ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)
RESEARCH PAPER (ORIGINAL)
ISSNe: 2182.2883
Disponível em: https://doi.org/10.12707/RIV19039
Estudo psicométrico da Escala de Práticas de Enfermagem
na Gestão da Dor
Psychometric study of the Nursing Care Scale for Pain Management
Estudio psicométrico de la Escala de Prácticas de Enfermería en la Gestión del Dolor
Catarina André Silva António*
João Carvalho Duarte****
; Eduardo José Ferreira dos Santos**
; Madalena Cunha***
;
Resumo
Enquadramento: A dor é gerida de forma ineficaz pelos enfermeiros, em parte pela inexistência de um instrumento
capaz de medir e monitorizar esta prática.
Objetivo: Avaliar as propriedades psicométricas da Escala de Práticas de Enfermagem na Gestão da Dor.
Metodologia: Este estudo descritivo-correlacional avaliou a consistência interna através do alfa de Cronbach e a
análise fatorial confirmatória através da matriz de covariâncias - algoritmo da máxima verosimilhança.
Resultados: Foram incluídos 260 enfermeiros com uma média de 35,42 anos, sendo 78,5% mulheres. Após o refinamento da escala, a consistência interna global foi de α = 0,95 e por fatores de: Avaliação inicial α = 0,85; Planeamento
α = 0,76; Execução de intervenções não farmacológicas α = 0,80; Ensino à pessoa com dor α = 0,89; Registo α = 0,76;
Reavaliação α = 0,81, e Execução de intervenções farmacológicas α = 0,70. Os valores médios mais elevados dos scores
globais são relativos às intervenções farmacológicas (3,13 ± 0,60).
Conclusão: A escala é fiável e válida na avaliação das práticas de gestão da dor em enfermeiros portugueses. Os
enfermeiros aplicam maioritariamente as intervenções farmacológicas para gerir a dor dos utentes.
Palavras-chave: dor; manejo da dor; cuidados de enfermagem; psicometria
Abstract
Resumen
Background: Pain is inefficiently managed by nurses in
part due to the lack of tools capable of measuring and
monitoring such practice.
Objective: To assess the psychometric properties of the
Nursing Care Scale for Pain Management.
Methodology: This descriptive correlational study assessed internal consistency using Cronbach’s alpha coefficient and confirmatory factor analysis using the covariance matrix - maximum likelihood algorithm.
Results: The study involved 260 nurses with a mean age
of 35.42 years, 78.5% of whom were women. After the
refinement of the scale, the overall internal consistency
was α = 0.95, and the score by factors was: initial assessment α = 0.85; Planning α = 0.76; Implementation of
non-pharmacological interventions α = 0.80; Educating
the person with pain α = 0.89; Registration α = 0.76;
Reassessment α = 0.81, and Implementation of pharmacological interventions α = 0.70. The highest mean
values of the overall scores are related to pharmacological interventions (3.13 ± 0.60).
Conclusion: The scale is a reliable and valid tool for
assessing the pain management practices of Portuguese
nurses. Most nurses apply pharmacological interventions to manage the pain endured by patients.
Keywords: pain; pain management; nursing care; psychometrics
Marco contextual: Los enfermeros gestionan de manera
ineficaz el dolor, en parte debido a que no disponen de un
instrumento capaz de medir y monitorear esta práctica.
Objetivo: Evaluar las propiedades psicométricas de la
escala de prácticas de enfermería en la gestión del dolor.
Metodología: Este estudio descriptivo-correlacional evaluó la consistencia interna a través del alfa de Cronbach y
el análisis factorial confirmatorio a través de la matriz de
covarianza - algoritmo de máxima verosimilitud.
Resultados: Se incluyeron 260 enfermeros con una
edad media de 35,42 años, de los cuales el 78,5% eran
mujeres. Tras el perfeccionamiento de la escala, la consistencia interna global fue α = 0,95 y por factores de:
Evaluación inicial α = 0,85; Planificación α = 0,76; Ejecución de intervenciones no farmacológicas α = 0,80;
Enseñanza a la persona con dolor α = 0,89; Registro α
= 0,76; Reevaluación α = 0,81, y Ejecución de intervenciones farmacológicas α = 0,70. Los valores medios
más altos de las puntuaciones globales están relacionados con las intervenciones farmacológicas (3,13 ± 0,60).
Conclusión: La escala es fiable y válida en la evaluación
de las prácticas de la gestión del dolor en enfermeros
portugueses. La mayoría de los enfermeros aplican intervenciones farmacológicas para controlar el dolor en
los pacientes.
Palabras clave: dolor; manejo del dolor; atención de
enfermería; psicometría
*MSc., Enfermeira, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE, Serviço de Urgência,
3000-075, Coimbra, Portugal [
[email protected]]. https://orcid.org/0000-00018646-1913. Contribuição no artigo: revisão da literatura e redação do manuscrito; discussão
dos dados; revisão da redação final do manuscrito.
