FILOSOFIA CRISTÃ
Filosofia Cristã
CAPÍTULO I
O desdobramento dos temas do socratismo cristão...............................................02
1.1. Da revelação do conhecimento de si mesmo..................................................02
1.2. Conhecimento do homem e conhecimento de Deus........................................03
CAPÍTULO II
Lições de filosofia tomista.................................................................................. 05
1 – A existência de Deus.....................................................................................05
1.1 – As cinco vias............................................................................................. 05
2 – Deus, motor imóvel...................................................................................... 05
3 – Deus, primeira causa....................................................................................06
4 – Deus, ser necessário.................................................................................... 06
5 – Deus, supremo ser....................................................................................... 06
6 – Deus ordenador........................................................................................... 07
7 – O argumento ontológico................................................................................07
CAPÍTULO III
O que podemos conhecer de Deus......................................................................08
1 – O nosso conhecimento e Deus......................................................................08
2 – As nossas palavras e Deus............................................................................08
3 – O que podemos conhecer de Deus................................................................ 08
4 – A analogia................................................................................................... 09
CAPÍTULO IV
Os atributos de Deus......................................................................................... 09
1 – Simplicidade................................................................................................ 09
2 – A asseidade..................................................................................................10
3 – A perfeição.................................................................................................. 10
4 – A bondade...................................................................................................10
5 – A infinidade................................................................................................. 10
6 – A imutabilidade............................................................................................ 11
7 – A eternidade................................................................................................ 11
8 – A imensidade............................................................................................... 11
9 – A unidade................................................................................................... 11
10 – A inteligência............................................................................................. 12
11 – A verdade.................................................................................................. 12
12 – A vontade.................................................................................................. 12
13 – A onipotência............................................................................................. 12
14 – O amor..................................................................................................... 13
15 – A vida........................................................................................................13
16 – A bem-aventurança.................................................................................... 13
CAPÍTULO V
Fé, Estado e Política
1 – Estado e Igreja............................................................................................13
2 – Fé e Política.................................................................................................14
3 – Leitura política da mensagem evangélica....................................................... 15
Bibliografia..................................................................................................15
CAPÍTULO I
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SUMÁRIO
Filosofia Cristã
I- O DESDOBRAMENTO DOS TEMAS DO SOCRATISMO CRISTÃO
Vamos agora, à guisa de informação, fazer uma reflexão, possivelmente uma “cogitação” ou até
mesmo uma “meditação” sobre os temas expostos anteriormente, não no sentido de retomá-los em suas
particularidades, mas com a intenção de realçar, em termos gerais, os traços principais de um posição
filosófica, que, a nosso ver, é responsável pelas diretrizes da metafísica moderna contemporânea.
A passagem da metafísica do ser para a metafísica do sujeito, a passagem da valorização de princípios
intelectuais à valorização de um “pathos” como princípio filosófico, a passagem do conhecimento racional
e abstrato, conceitual e discursivo, reflexivo e progressivo, a um conhecimento intuitivo e vivencial, esta
passagem não se faz por acaso. Não se fez, também, em razão de uma hipótese de trabalho proposta a uma
estranhas à pura especulação filosófica interferiram, exigindo soluções inovadoras, que, na verdade,
transcendiam o campo estrito da Filosofia, para procurar atender ao problema do homem como tal, no seu
todo, frente a si mesmo e ao seu destino. E, hoje, quando a Filosofia procura reencontrar-se, e propor-se em
termos de “ciências rigorosa”, é preciso saber se ela pode ser afetivamente a ciência rigorosa que pretende,
sem ter a consciência nítida não só dos resíduos particulares que carrega consigo, mas sobretudo sem ter a
consciência clara da razão de ser de uma estrutura e de uma direção, que assumiu, como uma resultante
histórica, mas não como uma conclusão sistemática
Este, pois, é o resultado deste estudo. Procurar descobrir os marcos escondidos, ou esquecidos, que
demarcaram uma trajetória, que abriu afinal a estrada por onde caminha a Filosofia moderna e
contemporânea. Assim, poderemos verificar que embora apareça como expressão de uma razão naturalista,
encontra de fato a sua justificativa em colocações que têm a sua razão de ser no campo do pensamento
religioso em sua manifestação mais profunda, que é a experiência mística.
Intuição e vivência são os pólos que definem o eixo sobre o qual gira o mundo da Filosofia moderna e
contemporânea. Intuição e vivência são os traços característicos essenciais da experiência mística. Não mera
coincidência, contudo. É possível traçar o itinerário percorrido, e esclarecer o caminho que hoje aparece
como uma nova posição filosófica, e se apresentam em especial como uma nova metafísica.
Seja, pois, esta recapitulação, um ponto de origem, uma vez que a partir daí teremos uma perspectiva
adequada para apreciar as colocações e o desenvolvimento dos problemas, e assim poder julgar de suas
soluções. Poderíamos dizer, por exemplo, que, desta forma, seríamos capazes de tomar o estudo da
Fenomenologia e fazer-lhe a “redução”, ou seja estabelecer-lhe os alicerces inarredáveis.
Passemos, pois, à meditação prometida, meditação porque não apenas recapitula informações, não
apenas relaciona, e por isso não é uma simples “cogitatio”, mas compreende, e com isto assume num plano
crítico os elementos, o que nos poderá colocar numa posição capaz de dar-nos um novo ponto de partida, ou
ao menos uma certa segurança necessária ao trato da Filosofia, se o queremos fazer como filosóficos, é não
como simples divulgadores ou curiosos.
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verificação. Fez-se em razão de um dramático debate em que elementos culturais diversos, e intenções
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1. Da Revelação ao conhecimento de si mesmo.
A Revelação, como a encarnação do Verbo, e o Novo Testamento, são obras da graça para a salvação
do homem. E esta presença de graça se justifica pela natureza decaída do homem, em face do pecado
original. Entender o significado da Revelação como graça concedida o que ele é em sua condição, é conhecer
o estado de sua natureza no tempo e no espaço.
Nos primórdios do cristianismo, os apóstolos foram em geral homens simples, e não sábios, senão por
inspiração. Compreensível, portanto, quer a princípio o cristianismo, do ponto de vista da cultura e da
instrução se limitasse à leitura das Sagradas Escrituras. Eis porque foi conhecida como a “Religião do
Livro”. Compreensível, também, a oposição à cultura pagã construída pela “vaidade e pretensão dos
homens”, quando a verdade salvadora estava contida nos Livros Santos. Assim, os “sancti” se opunham aos
“Teologia”, a palavra ou discurso de Deus. Teologia significava, portanto, a Bíblia, a Palavra de Deus, de
Teo-deus, e logos-discurso. O cristão devia conhecer e amar a palavra de Deus, para transformá-la em vida.
O saber, para o cristão, seria conhecer com amor, como virtude e forma de vida.
Ao lado da tradição (ou transmissão) escrita, punha-se a tradição oral através daqueles que a partir de
um contacto direto com Cristo, transmitiam o espírito de entendimento ao lado da letra puramente escrita. Se,
a princípio, a tradição oral era garantida pelos vínculos de conhecimento direto e indireto como o Cristo, com
o passar do tempo, desfazia-se a possibilidade de estabelecer esta relação, e a autoridade da interpretação
ficava garantida pelo comportamento virtuoso do interprete. Mas, como não é necessário que o homem
virtuoso seja inteligente e culto, verdade é que as divergências surgiam, do ponto de vista doutrinário, até o
momento em que, no século XII, Abelardo denuncia esta situação, e com sua obra “Sic et Non” advoga uma
solução, que vai aparecer com a Escolástica. Daí as Surmas, em substituição às Antologias, aos Florilégios,
ao Livros de Sentenças.
Vimos, que historicamente, o ideal escolástico de um corpo de doutrina sistemático, de uma Teologia
dogmática (a doutrina relevada sob forma sistemática) aparece como resposta necessária diante de uma
situação de fato, cujas, dificuldades deviam ser superadas.
Por outro lado, devemos notar o fato de que, desde os primórdios, a relação de conhecimento
verdadeiro é constante. E este sentido vivo do conhecimento se caracteriza pelo ensino dos Apóstolos, que é
“catequese”. A palavra grega Katekesis do verbo katekeon, que significa ressoar, indica o ensino de viva voz,
o ensino assistido, vivo. O tempo não dilui antes acentuou o significado da palavra catequizar, significando
hoje conquistar a opinião ou convicção de outro.
Por outro lado, as formas de excelência da vida cristã aparecem, desde os primórdios, pelo
reconhecimento para a meditação da palavra de Deus. São os eremitas, os cenobitas, e mais tarde as
comunidades monásticas, a expressão da vida cristã mais perfeita, na meditação da verdade revelada. Não é
necessário lembrar o papel da Ordem de S. Bento na renovação da cultura do ocidente. E assim, também, o
retorno ao modelo de vida simples dos apóstolos, no século XII para XIII, na luta pelo magistério dos frades
frente aos bispos, que detinham o poder de ensino. H. G. Good em seu livro “A history of Western
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“philosophi”. O saber estava contido nas Sagradas Escrituras, pois ali estava o “Sermo Divino”, a
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Education” acentua esta passagem das comunidades monásticas para a organização das universidades num
capítulo intitulado “From monastic schools to universities”.
O que desejamos mostrar é que, se a Escolástica se transforma num ensino demasiadamente acadêmico,
seria natural que se firmasse um outro movimento cioso da preservação de uma tradição, cuja força não é de
forma alguma para menosprezar. E, nesta linha, o interesse dominante não seria colocado no plano
especulativo-teórico, mas sobretudo na solução do problema do homem e sua salvação. A Revelação era
dada para salvação. O centro do conhecimento seria o amor do saber revelado, por isso o núcleo do problema
do conhecimento seria a atitude de espírito capaz de aprender e assimilar a doutrina salvadora.
Ora, a experiência mística exprimia de maneira excelente a gnosis cristã: por outro lado, realizava a
comunhão com Deus, através de uma visão condicionada por um comportamento existencial, por um estado
de vida e uma atitude de entrega. Este caminho não era o do aristotelismo ou o do platonismo. Mas, podia
a si mesmo seria conhecer-se em sua relação com Deus. Desta forma, a mística encontrava uma expressão
intelectual no socratismo cristão.
As Sagradas Escrituras permitiam a fundamentação da posição intelectualistas; o homem fora criado à
imagem e semelhança de Deus. Ele podia considerar a relação do homem com Deus, homem e Deus
pensados ao mesmo tempo, auscultando em si mesmo a presença de Deus. Abria-se, assim, a perspectiva de
uma metafísica voltada para o sujeito, em que o conhecimento e a experiência nele mesmo se conjugavam
perfeitamente: era um conhecimento e uma vivência. Era o homem total comprometido no ato do
conhecimento. Conhecer-se a si mesmo era conhecer sua relação com Deus, porque ser para o homem, era
existir com Deus.
2. Conhecimento do homem e conhecimento de Deus.
O conceito do homem criado à imagem e semelhança de Deus não coloca apenas a existência do
homem “com Deus”, mas o conhecimento do homem “por Deus”, porque também ele existe por Deus.
O conceito de Deus, por um lado, é o conceito da Santíssima Trindade, Ele é o Pai, Filho e Espírito
Santo, mas é também um “mistério”.
