Anais Eletrônicos . 1
Anais Eletrônicos . 2
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO ................................................................................................................................6
DIÁLOGOS: GREIMAS E OUTROS AUTORES ....................................................................................7
Lucila Lang Patriani de Carvalho, Greimas em Barthes.............................................................................7
Davi Junqueira Marin, A Galáxia de Gutenberg
...............................................................................15
SEMIÓTICA DA COMUNICAÇÃO: GAMES E TRANSMÍDIA ........................................................ 34
Liana Costa do Carmo, Os regimes de visibilidade no projeto transmídia de elle brasil: o
.....................................................................................................34
Lúcia Márcia Carvalho Lemos, That dragon
experiência do jogar...............................................................................................................................................55
SEMIÓTICA DA EDUCAÇÃO I ...........................................................................................................72
Angela Maria de Andrade Palhano et. al., Contributos da semiótica discursiva contemporânea
para a educação[...]................................................................................................................................................72
Ana Paula Azarias da Fonseca e Marina Graziela Feldmann, Da Imperfeição fraturas,
escapatórias e o lúdico [...]..................................................................................................................................87
Marion Rodrigues Dariz e Fabiane Villela Marroni, A construção da imagem do gaúcho Blau
Nunes em curtas-metragens............................................................................................................................103
Roseméri Lorenz et. al, Semiótica discursiva e smartphones em sala [...]....................................118
Karime Vargas Cáceres, La semiótica greimasiana
.......................................................................133
SEMIÓTICA DA LITERATURA I.................................................................................................... 150
Verônica Maria Biano Barbosa, Traço e prosa : intertextualidades em preto e branco
[...]..................................................................................................................150
João Batista Toledo Prado, Do amor e outros vexames: a presença de pudor na elegia
latina.........................................................................................................................................................................164
Ernani Terra e Jessyca Pacheco, Espacialização e sentido em intimidade, de edla van steen:
uma análise semiótica........................................................................................................................................186
SEMIÓTICA DA LITERATURA II....................................................................................................208
Adda Sofía Barco Velásquez, J
El
terror de sexto B ................................................................................................................................................208
SEMIÓTICA DA MODA, CORPO E CONSUMO II.........................................................................221
Adriana Tulio Baggio, Gênero e vestuário: princípios para uma semiótica da moda na tese
não semiótica de Greimas.................................................................................................................................221
Carolina Santos Garcia e Jaqueline Cavalcanti Zarpellon, O slow fashion na ruas de São
Paulo [...].................................................................................................................................................................239
Marilia Jardim, Homenagem a Da Imperfeição: a estesia do véu.....................................................257
SEMIÓTICA DA PUBLICIDADE......................................................................................................275
Janderle Rabaiolli e Juliana Petermann, A perspectiva semiótica no ensino em publicidade e
propaganda............................................................................................................................................................275
Taísa Vieira Sena, A boa culpa: o discurso de sedução de GUCCI [...]...............................................292
Tanier Botelho dos Santos, Análise semiótica da evolução das publicidades dos sabonetes
LUX.............................................................................................................................................................................310
SEMIÓTICA DAS PRÁTICAS DE VIDA URBANA I.....................................................................321
..
. 321
Elder Cuevas-Calderón, Analgésicos para la (in)seguridad
Anais Eletrônicos . 3
Lilian Kanashiro, Dispositivos de seguridad en los conjuntos residenciales de
Lima [ ]
SEMIÓTICA DAS PRÁTICAS DE VIDA URBANA II...................................................................348
Fabiane Villela Marroni, Semiótica das cidades: um olhar sobre o espaço urbano e práticas
cotidianas...............................................................................................................................................................348
Manuella Vieira Reale, Experiência sensível no descanso habitual [...].........................................367
Flávia Mayer Dos Santos Souza e Maria Nazareth Bis Pirola, Um olhar sobre a universidade:
entre enunciados, enunciações e práticas.................................................................................................377
Nilthon Fernandes de Oliveira Junior, Análise semiótica das peças de comunicação para
prevenção de riscos de desastres [...]...........................................................................................................400
SEMIÓTICA DO AUDIOVISUAL III: CINEMA.............................................................................422
Ivan Capeller, O princípio do assincronismo revisitado: greimas e o componente gerativo
audiovisual do cinema......................................................................................................................................423
Natália Cipolaro Guirado, A estesia nos objetos sincréticos..............................................................439
SEMIÓTICA DO DESIGN E DA ARTE...........................................................................................446
e José
Mirna Xavier Gonçalves e Lauer Alves Nunes dos Santos,
Leonilson [...].........................................................................................................................................................446
Denilson de Oliveira Moura, O semissimbolismo na pintura de Robert Oscar
Lenkiewicz.............................................................................................................................................................455
SEMIÓTICA DO DISCURSO DA MARCA, DO MERCADO E DE GESTÃO.............................464
Fani Conceição Adorne, Aportes da semiótica greimasiana na determinação de classes
conceituais no campo da gestão pública da cultura.............................................................................464
Valdenise Leziér Martyniuk e Evange Elias Assis, A inserção das marcas na vida social como
estratégia de construção de valor [...]........................................................................................................481
Alessandra Cristina Bonilha Morau, Aporte da semiótica estrutural para uma análise do
espaço da marca: as lojas................................................................................................................................500
Luís Alexandre Grubits de Paula Pessôa e Alessandra de Sá Mello da Costa, A nostalgia no
discurso mercadológico....................................................................................................................................519
Lize Antunes de Oliveira, O Rock In Rio e os sujeitos da construção [...]......................................533
SEMIÓTICA DO POLÍTICO E DA POLÍTICA...............................................................................545
Maria Paula Piotto Guimarães, Lula, no corpo político, um ato de fé............................................545