**MSc., Enfermeiro, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE, Serviço de Reumatologia,
Portugal. Unidade de Investigação em Ciências da Saúde (UICISA: E), Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Portugal [
[email protected]]. https://orcid.org/0000-00030557-2377. Contribuição no artigo: revisão da literatura e redação do manuscrito; tratamento
dos dados; discussão dos dados; revisão da redação final do manuscrito. Morada para correspondência: Serviço de Reumatologia, Consulta Externa, Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra, EPE, Avenida Dr. Bissaya Barreto, 3000-075 Coimbra, Portugal.
***Ph.D., Docente, Instituto Politécnico de Viseu, Escola Superior de Saúde, CI&DETS,
UNICISA-E, CIEC, 3500-843, Viseu, Portugal [
[email protected]]. https://orcid.org/0000-0003-0710-9220. Contribuição no artigo: revisão da literatura e redação do
manuscrito; discussão dos dados; revisão da redação final do manuscrito.
****Ph.D., Docente, Instituto Politécnico de Viseu, Escola Superior de Saúde, CI&DETS,
UNICISA-E, CIEC, 3500-843, Viseu, Portugal [
[email protected]]. https://orcid.org/00000001-7082-8012. Contribuição no artigo: tratamento dos dados; discussão dos dados; revisão
da redação final do manuscrito.
Revista de Enfermagem Referência
Recebido para publicação em: 27.06.19
Aceite para publicação em: 26.08.19
Série IV - n.º 22 - JUL./AGO./SET 2019
pp. 51 - 62
Introdução
Nesse sentido, a dor é, fundamentalmente, um
processo complexo e multidimensional, uma
experiência que envolve fatores físicos, psicológicos, emocionais e socioculturais (Ribeiro, 2013;
Glowacki, 2015).
A dor é um fenómeno com elevada prevalência e
os estudos têm demonstrado que é comum entre
os doentes hospitalizados, sobretudo devido à existência de uma falta de adesão às recomendações
de gestão da dor e, inclusive, devido a deficits de
formação dos profissionais de saúde que assistem
a pessoa com dor (Hong & Lee, 2014; Kizza et
al., 2016; Andersson et al., 2017). Assim, urge
melhorar a gestão da dor, envolvendo não só o
desenvolvimento de novos medicamentos ou tecnologias, mas também utilizando e potenciando
os conhecimentos existentes dos profissionais de
saúde por parte das instituições (Kizza et al., 2016;
Andersson et al., 2017).
O papel dos enfermeiros na gestão da dor é fulcral
e compreende a sua avaliação, o recurso a medidas
farmacológicas e não farmacológicas adequadas
a cada caso. Como exemplos de medidas não
farmacológicas, temos a aplicação do calor e frio,
técnica de distração, técnica de massagem, técnica
de relaxamento, promoção do conforto, toque
terapêutico, entre outras (Drake & Williams,
2017). Para que a gestão da dor seja adequada, é
preconizado que esta seja monitorizada sistematicamente, no entanto nem sempre os enfermeiros a avaliam adequadamente assumindo as suas
próprias estimativas de dor (Drake & Williams,
2017). Isso leva a que, em alguns estudos, o nível
de conhecimentos dos enfermeiros sobre os princípios da gestão e avaliação da dor apenas seja
tido como adequado (Kizza et al., 2016). Mesmo
assim, vários estudos demonstraram que a adoção
de guidelines da gestão da dor e a formação contínua melhoraram as práticas de gestão e avaliação
da dor (Hong & Lee, 2014; Kizza et al., 2016;
Andersson et al., 2017).
A utilização de um instrumento capaz de medir
e monitorizar estas práticas permitirá objetivar a
realidade e implementar estratégias dirigidas que
a podem minimizar.
A dor é uma experiência universal de todo o ser
humano porque em algum momento da vida as
pessoas são confrontadas pela mesma (Larner,
2014). Apesar desta inevitabilidade com o seu
confronto, nem todas as pessoas suportam a dor e
se referem a ela da mesma maneira, abrangendo a
universalidade da experiência dolorosa, múltiplas
facetas da subjetividade humana (Larner, 2014).
Por este motivo, e sobretudo pela sua subjetividade, assume-se que o método mais fiável para medir
a dor se deve basear no autorrelato, devendo ser
o próprio doente a autoavaliar e a caracterizar a
sua dor (Barr et al., 2013).
Devido à elevada prevalência da dor é necessário
que sejam implementadas medidas para a sua
gestão, sendo fulcral uma formação adequada dos
profissionais que assistem a pessoa com dor (Hong
& Lee, 2014; Kizza, Muliira, Kohi, & Nabirye,
2016; Andersson et al., 2017). Contudo, ainda
se verifica que muitos doentes continuam a ter a
sua dor gerida ineficazmente devido sobretudo
ao não cumprimento das recomendações das
práticas de gestão da dor e, inclusive, devido a
deficits de formação (Hong & Lee, 2014; Kizza
et al., 2016; Andersson et al., 2017).
