Resenha crítica do livro COVES, Faustino Oncina; PARTAL, Juan de Dios Bares (eds.) La escuela his... more Resenha crítica do livro COVES, Faustino Oncina; PARTAL, Juan de Dios Bares (eds.) La escuela histórico-conceptual de Joachim Ritter y el protagonismo sociocultural de la filosofía. Granada: Comares, 2022.
Considerations on the book “Niemals Frieden?” by Moshe Zimmermann (published on 'A Terra e Redond... more Considerations on the book “Niemals Frieden?” by Moshe Zimmermann (published on 'A Terra e Redonda', May 13, 2024)
Breve relato sobre exposição de itens da biblioteca pessoal de Martin Heidegger, realizada no Arq... more Breve relato sobre exposição de itens da biblioteca pessoal de Martin Heidegger, realizada no Arquivo da Literatura Alemã (DLA-Marbach) em novembro de 2023. Texto publicado no site 'A terra é redonda' em 10.01.2024.
In this essay we carry out a careful analysis of the 'theory of history without history' (THwH)... more In this essay we carry out a careful analysis of the 'theory of history without history' (THwH). After highlighting the nihilistic character of this program, we intend, in a second step, to place it in the broader context of the history of theory in the West. In the third and final section, we will briefly discuss what the idea of a THwH seems to be indicating: the possible exhaustion of the traditional conception of theory in the human sciences.
1 d e 4 RESENHA Rev i s t a d o P ro g r a m a d e Pó s -G r a d u a ç ã o e m H i s tó r i a U n... more 1 d e 4 RESENHA Rev i s t a d o P ro g r a m a d e Pó s -G r a d u a ç ã o e m H i s tó r i a U n i ve r s i d a d e Fe d e r a l d o R i o G r a n d e d o S u l e -I S S N 1 9 8 3 -2 01 X ht tp s : //s e e r. u f rg s . b r/a n o s 9 0
O texto discute o mais recente livro de Gangolf Hübinger, mostrando como a história intelectual s... more O texto discute o mais recente livro de Gangolf Hübinger, mostrando como a história intelectual se constitui como um dos poucos campos de investigação das ciências humanas por meio dos quais podemos estudar e, quem sabe mesmo, explicar Weber weberianamente. A inovadora abordagem de Hübinger articula o conceito de 'milieu social-moral' de Lepsius com a teoria de Koselleck sobre a relação entre o advento das 'Zeitschwellen' e inovações metodológicas. O texto termina com uma breve reflexão sobre o que significa ser, hoje, um 'intelectual weberiano'.
Essay on the 100th anniversary of Max Weber's death (first appeared in Folha de São Paulo, 5 Jul... more Essay on the 100th anniversary of Max Weber's death (first appeared in Folha de São Paulo, 5 July 2020, p. B15)
"The Political Theology of Bolsonaro Administration", in Klein, B.; Araújo, V.; Pereira, M. (eds... more "The Political Theology of Bolsonaro Administration", in Klein, B.; Araújo, V.; Pereira, M. (eds.) Do fake ao fato: (des)atualizando Bolsonaro. Vitória: Milfontes, 2020, p. 53-69
The objective of this review is to develop a historical-critical appraisal of the spanish transla... more The objective of this review is to develop a historical-critical appraisal of the spanish translation of Helmuth Plessner’s classical essay 'Macht und menschliche Natur' (1931)
Há praticamente 40 anos, em fins da década de 1970, Jean-François Lyotard (2009) publicava seu co... more Há praticamente 40 anos, em fins da década de 1970, Jean-François Lyotard (2009) publicava seu conhecido livro A condição pós-moderna. Não muito tempo depois, multiplicaram-se as vozes dos que entendiam que a nossa disciplina atingira o limiar de uma nova era. Uma das mais conhecidas, a de Keith Jenkins, afirmava, então, que o fim das grandes narrativas abria espaço para uma radical diversificação do campo disciplinar. Uma das modalidades às quais Jenkins conferiu um papel especial era precisamente a "história dos historiadores". As últimas linhas de seu conhecido livro de 1991 estabeleciam o que se poderia chamar de um verdadeiro programa para o futuro: "no mundo pós-moderno, pode-se argumentar que o conteúdo e o contexto da história deveriam ser constituídos por uma ampla série de estudos metodologicamente reflexivos sobre as maneiras de se fazerem as histórias da própria pós-modernidade" (JENKINS, 2007, p. 108). Se havia um futuro para a história, ele estaria na sua metamorfose em meta-história. Com o passar do tempo, o pendor escatológico que caracterizou o último fin de siècle deu lugar a uma percepção mais sóbria, de que as continuidades falam tão ou mais alto que as eventuais rupturasseja na lógica que rege a dinâmica social, seja na forma como investigamos e escrevemos suas histórias. É curioso observar como as percepções a respeito diferiam, às vezes tremendamente, entre países vizinhos. Se a França funcionou como o epicentro de diagnósticos que tinham em comumcomo cedo sublinhou o antropólogo social Marc Augé (1997) -falar a "linguagem do fim", do outro lado do Reno, predominou a desconfiança em relação ao diagnóstico pós-