Paolo Demuru, Impeachment, bandeiras e futebol [...]........................................................................564
SEMIÓTICA DOS MODOS DE PRESENÇA DA ALTERIDADE.................................................577
Jaqueline Crestani, Autorrepresentação e negociação da identidade cultural uma análise
semiótica da produção audiovisual [...]......................................................................................................577
Eliane Aparecida Miqueletti, A demarcação de fronteiras na relação entre indígenas e não
indígenas de dourados [...]...............................................................................................................................600
Emanuel Godoi Santos e Taísa Viera Sena, Artesanato aldeia indígena Araçá-I:
discurso de resistência e mitológico fundado no sagrado.....................................................................617
Thiago Müller da Silva e Sonia Grubits, A mídia como mediadora das influências da
sociedade de consumo em crianças indígenas [...]..................................................................................634
SEMIÓTICA E EPISTEMOLOGIA...................................................................................................653
Sandra Regina Ramalho e Oliveira et.al., Alguns desdobramentos da École de
Paris..........................................................................................................................................................................653
Marcela Ulhôa Borges Magalhães, Por uma teoria do acontecimento..........................................670
Lucas Takeo Shimoda, Leitu
greimasiano...........................................................................................................................................................681
Gustavo Cardoso Bonin, Semiocepção e sincretismo: modo de contato.......................................699
Anais Eletrônicos . 4
SEMIÓTICA SONORA.......................................................................................................................711
Geraldo Vicente Martins, Tensões poéticas na canção [...].................................................................711
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO TEMÁTICAS ................................................................................................. 726
AS ESCAPATÓRIAS URBANAS ........................................................................................................ 727
Nathalia Guimarães Boanova, As escapatórias nas narrativas urbanas.......................................727
Luciana Chen et. al., As escapatórias nas narrativas urbanas: arcos do Bixiga como espaço de
encenação de polêmicas.....................................................................................................................................751
EPISTEMOLOGIA E HISTÓRIA DA SEMIÓTICA ........................................................................ 768
Carolina Lindenberg Lemos, A história dos actes sémiotiques [...]..................................................768
ENUNCIAÇÃO E PLANO DE EXPRESSÃO....................................................................................787
Andréa Luisa Martins dos Santos, "Enunciação e plano da expressão: a manipulação do
enunciatário".........................................................................................................................................................787
SEMIÓTICA DA EDUCAÇÃO II.......................................................................................................800
Moema Martins Rebouças et. al., Pesquisa Greimas 100 anos-CPS eixo-educação...................800
SEMIÓTICA DA MODA, CORPO E CONSUMO I..........................................................................820
Juliana Letenski Moreira e Taisa Viera Sena, As Sufragistas: moda e discurso
político.....................................................................................................................................................................820
Sylvia Demetresco e Marcelo M. Martins, Manequins: histórias e contextos de projeção de
pessoa, de espaço e de tempo..........................................................................................................................829
Jaqueline Cavalcanti Zarpellon, O projeto Ateliê Vivo [...]..................................................................841
Mariana Braga et. al., Os territórios do consumo de moda em São Paulo.....................................854
SEMIÓTICA DO AUDIOVISUAL I: ESTUDOS DE TELEVISÃO................................................877
Elizabeth Bastos Duarte, Tonalização: um dispositivo discursivo com dupla
função.......................................................................................................................................................................877
Anielly Laena Azevedo Dias, A apropriação da semiótica greimasiana para o estudo dos
objetos televisuais................................................................................................................................................888
Gabriel Souza e Fernanda Sagrilo Andres, A semiótica discursiva no estudo do
televisual.................................................................................................................................................................900
SEMIÓTICA DO AUDIOVISUAL II.................................................................................................917
Jaqueline Esther Schiavoni, Telenovela: projeções discursivas em vinhetas de
abertura..................................................................................................................................................................917
Conrado Moreira Mendes, Os sentidos da nova classe média na telenovela...............................936
Anais Eletrônicos . 5
Airton Jordani Jardim Filho (PPGAV/UDESC)
Ana Paula Sabiá (PPGAV/UDESC)
Janaí de Abreu Pereira (PPGAV/UDESC)
Sandra Regina Ramalho e Oliveira (PPGAV/UDESC)
Alguns Desdobramentos da École de Paris
Some Developments of the École de Paris
Resumo: Equivoca-se quem imagina que École de Paris, referindo-se à Semiótica, consiste em um
conjunto único de conceitos, princípios e teorias sobre os quais todos os herdeiros intelectuais de A. J.
Greimas estão de acordo. A dinastia intelectual greimasiana cresceu e multiplicou-se, sua edificação
teórica ganhou outras configurações, o que pede revisões periódicas para que se tenha uma noção das
relações complexas que vão se construindo entre essas ram
École de Paris, como vêm repercutindo suas ideias, as que ele próprio animou, bem como as que
concebeu em interação com seus discípulos? Este texto aponta alguns desses caminhos e tenta mostrar
algumas ideias de cada um deles.
Palavras-Chave: Semiótica Discursiva. Semiótica Greimasiana. Semiótica Pós-greimasiana.
Abstract: It is wrong to imagine that the École de Paris, while referring to Semiotics, consists of one
single set of concepts, principles and theories upon which all the intellectual heirs of A. J. Greimas agree.
The Greimasian intellectual dynasty grew and multiplied, its theoretical construction gained other
configurations, which demands periodic revisions so that one has a notion of the complex relations built
between these ramifications. In the centenary of the "founding father" of the École de Paris, how are his
ideas reverberating? Both the ideas he himself animated, as well as those he conceived while interacting
with his disciples? This text points to some of those paths and attempts to show some ideas in each one of
them.
Keywords: Discursive semiotics. Greimasian semiotics. Post-Greimasian semiotics.
Quando se fala em École de Paris, referindo-se ao âmbito dos estudos
semióticos, ainda é comum o entendimento, entre os principiantes e leigos
e sempre
nos preocupamos em motiva-los e traze-los à discussão - , de que se trata de um
conjunto único de conceitos, princípios e teorias sobre os quais todos os herdeiros
Anais Eletrônicos . 653
intelectuais e demais seguidores de Algirdas Julien Greimas estão de acordo. Entretanto,
hoje não apenas a dinastia intelectual greimasiana cresceu e multiplicou-se, como a
própria edificação teórica ganhou outros traços e configurações, o que pede revisões
periódicas para que se tenha uma noção mesmo que imprecisa da totalidade, das
relações complexas que vão se construindo entre essas ramificações e as direções para
as quais elas apontam.