Como a dor não tem recebido a devida prioridade,
permanecendo sem controlo por parte dos profissionais de saúde, justifica-se a pertinência deste
estudo, cujo objetivo principal consistiu em avaliar
as propriedades psicométricas, nomeadamente a
estrutura fatorial e a consistência interna da Escala
de Práticas de Enfermagem na Gestão da Dor
(António, 2017). Esta escala é um instrumento
de autopreenchimento constituído por 68 itens,
desenvolvida em Portugal em 2017, e integra um
questionário dividido em duas partes, sendo a primeira constituída por questões sociodemográficas
e a segunda pela referida escala. A sua utilização
permitirá medir e monitorizar esta prática no
sentido de implementar medidas dirigidas para
potenciar a melhoria dos resultados.
Enquadramento
Questão de investigação
A dor tem diferentes apresentações, podendo
desaparecer rapidamente, durar meses, anos ou
tornar-se recorrente, pode transtornar levemente
a rotina diária ou inviabilizar completamente o
modo de vida de uma pessoa (Ribeiro, 2013).
A Escala de práticas de enfermagem na gestão
da dor evidencia propriedades psicométricas
adequadas para avaliar esta prática?
Estudo psicométrico da Escala de Práticas de Enfermagem
na Gestão da Dor
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 22 -2019
52
Metodologia
da consistência interna foram considerados os
seguintes valores de referência: >0,9 muito boa;
0,8-0,9 boa; 0,7-0,8 média; 0,6-0,7 razoável;
0,5-0,6 má; <0,5 inaceitável (Marôco, 2014).
Quanto ao coeficiente de correlação de Pearson,
foram assumidas as seguintes associações: r <
0,2 muito baixa; 0,2 ≤ r ≤ 0,39 baixa; 0,4 ≤ r
≤ 0,69 moderada; 0,7 ≤ r ≤ 0,89 alta; 0,9 ≤ r ≤
1 muito alta (Marôco, 2014).
Para realizar a análise fatorial confirmatória foi
utilizado o software AMOS V.24.0 (IBM SPSS,
Chicago, Illinois, USA), e considerada a matriz
de covariâncias através do algoritmo da máxima verosimilhança. Previamente à realização
desta análise, os pressupostos da normalidade
foram confirmados através dos coeficientes de
assimetria, curtose e pelo coeficiente multivariado de Mardia, cujos valores de referência
são respetivamente de: ≤3,0; ≤ 7,0 e 5,0 (Hair,
Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2005;
Kline, 2005; Marôco, 2014).
Conforme recomendado, foram utilizados diferentes índices de ajustamento global, nomeadamente a razão entre o Qui-quadrado e os
Graus de Liberdade (x²/gl), o Goodness-of-Fit
Index (GFI), o Comparative-of-Fit Index (CFI),
o Root Mean Square Error of Approximation
(RMSEA), o Root Mean square Residual (RMR)
e o Standardized Root Mean square Residual
(SRMR). Assume-se um bom ajustamento dos
modelos quando: x²/gl < 3; os valores do GFI
e o CFI > 0,90; os valores do RMSEA, RMR
e SRMR < 0,06 são considerados ideais, embora valores entre 0,08 e 0,10 sejam aceitáveis.
Para analisar a qualidade do ajustamento local
do modelo foram considerados os coeficientes
lambda (λ) e a fiabilidade individual dos itens
(r2) cujos valores de referência são de 0,50 e
0,25, respetivamente (Byrne, 2000; Marôco,
2014).
Foi realizado um estudo descritivo-correlacional
de carácter psicométrico, que teve por base a
recolha de dados em corte transversal numa
amostra não probabilística de conveniência em
dois serviços de urgência de adultos da região
centro de Portugal. Apenas foram incluídos enfermeiros que exerciam funções neste contexto
e que não exerciam cargos de gestão.
Todos os participantes assinaram o consentimento informado previamente à realização
de qualquer procedimento. A aprovação da
Comissão de Ética foi garantida pelo Parecer
da Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, da
Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
(N.º 162-05/2013) e pelo Parecer do Centro
Hospitalar Tondela Viseu (N.º 02/05/2018).
Instrumento de recolha de dados
A Escala de Práticas de Enfermagem na Gestão
da Dor é um instrumento de autopreenchimento de 68 itens constituído por duas partes:
a primeira integra questões de caracterização
socioprofissional (idade, sexo, habilitações académicas, tempo de exercício profissional, tempo
de exercício profissional no serviço de urgência);
a segunda inclui questões de avaliação sobre
as práticas de enfermagem implementadas na
gestão da dor nos seguintes domínios: avaliação
inicial (itens 1-28), planeamento (itens 3137), execução de intervenções farmacológicas
(itens 38-40) e não farmacológicas (itens 4152), reavaliação (itens 53-54; 57-60), registo
(itens 29-30; 55-56), ensino à pessoa com dor
(itens 61-68). Estes itens são avaliados através
de uma escala de likert que quantifica o valor
de frequência de ocorrência com scores de: (0)
não sei/sem opinião; (1) nunca; (2) raramente;
(3) frequentemente; (4) sempre (António, 2017).
O processo de construção desta escala teve por
base uma análise semântica e de conteúdo por
painel de peritos com posterior aplicação de
pré-teste (António, 2017).