Os ensaios reunidos neste dossiê têm o mérito de trazer à tona alguns dos fios que entrelaçam os ... more Os ensaios reunidos neste dossiê têm o mérito de trazer à tona alguns dos fios que entrelaçam os estudos literários e a teoria da história. O leitor que percorrê-los será confrontado com uma pluralidade de percepções históricas de um núcleo comum de eventos e processos históricos da Modernidade: A Revolução Francesa, o Esclarecimento, as Grandes Guerras, o nacional-socialismo, a indústria cultural e o conceito de progresso. Os ensaios exploram, cada um a seu modo, a linguagem que molda as percepções históricas, desentranhando palavras, discursos e conceitos que as constituem. Flagram diferenças irreconciliáveis ou afinidades sutis na percepção histórica de autores ligados pela experiência, tradição ou interesse intelectual, como Johann Wolfgang von Goethe e. Ao discriminar diferentes modos de apreensão verbal dos eventos, problematizam a relação entre linguagem e história, discurso e evento. Por essa razão, tomados em seu conjunto, os artigos situam-se na contramão da tendência a se reduzir a história a um discurso cuja realidade derivaria exclusivamente da sua articulação linguístico-literária. Assim, em virtude da seleção que integram, os artigos convidam o
Review of Martins' book "Teoria e filosofia da história: contribuições para o ensino de história"... more Review of Martins' book "Teoria e filosofia da história: contribuições para o ensino de história". Curitiba: W. A. Editores, 2017.
Transcrição de palestra proferida em 19 de abril de 2016 no 'Pensando em Minas', programa da Asse... more Transcrição de palestra proferida em 19 de abril de 2016 no 'Pensando em Minas', programa da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais destinado à divulgação e ao debate de estudos e pesquisas sobre política e temas relacionados ao Poder Legislativo.
The article explores the theme of posthistoire in the novel Eumeswil by Ernst Jünger, and in a se... more The article explores the theme of posthistoire in the novel Eumeswil by Ernst Jünger, and in a series of publications made by the sociologist and philosopher Arnold Gehlen. We seek hereupon to emphasize the surprising elective affinities between the two authors, as well as to extract from their writings elements that allow us to shed light on some the dilemmas of our own time. // O artigo busca explorar a temática da posthistoire no romance Eumeswil, de Ernst Jünger, e numa série de publicações do sociólogo e filósofo Arnold Gehlen. Tentamos evidenciar as surpreendentes afinidades eletivas que existem entre os dois autores, assim como extrair de seus escritos elementos que permitam lançar luz sobre alguns dos dilemas de nossa própria época.
Review of the new Brazilian translation of "In the Shadow of Tomorrow" by J. Huizinga, published ... more Review of the new Brazilian translation of "In the Shadow of Tomorrow" by J. Huizinga, published in Estado de Minas (20.04.2018) / Resenha da nova tradução brasileira de "Nas Sombras do Amanhã", de Johan Huizinga (Caderno Pensar, Estado de Minas, 20.04.2018)
The objective of this review is to give a critical appraisal of a recent book by
Jessé Sousa. We ... more The objective of this review is to give a critical appraisal of a recent book by Jessé Sousa. We try to point out the inner contradictions of his critical theory of modernisation and, particularly, his view of the uses of Max Weber in Brazilian sociology / Esta resenha oferece uma avaliação crítica de um dos mais recentes livros de Jessé Souza. É dada ênfase às contradições internas de sua teoria crítica da modernização e, em especial, à sua visão a respeito do uso de Max Weber na sociologia brasileira.