Para St.º Agostinho, a dignidade da “imagem” pertence apenas ao homem; no homem, pertence à alma;
na alma, pertence propriamente ao pensamento – mens – que é a parte superior e mais próxima de Deus. St.º
Agostinho distingue entre cogitare, discernere e intelligere, como distingue memória, inteligência e vontade,
de modo que a Psicologia agostiniana tem sempre presente o modelo trino de Deus na natureza do homem.
Mais tarde, teremos a tríade com relação aos planos do conhecimento; memor, cogitatio, e meditatio.
O homem existi por Deus, pois ele foi criado. Deus aparece fundamentalmente como criador. E a
própria Trindade aparece em termos de genealogia, o Pai, o Filho, gerado do Pai, e Espírito Santo gerado do
Pai e do Filho. Esta geração de pessoas mantém-se na unidade de ser divino. E assim surge a noção de que a
idéia de criação não se opõe à da permanência da unidade. Deus é Providência, é Onipotência, e Onipresente.
Os seres existem por Ele, e existem Nele.
O homem é criatura, e por sua dignidade é criatura excelente. Ele é a imagem de Deus, e é também a
imagem da criação, é um microcosmos. No homem existe uma síntese do mundo criado. A reflexão sobre si
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encontrar o patrocínio de Socrátes, o filósofo do conhece-te a ti mesmo. Apenas, para o cristão, conhecer-se
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mesmo daria ao homem conhecimento de Deus e o conhecimento do mundo. O conhecimento do homem é
um conhecimento privilegiado. É em função do homem que encontra a inteligibilidade do mundo, é em
função de Deus que se encontra a inteligibilidade do homem, e por aí também, enfim, a inteligibilidade do
mundo.
O conhecimento do mundo por si mesmo é um conhecimento inconcluso, efêmero, duvidoso, mera
cogitatio. O conhecimento do mundo pelo homem e por Deus, quer dizer relacionado o homem e Deus é um
conhecimento eficaz, certo, e se realiza como meditatio. O primeiro é relativo: o segundo é absoluto. O
primeiro consiste em estabelecer relações indefinidas, que não afetam a posição do homem que conhece; ao
passo que o segundo define a posição do homem, porque o compromete, porque o conhecimento não é pura
representação, mas convicção. Mas, para ser convicção, ele se realiza no plano da fé, ele precisa sustentar-se
na graça de Deus, ele é iluminado por Deus, e não apenas iluminado pelo conceito de Deus como um
meditatio é fundamentalmente esta entrega a Deus.
Numa exposição sintética, aí estão definidas as posições fundamentais que caraterizam o misticismo
intelectualista do socratismo cristão.
Agora, precisamente considerar as decorrências destas posições.
Em primeiro lugar, a convicção da superioridade da intuição, ou conhecimento direto, não discursivo,
em função da validade da experiência mística importa, de fato, numa atividade intelectual de redução, numa
“épokhé”, pela qual o místico de desliga das experiências físicas e psicológicas, para colocar-se num estado
de espírito de pura receptividade e de entrega a Deus, para que não mais ele, mas Deus opere por ele. Tratase de auscultar a presença profunda de Deus no seu próprio ser. Daí resulta uma visão, um conhecimento
direto, uma intuição, obra da graça, ou da iluminação divina. Esta experiência, que poderia ser tomada como
excepcional, o misticismo intelectualista procura naturalizar.
Apenas por uma ilustração didática, podemos lembrar que Bergson, modernamente, ao propor a
intuição intelectual de natureza filosófica parte do fato de que o artista manifesta espontaneamente a
possibilidade de uma visão direta e desinteressada, e que portanto a inteligência humana pode operar desta
forma, cabendo ao filósofo cultivar esta capacidade, para que ele se realize como um “habitus” segundo a
terminologia escolástica, mas que corresponde exatamente ao que o filósofo em causa propõe.
Assim também, o misticismo intelectualista, que é a transição da posição religiosa vivencial para o
especulativo filosófico, propõe o modelo de conhecimento verdadeiro no cultivo de um estado de espírito, na
formação de um “habitus” , pelo qual se efetuaria este conhecimento direto. Uma determinada forma de
vivência garantiria a validade da intuição, conhecimento direto iluminado por Deus. Nestes termos, teríamos
a operação da “razão natural”, e aqui não se entenda a razão separada da fé, mas, ao contrário, “natural” no
sentido de que sendo por natureza imagem e semelhança de Deus, seria operada por Deus, com Deus e em
Deus.
Eis porque, em Descartes, que nós julgamos estar colocado na corrente do socratismo cristão e do
misticismo intelectualistas, o método da “razão natural”, em nossa interpretação, tem sobretudo um sentido
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princípio intelectual judicativo, mas efetivamente iluminado por Deus no ato de exercer-se, e por isso a
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de purgação, isto é de caracterizar o conhecimento efêmero e duvidoso para apartá-lo de ser o fundamento de
nossas convicções, e assim abrir terreno para a visão intuitiva, clara e distinta, na linha da meditatio.
Inspirado na experiência mística, o socratismo cristão proporia como conhecimento verdadeiro aquele
que apreendesse a realidade de Deus, com Deus, e por Deus. E não é por acaso, sem dúvida, que para
Descartes, Deus é a garantia de validade de nossas idéias e do nosso conhecimento do mundo.
Mas, o problema continua. É preciso saber o que conhecemos de Deus, como Ele se apresenta a nós, e,
por aí, o que podemos conhecer d’Ele e de nossa própria natureza. Deus é Pai, Filho, e Espírito Santo, e o
mais é mistério.
Para o místico, Deus se põe como infinito, porque a experiência psicológica de Deus se efetua dentro
do condicionamento pelo o qual o místico se desliga de tudo o que é finito. Não se realiza, portanto uma
apreensão da natureza de Deus, não lhe atinge o “quod quid est”. Deus é mistério, Deus é infinito, é
a natureza do homem deve trazer também o sinal desta infinitude. Então, aparece o conceito desta
singularidade da natureza humana: enquanto os outros seres criados têm um próprio, o homem pode ser de
alguma sorte todas as coisas, mas não é particularmente um ser com uma natureza definida. Ele será, para
Descartes, apenas “res cogitans” , um pensar em ação, como será mais tarde para os existencialistas um jato
de existência que precede a essência, mas cuja a essência não está dada com a existência.
O que resta, como termo de inteligibilidade é a forma, ou modelo fundamental do processo: A gera B,
que se une com A e gera C. O Pai gera o Verbo, que se une com Pai, e gera o Espírito Santo. No homem, o
Pensar gera a Idéia, que se une com o Pensar e gera a Vontade. O mais é mistério.
Resta assim a contemplação do mistério da Onipotência, da Onisciência e da Onipresença de Deus.
Meditar sobre isto é aplicar tais conceitos à obra da criação. E pensá-la nestes termos é dispor-se à
eventualidade da vontade de Deus, é não esperar um conhecimento fechado da obra da criação, é espectar a
processão, que pode inovar a sua direção e o seu significado, isto porque a Verdade é Deus, a Verdade é o
que Deus quer livremente, e Deus não quer porque é verdadeiro, mas é verdadeiro tudo que Deus quer. Deus
não se subordina, não se submete, mas subordina e submete.
O único conhecimento derradeiro, que é possível alcançar, é esta forma fundamental de inteligibilidade,
segundo o qual a realidade como o conhecimento se efetua por um processo de síntese que supõe análise
num segmento, ternário, em que um termo gera outro, e pela a união dos dois gera-se um terceiro. Em
Descartes, aparece o ideal de síntese de conhecimento, sucendo a análise. Em Kant, em Hegel, e, até em
Comte, aparece o modelo trinário de inteligibilidade no processo real e do conhecimento, que ainda em
Husserl aparece sobre a preocupação de colocar a experiência vivida em termos de passado, presente e
futuro.
Estas, as decorrências teóricas, que entrando em choque com as posições cultivadas no meio
universitário, da época, vão impulsionar as direções da metafísica moderna. Esta posição pode ser
caracterizada frente ao aristotelismo, frente ao platonismo, e frente a Escolástica em seu todo.
Frente ao platonismo, especialmente com relação ao conceito da natureza. A Idade Média nos mostra
como estuado básico de “Philosophia naturalis” o comentário dos textos dos “Elementos” de Euclides e do
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inabarcável pela inteligência do ser humano. Mas, e o homem? O homem é imagem de Deus, e, sendo assim
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“Timeu” de Platão. Não seria necessária mais para que se firmasse uma visão matematicista no trato da
natureza. O platonismo, procurando um tipo de conhecimento mais nobre acerca do mundo físico, repudiava
o aristotelismo com sua valorização do conhecimento sensível, e buscava nas relações matemáticas a
expressão de um conhecimento intelectual do seres sensíveis, O “Timeu” de Platão, marcado pela influência
pitagórica da última fase, acentuava a presença dos esquemas matemáticos na estrutura da natureza. Haveria,
assim, uma harmonia matemática sustentado o mundo físico, e esta seria objeto próprio do conhecimento que
aspirasse à verdade, porque teria aí um plano intelectual de conhecimento, sem se perder nas sombras do
sensível, condenado a ser um conhecimento particular. O platonismo cristão assumiu o conceito de harmonia
matemática do universo, entendendo que obra da criação traria a marca do seu criador, e esta harmonia
existente na natureza seria a expressão correspondente, na obra criada, da natureza eterna do criador.
A “Philosophia naturalis” estava marcada fundamentalmente pelo platonismo-pitagórico do “Timeu”.
escondidas nem os movimentos reais dos corpos celestes, mas relacionar e ordenar suas observações por
meio de hipótese que lhe permitam calcular e daí prever e predizer as posições (visíveis e aparentes) dos
planetas. Estas hipóteses, tanto de Copérnico como dos outros astrônomos , não pretendem ser verdadeiras
nem mesmo verossímeis, mas somente ser simples e convir aos cálculos” (Cf. “Histoire Générale des
Sciences”, T. II. La Science Moderne, Paris, PUF, 1958. Pg. 61). Este comentário, que leva em conta a
apresentação de Andreas Osiander, teólogo luterano, à edição do De Revolutionibus de Copérnico, de
tendência fenomenista positivista, não desfaz a posição do realismo de Copérnico, que, fiel ao platonismopitagórico, não aspira se não ao conhecimento destas relações traduzíveis em expressões matemáticas, sem
pretender o conhecimento da natureza dos seres que se relacionam.
É frente a esta concepção predominantemente platônico-pitagórica que a nova posição vai encontrar
uma abertura inovadora: o mundo é obra de Deus, e continua a ser criado por Deus, é um processo, uma
realidade “in fieri”, não uma obra acabada.