Em um sentido amplo, poder-se-ia dizer que temos duas direções mais profícuas
operando atualmente, conforme J. Fontanille, quais sejam, a da semiótica do mundo
sensível e a da semiótica das práticas. E estamos todos de acordo com este autor
quando, mais adiante, afirma que
se se examina com mais atenção cada uma das correntes que ocupam
atualmente o domínio recoberto pela intitulada École de Paris, constata-se
que que elas não se distribuem simplesmente de cada lado desta linha
divisória. Ao contrário, elas combinam cada uma a sua maneira esses dois
1008
.
Assim, há tendências dominantes, há produções que combinam pressupostos
dessas tendências principais e há também outros deslocamentos respeitáveis. O
manancial de estudos sobre fenômenos de significação e de sentido que tem como
marco histórico o último quartel do século XX, como identificação inter paris o nome
de École de Paris e como liderança intelectual a personalidade de Algirdas Julien
Greimas, vem fluindo em tantas direções, e tão caudalosamente que
tenham ousado faze-lo
embora alguns
hoje já não é mais possível dar conta de seus desenvolvimentos
a partir de uma mesma fonte: as variadas vertentes têm seus credenciados especialistas.
Enciclopédias encomendam aos mais respeitados conhecedores dos mais variados
assuntos e atividades as explicações de fenômenos, teorias e conceitos; e dicionaristas o
fazem, igualmente. Assim, os semioticistas franceses Driss Ablali e Dominique Ducard,
organizaram e publicaram em 2009 na França um trabalho intitulado Vocabulaire des
études sémiotiques et sémiologiques, no qual apresentam uma proposta não apenas de
um rol vocabular de conceitos, mas uma relação antecedida por compilações das
principais ideias de cada corrente atual da semiótica em geral, e não apenas da
greimasiana e pós-graimasiana, articulando-as à respectiva terminologia. E delegaram
aos seus principais representantes essa compilação de ideias e conceitos. Certamente
de Paris
. In: ABLALI, D. e DUCARD, D.
Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques. Paris: Honoré Champion Éditeur; Besançon:
Presses Universitaires de Franche-Comté, 2009, p. 44.
1008
Anais Eletrônicos . 654
não esgotam as respectivas semióticas, mas apresentam um panorama fidedigno de cada
uma, dadas as autorias.
Menos ainda esta tentativa de sintetizar e de apenas delinear as principais
correntes pós-greimasianas se ignora pretensiosa e confessamos previamente a
frustração da incompletude, das lacunas, das dúvidas nas traduções, talvez de
imprecisões. Tomemo-lo assim, este texto, como um mosaico constante de algumas
peças-chave garimpadas com zelo, mas espalhadas sem hierarquia, deixando espaços
não apenas para reflexão, que não deixa de ser presentificação do passado, mas
possibilitando hiatos para respiração, para se inalar o presente.
Em outras palavras, este texto, antes de ser um exaustiva listagem de nomes de
diversas correntes semióticas e de seus respectivos propositores, visa ser um provocador
de debates, bem como mais um entre os tantos argumentos que se tem para mostrar os
aparatos teórico-metodológicos que a semiótica oferece ao pesquisador, além de esboçar
um panorama genérico do que se faz em semiótica, hic et nunc.
Igualmente, é necessário esclarecer que a opção semântica por intitular este
a vez que ao serem caminhos
diferentes os rumos tomados, não anula o fato de partirem de um mesmo ponto, ou seja,
terem uma raiz comum. Assim, o quadro que hoje se apresenta na semiótica pósgreimasiana não é de um repertório comum a todos os estudiosos, mas não se trata de
simples discordâncias teóricas, tampouco. Antes, consiste em repertórios de base
comum que ora se aproximam, ora se afastam, dialogam ou não, às vezes sofrem
críticas sutis ou sarcásticas, tão ao gosto dos franceses, mas sempre na busca de
melhores perspectivas para observar e tentar compreender os fenômenos de significação
e de sentido.
1 Mutações no tempo e no espaço e incompreensões
A necessidade de cada vez mais se esclarecer a existência de incontáveis
abordagens semióticas se evidencia na medida em que, por desconhecimento,
estudiosos das diversas linguagens, com destaque para os iniciantes, distanciam-se ou
simplesmente se fecham em críticas equivocadas. Ou seja, se alguém de dispõe a
criticar, deve ao menos se ater a qual perspectiva semiótica se refere. O fato é que o
senso comum e mesmo teóricos de outras áreas, a partir de conhecimentos superficiais
Anais Eletrônicos . 655
ou ultrapassados, ignoram a existência de distintas vertentes, bem como as sucessivas
atualizações pelas quais elas passam. Entre outras tantas características, as semióticas
pós-greimasianas estão em constante mutação, no tempo e no espaço, tentando dar
conta dos processos de sentido de um mundo igualmente em permanente mutação no
tempo e nos espaços. Isto dificulta ainda mais a compreensão desse campo teórico por
parte de iniciantes, além das diversas dificuldades já apontadas anteriormente.
No transcorrer de anos, a semiótica, tida como proposta teórico-metodológica
desconhecida e com fôlego para atuar nas mais diversas áreas, de um modo geral foi
recebida com incompreensões no mundo científico, o que não é estranho a quem dele
participa, fenômeno discutido extensamente por Th. Kuhn1009, acerca das estruturas das
revoluções científicas. A. Hénault 1010 ilustra esse estranhamento diante do novo no
campo científico relatando o fato de que quando da transformação de uma simples
coluna sobre semiótica na revista científica Informations sur les sciences sociales, que
tinha o apoio da UNESCO, em uma revista internacional de grande repercussão, em
1969, à matriz linguística da teoria semiótica pouco espaço foi concedido, embora ela
-exclusão era um exemplo das
consideráveis dificuldades de difusão pelas quais viria a passar (e pelas quais ainda hoje
Ora, neste seu estudo, o objetivo de Hénault era o traçar um histórico dessa
semiótica de origem linguística e então ela complementa, de um lado deixando explícito
existência de outros motivos para um fato aparentemente banal e, de outro, justificando
não aprofunda-los:
não há dúvida de que seria útil tentar relatar esse estado de coisas. Mas, por
essa via, entrar-se-ia em pormenores de uma história da semiótica que se
confundiria parcialmente com a história social e ideológica do século XX,
correndo provavelmente o risco de perder de vista um certo encadeamento de
esforços conceituais e de descobertas maiores (...)1011.