Resultados
Este estudo incluiu 260 enfermeiros, com idades compreendidas entre 22 e 59 anos e uma
média de 35,42 anos (Desvio Padrão - DP ±
7,62 anos), maioritariamente do género feminino (78,5%), 75,8% com grau de bacharel/
licenciado e 70,7% em pós-graduação. O tempo
de exercício profissional foi em média de 12,21
anos (DP ± 7,76 anos) e o tempo de experiên-
Técnicas estatísticas
As análises descritivas, correlacionais e o estudo
da consistência interna foram realizadas através
do software IBM SPSS Statistics, versão 24.0,
pela determinação do coeficiente de correlação
de Pearson e do alfa de Cronbach. Para análise
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 22 -2019
CATARINA ANDRÉ SILVA ANTÓNIO et al.
53
cia no serviço de urgência de 9,21 anos (DP
± 6,89 anos).
A análise da fiabilidade da Escala de práticas
de enfermagem na gestão da dor revelou que as
médias dos itens oscilaram entre 1,85 (item 45)
e 3,38 (item 6). O estudo da consistência interna foi considerado muito bom quer por item
quer para o valor global (α = 0,95; Tabela 1).
Tabela 1
Consistência Interna da Escala de práticas de enfermagem na gestão da dor
N.º
Itens
Item
1
Reconheço a pessoa como melhor avaliador da sua dor
Média
Desvio
padrão
α sem
item
3,12
0,74
0,95
2
Acredito sempre na pessoa que sente dor
2,99
0,77
0,95
3
Realizo exame físico na colheita da história da dor
2,73
0,98
0,95
4
Caracterizo a dor segundo a duração
3,08
0,78
0,95
5
Caracterizo a dor segundo a frequência
3,08
0,82
0,95
6
Caracterizo a dor segundo a localização
3,38
0,59
0,95
7
Caracterizo a dor segundo a intensidade
3,33
0,71
0,95
8
Caracterizo a dor segundo a qualidade
2,68
1,12
0,95
9
Pesquiso formas habituais da pessoa comunicar/expressar a dor
2,58
1,08
0,95
10
Considero os fatores de alívio e/ou de agravamento da dor
3,15
0,68
0,95
11
Questiono sobre as estratégias de coping no controlo da dor
2,39
1,10
0,95
12
Interrogo a pessoa sobre as implicações da dor nas atividades de vida diária
2,77
0,89
0,95
13
Exploro o conhecimento da pessoa sobre a dor
2,18
1,08
0,95
14
Avalio o impacto emocional da dor
2,50
0,97
0,95
15
Avalio o impacto socioeconómico da dor
1,97
0,95
0,95
16
Avalio o impacto espiritual da dor
1,93
0,98
0,95
17
Identifico os sintomas associados à dor
Adequo o instrumento de avaliação da dor atendendo às características da
pessoa
Monitorizo a dor através de escalas da dor
3,07
0,70
0,95
2,92
1,05
0,95
3,21
0,90
0,95
2,66
1,10
0,95
2,75
1,06
0,95
3,19
2,65
0,96
2,90
0,92
0,95
18
19
20
21
22
23
Avalio a intensidade da dor privilegiando instrumentos de autoavaliação
Avalio a dor nas pessoas com incapacidade de comunicação verbal e/ou
alterações cognitivas, com base em indicadores fisiológicos e comportamentais, utilizando escalas de heteroavaliação
Avalio a intensidade da dor de forma regular e sistemática, à semelhança
de outros sinais vitais
A par da avaliação da dor, avalio a frequência cardíaca
24
A par da avaliação da dor, avalio frequência respiratória
2,62
1,03
0,95
25
A par da avaliação da dor, avalio a tensão arterial
Mantenho a mesma escala de avaliação da dor em todas as avaliações, na
mesma pessoa, exceto se a situação clínica justificar a sua mudança
Adapto a frequência da avaliação da dor ao estado clínico da pessoa
2,64
1,05
0,95
2,88
1,09
0,95
3,04
0,88
0,95
3,03
1,03
0,95
2,95
1,03
0,95
26
27
28
29
Avalio a dor no mínimo uma vez por turno
Registo a intensidade da dor no suporte de sinais vitais disponível no
programa informático
Estudo psicométrico da Escala de Práticas de Enfermagem
na Gestão da Dor
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 22 -2019
54
30
Registo as características e história da dor em notas de enfermagem
2,74
0,95
0,95
31
Identifico diagnóstico de dor
2,18
1,13
0,95
32
Planeio intervenções para o controlo da dor
Considero o fluxograma (ex. cefaleias, dor abdominal, torácica) no planeamento de intervenções para o controlo da dor
Considero o discriminador (ex. dor moderada, severa, dor precordial) no
planeamento de intervenções para controlo da dor
Colaboro ativamente com a restante equipa multidisciplinar no estabelecimento de um plano de intervenção para o controlo da dor
Envolvo a pessoa na definição e reajustamento do plano terapêutico
Ajusto o plano terapêutico de acordo com os resultados da reavaliação e
com os recursos disponíveis
Conheço os fármacos analgésicos prescritos (indicações, contraindicações,