Resenha crítica do livro COVES, Faustino Oncina; PARTAL, Juan de Dios Bares (eds.) La escuela his... more Resenha crítica do livro COVES, Faustino Oncina; PARTAL, Juan de Dios Bares (eds.) La escuela histórico-conceptual de Joachim Ritter y el protagonismo sociocultural de la filosofía. Granada: Comares, 2022.
Considerations on the book “Niemals Frieden?” by Moshe Zimmermann (published on 'A Terra e Redond... more Considerations on the book “Niemals Frieden?” by Moshe Zimmermann (published on 'A Terra e Redonda', May 13, 2024)
Breve relato sobre exposição de itens da biblioteca pessoal de Martin Heidegger, realizada no Arq... more Breve relato sobre exposição de itens da biblioteca pessoal de Martin Heidegger, realizada no Arquivo da Literatura Alemã (DLA-Marbach) em novembro de 2023. Texto publicado no site 'A terra é redonda' em 10.01.2024.
In this essay we carry out a careful analysis of the 'theory of history without history' (THwH)... more In this essay we carry out a careful analysis of the 'theory of history without history' (THwH). After highlighting the nihilistic character of this program, we intend, in a second step, to place it in the broader context of the history of theory in the West. In the third and final section, we will briefly discuss what the idea of a THwH seems to be indicating: the possible exhaustion of the traditional conception of theory in the human sciences.
1 d e 4 RESENHA Rev i s t a d o P ro g r a m a d e Pó s -G r a d u a ç ã o e m H i s tó r i a U n... more 1 d e 4 RESENHA Rev i s t a d o P ro g r a m a d e Pó s -G r a d u a ç ã o e m H i s tó r i a U n i ve r s i d a d e Fe d e r a l d o R i o G r a n d e d o S u l e -I S S N 1 9 8 3 -2 01 X ht tp s : //s e e r. u f rg s . b r/a n o s 9 0
O texto discute o mais recente livro de Gangolf Hübinger, mostrando como a história intelectual s... more O texto discute o mais recente livro de Gangolf Hübinger, mostrando como a história intelectual se constitui como um dos poucos campos de investigação das ciências humanas por meio dos quais podemos estudar e, quem sabe mesmo, explicar Weber weberianamente. A inovadora abordagem de Hübinger articula o conceito de 'milieu social-moral' de Lepsius com a teoria de Koselleck sobre a relação entre o advento das 'Zeitschwellen' e inovações metodológicas. O texto termina com uma breve reflexão sobre o que significa ser, hoje, um 'intelectual weberiano'.
Essay on the 100th anniversary of Max Weber's death (first appeared in Folha de São Paulo, 5 Jul... more Essay on the 100th anniversary of Max Weber's death (first appeared in Folha de São Paulo, 5 July 2020, p. B15)
"The Political Theology of Bolsonaro Administration", in Klein, B.; Araújo, V.; Pereira, M. (eds... more "The Political Theology of Bolsonaro Administration", in Klein, B.; Araújo, V.; Pereira, M. (eds.) Do fake ao fato: (des)atualizando Bolsonaro. Vitória: Milfontes, 2020, p. 53-69
The objective of this review is to develop a historical-critical appraisal of the spanish transla... more The objective of this review is to develop a historical-critical appraisal of the spanish translation of Helmuth Plessner’s classical essay 'Macht und menschliche Natur' (1931)
Há praticamente 40 anos, em fins da década de 1970, Jean-François Lyotard (2009) publicava seu co... more Há praticamente 40 anos, em fins da década de 1970, Jean-François Lyotard (2009) publicava seu conhecido livro A condição pós-moderna. Não muito tempo depois, multiplicaram-se as vozes dos que entendiam que a nossa disciplina atingira o limiar de uma nova era. Uma das mais conhecidas, a de Keith Jenkins, afirmava, então, que o fim das grandes narrativas abria espaço para uma radical diversificação do campo disciplinar. Uma das modalidades às quais Jenkins conferiu um papel especial era precisamente a "história dos historiadores". As últimas linhas de seu conhecido livro de 1991 estabeleciam o que se poderia chamar de um verdadeiro programa para o futuro: "no mundo pós-moderno, pode-se argumentar que o conteúdo e o contexto da história deveriam ser constituídos por uma ampla série de estudos metodologicamente reflexivos sobre as maneiras de se fazerem as histórias da própria pós-modernidade" (JENKINS, 2007, p. 108). Se havia um futuro para a história, ele estaria na sua metamorfose em meta-história. Com o passar do tempo, o pendor escatológico que caracterizou o último fin de siècle deu lugar a uma percepção mais sóbria, de que as continuidades falam tão ou mais alto que as eventuais rupturasseja na lógica que rege a dinâmica social, seja na forma como investigamos e escrevemos suas histórias. É curioso observar como as percepções a respeito diferiam, às vezes tremendamente, entre países vizinhos. Se a França funcionou como o epicentro de diagnósticos que tinham em comumcomo cedo sublinhou o antropólogo social Marc Augé (1997) -falar a "linguagem do fim", do outro lado do Reno, predominou a desconfiança em relação ao diagnóstico pós-