Vai-se colocar também frente ao aristotelismo, que conceitua os seres como tendo cada um sua
natureza própria, e assim também o ser humano. Aristóteles escolhe o seu método, como ponto de partida, o
conhecimento do mundo sensível, toma o mundo físico como ponto de partida, isto é, o campo a partir do
qual o conhecimento se realizará, elevando-se por degraus. Estes graus não são apenas planos de abstração
extensiva, que nos dariam simplesmente generalizações, em que a compreensão se escoaria na medida em
que se alargaria a extensão. Há uma ordem de abstração intensiva, em que se realiza a apreensão do universal
no ser. Mas, o que ficou como idéia generalizada do aristotelismo foi o seu conceptualismo em detrimento da
visão da apreensão intelectual do ser e do que se relaciona ao ser enquanto ser. Tomou-se o problema do
conhecimento em Aristóteles por seu aspecto psicológico e lógico, sem acentuar-se a perspectiva metafísica
e ética. Mas, sobretudo, para a nova corrente, o problema crucial se põe quanto à convicção de que o
conhecimento verdadeiro se adquire fora da perspectiva do conhecimento do mundo exterior. E neste ponto é
que o intuitivismo adquire um significado novo, porque não é mais o problema de haver ou não uma função
intelectual de conhecimento direto, mas de propor uma intuição que não se dirige ao mundo exterior, porém
a um dado no próprio sujeito, em que aparece a aspiração de conhecimento de vistas aos fins do ser humano.
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Copérnico, mesmo, crer reviver antigas concepções pitagóricas. “Seu fim não é encontrar as causas
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A crítica geral à Escolástica visa opor-se a idéia de uma doutrina, que deva ser preservada de uma vez
por todas, ou que deva ser estabelecida em definitivo, e ser preservada, para ter em conclusão que o saber por
excelência deva consiste em ser capaz de manter uma atitude permanente de disponibilidade à ação de Deus.
Estes, enfim, os traços gerais do socratismo cristão, nas suas origens e no seu desdobramento,
misticismo intelectualista que determina as características herdadas pela metafísica moderna. Os temas da
intuição e da vivência, colocados dentro de um contexto de renovação espiritual; ficaram como resíduos do
pensamento moderno, que joga com esta temática, em com as diretrizes desta colocação, tendo no entanto
perdido a consciência de sua história.
Para o debate matemático, o problema por excelência que aí se põe é o de um conhecimento, que não
se incorpore por acidente, mas opere substancialmente no ser humano, comprometendo-o, tendo um
significado ético essencial com respeito ao sentido da vida humana, pela visão do seu ser com vistas a seus
Os destinos da Filosofia estão para ser decididos neste ponto, a saber se apenas continuamos o caminho
delineado por esta corrente modificando-lhes as soluções em simples particularidades, ou fazemos a revisão
da questão desde as suas origens. É necessário ter consciência plena das exigências relativas ao plano da
cogitatio e da meditatio, da vida investionis e da via judicii. Devemos enfim esclarecer se estes planos são
incompatíveis entre si, ou podem relacionar-se para uma solução adequada do problema.
Precisamos, frente ao desenrolar da metafísica moderna, compreender enfim que o conceito de
“natureza com relação à razão, colocado no sentido de purgação ou purificação frente o pecado original ou
natureza decaída não estaria obrigado a considerar também e fundamentalmente o fato de incarnação da alma
humana, e por isso mesmo que a razão do homem está “naturalmente” diante da multiplicidade e da
contingência das diferenciações conceituais. Harmonizar a validade do conceito e a intencionalidade intuitiva
na atividade intelectual parece ser o desafio atual da Filosofia, de onde poderá surgir um novo fecundo surto
de pensamento, em que a Filosofia supere sua atenção predominantemente voltada para a atitude de conhecer
e para o método, e retorne à ocupação com o trato dos problemas do ser e da vida humana.
CAPÍTULO II
I – LIÇÕES DE FILOSOFIA TOMISTA
1 – A EXISTÊNCIA DE DEUS
1.1 – As cinco vias
Poderá demostrar-se a existência de Deus? Com certeza. Não é possível uma demonstração a priori;
essa, como o próprio nome indica, faz-se a partir do que é anterior por si mesmo, em absoluto; e, como nós
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fins.
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não conhecemos a essência divina, não podemos concluir que lhe compete existir. Mas é possível a
demonstração a posteriori, a partir do que, em absoluto, é posterior, mas é anterior, para nós, porque o
conhecemos primeiro. Da existência do efeito, pode-se concluir a da causa.
A existência de Deus tem portanto de provar-se a partir dos seres materiais, que conhecemos
diretamente. A prova consiste em mostrar que sem uma Causa transcendente, o mundo não pode existir; e,
visto que ele existe, que essa Causa existe também. S. Tomás fá-la0 por cinco caminhos diferentes, - as cinco
vias de S. Tomás - , que, no total, não constituem cinco provas, mas uma só, em diversas modalidades.
Encontramos no mundo material, por exemplo, séries de causalidades eficiente e de causalidade final; e
remontamos à fonte de que todas as causas recebem a eficiência e a determinação do efeito. Encontramos o
ato, limitado pela potência que o recebe; e fazemo-lo depender do Ato Puro, que nada limita. Vemos
essências que podem, ou não, existir; e mostramos que só podem receber a existência dum ser que exista
Imutável. Escolhemos assim, do que nos rodeia, alguns aspectos nossos conhecidos, que nos dão acesso á
Causa universal; mas a prova, no fundo, é só uma: o efeito existe, logo, existe a causa.
2 – Deus, Motor imóvel
A primeira e a mais manifesta das vias, diz o S. Tomás, é a que parte do movimento.
Realmente, a vida do Universo é uma perpétua evolução. Não há só o movimento local, que modifica
as posições relativas dos corpos; há mudanças qualitativas, substanciais, de que os fenômenos de assimilação
e desassimilação, nos corpos vivos, são um exemplo frisante; e, no nosso próprio espírito, modificam-se os
conhecimentos da inteligência e as disposições da vontade. Seres, qualidades, posições, determinações de
todas a ordem, que existiam em potência, passam ao ato; e, reciprocamente, outros que existiam em ato
voltam a existir só em potência. Ora, como já vimos, só um ser em ato pode fazer passar ao ato o que existe
em potência; e, como nada pode estar simultaneamente, e sob o mesmo, aspecto, em ato e em potência, - já o
vimos também -, temos de concluir que a mudança dum ser é provocada por outro ser. O movimento, no
sentido geral em que estamos a tomar a palavra, exige um motor.
Se esse motor, para mover o corpo anteriormente considerado, tem de mudar de qualquer forma,
depende por sua vez doutro motor, e assim por diante. Não é possível remontar ao infinito, visto tratar-se de
mudanças quem têm todas de se realizar simultaneamente, na dependência umas das outras. Não é possível
fechar o círculo, porque isso eqüivaleria, no fim de contas, a supor um corpo movendo-se a si mesmo, por
intermédio dos outros. A série começa portanto por um Primeiro Motor, que tem de ser imóvel.
Os seres vivos, que se movem a si mesmos, não constituem excepção ao que fica dito atrás. Neles, é
sempre uma parte ou uma faculdade que move a outra, e o movimento da primeira, o primeiro impulso, exige
um motor; estamos assim caídos no caso anterior.
Note-se bem; o Motor a que chegamos não é primeiro só pelo seu número de ordem dentro da série. O
fato de ser imóvel distingue-se essencialmente de todos os outros, que têm de ser movidos para moverem. O
primeiro Motor, por ser primeiro, não recebe nada de ninguém. Não é um motor entre outros, semelhante aos
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necessariamente. Observamos no Universo o movimento, a mudança; e, a todo o movimento, damos por base
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outros; é, tem de ser, diferente. Quando pensamos nas qualidades que a sua imobilidade pressupõe,
compreendemos que estamos diante de qualquer coisa para com a qual todo o respeito é pouco. Como
Moisés no alto do Horeb, parece-nos ouvir a voz e dizer-nos: Descalça as tuas sandálias, porque estás a pisar
terreno sagrado. Estamos diante de Deus.
Mais do que qualquer outra, esta prova presta-se a uma interpretação muito terra-a-terra, muito
mecânica, digamos assim. Há risco de olharmos o Mundo como um sistema de engrenagens, cada uma das
quais transmite à seguinte o movimento que recebe. Não nego que, até S. Tomás, esta prova, devida a
Aristóteles, tenha sido muitas vezes entendida assim, sob a influência, de mais a mais, da teoria das esferas,
que Aristóteles defendia em astronomia. Mas S. Tomás, considerando no seu conjunto o problema da
evolução, entrando em conta com todas as mudanças, de qualquer espécie que sejam, colocou a questão no
seu verdadeiro campo, o da metafísica. É esse, na expressão de Sertillagens, o golpe de gênio da Suma
S. Tomás admite o movimento natural. O motor, então, é quem dá a natureza ao corpo considerado: O
que faz que um corpo seja pesado…, diz ele, é que é o motor da sua queda. Por este exemplo extremo se vê
que, para que os astros descrevem as suas órbitas, esta prova não exige que lhes suponhamos aplicados como
que propulsores. Eles têm um movimento que sabemos. Mas podiam ter outro, - o que em mecânica se traduz
pela necessidade de fixar a lei do movimentos as suas condições iniciais. – É necessário que alguma causa
lhes tenha determinado o movimento que os anima. Para o efeito da prova é essa causa o seu motor.
O princípio de inércia, portanto, não briga em nada com a primeira via, entendida como deve ser.
Também em nada a afeta o fato de considerarmos só os movimentos relativos dos corpos. Olhada na
plenitude do seu significado metafísico, ela é bem, como disse S. Tomás, a primeira e a mais manifesta das
vias.
3 – Deus, Primeira Causa
Se em vez das mudanças das coisas as considerarmos a sai existência, temos a segunda via. Os seres
estão ligados uns aos outros pelos laços da causalidade eficiente; isto é, a existência duma coisa depende da
de outra coisa, sem a qual a primeira não poderia existir. Se a existência dessa, por sua vez, depende duma
terceira, e assim sucessivamente, a existência de todas está dependendo duma primeira Causa, que, para ser a
primeira, tem de ser Causa não-causada, portanto transcendente às outras: Deus.
Como no caso anterior, não podemos aqui retomar ao infinito. A existência de cada termo da série está
dependente da de todos os anteriores. Suprimindo o primeiro, - o primeiro por essência, que existe sem
causa, por si mesmo – suprimem-se todos os outros; e esses outros existem, - o Mundo existe - ; logo, Deus
existe.
Para o que se segue, é importante que fique bem compreendido qual a espécie de causas de que trata
este argumento. Não interessam as causas de produção, mas a da existência, pelo menos da existência como
causa; do que se trata não é de sucessão no tempo, mas de subordinação causal. Acerca dum homem, por
exemplo, não importa o ele ter nascido doutro homem; porque a morte do pai não arrasta a do filho. Avô,
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Teológica.
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pai, filho, são causas encandeadas do tempo, que se vão substituindo sucessivamente, sem que essa
substituição altere a posição do problema. O que aqui interessa é a existência da humanidade em conjunto. E
essa depende dos agentes naturais, das propriedades dos corpos que o ser vivo utiliza, - alimentos que o
sustentam, ar que respira, radiações que aproveita -, das forças da natureza que convergem num organismo,
de acordo com a lei própria da sua existência, e concorrem para a conservação da sua vida. a sua falta é que
traria consigo, inevitavelmente, a desaparição da humanidade.
4 – Deus, ser necessário
A terceira via considera a contingência das coisas. Como vimos, em todas as coisas que conhecemos, a
essência é distinta da existência, o que quer dizer que, sem se contradizerem, elas podiam não existir. E, de
coisas, não houvesse nada de permanente, algum momento haveria em que nada existisse, e nada existiria
também nos momentos posteriores, visto que o nada não pode originar coisa nenhuma. Alguma coisa
portanto permanece, e se mantém, no seio da constante evolução.
