos duct os biliares (Gibbons
1953, Gardiner et al. 1965, Mut h 1968, Kelly 1993, Nobre et
al. 1994), hemorragia periacinar e necrose hepat ocelular
(Sanchez et al. 1993, Kelly 1993, Arzt & Mount 1999) e nos
casos agudos ou subagudos, necrose cent rolobular com hem or r agi a (Rose et al . 1957b, Mut h 1968). Os al cal ói des
pirrolizidinicos são principalment e hepat ot óxicos e após absorção no t rat o aliment ar são met abolizados no fígado e convert idos a derivados pirrólicos alt ament e reat ivos, os quais
provocam lesões nos hepat ócit os (Mat t ocks et al. 1990). A
megalocit ose est á relacionada a um efeit o ant imit ót ico, não
por uma inibição da sínt ese de DNA e sim por uma sínt ese
cont inuada de nucleoprot eínas associadas a uma inibição da
mit ose (Kelly 1993). Est a lesão parece ser o result ado de uma
ação com bi nada dos AP nos hepat óci t os, um pr ocesso
regenerat ivo, seguido de injuria as células do parênquima e
uma ação ant imit ót ica dos met abólit os pirrólicos dos AP, principalment e dos pirróis ést er no ret ículo endoplasmát ico
(Knight & Walt er 2001). Segundo Prakash et al. (1999) os AP
induzem megalocit ose devido a danos no DNA, conduzindo
uma mut ação nos genes reguladores do ciclo celular. A subseqüent e regulação alt erada do ciclo celular é result ant e de
uma superexpressão da prot eína rum (mit ose de replicação
incomplet a). As células são levadas a int erromperem a fase
G2/M do ciclo celular e são submet idas a uma fase S adicional
sem mit ose int er venient e. Como as células não se dividem e
cont inuam a sint et izar DNA, aument am de t amanho e morrem sendo subst it uídos por t ecido fibroso ou por nódulos
regenerat ivos. Na megalocit ose o volume da célula afet ada
pode est ar aument ado em mais de 20 vezes. Ao mesmo t empo em que se desenvolve a megalocit ose, ocorre fibroplasia
e proliferação de células dos duct os biliares na t ríade port al
(Kelly 1993). As hemorragias cent rolobulares a mediozonais
obser vadas na maioria dos animais não reflet em uma forma
aguda da doença, pois não t raduzem necrose hemorrágica
vist a na int oxicação aguda por AP e sim hemorragias decorrent es, provavelment e, da diminuição na sínt ese dos fat ores
da coagulação decorrent es da insuficiência hepát ica (Allen
1963) e/ou da própria ação da monocrot alina nas células do
Pesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
endot élio sinusoidal (Yee et al. 2003). Dois eqüinos apresent aram necrose hemorrágica, o que sugere uma lesão aguda,
porem t ambém foram verificadas nesses animais, out ras alt erações que caract erizam um quadro crônico da int oxicação, como discret a fibrose port al e periport al e discret a
hepat omegalocit ose. Segundo Rose et al. (1957a) est es casos
reflet em uma lesão subaguda. Os aut ores acredit am que nest as sit uações o animal apresent a lesões produzidas em exposição ant erior a AP, sobrepost as com lesões agudas produzidas por uma exposição recent e, as quais foram suficient es
para induzirem a doença e mort e do animal. Os mesmos aut ores regist raram um caso agudo nat ural e out ro experiment al em eqüinos na Aust rália. Em out ro caso de pat ologia sugest iva de int oxicação aguda por AP em eqüino regist rado
por Curran et al. (1996), as lesões hepát icas caract erizaramse por severa congest ão cent rolobular e hemorragia com
necrose de hepat ócit os e agregação focal de células inflamat ó r i as, r up t ur a d a ar qui t et ur a e f o r m ação d e gr and es
hepat ócit os vacuolizados com cit oplasma espumoso, sem
megalocit ose.
Pat ologias hepát icas difusas graves geralment e são acompanhadas de manifest ações clínicas t ípicas de insuficiência
hepát i ca, t ai s com o i ct er íci a, encefal opat i a hepát i ca e
fot osenssibilização hepat ógena (Kelly 1993, Tennant 1997).
No present e relat o, apenas alguns animais apresent aram ict erícia, um animal apresent ou fot ossensibilização e os sinais
clínicos neurológicos t ípicos de disfunção hepát ica foram
obser vados em t odos os animais. Embora os sinais neurológicos t enham sido verificados em t odos os animais, as lesões
do encéfal o, car act er i zadas pel a pr esença de ast r óci t os
Alzheimer t ipo II só foram verificadas em cinco eqüinos e no
asinino que ingeriu 5 g/kg da C. ret usa. Em um eqüino (Nº2)
não foi encaminhado encéfalo pelo vet erinário e os out ros
dois apresent avam diferent es graus de aut ólise. Em muit os
casos de int oxicação por C. ret usa os sinais clínicos do sist ema ner voso t êm levado os vet erinários de campo ao diagnóst ico presunt ivo de raiva ou encefalomielit e eqüina. Sinais clínicos de encefalopat ia hepát ica t ambém foram obser vados
em eqüinos int oxicados por Crotalaria retusa na Aust rália (Rose
et al. 1957a,b), por out ras espécies de Crot alaria (Nobre et al.