Ou seja, se tratamos de linguagens e dos sentidos infinitos que elas são capazes
de construir
e desconstruir - , estamos tratando do talvez mais importante elo de
manutenção e funcionamento de qualquer sociedade e em qualquer dimensão. E essa
amplitude, esse permear toda ação humana desempenhado pelas linguagens acaba por
demandar um sem número de modos de estuda-las, até por conta das constantes
KUHN, T. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 1994.
HÉNAULT, A. História Concisa da Semiótica. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. pp. 7-8.
1011
Idem, p. 8.
1009
1010
Anais Eletrônicos . 656
mutações linguísticas e da diversidade cultural. Portanto, caracteriza-se não só como
importante, mas como necessário, esclarecer e difundir essas transformações e esses
diversificados esforços intelectuais dispendidos no intuito de apreender os sentidos da
vida e das coisas da vida, especialmente para quem atua não apenas na pesquisa, mais
ainda na educação. Qual o panorama atual?
semiótica da École de Paris, como vêm repercutindo suas ideias, as que ele próprio
animou, bem como as que Greimas concebeu em interação com seus discípulos? Ou
seja, como vem se desenvolvendo a profícua herança da École de Paris? A potência
daquelas discussões foi de tal magnitude que são diversas as correntes hoje
consideradas pós-greimasianas
da Escola de Paris na
1012
. E é ele mesmo quem responde,
2 Desdobramentos
Considerando a situação registrada há mais de um lustro, em coletânea
organizada e publicada por Driss Ablali e Dominique Ducard, intitulada, no original em
francês Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques, observa-se que os autores
conseguiram reunir, como desdobramentos da semiótica discursiva greimasiana, ou da
École de Paris, estudiosos que construíram pressupostos relacionados às seguintes
correntes: Semiótica da Ação, Semiótica das Paixões, Semiótica Subjetal, palavra ainda
sem tradução satisfatória em português
ramo um tanto obliterado, pois a Semiótica
Greimasiana tenha sido consierada objectale por Algirdas Julien Greimas - , Semiótica
Tensiva, Sociossemiótica e Ethosemiótica. De que tratam essas novas ou, ao menos,
renovadas vertentes? Em que direção têm sido conduzidos seus esforços? Cada uma
delas é trazida pela autoria de um prócer de seu respectivo quadro teórico, o que faz
desta coletânea uma fonte, além de confiável, um marco histórico.
Segundo os organizadores do Vocabulaire des études sémiotiques et
sémiologiques, a intenção da publicação, que abrange não apenas as derivações
greimasianas
1012
FONTANILLE, J. Op. cit, 2009, p. 43.
Anais Eletrônicos . 657
obre inédita, nascida da articulação e do cruzamento de diferentes campos da semiótica
1013
e da
, servindo de demarcação de um espaço fundamental para o ensino
e a pesquisa nos domínios semióticos e semiológicos.
Neste contexto, a coletânea considerada por seus autores como, ao mesmo
tempo, enciclopédica e didática, inicia com um conjunto de textos referentes às
semióticas anteriormente citadas, pertencentes ou decorrentes do programa teórico de
teóricos da semiótica
1014
. O conjunto é introduzido por Jacques
Fontanille, que se ocupa de mostrar tanto a coerência quanto as diferenças e os
deslocamentos de foco, centrados nas práticas e no sensível.
O presente texto tem como objetivo, por conseguinte, tanto apresentar a alguns
debutantes os profícuos desdobramentos da escola greimasiana quanto, para outros já
iniciados, trazer à discussão conceitos, teorias e métodos conforme propostos pelos
pensadores que hoje dão continuidade à cruzada em busca de melhor conhecer e dar a
conhecer os intricados
às vezes parecendo inextricáveis - e inesgotáveis processos de
construção de sentido.
A apropriação de novos objetos de estudo se dá pela apresentação mesma de
ensaios teóricos e análises tendo como foco objetos pertencentes a categorias
anteriormente não consideradas, bem como em registros específicos de estudiosos a
1015
1016
. A estudiosa afirma que essa frase, embora ela pareça trivial se
descontextualizada, apresenta uma proposta tanto de abertura para o estudo de novos
práticas. Após fazer várias considerações acerca dessa espécie de atualização
processada na semiótica em nossos dias, Teixeira apresenta suas principais fontes, além
de Jean-Marie Floch, Eric Landowski, Jacques Fontanille e Caude Zilberberg, os quais,
ABLALI, D. e DUCARD, D. Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques. Paris: Honoré
Champion Éditeur; Besançon: Presses Universitaires de Franche-Comté, 2009, p. 9.
1014
Idem, p. 16.
1015
Semiótica Plástica.
São Paulo: Hacker, 2004 a., pp. 111-112.
1016
TEIXEIRA, L
In: OLIVEIRA, A. C. (Ed.). As Interações Sensíveis: ensaios
de sociossemiótica a partir da obra de Eric Landowski. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2013, pp.
849-850.
1013
Anais Eletrônicos . 658
frutos da mesma árvore, hoje apresentam algumas diferenças nos modos de abordar os
sentidos; apesar disso, pensamentos conciliáveis, pois é essa articulação que ela faz em
seu artigo. Isto remete ao próprio Fontanille, quando se refere às combinações que os
estudiosos processam.
Entretanto, sabe-se que outros autores já consideram hoje inconciliáveis tais
articulações, e essas posições também pretendemos mostrar, coletando, nos discursos
dos sempre influentes semioticistas oriundos daquele grupo criado em Paris na década
de sessenta, no número 10 da Rue Monsieur Le Prince, reverberações e desdobramentos
daquela equipe de pesquisadores.