Simplesmente, tudo o que se mantém, no mundo físico, - seja a massa, seja a energia, seja o que for - ,
podia também, sem contradição, não existir. É necessário por empréstimo, digamos. No mundo, tal como é, é
necessário; mas não é necessário por si mesmo. Recebe doutro a sua necessidade. E como não podemos
remontar ao infinito na série dos seres necessários que recebem doutro a sua necessidade, temos de chegar a
um ser necessário por si mesmo, por essência; a um ser cuja essência seja ser, existir; a Deus.
Esta prova resume-se a dizer que o existirem coisas cuja essência é distinta da existência pressupõe a
existência dum ser em que essência e existência se identifiquem.
5 – Deus, Supremo Ser
A quarta via é platônica. A sua integração no conjunto das cinco vias mostra bem a harmonia da síntese
feita por S. Tomás dos sistemas de Aristóteles de Platão.
Sobre Deus como Ser supremo, René Descartes baseado na idéia de que a alguém superior e mais
perfeito que ele disse o que segue: “A mesma coisa, entretanto, não podia acontecer com a idéia de um ser
perfeito do que eu, pois era palpavelmente impossível retirá-la do nada. E, não causando menos repugnância
admitir o mais perfeito como resultante e dependência do menos perfeito do que considerar alguma coisa
originada do nada, fazia-se claro que tampouco de mim poderia eu tê-la adquirido. Desse modo, chegava à
conclusão que em mim fora inculcada por uma natureza realmente mais perfeita do que eu e enfeixando em
si todas as perfeições das quais eu pudesse fazer uma idéia, isto é, para que eu me explique em uma só
palavra: Deus. Ajuntei a isso que desde que conhecia algumas perfeições que não possuía, eu não era o único
ser existente (usarei neste ponto, se me permitis, livremente, os termos da escola), entretanto era preciso que
existisse outro ser mais perfeito de quem eu dependesse e de quem tivesse adquirido tudo quanto o possuía.
Efetivamente, se eu existisse sozinho, não dependendo de qualquer outro ser, e de mim mesmo obtivesse
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fato, a existência de muitas tem um princípio e um fim que conhecemos. Se, nesse nascer e desaparecer das
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esse pouco que constitui uma parte do Ser perfeito, teria podido tira de mim, por igual razão, tudo o mais
reconhecia não possuir e, desse modo, ser também eu infinito, eterno, imutável, onisciente, onipotente, em
resumo, ter todas aquelas perfeições que em Deus podia notar.”
Ao tratar do ser, falei dos transcendentais, perfeições que, como a verdade, a beleza, a unidade, a
bondade, e outras muitas de menor importância, não são próprias a esta ou aquela espécie em particular, mas
são gerais, acompanhando o ser em todas as suas manifestações, e realizando-se em todas, como ele,
analógiocamente, - recortando-se como ele de acordo com as essências das coisas em que são recebidas -. Os
transcendentais encontram-se em tudo quanto existe, mas em grau diverso, nuns mais, noutros menos. Há
portanto algum ser em que existem em grau supremo, e esse ser é o mesmo para todas, visto que, como
dissemos, a verdade, o bem, e os outros transcendentais são desdobramentos da noção do ser, e existem no
mesmo grau em que este existe.
pelo seu número de ordem, mas, - por ser primeiro, transcendente aos outros, também aqui a Perfeição
Suprema não tem só um primado de categoria; é a fonte das perfeições dos outros seres. Realmente, se uma
perfeição, que em si mesma nada limita, existe limitada num ser determinado, é porque é medida pela
potência que a contém, pela essência do ser considerado. Num ser imperfeito há portanto a dualidade da
potência, que fixa um termo á perfeição, e da perfeição em ato, que, visto nenhuma potência poder passarse ao ato a si mesma, tem origem estranha. Como o fato se repete com todos os seres imperfeitos, e não
podemos, aqui também, remontar ao infinito, as perfeições de todos têm de vir, no fim de contas, do Ser
soberanamente perfeito, que não pode ser só o mais perfeito relativamente, mas é perfeito em absoluto,
perfeição ilimitada.
6 – Deus ordenador
A Quinta via é a prova de Deus pela ordem do Mundo.
Já dissemos que uma série de causas eficientes corresponde uma série de causas finais ordenada em
sentido inverso. Alguns seres são conscientes e livres, e escolhem o fim para que tende a sua ação. Mas a
grande maioria age sem escolher o fim, de acordo simplesmente com a lei da sua natureza. No entanto, de
tantas finalidades cegamente prosseguidas, resulta uma ordem admirável, em que cada uma procura o que é
melhor para a sua espécie, e as próprias deficiências de alguns são utilizadas para o maior bem do conjunto.
A ordem do Mundo, resultante da ação de tantos seres diferentes, exige a existência duma Inteligência que
trace a cada um as leis da sua atividade, e determine o fim para que cada um tende.
Note-se que a atividade dos seres inteligentes não fica posta à margem, nesta prova. É mais simples
enunciá-la sem atender a eles; mas, na realidade, engloba-os também. As faculdades por que eles conhecem e
escolhem o fim da sua ação são-lhes dadas pela natureza, sem intervenção sua, e em perfeita harmonia com
as suas necessidades. A existência de seres livres e conscientes só confirmam, portanto, que a natureza foi
disposta por uma Inteligência ordenadora.
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Ora, assim como, nas vias anteriores, o primeiro termo das séries que consideramos não é só primeiro
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7 – O argumento ontológico
Vive-se hoje um período de transição da lógica transcendental para a Ontologia. Partindo da
metodologia que votaram a surgir os fundamentos problemas sobre o Ser ou ontológicos. O fator que
impediu o pensamento filosófico para a sondagem do domínio do Ser foi a reflexão do fundamento lógico
das ciências, sobre o tema argumento Heinz Heimsoeth. Numa palavra: o fulcro das preocupações e da
intuição da consciência para as próprias categorias do Ser. Deslocou-se, assim, por exemplo, como já vimos:
para as estruturas ônticas essenciais da vida orgânica; para as do composto-humano; para as formas de
existências do espírito histórico; e ainda para a forma ou particular espécie de ser da própria consciência. Isto
é: esse fulcro deslocou-se da Lógica transcendental para a Ontologia. (A filosofia do século XX, pp. 80,81).
Fica assim provada a existência de Deus, a partir das propriedades fundamentais do ser, e de fatos de
perfeição, a ordem em que se integram, a sua contingência; e se é verdade, como diz Descartes, que uma só
prova basta, se for boa, é certo também que só há vantagem em analisar essa prova, e aplicá-las nas diversas
modalidades que comporta.
A prova é a posteriori. Logo de entrada vimos que não podia deixar de o ser. No entanto, S. Anselmo
julgou poder dar da existência de Deus uma prova de a priori, em que, de resto, não fazia mais do que tornar
explícita uma tendência latente, desde sempre, na escola platônica. E o argumento de S. Anselmo, mais ou
menos colorido, segundo a expressão de Scot, foi retomada por muitos filósofos depois dele: S. Boaventura,
Duns Scot, Descartes, e, até certo ponto, Leibniz. Kant denunciou-o como sofisma. Mas já S. Tomás, muitos
séculos antes, o tinha condenado em termos decisivos.
O argumento de S. Anselmo, também chamado argumento ontológico, reduz-se afinal ao seguinte:
Deus é, por essência, um ser infinitamente perfeito. ora a existência é uma perfeição. Está portanto incluída
na essência divina, e é contraditório supor que não existe um ser cuja essência implica a existência.
S. Tomás combate o argumento ontológico antes mesmo de estudar a demonstrabilidade da existência
de Deus. Encontra nesse argumento dois defeitos. O primeiro, secundário, é o de nada valer contra quem não
entenda, pela palavra Deus, um ser infinitamente perfeito. O segundo é essencial; o de haver nele uma
passagem ilegítima da ordem lógica para a ordem real. Quando pensamos num ser perfeito, temos de fato de
o pensar existente. Mas nós não conhecemos a essência de Deus tal como ela é na realidade,
independentemente do nosso pensamento; sem uma base exterior à nossa inteligência, tomada no mundo
real, não podemos portanto concluir nada a respeito de sua existência. A única coisa que é contraditória é
supor um ser perfeito existente em potência. Um tal ser, se existe, existe necessariamente. A sua existência é
evidente em si; mas não é evidente para nós, que, ao pensarmos numa essência perfeita, não podemos ter a
certeza de não estarmos a arquitetar uma quimera.
A contrapartida tomista ao argumento de S. Anselmo é a terceira via. Aí, a base real é a existência das
coisas contigentes, que conhecemos pelos sentidos. Dela se conclui que o ser existente por essência não é
uma quimera, mas uma realidade indispensável à existência de todas as outras. A prova tomista pelo
contigente e pelo necessário é a posteriori como as restantes.
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que os sentidos nos dão conhecimento indubitável: a existência dos seres, a sua evolução, a sua desigual
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A posição de S. Tomás nesta questão é clara e firme, mas não deixa de ser delicada. O compreendê-la
bem é pedra de toque duma boa compreensão de toda a estrutura da metafísica tomista.
CAPÍTULO III
O QUE PODEMOS CONHECER DE DEUS
1 – O nosso conhecimento e Deus
No conhecimento tentado pela filosofia com em todas as áreas do conhecimento, é importante o
pensamento e a indagação. Quem pensa existe, com discursa Battista Mondin. “Posso muito bem fingir que
coisas segue-se evidentissíma e certissimamente que existo; mas, se eu deixasse de pensar, mesmo que tudo
o que imaginei fosse verdadeiro, não teria nenhuma razão para acreditar que existo. Segue-se que sou uma
sustância cuja essência ou natureza é pensar e que, para existir, não depende de nenhum lugar e de nenhuma
coisa material.(Curso de Filosofia pp. 70,71).
Se eu existo e se há uma essência imaterial também pensante que me faz pensar, esta essência é Deus.
Que podemos nós conhecer desse Deus que demonstramos existir? Não falo, - visto estar a tratar de
filosofia -, dos conhecimentos supra-naturais, baseados na Revelação; falo só do conhecimento fundado nas
nossas faculdades naturais. Poderão estes dar-nos de Deus um conhecimento adequado, que nos permita
compreendê-los?
A compreensão dum objeto consiste no conhecimento da sua essência, e, para a nossa inteligência
discursiva, em saber o que caracteriza a sua espécie, o gênero a que ela pertence, a diferença que a distingue
das outras espécies do mesmo gênero. Ora Deus aparece-nos como fonte de todo o ser; não pode estar
incluído em nenhuma das suas divisões. É transcendente a todas as coisas, - tem de o ser, como vimos, para
poder ser primeiro, em absoluto -. Está fora dos quadros segundo os quais se articula o nosso pensamento.
Não podemos, por isso, ter a pretensão de o compreender. É, de resto, natural, que o perfeito exceda a
capacidade duma inteligência limitada, imperfeita, como é a nossa.