1994, Arzt & Mount 1999) e nas int oxicações de eqüinos por
outras plantas contendo alcalóides pirrolizidinicos (Giles 1983,
Kni ght et al . 1984, Gava & Bar r os 1997). Eqüi nos com
encefalopat ia hepát ica apresent am uma not ável disparidade
ent re a severidade dos sinais clínicos e a sut ileza das alt erações pat ológicas no cérebro, est ando est as limit adas à presença de ast rócit os isolados, em pares ou múlt iplos, com
núcleos vesiculares, aument ados e claros, na subst ância cinzent a, sendo referidos como ast rócit os Alzheimer t ipo II. São
encont rados em maior numero no córt ex, núcleos basais e
hipocampo, como sat élit es neuronais, no neuropilo ou isolados (Summers et al. 1995). A disfunção neurológica é causada principalment e por hiperamonemia devido ao fígado lesado não met abolizar a amônia absor vida pelo int est ino (Kelly
1993). A amônia no sist ema ner voso cent ral é met abolizada
pela glut amina dos ast rócit os, a qual por si própria pode ser
neurot óxica (Summers et al. 1995).
Int oxicação por Crot alaria ret usa (Fabaceae) em Eqüideos no semi-árido da Paraíba
Pôneis int oxicados por Senecio jacobaea apresent am como
um dos principais aspect os pat ológicos secundários uma
impact ação gást rica, com o est ômago aument ado, cont endo
feno seco, com rupt ura na cur vat ura maior e marcada hemorragia no local da rupt ura (Milne et al. 1990). Os eqüinos
necropsiados com int oxicação nat ural e o eqüino int oxicado
experiment alment e por C. ret usa não most raram evidencias
de i m pact ação gást r i ca, sendo ver i fi cado na par ede do
est omago e int est inos apenas edema e no animal int oxicado
experi ment alment e, cont eúdo i nt est i nal mai s flui do. Os
edemas, principalment e cavit ários obser vados na maioria dos
animais foram, t ambém, regist rados por out ros aut ores na
int oxicação por Crot alaria em eqüinos e out ras espécies animais (Gibbons et al. 1953, Figueredo et al. 1987, Torres et al.
1997, Arzt & Mount 1999), bem como na int oxicação por
out ras plant as cont endo AP em eqüinos e bovinos (Mut h 1968)
e t êm sido at ribuídos à diminuição da sínt ese prot éica pelo
fígado lesado ou a hipert ensão port al por lesão hepát ica crônica (Pet erson & Cuvenor 1983, Kelly 1993).
As lesões pulmonares result ant es da int oxicação por AP
são bem descrit as em rat os e caract erizam-se basicament e
por alt erações no endot élio de vasos pulmonares, vasculit e
pulmonar proliferat iva, hipert ensão pulmonar e cor pulmonale
(Ghodsi & Will 1981, It o et al. 2000). Pneumonia int erst icial,
alt er ações degener at i vas e pr oli fer at i vas em capi lar es e
ar t er ío l as, f o r am d escr i t as em suíno s i nt oxi cad o s p o r
Crot alari a spp (Peckham et al. 1974) e Crot alari a spect abi li s
(Torres et al. 1997). Foram descrit as t ambém, broncopneumonia e bronquit e crônica em suínos int oxicados por C.
spect abilis (Souza et al. 1997). Met abólit os pirrólicos primários de vida especialment e longa podem alcançar os pulmões
e o coração, onde causam danos as macromoléculas dest es
órgãos (Prakash et al. 1999). Alguns aut ores descreveram lesões pulmonares em eqüinos int oxicados por plant as cont endo alcalóides pirrolizidinicos. Gardiner et al. (1965) e Nobre et al. (1994) obser varam alveolit e fibrosant e difusa, com
espessament o de sept os int eralveolares, edema e infilt rado
i nf l am at ór i o m ononucl ear, pr i nci pal m ent e m acr óf agos
espumosos. Nobre et al. (1994) ainda obser varam alvéolos
com áreas cobert as por epit élio cuboidal, enfisema alveolar
e hiperplasia do epit élio dos brônquios. Curran et al. (1996)
obser varam enfisema pulmonar em um eqüino com lesões
crônicas por AP. As lesões pulmonares obser vadas nos eqüinos
com int oxicação nat ural e no eqüino com int oxicação experiment al relat ados nest e t rabalho diferem das obser vadas por
esses aut ores e consist iram prat icament e de edema e congest ão. No Eqüino 3, algumas células do endot élio das art érias pulmonares visualizadas no pulmão apresent aram-se maiores sugerindo megalocit ose. Nos Eqüinos 1, 3, 5, 6 e 8 havia
discret o espessament o da parede dos vasos e obser vou-se
discret a hiperplasia da parede de bronquíolos no eqüino 8.