3 Semiótica da Ação
Na obra citada, Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques 1017 ,
principal referência para a elaboração do presente texto, o responsável por apresentar a
Semiótica da Ação foi o filósofo Jean-François Bordron, professor emérito de Semiótica
na Universidade de Limoges. Segundo ele, esta Semiótica pode ser entendida de dois
modos, a primeira, como a ação segundo expressa por enunciados em linguagens
diversas, verbal, gestual, imagética. À esta possibilidade de atuação da Semiótica como
possibilidade
considerada pela Semiótica da Ação é aquela na qual a ação é o efeito de uma instância
operatória que se situa obrigatoriamente na relação entre percepção e ação, chamada de
cie de
Bordron1018
sintaticamente a ação é o feito de um sujeito, embora um acontecimento possa ser o
resultado de uma ação. Assim, a ação é tida como um processo com um autor, e o
acontecimento pode ser a decorrência desse processo.
Refere-se também às dimensões internas e externas que interferem no sujeito da
ação, ou seja, as internas como sendo as do seu foro íntimo, seus desejos e paixões, e as
ABLALI, D. e DUCARD, D. Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques. Paris: Honoré
Champion Éditeur; Besançon: Presses Universitaires de Franche-Comté, 2009
1018
Idem.
1017
Anais Eletrônicos . 659
que muitas cenografias se articulam entre si, conforme a situação; é o que outros
denominam contexto.
4 Semiótica das Paixões
Anne
Beyaert-Geslin,
semioticista
da
Université
Bordeaux-Montaigne,
,
vinculada ao ISIC
responsabilizou-se por discorrer sobre o momento vivido pela Semiótica das Paixões,
ramo cuja denominação é homônima ao título do livro escrito em coautoria por Greimas
estudos se encontra exatamente nessa obra, embora registre que as primeiras ideias
foram esboçadas por Greimas em 1983, em Du Sens II.
Muito se tem escrito sobre a Semiótica das Paixões e muitos estudos têm sido
produzidos fundamentados na Semiótica das Paixões, inclusive no Brasil, pois os
estudos de Fontanille, depois dos de Landowski, são os mais divulgados no país, dentre
os descendentes da École de Paris.
Assim, vejamos o que diz o próprio J. Fontanille:
(...) a semiótica das paixões nasceu da necessidade de resolver
heterogeneidades próprias à semiótica narrativa, na qual
ao lado dos
enunciados de junção e de suas transformações, assim como das modalidades
da competência
quantitativo e, de forma geral, afetivos 1019.
Ou seja, assim se dão os desenvolvimentos das ciências: os modelos vigentes
vão se mostrando ineficazes ou insuficientes e novas buscas são impulsionadas. Nos
escritos acerca da Semiótica das Paixões fica evidente a observação introdutória de J.
Fontanille, de que hoje as demarcações de campo são imprecisas e flexíveis em se
tratando dos herdeiros da École de Paris, tendo em vista uma já vasta bagagem em
comum, malgrado os novos desenvolvimentos, levados a efeito por pensadores ou
grupos distintos: com ideias da Semiótica das Paixões cruzam-se conceitos da Semiótica
da Ação, da Semiótica Tensiva e mesmo da Sociossemiótica.
1019
FONTANILLE, J. Semiótica do Discurso. São Paulo: Contexto, 2007, p. 204.
Anais Eletrônicos . 660
Beyaert-Geslin1020
das paixões, que possibilita convocar actantes coletivos, propõe uma dupla acepção de
sujeito, o sujeito social e o sujeito individual. A autora encerra sua síntese acerca da
Semiót
inaugura duas
pensamento contemporâneo de J. Fontanille e de E. Landowski.
5 Semiótica Subjetal
Sob o título de Semiótica Subjetal é recuperado o pensamento de Claude
Coquet, até então deixado à margem, em virtude de que a semiótica da École de Paris
prio Greimas. Isto é o que nos traz Ivan DarraultHarris, professor emérito da Universidade de Limoges, membro do CeReS, Centre de
Recherches Sémiotiques.
Como seu nome sugere, a Semiótica Subjetal se ocupa do sujeito, antes de tudo.
Darrault-Harris afirma que Coquet fez parte da École de Paris desde seus primórdios,
por volta de 1965, mas manteve uma posição particular, o que pode ter motivado não ter
sido levado em conta por seus pares, nos primeiros tempos. Discípulo de Émile
Benveniste, manteve-se fiel à fenomenologia de Merleauum dos atores principais, no campo da semiode sua presença na ruptura epistemológica que permitiu rearticular linguagem e
realidade
1021
.
Dois fenômenos que ele recusou foram o formalismo e o imanentismo, o que
constituiu uma ruptura epistemológica com o pensamento do grupo na época; e
Darrault-Harris traz uma afirmação do próprio Jean-Claude Coquet, por considerar que
ela resume sua posição teórica:
Significar não é (...) um ato puramente intelectual. Não é exclusivamente
BAYAERT: Sémiotique d
e DUCARD, D. Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques. Paris: Honoré Champion Éditeur;
Besançon: Presses Universitaires de Franche-Comté, 2009, pp. 55-59.
1021
DARRAULT D. e DUCARD, D. Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques. Paris: Honoré Champion
Éditeur; Besançon: Presses Universitaires de Franche-Comté, 2009, p. 61.
1020
Anais Eletrônicos . 661
introduz nossa experiência de mundo, nosso contato com as coisas elas
1022
.
Esta recuperação da dimensão integral do sujeito, de inspiração fenomenológica
e em consonância com seu mestre Benveniste, gerou uma ruptura com o pensamento
dominante da semiótica do seu tempo na Europa, principalmente a negação do princípio
saussureano, de que a língua consiste em, apenas, forma. Ao contrário, Coquet
propunha que a instância da enunciação é composta por duas dimensões, a instância
pessoal, substancial e a instância linguística, formal. Ou seja, a realidade do discurso se
dá em função dessa dupla presença, que é nada menos do que o diálogo. E é assim
também que o elo entre linguagem e realidade. E ainda, segundo Darrault1023
.