S. Tomás não cai por isso na ilusão cartesiana de supor que se pode compreender a essência divina a
ponto de deduzir dela as leis do mundo criado. Di-lo claramente, no trecho seguinte: a nossa inteligência
sabe o que uma coisa é […] quando concebe, a respeito dessa coisa, uma forma inteligível que corresponde à
sua natureza. Ora, segundo o que dissemos, tudo quanto a nossa inteligência concebe àcerca de Deus não
basta para o representar. Deus fica-nos sempre oculto, e, nesta vida, o supremo conhecimento que podemos
ter dele é saber que excede todos os nossos pensamentos.
2 – As nossas palavras e Deus
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não tenho corpo, mas não posso fingir que não existo, porque, do fato de eu duvidar da verdade das outras
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Se não podemos compreender Deus, ainda menos podemos falar dele dando às palavras o sentido que
têm quando se aplicam às coisas que nos cercam. As palavras são sinais dos conceitos, e os nossos conceitos
são tirados do mundo em que vivemos. Se a tornarmos tais quais, nenhuma, portanto, se pode aplicar a Deus.
Por isso, quando dizemos, por exemplo, que Deus é bom, não devemos esquecer que a bondade de Deus é
diferente da nossa; quando dizemos simplesmente, que Deus é, deve ser com a reserva de que a maneira de
ser de Deus não é a mesma das coisas criadas. Se quisermos manter às palavras em seu significado habitual,
só podemos, de Deus, dizer isto: O Mundo existe, e não tem em si mesmo a razão suficiente da sua
existência.
S. Tomás, ao falar dos nomes divinos, insiste neste ponto, e com razão, porque esquecê-lo é reduzir a
teodicéia às proporções dum antropomorfismo muito mesquinho. Perfilha a opinião do Pseudo-Dionísio de
que tudo quanto afirmamos de Deus pode ser dele negado com tanta ou mais razão, porque, diz todas as
não se encontra em Deus, embora se encontre em Deus, de maneira eminente, a coisa que a palavra significa.
Em poucas palavras: nada se pode dizer, de Deus e das criaturas, em sentido unívoco.
3 – O que podemos conhecer de Deus
Devemos então cair no agnosticismo, e supor que não podemos ter de Deus nenhum conhecimento
verdadeiro? De forma nenhuma. Não podemos conhecer nada da essência divina, - a não ser por revelação do
próprio Deus -. Não podemos conhecê-lo tal como é, em si mesmo. Mas podemos ter dele certo
conhecimento exterior, que não parta de sua essência, mas das criaturas; conhecimento inadequado, muito
imperfeito em face da realidade, mas ainda assim mais valioso, sem comparação, do que o conhecimento
relativamente muito mais perfeito que podemos ter de qualquer outro objeto. E há, para chegar a esse
conhecimento, dois meios: estudar os diversos aspectos da dependência das criaturas para com Deus; negar
de Deus todas a imperfeições que tornam as criaturas necessariamente dependentes.
O segundo processo dá-nos de Deus um conhecimento puramente negativo, mas verdadeiro: de Deus,
diz o S. Tomás, não podemos saber o que é, mas o que não é. Para provar a existência dependente de causas,
da composição do seu ser, da sua perfeição limitada, da sua integração numa ordem que as excede. Devemos
portanto negar de Deus qualquer mudança, qualquer dependência, qualquer composição, qualquer limite,
qualquer subordinação. Vamos negar de Deus tudo o que o impediria de ser o primeiro nos vários caminhos
por que abordamos a sua existência. E assim podemos falar da simplicidade de Deus, de sua eternidade, da
sua liberdade, etc.
O primeiro processo permite-nos falar de Deus afirmativamente. Consiste em afirmar de Deus, em grau
eminente, todas a perfeições que as criaturas recebem dele; e em afirmá-las sem as limitações que
caracterizam as criaturas, que contornam a porção de ser que cabe a cada uma. Atribuímos essas perfeições a
Deus em grau eminente, não o esqueçamos. Dizemos que ele é bom, verdadeiro, misericordioso, justo, feliz,
para significar que é a fonte de toda a bondade,- o que é bem de maneira mais eminente de ser bom, - que é a
origem da verdade, da misericórdia, da justiça, da felicidade. Chegamos a Deus como Primeira Causa; mas o
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palavras que empregamos, se as olharmos quanto ao seu modo de significação, incluem uma imperfeição que
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qualificativo primeira muda o sentido da palavra. Como disse logo ao falar da primeira via, Deus não é só a
primeira de entre todas as causas; é primeira causa em absoluto, Causa transcendente, menos causa do que
fonte de causalidade. Da mesma maneira, o Motor Imóvel é fonte de toda atividade; o ser Necessário é foco
de existência, não ser, mas Super-ser. Ficamos sempre sem compreender a eminência que tudo isto tem em
Deus. Não atingimos a essência divina. Deus fica, para nós, a nascente inexplorada dum rio que conhecemos.
Os dois processos, como se vê, estão na dependência estreita das provas que demos da existência de
Deus. São o prolongamento, até às suas últimas conseqüências dos raciocínios que constituem essas provas;
o que justifica a expressão tantas vezes repetida de Sertillanges de que a teodicéia não é mais do que um
longa prova da existência de Deus.
Se as nossas palavras, portanto, não podem aplicar-se a Deus e às criaturas em sentido unívoco, as que
dizemos de Deus também não são equívocas. Aplicam-se a Deus por analogia.
Já vimos que o ser, e todos os transcendentais, são noções análogas. Manifestam-se nas diversas coisas
de maneiras essencialmente diversas, - essencialmente, está bem dito, porque é precisamente essa
diversidade que distingue entre si as essências das coisas -. Temos agora que entender analogia além de todo
o limite, de alargar até á exclusão de toda maneira de ser particular. E então podemos dizer que Deus é Deus,
fazendo do verbo uma simples cópula verbal que não pretende obrigar Deus a ser à nossa maneira; e que, em
Deus ser Deus, há, num sentido pleno, eminente, transcendente, divino, tudo quanto significamos de real ao
dizer que alguma coisa existe, e é boa, verdadeira, forte ou bela.
Não devemos perder isto de vista no que se segue. Vamos falar dos atributos de Deus. Ao fazê-lo,
devemos afastar toda a idéia de quem há em Deus atributos distintos da sua essência. A bondade de Deus não
é distinta de Deus; é um aspecto segundo o qual o mundo depende dele, e que nós distinguimos porque o
nosso espírito, feito para análise, não pode conhecer o simples senão sob a aparência da composição. Deus é
bom à maneira divina, isto é, na plenitude e na simplicidade de sua essência. E o que digo de bondade digo-o
de todos os outros atributos. É preciso ressalvar a analogia de todos os termos por que o designamos.
CAPÍTULO IV
OS ATRIBUTOS DE DEUS
1. A Simplicidade
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4 – A Analogia
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Com as precauções indicadas, podemos então estudar os atributos de Deus. O primeiro é a
simplicidade, que é a ausência, em Deus, de toda e qualquer composição. Resulta de não poder haver em
Deus composição de potência e ato, porque, como já vimos, embora a potência seja anterior ao seu ato, - e
por isso mesmo - , toda a potência pressupõe um ser em ato, que lhe tenha dado, ou possa dar, realização
atual. Se em Deus houvesse a distinguir potência e ato, teríamos de lhe supor uma causa que tivesse feito
passar ao ato essa potência, e ele já não poderia ser, em absoluto, o Primeiro. Deus é portanto Acto Puro,
segundo a expressão lapidar de Aristóteles.
Isso obriga-nos a dizer, antes de mais nada, que Deus não é composto de partes quantitativas. A
existência num todo é uma nova determinação acrescentada às partes, um ato a que elas estão em potência; e
o todo está, por sua vez, em potência para a decomposição. Deus, portanto, é incorpóreo. E é imaterial,
permite distinguir em Deus a essência do sujeito. O motivo porque, nos seres materiais, pode haver vários
indivíduos com igual essência é precisamente a matéria, como já vimos, com todos os caracteres acidentais a
que dá lugar. Os seres sem matéria são individuados pela essência. Deus, portanto, é a sua divindade.
Também não há em Deus composição de essência e existência, - que, ao tratar do ser, vimos estarem
entre si como a potência e o ato. Deus é portanto o seu ser. É o próprio Ser subsistente por si mesmo, como
escreve S. Tomás, - sem, entenda-se, querer dizer com isso que Deus é o ser das coisas, o que seria o
panteísmo; a expressão designa o Ser em grau eminente, que, por isso mesmo, se distingue de tudo o resto -.
Nem na ordem lógica pode atribuir-se a Deus composição, isto é, não podemos incluí-lo em nenhum
gênero nem em nenhuma espécie, - o que obrigaria a distinguir nele caracteres genéricos e específicos. Fonte
de todo o ser, que as categorias dividem, e depois os gêneros e as espécies, estão acima do ser e das suas
divisões. Alheio aos agrupamentos de que fazem parte todas as coisas, Deus é portanto o grande Isolado. E é
também o Indefinível; porque uma definição essencial consta, precisamente, da indicação do gênero e da
diferença que constitue a espécie.
Também não há em Deus distinção de substância e acidentes. Os acidentes são determinações
acrescentadas à substância, actos para os quais esta tem de estar em potência.
Enfim, Deus é simples de toda a maneira. Em toda a composição há elementos; e, ou um desses
elementos é o ato dos outros, ou todos estão em ato no composto. De qualquer forma, há um princípio
potencial. E, por sua vez, Deus não entra em composição com coisa nenhuma. Admitir uma tal possibilidade
seria supô-lo em potência perante o composto.
Uma nota: a simplicidade de Deus não se opõe à Trindade das pessoas. Nesse dogma, - que a filosofia
tem de ignorar, porque se funda unicamente na Revelação -, Deus abre-nos um pouco de seu íntimo, dá-nos
até certo ponto a conhecer a sua essência, revelando-nos que, embora único, não é solitário, na bela frase de
S. Hilário de Poitiers. Mas cada uma das Pessoas divinas é Deus, é a essência, o ser, a divindade de Deus.
Distinguem-nas só as relações pelas quais o Pai gera o Filho, e de ambos procede o Espírito-Santo. Essas
relações são eternas e necessárias, - por motivos de que a nossa razão não pode conhecer senão a simples
conveniência - , e idênticas com a essência divina, em que por isso não introduzem composição.
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porque entre a matéria e a forma a relação, como vimos, é a da potência para o ato. O que também não nos
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Mas isso é com a teologia. Eu não quis, aqui, senão evitar uma interpretação errada das minhas
palavras.
2- A Asseidade
A existência de Deus apareceu-nos necessária como primeiro termo de todas as séries de dependências
que encontramos no Mundo. Isso exige que, ao passo que tudo depende dele, Deus não dependa de coisa
alguma. Tem de ter em si mesmo a razão de tudo quanto é. Não tem causa; não precisa dela; só precisa de
causa quem não tem em si razão suficiente de existir. É de per si, - a se -. Destas palavras latinas se fez o
nome de asseidade dado a este atributo.
existência é dizer que Deus existe em virtude da sua essência; que é a sua essência a sua razão de ser. A
asseidade é portanto idêntica à simplicidade. Da mesma maneira tem de ser idêntica à essência de Deus, e a
todos os outros atributos, visto que os atributos, em Deus, não se distinguem realmente da essência, - já
vimos que a simplicidade assim o exige.