efeitos colaterais, interações medicamentosas)
Vigio a segurança da terapêutica analgésica
Previno e controlo a dor decorrente de intervenções de Enfermagem e de
procedimentos diagnósticos ou terapêuticos
Conheço as intervenções não farmacológicas para controlo da dor (indicações, contraindicações, efeitos colaterais)
Utilizo intervenções não farmacológicas em complementaridade da terapêutica farmacológica
Aplico calor e frio, quando adequado, para controlo da dor
2,66
1,08
0,95
2,42
1,21
0,95
2,70
1,10
0,95
2,83
0,94
0,95
2,42
1,16
0,95
2,68
1,05
0,95
3,27
0,68
0,95
3,28
0,64
0,95
2,87
0,93
0,95
2,76
1,04
0,95
2,48
1,06
0,95
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
Executo a técnica de distração, quando adequado, para controlo da dor
Executo a técnica de imaginação guiada, quando adequada, para controlo
da dor
Executo a técnica de massagem, quando adequada, para controlo da dor
2,66
0,88
0,95
2,41
1,01
0,95
1,85
0,93
0,95
2,14
0,89
0,95
1,97
0,97
0,95
2,40
0,95
0,95
49
Executo a técnica de relaxamento, quando adequada, para controlo da dor
Promovo um ambiente físico adequado (luz, ruído, temperatura ambiente,
privacidade) para controlo da dor
Adequo o posicionamento da pessoa para controlo da dor
3,14
0,62
0,95
50
Promovo o conforto para controlo da dor
3,15
0,67
0,95
51
Promovo o toque terapêutico para controlo da dor
Realizo ou mantenho imobilização física para prevenir alinhamento em
situações de traumatismo
Monitorizo a eficácia das intervenções farmacológicas implementadas
2,60
1,01
0,95
2,91
1,05
0,95
2,98
0,91
0,95
2,69
1,02
0,95
2,70
1,14
0,95
2,48
1,09
0,95
2,22
1,09
0,95
2,82
1,05
0,95
2,92
0,93
0,95
2,73
1,07
0,95
2,16
1,08
0,95
2,20
1,06
0,95
2,35
1,07
0,95
2,33
1,01
0,95
2,56
0,97
0,95
48
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
34
65
Monitorizo a eficácia das intervenções não farmacológicas implementadas
Registo sistematicamente as intervenções farmacológicas, os seus efeitos,
bem como as mudanças do plano terapêutico
Registo sistematicamente as intervenções não farmacológicas, os seus efeitos, bem como as mudanças do plano terapêutico
Programa no sistema informático reavaliações posteriores após intervenção
para o controlo da dor
Na reavaliação da dor, comparo com o valor anterior
Comunico os resultados de avaliação/intervenção da dor à equipa multidisciplinar, garantindo a continuidade do cuidado
Comunico os resultados da avaliação/intervenção da dor a outras equipas
aquando da transferência do doente para outra unidade
Avalia o conhecimento da pessoa sobre autocontrolo da dor
Ensino a pessoa sobre autocontrolo da dor
Avalio conhecimento da pessoa sobre estratégias farmacológicas para controlo da dor
Avalio conhecimento da pessoa sobre estratégias não farmacológicas para
controlo da dor
Ensino a pessoa sobre estratégias farmacológicas e para controlo da dor
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 22 -2019
CATARINA ANDRÉ SILVA ANTÓNIO et al.
55
66
Ensino a pessoa sobre estratégias não farmacológicas e para controlo da dor
2,54
0,94
0,95
67
Ensino a pessoa acerca dos efeitos colaterais da terapêutica analgésica
Instruo a pessoa sobre a necessidade de alertar precocemente os profissionais de saúde para alterações à dor (agravamento, mudança de padrão,
novas fontes e tipos, efeitos colaterais da terapêutica analgésica)
Coeficiente alfa de Cronbach global
2,75
0,85
0,95
2,97
0,77
0,95
68
0,95
correr do processo de refinamento do modelo
(Marôco, 2014). Assim, este processo permitiu
eliminar 24 itens.
Verificou-se também que os valores correlacionais entre os fatores eram elevados, pelo que
se propôs uma estrutura hierárquica com um
fator de 2.ª ordem (Figura 1).
A menor correlação registada com o fator global
foi observada no fator 7, que explica 45% e a
maior com o fator 6, com uma variabilidade
de 96% (Figura 1).
Análise fatorial confirmatória
Inicialmente, foram analisadas as trajetórias dos
itens para os respetivos fatores, os rácios críticos
correspondentes e os coeficientes lambda da
solução heptafatorial, sendo todos os rácios
estatisticamente significativos (p < 0,05). Contudo, verificou-se que vários itens apresentam
saturações inferiores a 0,50 e fiabilidade individual inferior a 0,25 afetando negativamente
os índices de ajustamento global, sendo por
isso recomendado eliminar esses itens no de-
Figura 1. Modelo de 2.ª ordem.