Essas alt erações pulmonares poderiam t er sido causadas pela
ação dos met abólit os pirrólicos derivados da monocrot alina
present e em C. ret usa. O espessament o da parede de vasos
t ambém foi obser vado por Gardiner et al. (1965), que o at ribuíram a um aparent e aument o das células endot eliais e a
uma reação fibroblast ica int erst icial. No ent ant o, as lesões
141
visualizadas nos eqüinos nest e t rabalho são discret as e não
causaram sinais clínicos. Apenas um animal apresent ou sinais clínicos respirat órios, porem foi obser vado pneumonia
granulomat osa provavelment e associado ao Rhodococus equi .
Segundo Kelly (1993), não deveria ser assumido que t odos os
AP hepat ot óxicos produzem lesões pulmonares ou que t odas as espécies animais sejam igualment e suscept íveis aos
danos pulmonares. Gardiner et al. (1965) coment am não t er
vist o alt erações pulmonares em eqüinos com “ Kimberley
horse disease” result ant e da int oxicação por C. ret usa e relacionam algumas espécies de Crot alaria responsáveis por desenvolver lesões pulmonares em eqüinos (C. crispat a, C. dura
e C. globifera), sendo as duas ult imas implicadas na produção
da doença pulmonar denominada de “ Jaagsiekt e disease” na
África do Sul. Pit t & Mckenzie (2002) afirmam que C. mit chellii
t ambém provoca lesões pulmonares semelhant es.
As lesões renais decorrent es da int oxicação por alcalóides
pirrolizidinicos são bem caract erizadas em suínos e consist em, principalment e, de nefrit e int erst icial, alargament o do
t ufo glomerular por aument o da mat riz mesangial (Peckham,
et al. 1974, McGrat h & Duncan, 1975, Torres et al. 1997),
hipert rofia e cariomegalia (megalocit ose) de células dos
t úbulos proximais e presença de mat erial prot éico e cilindros hialinos na luz dos t úbulos (Mut h 1968, Peckham et al.
1974, McGrat h & Duncan 1975, Souza et al. 1997, Torres et
al. 1997). Megalocit ose das células dos t úbulos renais foi vist a t am bém em suínos i nt oxi cados por Seneci o j acobaea
(Harding et al. 1964). Alt erações vasculares como hialinização
de art eríolas, t umefação de células endot eliais e proliferação
da advent ícia, com espessament o de parede de vasos t ambém foram descrit as (Peckham et al. 1974, Torres et al. 1997).
Em eqüi nos for am descr i t as nefr ose t ubul ar m oder ada,
vacuolização de células t ubulares, descamação de células
epit eliais (Nobre et al. 1994), glomerulit e proliferat iva e
megalocit ose de células do epit élio dos t úbulos proximais
(Curran et al. 1996). As alt erações obser vadas nos rins dos
animais com int oxicação espont ânea descrit as nest e t rabalho foram discret as e o que mais a chamou at enção foi o
aument o de t amanho das células do epit élio t ubular, vist as
principalment e nos t úbulos proximais de t rês animais, e o
espessament o da parede de vasos obser vada principalment e
no Eqüino 8, que exibia, t ambém, discret a t umefação de células endot eliais. A megalocit ose nas células dos t úbulos renais é freqüent e em suínos e rara em out ras espécies animais. A maior freqüência de megalocit ose em suínos pode
ser at ribuída a uma maior excreção do met abólit o pirrólico
na urina ou a uma maior concent ração do met abólit o nos
t úbulos renais dos suínos (Pet erson & Cuvenor 1983). Sabese que os alcalóides pirrolizidinicos são hidrolisados no fígado, inicialment e a ést er pirrólico e post eriorment e a álcool
pirrólico, sendo est es últ imos excret ados na urina (Bull et al.
1968).
Prejuízos econômicos são experiment ados pelos criado res de eqüinos na região semi-arida em função das condições climát icas e de manejo aliment ar dos animais nas pro priedades onde se obser va C. ret usa em meio às escassas
áreas de past agem. Acredit a-se que esses prejuízos não se
Pesq. Vet . Bras. 24(3):132-143, jul./set . 2004
142
Verônica M. da Trindade Nobre et al.
rest rinjam soment e a perda de animais, mas t ambém com
relação à produt ividade dos animais, devido à lesão hepát ica induzida pelas pirrolizidinas, principalment e porque os
animais com doença subclínica são int olerant es a exercícios e perdem peso.
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