3- A Perfeição
Passemos à perfeição de Deus.
Nos seres materiais, perfeição é quase sempre sinônimo de complicação. Essas coisas são feitas, e
feitas com partes ou materiais preexistentes, de possibilidades sempre limitadas. As simples, por não se
poderem adaptar a todos os casos e a todas as necessidades, só imperfeitamente conseguem o seu fim; as
mais perfeitas, se não têm essas deficiências, é à custa duma maior complicação no número ou na disposição
das suas partes.
A Deus, que é simples, não podemos atribuir uma perfeição assim entendida. É preciso por isso
observar que o paralelo entre a perfeição e a complicação não é absoluto. Há na perfeição três graus a
considerar. O primeiro, e o mais baixo, é a pobreza de perfeição das coisas simples que, por serem aptas para
pouco, só podem ter uma atividade muito rudimentar. O segundo é a complicação das coisas bem
apropriadas ao seu fim, mas que precisam de órgãos especiais para cada modalidade da sua ação. O mais alto
é a riqueza de perfeição das coisas que, sem necessidade de disposições complicadas, estão aptas a atingir o
seu fim. Chamo atenção para esta escala de valores, porque aparece muitas vezes na obra de S. Tomás, nos
assuntos mais variados. S. Tomás costuma dar este exemplo muito simples: a pior saúde é a da pessoa que,
por nem com auxílio de remédios poder passar bem, não faz tratamento nenhum. Segue-se-lhe a da pessoa
que se mantém de boa saúde à custa de muitos remédios e tratamentos complicados. Finalmente, a melhor é
a de quem não precisa de remédios para ter saúde.
Vê-se pelo que disse que, no seu mais alto grau, a perfeição encontra a simplicidade. É, de maneira
eminente, o caso de Deus, absolutamente simples e soberanamente perfeito.
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A mesma coisa resulta da simplicidade divina. Dizer que não há em Deus composição de essência e
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Que não podemos deixar de atribuir a Deus a perfeição resulta de considerações seguinte: uma coisa
diz-se perfeita na medida em que nada lhe falta do que compete ao seu modo de ser, isto é, na medida em
que é em ato. Deus, ato puro, deve por isso dizer-se perfeito, sem restrições. Mas a perfeição, - como o ser,
como todos os atributos positivos -, é lhe atribuída em grau eminente, por analogia. A perfeição das criaturas
está sujeita a um todo determinado; a de Deus é superior a todos os modos. Podemos dizer que em Deus
existem as perfeições de todas as coisas, mas virtualmente, exprimindo com isso que as coisas dependem
dele por tudo quanto tem de perfeito, pela totalidade do seu ser.
4- A Bondade
qualidade do que é bondoso. E, como se disse na lição anterior, o bem ontológico é idêntico ao ser. É o ser
considerado como fim, natural ou consciente, duma ação. Deus portanto, Ser Supremo, é também o Supremo
Bem.
Podemos distinguir no bem uma tríplice feição. O fim próximo duma ação, subordinado por sua vez a
um fim mais geral, é bom, é desejável e desejado, como instrumento, pela sua utilidade. O fim remoto da
ação é procurado por si mesmo; é ele, propriamente, o bem desejado. Finalmente, a obtenção do fim dá lugar
ao repouso, e, nas ações conscientes, à alegria. É esse um novo bem, desejado na ação, mas não é
propriamente o seu fim; é reflexão do agente sobre o bem possuído, e, precisamente por ser este último que a
ação procurava, esta cessa uma vez que o atingiu.
A estas três modalidades do bem chamava a Escola o útil, o honesto e o deleitável.
O bem útil, forma imperfeita, relativa, não convém a Deus, que, para ser Deus, tem, como vimos, de ser
independente em absoluto. Mas as outras duas formas devem-lhe ser atribuídas em grau eminente,
confundidas na simplicidade de Deus, com cuja essência se identificam. Voltarei a este assunto quando falar
da vontade e da felicidade de Deus.
5- A Infinidade
Também quanto à infinidade se deve fazer uma distinção. Há a considerar o infinito potencial, que
exprime só a possibilidade dum acréscimo indefinido, e o infinito em ato, a plenitude do ser, possuída sem
limites. A primeira forma de infinidade não traduz nenhuma perfeição; não diz senão o que uma coisa não é,
e podia ser. A segunda é a perfeição total; é só ela que devemos atribuir a Deus.
A infinidade de Deus, portanto, não é senão a negação de todo e qualquer limite ao seu ser. Pelo que já
disse, facilmente se estabelece que Deus é infinito. Uma limitação pode vir duma causa exterior; mas Deus,
Causa Primeira, não está sujeito a nenhuma outra, por isso pode limitá-lo. O ser duma coisa é ainda limitado
pela sua essência; o que uma coisa pode ser sem se desmentir mede o ser que nela pode ser recebido. Mas em
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A bondade toma-se em metafísica no seu sentido geral de qualidade do que é bom, e não no restrito de
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Deus não há uma dualidade de essência e existência; a sua essência identifica-se com o seu ser, que por isso
não pode limitar. Deus não tem portanto limite, nem extrínseco, nem intrínseco; é infinito.
Há uma objeção contra a infinidade de Deus que facilmente se resolve. Pode parecer que o ser das
coisas limita o ser Deus; que o que nós somos, o que são as coisas distintas de Deus, falta a Deus. Mas não
devemos esquecer que Deus é transcendente; que vive num plano diverso do nosso. O ser de Deus não é o
nosso ser. São valores heterogêneos entre os quais não há adição. Deus é o seu ser; nós temos o nosso,
emprestado, de certo modo. Deus e nós não é mais do que Deus só, porque o nosso ser depende de Deus,
essencialmente; também a luz do Sol não é aumentada pela da Lua, que não passa de luz do Sol que a Lua
refletiu.
Além de negarmos de Deus toda a composição, toda a dependência, toda a imperfeição, todo o limite,
devemos negar dele toda a mudança. Uma coisa que muda, muda do que é para o que não é; e em Deus não
há qualquer potencialidade. A mudança exige uma causa, um motor; e Deus é o Primeiro Motor, como já
vimos. Se uma coisa se move a si mesma, é porque uma parte move outra; e em Deus não há partes.
Devemos portanto dizer que Deus é imutável em absoluto, e que a imutabilidade, como todos os outros
atributos, se identifica com sua essência.
Quando por isso dizemos que Deus vê, perdoa, resolve, castiga, e outras coisas semelhantes, há
antropomorfismo na maneira de falar que devemos ter todo o cuidado em não deixar passar para a idéia que
exprimimos. Todas essas expressões se devem entender de Deus por analogia. Atribuímos-lhe de maneira
eminente, na simplicidade as sua essência, as realidades que em nós se traduzem pelos atos a que damos
esses nomes; nada mais. Deve ficar bem claro no nosso espírito que Deus não muda de qualquer maneira que
seja, nem substancial nem acidentalmente, nem de idéias nem de resolução. Em Deus não há nada disso. Há
um ser simples e ilimitado, de que o nosso espírito não pode fazer uma pálida idéia senão olhando-o por
facetas, vendo-o à maneira humana; mas sem atribuir a Deus o que, nessa maneira de ver, é simples
exigência da nossa inteligência imperfeita.
Ser imutável é próprio a Deus. Tudo o mais está sujeito à mudança, duma maneira ou de outra. As coisas
materiais mudam na substância e nos acidentes. As formas puras, - os Anjos -, não mudam substancialmente,
mas mudam de operação; aplicam-se a uma coisa depois de se terem aplicado a outra. Os astros, no tempo de
S. Tomás, constituíam uma dificuldade, visto se supor então que não evolucionavam; mas, observa S.
Tomás, mudam pelo menos de lugar. E, vista a questão por outro lado, olhadas as coisas não em si mesmas,
mas na sua dependência da Causa Primária, todas, absolutamente falando, estão sujeitas à mais radical das
mudanças, ao aniquilamento; porque todas estão em potência ao não-ser, visto o não existirem, não
contrariar a sua essência. Só o ato criador que
7- A Eternidade
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6- A Imutabilidade
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Quando pensamos na eternidade, vem-nos irresistivelmente ao espírito a idéia duma duração
indefinida, dum tempo que nunca começou e há de durar para sempre. Semelhante eternidade não pode
atribuir-se a Deus. É um infinito potencial; eqüivale a
supor a vida de Deus correndo como a nossa,
constituída por instantes sucessivos, vividos um de cada vez. A eternidade de Deus identifica-se com a sua
imutabilidade, - e, nunca é de mais repeti-lo, com todos os outros atributos divinos. Consiste em estar Deus
fora do tempo; é, na frase inexcedivelmente feliz de Boécio, “a posse total, inteira e simultânea duma vida
sem limites”. Por isso diz Sertillanges que, por paradoxal que pareça, a melhor imagem que podemos formar
da eternidade é o ponto, que não tem dimensões, e não a reta, que se prolonga indefinidamente nos dois
sentidos.
Deus é eterno porque é imutável. Para ele não há tempo. O tempo mede a evolução das coisas; ora em
Deus nada evoluciona. E a nossa evolução não pode medir a vida divina; todas as coisas, sejam de ontem, de
de Deus, nada muda nessa relação de dependências, que na sua imutabilidade suspende mudanças. Deus não
esta por isso sujeito ao tempo, seja a que título for. Nada o relaciona especialmente com um instante
particular. O nosso tempo não pode medi-lo.
A eternidade é portanto transcendente ao tempo. Se partimos deste, é porque a negação do tempo em
Deus é a única via pela qual podemos abordar a sua eternidade.
8- A Imensidade
Pela imensidade, entendemos que Deus não pode ser contido em nenhum lugar. E a razão é sempre a
mesma: a transcendência divina.
Deus é transcendente às coisas, e portanto também às suas relações espaciais. E como todas, estejam
onde estiverem, dependem igualmente dele, nenhuma coisa pode servir para o localizar. Deus está em toda a
parte, se entendermos por isso que, em toda a parte, tudo dele depende; não está em parte nenhuma, se, por
estar em qualquer parte, entendemos que a algum lugar se pode limitar a sua ação.
Assim como a eternidade não é um tempo ilimitado, a imensidade não se deve imaginar como uma
extensão indefinida. Isso seria um infinito potencial. Deus é imenso por não estar sujeito ao espaço; por a sua
única relação com o espaço ser a da causa para o efeito causado.
9- A Unidade
Há um só Deus? A fé afirma-o; mas não é só a fé a dizê-lo. As razões que nos levam a afirmar que
Deus existe forçam-nos também a concluir que ele é só um. Se houvesse vários deuses, teriam de se
distinguir por alguma diferença, visto que, sendo imateriais, não poderiam ser individuados pela matéria. E a
diferença seria necessariamente uma perfeição que pertencesse a um e não aos outros, que, assim, não seriam
absolutamente perfeitos. Não pode, portanto, haver senão um Deus.
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hoje ou de amanhã, dependem igualmente de Deus por tudo quanto são, na sua evolução também. Por parte
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A consideração da ordem do Mundo leva à mesma conclusão. A existência de vários ordenadores não
poderia conduzir a uma ordem universal, em que se integrassem todas as coisas.