Na Tabela 2 é apresentada a síntese dos índices de ajustamento global.
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na Gestão da Dor
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 22 -2019
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Tabela 2
Índices de qualidade do ajustamento de todos os modelos
Modelo
x2/gl
GFI
CFI
RMSEA
RMR
SRMR
Modelo inicial
2,70
0,58
0,55
0,08
0,07
0,07
Modelo com índices de modificação
2,98
0,63
0,66
0,08
0,07
0,07
Modelo com itens eliminados
2,12
0,75
0,82
0,06
0,06
0,06
Modelo de 2.ª ordem
2,18
0,74
0,81
0,06
0,06
0,06
Nota. x2/gl - Qui-quadrado / Graus de Liberdade; GFI - Goodness-of-Fit Index; CFI - Comparative-of-Fit Index;
RMSEA - Root Mean Square Error of Approximation; RMR - Root Mean square Residual; SRMR - Standardized
Root Mean square Residual.
De salientar que no processo de refinamento do
modelo os índices de ajustamento melhoraram,
registando valores adequados, com exceção para
o GFI, que se mostrou inadequado e CFI, com
ajustamento sofrível.
Tendo por base a versão final da escala, foi
ainda possível analisar a sua estrutura fatorial,
e analisar a consistência por fatores (Tabela 3).
Tabela 3
Consistência interna por fatores
Itens
Média
Desvio
padrão
r/item total
r2
α sem item
Avaliação inicial
0,85
5
3,08
0,82
0,47
0,32
0,85
10
3,15
0,68
0,57
0,42
0,84
12
2,77
0,89
0,46
0,28
0,85
14
2,50
0,97
0,51
0,33
0,84
16
1,93
0,98
0,51
0,32
0,84
17
3,07
0,70
0,45
0,31
0,85
18
2,92
1,05
0,64
0,50
0,83
19
3,21
0,90
0,60
0,40
0,84
20
2,66
1,10
0,57
0,42
0,84
21
2,75
1,06
0,53
0,37
0,84
24
2,62
1,03
0,51
0,29
0,84
27
3,04
0,88
0,57
0,37
0,84
Planeamento
0,76
31
2,18
1,13
0,39
0,18
0,76
32
2,66
1,08
0,59
0,38
0,70
34
2,70
1,10
0,46
0,28
0,74
35
2,83
0,94
0,51
0,30
0,73
36
2,42
1,16
0,54
0,42
0,72
37
2,68
1,05
0,54
0,41
0,72
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 22 -2019
CATARINA ANDRÉ SILVA ANTÓNIO et al.
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Execução de intervenções não
farmacológicas
0,80
41
2,76
1,04
0,56
0,35
0,77
42
2,48
1,06
0,51
0,32
0,78
43
2,66
0,88
0,51
0,32
0,78
47
1,97
0,97
0,46
0,31
0,78
48
2,40
0,95
0,54
0,34
0,77
49
3,14
0,62
0,54
0,62
0,78
50
3,15
0,67
0,51
0,60
0,78
51
2,60
1,01
0,52
0,28
0,77
62
2,20
1,06
0,65
0,45
0,88
63
2,35
1,07
0,78
0,71
0,85
64
2,33
1,01
0,83
0,76
0,85
65
2,56
0,97
0,72
0,58
0,86
66
2,54
0,94
0,70
0,58
0,87
67
2,75
0,85
0,54
0,31
Ensino à pessoa com dor
0,89
Registo
0,89
0,76
30
2,74
0,95
0,45
0,21
0,83
55
2,70
1,14
0,66
0,51
0,61
56
2,48
1,09
0,71
0,54
0,55
53
2,98
0,91
0,50
0,40
0,80
54
2,69
1,02
0,63
0,53
0,77
57
2,22
1,09
0,50
0,30
0,80
58
2,82
1,05
0,62
0,44
0,77
59
2,92
0,93
0,61
0,52
0,78
60
2,73
1,07
0,61
0,53
0,78
Reavaliação
0,81
Execução de intervenções
farmacológicas
0,70
38
3,27
0,68
0,54
0,30
0,58
39
3,28
0,64
0,54
0,31
0,59
40
2,87
0,93
0,51
0,26
0,66
explicada de 32,0%.
No que concerne ao fator Planeamento, em
termos médios o item mais favorável foi o 35
e o menos favorável foi o item 31, apesar de
os resultados indicarem que se encontram bem
centrados, dados os valores médios e os respetivos desvios padrão obtidos. Os coeficientes
dos 6 itens desta dimensão oscilaram entre
α = 0,76 no item 31 e α = 0,70 no item 32,
indicando uma consistência interna razoável,
com um alfa global de 0,76. O maior valor de
Para o fator Avaliação inicial observou-se que
pelos valores médios, o item mais favorável
foi o 19 e o menos favorável o item 16. Os
coeficientes de alpha de Cronbach obtidos nos
12 itens oscilaram entre 0,83 no item 18 e
0,85 nos itens 5, 12 e 17, indicando uma boa
consistência, com um alfa global de 0,85. O
maior valor de correlação situou-se no item 18
(r = 0,64), com uma variabilidade de 50,9% e o
que apresentou menor correlação foi o item 17
(r = 0,45), com uma percentagem de variância
Estudo psicométrico da Escala de Práticas de Enfermagem
na Gestão da Dor
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 22 -2019
58
correlação situou-se no item 32 (r = 0,59) e
o item que apresentou menor correlação foi
o item 31 (r = 0,39), com variabilidades de
38,6% e de 18,2%.