Entre outras proposições, Coquet, que se dedicou a analisar principalmente
textos dos clássicos da literatura francesa, defendendo a presença dos dançarinos em
cena e do sujeito tomando forma sobre o papel, criou uma metodologia que permitiu a
análise psicossemiótica de comportamentos patológicos.
Darrault-Harris 1024 encaminha seu texto sobre Claude Coquet e a Semiótica
Subjetal, defendendo a ideia de que Greimas, atento aos pressupostos de Lacan, já
preconizava certos princípios, que eram parte de uma epistemologia que foi renovada
com o corpo sendo instituído como instância de base do processo de significação.
E conclui com palavras do próprio Coquet, dizendo que a realidade não é uma
conduzida convenientemente se a linguagem e a realidade são consideradas como duas
1025
gra
.
6 Semiótica Tensiva
A Semiótica Tensiva é muitas vezes confundida com a Semiótica das Paixões.
Porém, seus participantes esclarecem que trata-
1022
-
COQUET, J-C., 1997, pp. 1-2, apud DARRAULT -
Vocabulaire des études sémiotiques et
sémiologiques. Paris: Honoré Champion Éditeur; Besançon: Presses Universitaires de Franche-Comté,
2009.
1023
DARRAULT - HARRIS, I. Op. cit, 2009, p. 62.
1024
Idem, p. 65.
1025
COQUET, J-C., 1997, apud DARRAULT - HARRIS, I. Op. cit, 2009, p. 66.
Anais Eletrônicos . 662
sendo um prolongamento e uma atualização da Semiótica das Paixões. Daí o motivo de
certas pessoas não perceberem a sutileza da linha que as separa.
Na coletânea que apresenta o estado da arte da Semiótica
não apenas das
semióticas greimasianas e pós-greimasianas - , em 2009, e que é a base estrutural deste
texto, Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques, a Semiótica Tensiva é
apresentada por Nicolas Couégnas. Trata-se de um professor da Universidade de
Limoges que coordena o programa ANR CEMES - Culturas Emergentes e Mediações
Semióticas, entre outras atividades acadêmicas.
Fica claro desde logo que, para o autor, a Semiótica Tensiva se subdivide em
três perspectivas ou três abordagens, segundo Couégnas, linhas de pensamento diversas
1026
.
A primeira das três abordagens da Semiótica Tensiva é considerada
fenomenológica, traduzida pela mudança que significa a primazia da presença, em
substituição a se considerar a semiótica como restrita ao campo das ciências da
linguagem. Mesmo que se pretenda entendida como um aprofundamento da Semiótica
de se referir, seus defensores, às suas bases, quais sejam, a linguística de Émile
Benveniste, a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty e a Semiótica Subjetal de JeanClaude Coquet.
Ainda de acordo com o mesmo autor, a segunda perspectiva da Semiótica
Tensiva é representada pelo conjunto dos esforços teóricos de Claude Zilberberg, os
quais podem ser classificados como estruturalistas e retóricos. Estão ancorados, por sua
vez, em princípios saussureanos (pressupostos de Ferdinand de Saussure) e
hjelmslevianos (postulados por Louis Hjelmslev). A terceira vertente da tensividade
semiótica atual propõe-se a ser integradora, juntamente com as outras duas vertentes a
Semiótica Tensiva, compondo um todo articulado e quase, mas nem sempre coerente,
uma vez que constituído por produções pautadas por linhas distintas.
Couégnas refaz sinteticamente o caminho percorrido por J. Fontanille, na
construção da sua edificação teórica, desde a publicação, com A. J. Greimas, de
Sémiotique des Passions, em 1991, não omitindo que seu germe vem de Du Sens II, de
autoria de Greimas (1983). E conclui dizendo que nos seus últimos desenvolvimentos,
1026
DUCARD, D. Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques. Paris: Honoré Champion Éditeur;
Besançon: Presses Universitaires de Franche-Comté, 2009, p. 68.
Anais Eletrônicos . 663
articulando o enfoque fenomenológico ao percurso gerativo, implica levar em conta
dimensões extra-discursivas, se opondo, neste aspecto, à Semiótica Tensiva de
abordagem retórica, ou seja, intre-discursiva.
7 Sociossemiótica
Mais conhecida entre os brasileiros do que qualquer outro ramo da semiótica
-
pós-greimasiana
país, presença de fato e presença por meio de várias publicações, sempre vinculadas ao
CPS, o Centro de Pesquisas Sociossemióticas que dirige juntamente com Ana Claudia
de Oliveira na PUC/SP há cerca de vinte anos, temos a sóciossemiótica (em francês,
socio-sémiotique).
Ele é o autor do artigo que se refere a essa vertente teórica também originária na
École de Paris na coletânea1027 que embasou a estrutura e muitas das ideias deste texto;
mas não vamos nos restringir a ele. Nem vamos ignorá-lo, tampouco e assim,
comecemos mesmo por esse artigo, de 2009.
Nele Landowski inicia situando a sociossemiótica como vertente inspirada em
Saussure e Hjelmslev, título a ser empregado
para designar, segundo os contextos, tanto um dos ramos especializados da
disciplina, aquele que toma especificamente por objeto o social (por
oposição, por exemplo, ao literário) como uma das principais correntes
teóricas oferecidas atualmente para fundamentar ou renovar a análise dos
fatos significativos em geral, seja qual for o tipo de campo empírico
considerado1028.
Adiante, o autor faz a retrospectiva de sua trajetória intelectual e dos que
comungam suas ideias, ilustrando com investigações levadas a efeito desde os anos
setenta na França, na Itália e na América Latina, sempre tendo como objeto empírico
problemas do cotidiano. Esclarece diversos conceitos, tanto os adotados por ele quando
os desconsiderados, explicando os porquês, superações inerentes aos desenvolvimentos
de uma disciplina. Assim, critica o que chama de modelo standard da semiótica
greimasiana, o modelo clássico do quadrado semiótico, o percurso gerativo do sentido,
propondo uma revisão, assim considerada por J. L. Fiorin:
D. Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques. Paris: Honoré Champion Éditeur; Besançon:
Presses Universitaires de Franche-Comté, 2009, pp. 73-80.