10- A Inteligência
Que devemos atribuir a Deus a inteligência resulta imediatamente da quinta via de S. Tomás. A ordem
do Mundo, que exige um Deus ordenador, exige, claro está, que ele seja inteligente.
Mas há outras razões que nos levam à mesma conclusão, e nos esclarecem melhor sobre o que poderá
significar essa palavra, aplicada a Deus por analogia, como todas.
A inteligência é a faculdade do conhecimento intelectual, no qual o espírito, assimilando a lei própria
do objeto conhecido, a sua forma, despida da matéria, se submete de certo modo a essa lei, se rege por essa
na medida em que o conhece.
Uma tal identificação com uma forma despojada da matéria, em que, na realidade, existe, exige,
evidentemente, um princípio imaterial também. É isso, como adiante veremos, que nos leva a afirmar a
imaterialidade do espírito humano. Reciprocamente, a atividade intelectual é o campo de ação próprio das
faculdades ou dos seres imateriais.
A Deus, portanto, sumamente imaterial, devemos atribuir a inteligência em grau eminente.
Mas a inteligência não é em Deus uma faculdade, como em nós; a sua simplicidade obriga-nos a
identificá-la com a própria essência divina.
O objeto da inteligência divina é o próprio Deus. Realmente; a nossa inteligência está para o objeto que
conhece na relação da potência para o ato. É capaz de conhecer o objeto; é, em potência, o objeto, visto que
no conhecimento se identifica com ele. Ora em Deus não há potência; é ato puro. Por isso, a sua inteligência
não pode ter um objeto distinto de si, perante o qual faria o papel de potência. Tem-se a si mesmo por objeto.
Deus é o seu ato de intelecção; ou, como diz S. Tomás na Suma, “conhece-se a si mesmo por si mesmo”.
O conhecimento que Deus tem de si mesmo é perfeito, visto que nele a identidade entre a inteligência e
o seu objeto não é só ideal e transitório, mas real. Por outro lado, como as coisas dependem de Deus por tudo
quanto são, Deus conhece perfeitamente todas as coisas conhecendo-se a si mesmo; conhece-as na sua
vontade, que as faz existir.
11- A Verdade
A verdade transcendental é idêntica ao ser. Não podemos por isso deixar de atribuir, por analogia, a
Deus, que diremos ser a Suprema Verdade.
Como há em Deus identidade entre a inteligência e o seu objeto, podemos dizer indiferentemente que a
verdade de Deus consiste em conhecer-se tal como é, ou em ser tal como se conhece. Não há em Deus
distinção entre verdade lógica e a verdade ontológica.
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forma nos raciocínios a que procede a respeito do objeto, e assim, tomando a sua forma, se identifica com ele
Filosofia Cristã
E, como Deus conhece as coisas na sua vontade, e elas são como Deus as quer, o seu conhecimento das
coisas é também eminentemente verdadeiro. Em Deus, o conhecimento não depende das coisas, como o
nosso; são as coisas que dependem do conhecimento divino, idêntico à vontade de Deus. Por isso podemos
definir a verdade das coisas, não, como tínhamos feito, a partir da possibilidade de serem conhecidas tais
como são, mas a partir da sua conformidade com o conhecimento divino. A verdade ontológica ou
transcendental dum ser será então esse ser encarado conforme como o conhecimento que Deus dele tem.
12- A Vontade
Há em todas as coisas uma tendência a atingir o fim que, de acordo com sua natureza, lhes compete, a
que podemos chamar um apetite natural. Nos seres inteligentes, essa tendência é consciente, é tendência
Deus a inteligência, devemos atribuir-lhe também a vontade.
Simplesmente, como o fim, a causa final, é a causa das causas, e Deus é a Primeira Causa, em absoluto,
não podemos supor à sua vontade um fim distinto dela. Deus é o seu próprio fim, como é o seu próprio
conhecimento; é auto-suficiente sob todos os aspectos. E se Deus quer outras coisas, distintas de si, é
tomando-se a si mesmo como o fim; quer que existam, diz S. Tomás, “porque convém à divina bondade que
outros seres dela participem.
A vontade de Deus é livre? Sem dúvida nenhuma. Uma vontade diz-se livre quando não é determinada
por nenhuma causa exterior na escolha dos seus meios; e Deus não pode ser determinado por ninguém. Pode
objetar-se com a imutabilidade divina, que parece tornar necessário que Deus queira tudo quanto quer. De
fato, o fim da vontade divina, por ser o próprio Deus, como já disse, é necessário, duma necessidade
intrínseca, que é a de Deus; mas os meios que escolhe não o são, falando em absoluto. Se Deus quer uma
coisa, é evidentemente que a queira, como é necessário que um homem esteja sentado, quando está sentado;
mas é uma necessidade que vem precisamente de Deus querer isso; não impede a liberdade de decreto da
vontade divina que escolhe essa coisa.
13- A Onipotência
Visto Deus não ser limitado por nada, e ser de Deus que as coisas recebem tudo quanto são, devemos
dizer que Deus pode tudo quanto quer, que é onipotente.
O nome de potência, dado assim ao poder divino, não deve induzir-nos em erro. Não se trata, como em
nós, duma faculdade pela qual somos causa, em potência, de efeitos determinados, e que passa ao ato
quando, efetivamente, estamos a produzir esses efeitos. A potência de Deus é puramente ativa; só lhe
corresponde mudança no objeto da sua ação, em nós. Deus não muda quando atua: é Motor. Imóvel. A sua
ação é simples e imutável, e idêntica à essência divina; Deus age sem restrições quanto ao tempo, que não o
abrange, e os termos ação e potência, como todos os outros, só lhe podem aplicar por analogia.
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para um fim conhecido como tal, e chama-se vontade. Assim, como, portanto, por analogia, atribuímos a
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Ao contrário de alguns teólogos e filósofos, entre os quais, até certo ponto, Scot e Descartes, S. Tomás
diz com Aristóteles e S. Agostinho que Deus não pode o absurdo. E a razão é simples. Não poder o absurdo
não diminui a onipotência de Deus, porque o absurdo não é nada; pura e simplesmente, não é. Conceber o
absurdo é uma fraqueza da nossa inteligência, que começa por considerar separadamente os elementos duma
definição contraditória, e só quando os quer ligar reconhece a sua impossibilidade. Uma inteligência mais
perfeita, mais sintética, nunca pensaria o absurdo como possível; nem sequer se lhe poria uma questão que é,
afinal, a da possibilidade do impossível.
Afastado assim de Deus o que não passa duma imperfeição nossa, podemos dizer sem restrições que
Deus pode tudo, absolutamente tudo.
A palavra amor designa em nós coisas muito diferentes. Há o amor-paixão em que o espírito, como o
nome indica, tem um papel passivo, ímpeto veemente da sensibilidade que ofusca a inteligência e se
sobrepõe à vontade, e há o amor propriamente dito, primeiro movimento da vontade, que nela desperta o
impulso para o bem que o amor tem por objeto. Esse amor, que num homem é sempre acompanhado dum
elemento sensível, pode ainda ser de desejo, - pelas coisas que procuramos para o bem nosso ou dos nossos
amigos -, ou de amizade, por aqueles a quem estamos irmanados, unidos, por algum laço, e cujo bem
desejamos como o nosso próprio.
O amor-paixão não convém de forma alguma a Deus, que é incorpóreo. Mas o amor propriamente dito
convém-lhe eminentemente, sem mistura, claro está, de sensibilidade, que não pode existir em quem não tem
corpo. Por causa da simplicidade divina, devemos identificar o amor, em Deus, com a sua própria essência.
Como objeto do seu amor, Deus tem-se antes de mais nada a si mesmo. Mas tem, ainda, amor de desejo a
todas as coisas, visto que as quer, não porque precise delas, mas para que nelas se possa refletir a sua
bondade. E, di-lo a teologia, tem amor de amizade pelas criaturas racionais, unidas e ele pela participação,
dada ou prometida, na sua própria bem-aventurança.
15- A Vida
Dizem-se vivos os seres que se movem a si mesmos. Ora Deus é imutável; não é movido, nem se move,
no sentido rigoroso da palavra. Vejamos portanto o que pode significar a vida, que atribuímos a Deus em
grau eminente.
No mais baixo da escala dos seres vivos, vemos as plantas executar movimentos, de crescimento,
assimilação e reprodução, regidos pela forma que da natureza receberam. Mais ainda, encontramos os
animais, que recebem dos sentidos o princípio determinante de cada ação particular, mas sem conhecerem o
fim para o qual essa ação tende, fim que lhes é ditado pela natureza. Acima deles, há as criaturas racionais,
que não só recebem das suas faculdades as formas das suas ações, mas conhecem o fim próximo destas. Não
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14- O Amor
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podem, entanto, escolher os primeiros princípios da sua inteligência, nem o último fim das suas ações, que é
a realização plena da sua natureza.
Vemos, portanto, que à medida que subimos na escala dos seres vivos, encontramos um conhecimento
cada vez mais perfeito e uma vontade cada vez mais autônoma. Não podemos por isso deixar de atribuir a
vida, no grau supremo, a Deus, que, por ser idêntico à sua inteligência e à sua vontade, não é determinado
por ninguém estranho nem quanto ao seu conhecimento nem quanto ao seu fim.
O repouso que se segue à plena posse dum fim que satisfaz todos os impulsos naturais dum ser, de que
falei ao tratar do bem deleitável, chama-se, nas criaturas racionais, a sua felicidade, a sua bem-aventurança.
Ora o fim de Deus é a própria essência divina, como já disse. Não podemos por isso recusar-lhe a bemaventurança, e bem-aventurança perfeita, visto que o fim é perfeito, e possuído o mais perfeitamente
possível: mais do que em união, em identidade. Não há em Deus impulsos naturais, e por isso também este
termo só se lhe aplica por analogia; mas o seu ser é a plena realização da sua natureza, de que, na realidade,
não se distingue. Podemos portanto dizer que a vida de Deus é felicidade sem limites, na plena posse, no
pleno amor, no pleno conhecimento, da sua natureza perfeita, necessária, imutável, eterna.
CAPÍTULO V
Fé, Estado e Política
1 - Estado e Igreja
O “Estado” é a pior definição de uma sociedade perfeita com um fim último próprio (o bem comum
dos homens neste mundo) e com os meios adequados para alcançá-lo. Mas também a “Igreja” considera-se
uma sociedade perfeita, possuindo um fim último a alcançar (a salvação eterna de homem) e os meios
apropriados a serem utilizados para obtê-lo.
Estado e Igreja por si só, tendo, objetivos e instrumentos essencialmente diferentes, deveriam
configurar-se como duas sociedades completamente separadas, mas de fato essa completa separação não
pode acontecer. Primeiramente, porque os sujeitos das duas sociedade são os mesmo: os cidadãos de um
Estado são normalmente também os membros de uma Igreja. Em segundo lugar, porque os objetivos que as
duas sociedades perseguem não são totalmente estranhos uns dos outros, não sendo concebível um autêntico
bem-estar que se desinteresse pela salvação espiritual do homem, nem uma salvação espiritual que esteja
desligada de um concreto bem-estar material.