Quanto ao fator Execução de intervenções não
farmacológicas, a melhor média registou-se no
item 50 e a menor recaiu no item 47. Os coeficientes variaram entre α = 0,77 no item 41 e α
= 0,78 no item 47, com um coeficiente global
de α = 0,80, o que revelou uma boa consistência
interna. O maior valor correlacional obtido situou-se no item 41 (r = 0,56) e o menor no item
47 (r = 0,46), com percentagens de variância
explicada de 35,9% e 31,0%, respetivamente.
Para o fator Ensino à pessoa com dor verificou-se que, pelos valores médios, o item mais
favorável foi o 67 e o menos favorável o item 62.
Os coeficientes obtidos nos 6 itens oscilaram
entre α = 0,85 no item 64 e α = 0,89 no item
67, indicando uma boa consistência, com um
alfa global de 0,89. O maior valor de correlação
situou-se no item 64 (r = 0,83), com uma variabilidade de 76,5% e o que apresentou menor
correlação foi o item 67 (r = 0,54), com uma
percentagem de variância explicada de 31,1%.
Quanto ao fator Registo, a maior média
registou-se no item 30 e a menor recaiu no
item 56. Os coeficientes variaram entre α =
0,55 no item 56 e α = 0,83 no item 30, com
um coeficiente global de α = 0,76, o que revelou
uma boa e razoável consistência interna. O
maior valor correlacional obtido situou-se no
item 56 (r = 0,71) e o menor no item 30 (r =
0,45), com percentagens de variância explicada
de 54,5% e 21,3%, respetivamente.
No que concerne ao fator Reavaliação, em termos médios o item mais favorável foi o 53 e
o menos favorável o item 57. Os coeficientes
dos 6 itens desta dimensão que oscilaram entre
α = 0,77 no item 54 e α = 0,80 no item 57
indicaram uma consistência interna entre o
razoável e boa, com um coeficiente global de α
= 0,81. O maior valor de correlação situou-se
no item 54 (r = 0,63) e o item que apresentou
menor correlação foi o item 57 (r = 0,50), com
variabilidades de 53,0% e de 30,7%.
Por último, para o fator Execução de intervenções farmacológicas, observou-se que pelos
valores médios, o item mais favorável foi o 39
e o menos favorável o item 40. Os coeficientes
obtidos nos três itens que oscilaram entre α =
0,58 no item 38 e α = 0,66 no item 40, indi-
caram uma razoável consistência, com um alfa
global de 0,70. O maior valor de correlação
situou-se no item 39 (r = 0,54), com uma variabilidade de 31,0% e o que apresentou menor
correlação foi o item 40 (r = 0,51), com uma
percentagem de variância explicada de 26,2%.
Práticas de gestão da dor
Os resultados relativos aos valores médios do
score global e fatores da Escala de Práticas de
Enfermagem na Gestão da Dor indicaram que
o valor médio mais elevado correspondeu ao
fator Execução de intervenções farmacológicas
(Média – M = 3,13 ± 0,60), seguindo-se os
fatores Avaliação inicial (M = 2,80 ± 0,58),
Reavaliação (M = 2,72 ± 0,73), Execução de
intervenções não-farmacológicas (M = 2,64 ±
0,59), Registo (M = 2,64 ± 0,88), Planeamento
(M = 2,57 ± 0,73) e por último o fator Ensino
à pessoa com dor (M = 2,45 ± 0,79).
As estatísticas relativas às práticas de gestão da
dor em função do género revelaram que, em
ambos os sexos, os participantes apresentaram
igual valor médio para o Planeamento (M =
2,66), Ensino à pessoa com dor (M = 2,50),
Reavaliação (M = 2,83) e para a Execução de
intervenções farmacológicas (M = 3,00). Contudo, as enfermeiras diferenciam-se em relação
aos enfermeiros, mostrando melhores práticas
de gestão da dor na Avaliação inicial (M = 2,91
vs M = 2,58), na Execução de intervenções
não-farmacológicas (M = 2,75 vs M = 2,50) e
no Registo (M = 2,83 vs M = 2,66).
Discussão
Este estudo da validação das propriedades psicométricas da Escala de Práticas de Enfermagem
na Gestão da Dor foi focado na validade de
constructo, de conteúdo e de critério, procurando-se aprofundar mais amplamente a validade
do constructo.
A validade de constructo procura identificar se
o instrumento mede realmente o que pretende
medir e é simplesmente aceite, na medida em
que as provas a seu favor vão sendo superiores às
provas contrárias (Cunha et al., 2018).