1028
Idem.
1027
Anais Eletrônicos . 664
Uma afirmação corrente entre os semioticistas era que o nível narrativo tinha
sido o patamar mais bem desenvolvido do percurso gerativo do sentido. Essa
asseveração levou à crença de que a notável redução operada por Greimas
nas funções proppianas chegara a um modelo narratividade elegante, simples
e universal 1029.
Segue Fiorin, mais adiante, no mesmo texto, anunciando que
a certeza dos semioticistas acerca da descrição do nível narrativo foi abalada
pela publicação, em 2005, de Interações Arriscadas, de Eric Landowski. É
essa obra que aparece agora em português. Nesse texto brilhante, Landowski
mostra que não existe um modelo de narratividade, mas quatro 1030.
Ora, isto consiste em uma grande mudança de paradigmas na semiótica pósgreimasiana, operado por Landowski, conforme deixa claro Fiorin. Em outro título do
autor francês, publicado um ano antes considerando-se a versão francesa de Les
interactions risquées (2005) e intitulado Passions sans nom (2004), ainda sem versão
em português, Landowski reúne, revisados, boa parte da sua produção teóricometodológica, inclusive os princípios apresentados de modo mais conciso, em
Interações Arriscadas (2014).
Entre as conclusões apresentadas em Passions sans nom, Landowski mostra a
necessidade de uma gramática do sensível, embora confesse não estar seguro de que
esta seria a melhor denominação para tal; mas seria uma gramática destinada a dar conta
desses modos de construção de sentido que contemplem a dimensão estésica1031. Ainda
demonstrando insatisfação com a semântica, fala também de uma semiótica existencial,
a ser desenvolvida no futuro,
uma semiótica que saberá se mostrar atenta tanto às configurações dinâmicas
que articulam para nós a matéria das coisas quanto aos regimes de contato
que nos entretém com suas configurações, uma vez que são duas faces de um
só e mesmo processo do qual depende a emergência e apreensão dos efeitos
de sentido experimentados na presença do outro, pelos sujeitos em situação
que somos nós1032.
diversos problemas encontrados pela disciplina, permite ao estudioso o acesso às
práticas sociais no sentido amplo. Segundo o autor,
o edifício teórico que nós nos esforçamos para construir se torna, ao menos
esperamos, que seja parte integrante da semiótica geral. Nós diríamos
mesmo, se a modéstia não nos obriga a alguma reserva, que este trabalho é
Interações Arriscadas. São Paulo: Estação das Letras
e Cores; Centro de Pesquisas Sociossemióticas, 2014, p. 7.
1030
Idem.
1031
LANDOWSKI, E. Passions sans nom. Paris: PUF, 2004.
1032
Idem, p. 305.
1029
Anais Eletrônicos . 665
semiótica mesmo, sem prefixo nem adjetivo, tal como nos parece atualmente
possível desenvolvê-la (...): uma semiótica sem nome1033.
Mais recentemente, a ampliação dos modelos de narratividade, os regimes de
interação e de sentido propostos por Landowski consistem em um campo fértil para o
exame dos processos de efeitos de sentido nos mais diversos objetos empíricos de
significação.
O texto intitulado Socio-sémiotique que Landowski assina na coletânea
Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques, citada anteriormente neste texto
ad nauseam, conclui-se com o seguinte posicionamento - ou convite - do semioticista
francês:
fortemente integrador porque visa a dar conta não apenas das regularidades
mas também dos acidentes de construção de sentido, este modelo implica
uma moral da interação, ou uma ética do sentido. A este título, convida a uma
nova reflexão sobre o papel, o estatuto e a vocação da nossa disciplina, a
meio caminho entre as descrições antropológicas e a reflexão filosófica 1034.
Trata-se do posicionamento reiterado em Interações Arriscadas, quando
Landowski intitula o primeiro capít
1035
ologia e
, ou seja, trata-se da explicitação de seu retorno às origens teóricas, bem
como da identificação das inspirações de seus achados e suas elaborações mais atuais,
além de um convite à reflexão.
8 Ethosemiótica
Ivan Darrault-Harris, Professor e Pesquisador da Universidade de Limoges, que
na coletânea de Driss ABLALI e Dominique DUCARD apresenta a Semiótica Subjetal,
é quem também assina o texto sobre a Ethosemiótica, na mesma coletânea, Vocabulaire
des études sémiotiques et sémiologiques.
Sabe-se que ethos é uma palavra de origem grega, que encerra os sentidos de
valores, harmonia e hábitos, tendo dado origem à palavra ética; é usada para designar o
modo de ser de uma sociedade, características sociais e culturais que distinguem um
povo de outro. Campo de estudo da sociologia, pelo fato de igualmente se ocupar do
comportamento, acaba sendo também objeto da psicologia e mesmo da psiquiatria.
Ibidem, p. 11.
LANDOWSKI, E. Op. cit, 2009, p. 79.
1035
LANDOWSKI, E. Interações Arriscadas. São Paulo: Estação das Letras e Cores; Centro de Pesquisas
Sociossemióticas, 2014.
1033
1034
Anais Eletrônicos . 666
Ao contrário da sua abordagem acerca da Semiótica Subjetal, na apresentação da
Ethosemiótica Darrault-Harris assume uma postura mais crítica. Inicia afirmando que
quando subáreas da semiótica adotam prefixos de uma ciência humana, como
pesquisas tradicionalmente ocupado por uma disciplina patenteada, conhecida e
1036
. Não obstante, reconhece que se trata de um desafio o
confronto interdisciplinar no estudo de fenômenos comuns a mais de uma disciplina,
mas adverte que a ethosemiótica e todas as demais semióticas com prefixos fazem
concorrência com campos de conhecimento que se dedicam ao comportamento, como
por exemplo, a antropologia, a sociologia, a psicologia. Não se trata de algo novo,
porém; para ilustrar, lembra que Saussure, ao prever objetos de estudo futuros para a
semiologia, chegou a citar ritos de boas maneiras; e que Greimas tomou por objeto de
estudo, entre outros, a análise narrativa de comportamentos em sessões de psicodrama.