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16- A Bem-aventurança
Filosofia Cristã
Mas então, como se devem entender as relações entre “Estado” e “Igreja”? Essa questão foi sentida,
aguda e apaixonadamente debatida sobretudo na Idade Média, no momento em que no Ocidente existia um
único Estado (o Sacro Império Romano) e uma única Igreja (a Católica). Em seguida, depois da divisão do
Império em estados nacionais e da Igreja em várias confissões (católica, evangélica, anglicana, etc.) o
problema registrou uma contínua perda de importância e atualidade.
O ponto de partida para qualquer discussão do problema das relações entre Estado e Igreja é dado pelas
claras palavras de Jesus: “daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21) e por outras
palavras dirigidas a Pilatos: “não terias poder algum sobre mim, se não te houvesse sido dado do alto” (Jo
18,11).
Nessas palavras estão expressos claramente dois princípios: primeiro, a existência dos dois poderes: o
do Estado e dos reinos terrenos e o de Deus e da Igreja, corpo místico de Cristo. Estes dois poderes são
eterna. Segundo, também o poder da sociedade política vem do alto: “omnis auctoritas a Deo”. Com essa
afirmação entende-se que o poder terreno encontra sua justificação não em si, mas em Deus; portanto,
afirma-se um nexo com o poder dado à Igreja.
Entretanto, Jesus não deseja determinar as aplicações concretas desses princípios universais. Isso deve
ser tarefa de todos os cristãos inseridos no próprio momento histórico.
A questão das relações entre Igreja e Estado provocou debates prolongados e acesos, principalmente
durante a Idade Média, no momento em que a Igreja dotada de um domínio próprio temporal encontrava-se
em convívio com um Império (Sacro Império Romano) que abraçava os mesmos súditos e apoiava-se sobre
bases jurídicas derivadas do cristianismo. Sob tal situação ainda era possível manter uma diferenciação entre
Estado e Igreja? Qual?
Três foram as principais soluções elaboradas pelos políticos medievais para este difícil problema:
- solução de Tomás de Aquino: entre Estado e Igreja ocorre uma subordinação indireta do primeiro à
segunda. Ambas são sociedades perfeitas, mas o fim perseguido pela Igreja (a salvação eterna do homem) é
superior àquele perseguido pelo Estado (o qual visa somente o bem–estar do homem material) e isto justifica
justamente uma subordinação indireta.
- solução de Bonifácio VIII: subordinação direta do Estado à Igreja, pois o Estado está a serviço da
Igreja e porque, enquanto o papa recebe a autoridade diretamente de Deus, o imperador deriva sua autoridade
do pontífice romano (teoria das duas espadas).
- solução de Marcílio de Pádua: subordinação direta da Igreja ao Estado. Este provê o bem-estar total
de seus súditos e, portanto, também o espiritual: o papa, os bispos, os padres são ministros, funcionários do
Estado encarregados de prover o bem espiritual dos cidadãos.
Do renascimento em diante, com a progressiva afirmação da autonomia da política em relação à moral
e à religião, as teorias de Bonifácio VIII, Marcílio e Tomás caem em desuso e passa-se sempre a dar maior
crédito à teoria da nítida separação entre a Igreja e Estado.
Também essa hipótese, na prática, não está isenta a dificuldades, em virtude do que lembramos mais
acima, isto é, que os mesmo indivíduos fazem parte tanto do Estado quanto da Igreja. Pode ocorrer (e
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essencialmente de natureza diferente, como diferentes são os seus fins: o primeiro ocupa-se da felicidade
Filosofia Cristã
efetivamente ocorre muito freqüentemente) que as decisões do Estado estejam em conflito com as das
diferentes igrejas. Assim, a separação que fora elaborada teoricamente na realidade cotidiana não é
facilmente realizável.
Sobre esse disputado problema Maritain fez agudas considerações, ao analisar a Constituição
americana, observando que seu espírito se opõe à idéia de uma sociedade humana que esteja afastada de
Deus e de toda a fé religiosa. Na realidade, a distinção entre o Estado e Igreja que a Constituição americana
afirma está em função de uma real cooperação, excluindo todo o privilégio para uma e para a outra parte.
Trata-se de fazer viver homens livres sob a providência de Deus (under God). Nessa linha, o Estado tem tudo
a ganhar, reconhecendo para a Igreja uma influência imaterial sobre as almas através do ensinamento do
Evangelho.
Mas à base do conflito moderno que deseja oposição total entre Igreja e Estado está o mal-entendido de
que o de instituição humana, nascida na história, como fato humano que, como todos os fatos humanos, pode
ser modificada ou destruída. Quem considera a “Igreja” como fato humano – continua Maritain – tende a
lançar todas as culpas, que os homens manifestam, sobre a própria Igreja. É preciso reconhecer ainda que, se
o cristianismo fosse traído pelos cristãos (mas na realidade existem sempre homens que realizam plenamente
o cristianismo em todas as épocas), isso não invalidaria os idéias e a realidade que a Igreja traz ao mundo.
Do mesmo modo que no plano das civilizações humanas, estas não se julgam pelo comportamento
desatinado por parte de seus próprios membros.
2 – Fé e política
Atualmente o problema da relação política-religião não se configura mais apenas como estudo das
relações entre Estado e Igreja, entendidas como duas associações autônomas e completas em si mesmas.
Cada igreja é hoje vista como uma comunidade espiritual que mantém seus membros unidos
unicamente através do vínculo do amor, sem estruturas temporais que possam fazê-la aparecer como um
estado em concorrência com os outros estados.
Nos últimos anos, muitos teólogos ressaltaram a importância da dimensão política da mensagem cristã
e, conseqüência, do empenho político de cada cristão, particular ou coletivamente. Antes de tudo, destaca-se
que o destinatário da Palavra de Deus e da sua obra de salvação é o homem. Ora, este não é uma mônada, um
anjo, um monge, mas um ser essencialmente sociável, um “animal político”, como dizia Aristóteles. Ela não
se realiza na clausura de sua alma, contemplando a verdade, mas na abertura intersubjetiva, na relação
receptiva e comunicativa com os outros, inserindo-se numa sociedade, e valendo-se das suas múltiplas
estruturas. Este aspecto político do ser humano está no centro da revelação na Bíblia (Antigo Testamento), a
qual se ocupa constantemente das estruturas sociais e políticas do povo eleito, subtraindo-o ao domínio de
seus inimigos (Êxodo), determinando sua organização em tribos, atribuindo-lhe determinadas formas de
governo, etc.
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quem não pretende considerar a “Igreja” a não ser em termos humanos, não lhe reconhecendo outro valor
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No Novo Testamento a atenção à dimensão política é menos explícita, mas encontra-se sempre
presente. Embora não tomando iniciativas políticas, Jesus está envolvido na política. Sua conduta e seu
ensinamento provocam a violenta reação dos poderes políticos constituídos. Ele torna-se a sua vítima. O
“potencial subversivo” da sua doutrina e da sua graça, contudo, não será sufocado. Este agirá profundamente
sobre as relações humanas, sobre as estruturas sociais e, pouco a pouco, as transformará radicalmente.
Portanto, existe um impacto inevitável da fé sobre a política. E se isto pode ser verdadeiro para
qualquer fé, o é em modo singular para a fé cristão, que é fé na libertação do homem: para isto contribui o
cristão com o testemunho da sua fé, a qual não é conseqüentemente aceitação passiva, nem contemplação
estática da palavra de Deus, mas é atuação dinâmica das promessas divinas em ordem à plena realização do
Reino de Deus anunciado por Jesus.
Essas importantes razões (a natureza do homem e o processo histórico da revelação de Deus) autorizam
uma leitura “política” da mensagem evangélica. Esta, entretanto, não pode ser lida exclusivamente em chave
política, como muitos hoje pretendem.
De fato, o político é apenas um aspecto da mensagem cristã. Esta tem por objetivo, antes de tudo, o
indivíduo (e depois a sociedade), e no indivíduo considera em primeiro lugar a dimensão interior: a
conversão do espírito, a transformação do coração. Os profetas do Antigo Testamento e Jesus Cristo querem
instaurar um novo tipo de relações, baseado essencialmente no amor, entre o homem e Deus e entre cada
homem. Porém não tentam realizar tal objetivo com a força, com a violência, com as armas, mas sim com a
transformação interior das almas, chamando-as à conversão com o testemunho das obras, com o ensino da
verdade, com a paciência, a caridade e o sacrifício de si mesmos.
O amor a Deus e pelo próximo é o verdadeiro mandamento “político” de Jesus. Não o amor romântico,
mas o amor crítico, não entendido apenas como ajuda caritativa ao próximo, mas como dedicação plena à
justiça, à liberdade e à paz. Isto comporta uma crítica decidida contra toda a forma de perder puro e um
concreto empenho para transformar toda a situação política opressora dos homens.
Frentes os grandes temas políticos o cristão sabe que a vida política tende para um bem comum que é
superior à simples soma dos bens individuais, um bem que deve derramar-se sobre as pessoas humanas, isto
é, sobretudo um bem relativo à melhoria da vida humana, não somente no plano dos desequilíbrios
econômicos, mas também no dos valores espirituais, permitindo a cada um viver sobre a terra como homem
livre a gozar dos frutos da inteligência humana.
Para o cristão a liberdade é uma realidade da qual deve tornar-se digno: a igualdade com os outros
homens instaura-se somente no clima de respeito recíproco e de fraternidade, e não numa luta pela afirmação
de uma só classe sobre as outras; a justiça é a força de conservação da comunidade política e a condição
indispensável para permitir à “amizade cívica” tomar forma “conduzindo os desiguais á igualdade”.
Poder-se-ia objetar que o cristão, segundo essa visão ideal, aparece estendido numa visão vertical, todo
voltado à afirmação de princípios espirituais e morais que o desencarnam do mundo atual. É a acusação
notória da alienação do cristão diante das responsabilidades do mundo presente. Na realidade, na natureza
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3 – Leitura política da mensagem evangélica
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humana está presente também o movimento horizontal, também ele determinante à plena realização do
homem em si mesmo. Tal movimento horizontal diz respeito à evolução da humanidade e revela
progressivamente a substância das forças criadoras do homem na história. É o movimento horizontal da
civilização que, orientado em direção a fins temporais autênticos, ajuda a tensão vertical da humanidade. O
ideal supremo a que deve tender a obra política e social da humanidade é a inauguração de uma cidade
fraterna, a qual não comporta que um dia todos os homens sobre a terra serão perfeitos e amar-se-ão
fraternalmente, mas a esperança de que o estado existencial da vida humana e as estruturas da civilização
avizinhar-se-ão sempre mais da perfeição, cuja medida é a justiça e a fraternidade.
“Este ideal supremo é também o da democracia autêntico, o ideal de nova democracia que todos
esperamos. Esta exige não só a pontencialização de todas as estruturas técnicas e uma organização sóciopolítica sólida e racional nas sociedades dos homens, mas sobretudo uma filosofia heróica da vida e o
BIBLIOGRAFIA
DESCARTES, René. Discurso sobre “o método”. Hemus – Livraria
Editora, 1978.
MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia. 7º edição, edições Paulinas.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia, os Filósofos do Ocidente. Vol. 2,
5º edição . Edições Paulinas.
HEISMSOETH, Heinz. A Filosofia no século XX. 5º edição, coleção
Studium. Armênio Amado – Editora.
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fermento interior vivificante da inspiração evangélica”.
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