O estudo da consistência interna foi considerado
muito bom através do valor global α = 0,95. A
consistência interna dos 68 itens finais que constituem a escala oscilaram entre uma consistência
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 22 -2019
CATARINA ANDRÉ SILVA ANTÓNIO et al.
59
refinamento. Como foi anteriormente referido,
foram eliminados 24 itens, mas a escala preservou
44. Contudo, se aumentássemos a amostra, os
resultados iriam manter-se semelhantes, porque
foram realizadas simulações de reamostragem
bootstrap (n = 2000) e não se verificaram alterações significativas nos modelos apresentados.
Por fim, e apesar de a amostra ser constituída
por dois serviços de urgência, não se invalida a
importância da realização de um futuro estudo
multicêntrico mais alargado ou de estudos adicionais para outros contextos mais específicos.
razoável e uma consistência boa. O ajustamento
do modelo final (2.ª ordem) apresentou valores
adequados em quatro dos seis índices, com exceção do GFI e CFI. Nesse sentido, é recomendável
a replicação do estudo psicométrico em amostras
mais alargadas para obter uma maior sensibilidade. Globalmente, a escala demonstra ser fiável e
válida na avaliação das práticas de gestão da dor
em enfermeiros portugueses.
Os resultados da aplicação da escala demonstraram adicionalmente que, de todas as práticas de
gestão da dor, os enfermeiros executam maioritariamente as intervenções farmacológicas. Este
achado, que é corroborado por vários estudos,
deve-se sobretudo ao facto de se tratar de uma
intervenção interdisciplinar, de existirem dificuldades na aplicação das restantes medidas de
gestão da dor, como é o caso da execução de
intervenções não farmacológicas e da realização
das avaliações da dor (que incluem a avaliação
inicial, planeamento, ensinos, registos e reavaliação; Becker et al., 2017; Dequeker, Van Lancker,
& Van Hecke, 2018; Gan et al., 2018).
A avaliação da dor é reconhecida na literatura
científica como um desafio, sendo os ensinos
sobre a dor e o planeamento das intervenções
as áreas mais negligenciadas na prática clínica (Araujo & Romero, 2015; Medrzycka-Dabrowka, Dąbrowski, Gutysz-Wojnicka,
Gawroska-Krzemińska, & Ozga, 2017). Os
resultados do presente estudo também corroboram estes achados, dado que os ensinos sobre a
dor e o planeamento obtiveram os scores médios
globais mais baixos. Para além disso, são reconhecidas as dificuldades e barreiras que o contexto
específico dos serviços de urgência impõem,
dos quais podemos salientar a falta de tempo, o
excesso de trabalho e a relutância de prescrição
e implementação de medidas farmacológicas
devido a uma deficitária avaliação da experiência
dolorosa (Pretorius, Searle, & Marshall, 2015).
Também se verificou neste estudo que os registos assumem scores médios mais baixos, o que
pode comprometer o subsequente processo de
monitorização e reavaliação da dor, impondo
uma ineficaz gestão da mesma. As enfermeiras
demonstraram melhores práticas de gestão da
dor do que os enfermeiros.
É de referir que este estudo é alvo de algumas
limitações. Primeiro, devemos salientar que
embora o tamanho da amostra seja satisfatória,
a escala tem muitos itens mesmo após o seu
Conclusão
A singularidade da dor e os inúmeros fatores
que a influenciam requerem que a sua gestão
seja assente em adequadas práticas, que muitas
vezes se materializam com a implementação de
programas de melhoria contínua da avaliação da
dor. Contudo, a não existência de instrumentos
que mensurem este constructo tornam esta realidade pouco estudada. Foi nesse sentido que
a Escala de Práticas de Enfermagem na Gestão
da Dor foi criada e se justifica o presente estudo
psicométrico, que revelou uma consistência
interna muito boa, demonstrando que a escala
é fiável e válida na avaliação das práticas de
gestão da dor em enfermeiros portugueses de
serviços de urgência.
De todas as práticas de gestão da dor, os enfermeiros aplicam maioritariamente as intervenções farmacológicas. As enfermeiras demonstraram melhores práticas de gestão da dor do
que os enfermeiros.
Em relação às implicações para a prática e como
os enfermeiros aplicam maioritariamente às
intervenções farmacológicas para gerir a dor,
sendo as restantes práticas menos valorizadas, é
necessário o planeamento de formação contínua e auditoria das mesmas. Para otimizar esta
monitorização, a presente escala pode constituir
um válido contributo.
Por fim, e tendo por base as implicações para
a investigação, é fulcral reforçar as evidências
atuais e, apesar de terem sido avaliadas importantes propriedades psicométricas, é relevante
que futuros estudos se debrucem sobre as que
não foram alvo de atenção, nomeadamente a
estabilidade temporal da escala devido à sua
potencial utilização para monitorizar práticas.
Estudo psicométrico da Escala de Práticas de Enfermagem
na Gestão da Dor
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 22 -2019
60
Fontes de financiamento
Este estudo foi financiado pela Fundação para
a Ciência e Tecnologia do Governo Português
e pelo CI&DETS, IPV.
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