Mas Darrault-Harris acaba dedicando boa parte de seu texto a diferenciar a
ethosemiótica de outros campos aos quais ela se mescla e pode se confundir.
Ao conceituar o projeto ethosemiótico, diz o autor:
A ethosemiótica visa então a descrição, a análise e, finalmente, a
modelização semiótica de comportamentos pertencentes tanto ao mundo
animal (do ser unicelular ao primata) quanto ao mundo humano (mais o ser
humano é composto por células dotadas cada uma de um
(...)1037.
Fica então esclarecido que o foco deste ramo da semiótica é o comportamento
animal, tanto do mundo humano, quanto animal. Mas isto não é tudo; mais adiante,
segue Darrault-Harris afirmando que no que se refere ao comportamento humano, ela se
interessa especialmente pela gênese dos comportamentos, como dos bebês, das crianças
e dos adolescentes, traços específicos, práticas e sequências características. Lembra que
bizarros, perturbados, ou
1038
. Estes casos, mesmo sendo objeto da psico-patologia ou da
psiquiatria também são incluídos nos estudos da ethosemiótica, dada a crença de que o
estudo desses casos são frequentemente o caminho mais direto para a compreensão do
normal. Por outro lado, há a ambição de mostrar que há problemas de natureza
semiótica que são os responsáveis por patologias comportamentais.
DARRAULTDUCARD, D. Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques. Paris: Honoré Champion Éditeur;
Besançon: Presses Universitaires de Franche-Comté, 2009, p. 81.
1037
Idem, p. 82.
1038
Ibidem.
1036
Anais Eletrônicos . 667
Ainda de acordo com o mesmo autor1039 em termos de aplicação das teorias, a
ethosemiótica se propõe a participar do diagnóstico quando da avaliação do
comportamento quanto de um projeto terapêutico para que o sujeito volte a um
comportamento dito normal ou ao menos, adaptado.
Em
síntese,
a
ethosemiótica
atua
em
campos
diversos,
mas
interdisciplinarmente, ou seja, em colaboração com pesquisadores dessas outras áreas, e
sua hipótese geral é de que a dimensão narrativa pode ser reguladora do
comportamento.
Quanto às relações da Ethosemiótica com a Semiótica greimasiana, estudos
mostraram que há recorrência , entre os adolescentes, de narrativas que podem ser
identificadas como extensão do percurso gerativo canônico.
Conclui Darrault-Harris1040 dizendo que a abordagem do objeto comportamento
e espaço
psíquico, equilibrando fenomenologia e psicanálise.
Considerações
Reputamos adequado, quando da celebração do centenário de A. J. Greimas,
esboçar uma espécie de árvore genealógica dos descendentes da École de Paris, com
breves anotações sobre cada um dos desdobramentos. Calcula-se que um grande
número de semioticistas está de acordo com J. Fontanille 1041 quando ele afirma que
temos dois ramos mais vigorosos operando, o da semiótica do mundo sensível e a da
semiótica das práticas.
Entretanto, existem referências esparsas acerca de outras ramificações mais
recentes ou não, desdobramentos já em terceira geração, ou resultantes da retomada de
princípios negligenciados ao longo da trajetória de buscas para a compreensão de
fenômenos de significação e de sentido.
A publicação organizada por Driss Ablali e Dominique Ducard, intitulada
Vocabulaire des études sémiotiques et sémiologiques, sem tradução ainda para o
português, nos trouxe reunidas essas muitas semióticas citadas em referências esparsas,
derivadas da
Ibidem.
Ibidem, p. 87.
1041
FONTANILLE, J. Op. cit, 2009, p. 44.
. Tanto que
1039
1040
Anais Eletrônicos . 668
é sempre o título de cada artigo e a semiótica específica é subtítulo. São textos que nos
encorajaram a estruturar uma possibilidade de árvore genealógica, a partir de seus
subtítulos, textos que foram citados, parafraseados e que suscitaram reflexões, além de
possibilitar proceder a correlações com outros autores e títulos, além dos que fazem
parte da citada coletânea.
Se os textos apresentados naquela publicação já são sínteses, mais sintéticas
ainda são as ideias aqui trazidas, que só aqui estão para provocar discussões e talvez
trazer à luz algum desses ramos, eventualmente não conhecido por todos.
Por outro lado, ainda a título de ressalva, o texto em francês mesmo passando
por profissional da área da linguística e cidadão francês nato, como já ocorreu
anteriormente, pode ter desviado alguma linha de pensamento do original. Propomos,
caso entendido de modo discretamente diferente do que quereria dizer seu autor
primeiro, que aqui está é o que foi entendido pelo leitor (não vivemos insistindo que,
para a semiótica, o que se leva em conta não é tanto o que o autor quis diz, mas o que
ele disse?). E consideremos, portanto, no caso de haver novas interpretações, como mais
um desdobramento das ideias da École de Paris.
É importante levar em conta, por outro lado, o ponto de vista ou mesmo a
filiação teórica das fontes, ou da principal fonte, Ablali e Ducard e seus convidados, a
maioria vinculado à Université de Limoges.
Este texto consiste em um esforço de um grupo de debutantes, admiradores
preocupação primeira será explicitar, na forma de uma construção conceitual, as
condições da apreensão e da
1042
. E Hénault arremata afirmando,
após esta citação:
Vimos, como essas palavras, vagas e vazias na aparência, se preencheram de
sentido pelo próprio desenvolvimento da pesquisa e pelos sucessivos
deslocamentos dos conceitos: a real definição da teoria semiótica é a sua
história1043.
E afinal, acabamos fazendo um tipo modesto de história, história de cem anos
com Greimas ou órfãos dele, para celebrar sua tão profícua existência.
1042
1043
A. J. Greimas, apud Anne Hénault, Op. cit., 2006, p. 153.
Hénault, Op. cit., 2006, p. 153.
Anais Eletrônicos . 669