Os ensaios reunidos neste dossiê têm o mérito de trazer à tona alguns dos fios que entrelaçam os ... more Os ensaios reunidos neste dossiê têm o mérito de trazer à tona alguns dos fios que entrelaçam os estudos literários e a teoria da história. O leitor que percorrê-los será confrontado com uma pluralidade de percepções históricas de um núcleo comum de eventos e processos históricos da Modernidade: A Revolução Francesa, o Esclarecimento, as Grandes Guerras, o nacional-socialismo, a indústria cultural e o conceito de progresso. Os ensaios exploram, cada um a seu modo, a linguagem que molda as percepções históricas, desentranhando palavras, discursos e conceitos que as constituem. Flagram diferenças irreconciliáveis ou afinidades sutis na percepção histórica de autores ligados pela experiência, tradição ou interesse intelectual, como Johann Wolfgang von Goethe e. Ao discriminar diferentes modos de apreensão verbal dos eventos, problematizam a relação entre linguagem e história, discurso e evento. Por essa razão, tomados em seu conjunto, os artigos situam-se na contramão da tendência a se reduzir a história a um discurso cuja realidade derivaria exclusivamente da sua articulação linguístico-literária. Assim, em virtude da seleção que integram, os artigos convidam o
Review of Martins' book "Teoria e filosofia da história: contribuições para o ensino de história"... more Review of Martins' book "Teoria e filosofia da história: contribuições para o ensino de história". Curitiba: W. A. Editores, 2017.
Transcrição de palestra proferida em 19 de abril de 2016 no 'Pensando em Minas', programa da Asse... more Transcrição de palestra proferida em 19 de abril de 2016 no 'Pensando em Minas', programa da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais destinado à divulgação e ao debate de estudos e pesquisas sobre política e temas relacionados ao Poder Legislativo.
The article explores the theme of posthistoire in the novel Eumeswil by Ernst Jünger, and in a se... more The article explores the theme of posthistoire in the novel Eumeswil by Ernst Jünger, and in a series of publications made by the sociologist and philosopher Arnold Gehlen. We seek hereupon to emphasize the surprising elective affinities between the two authors, as well as to extract from their writings elements that allow us to shed light on some the dilemmas of our own time. // O artigo busca explorar a temática da posthistoire no romance Eumeswil, de Ernst Jünger, e numa série de publicações do sociólogo e filósofo Arnold Gehlen. Tentamos evidenciar as surpreendentes afinidades eletivas que existem entre os dois autores, assim como extrair de seus escritos elementos que permitam lançar luz sobre alguns dos dilemas de nossa própria época.
Review of the new Brazilian translation of "In the Shadow of Tomorrow" by J. Huizinga, published ... more Review of the new Brazilian translation of "In the Shadow of Tomorrow" by J. Huizinga, published in Estado de Minas (20.04.2018) / Resenha da nova tradução brasileira de "Nas Sombras do Amanhã", de Johan Huizinga (Caderno Pensar, Estado de Minas, 20.04.2018)
The objective of this review is to give a critical appraisal of a recent book by
Jessé Sousa. We ... more The objective of this review is to give a critical appraisal of a recent book by Jessé Sousa. We try to point out the inner contradictions of his critical theory of modernisation and, particularly, his view of the uses of Max Weber in Brazilian sociology / Esta resenha oferece uma avaliação crítica de um dos mais recentes livros de Jessé Souza. É dada ênfase às contradições internas de sua teoria crítica da modernização e, em especial, à sua visão a respeito do uso de Max Weber na sociologia brasileira.
Em abril de 2021, um grupo de docentes da Universidade Federal de Ouro Preto se reuniu em um enco... more Em abril de 2021, um grupo de docentes da Universidade Federal de Ouro Preto se reuniu em um encontro de pesquisa dedicado ao problema do conceito de liberalismo. Mobilizados pelos ataques recentes aos pilares da democracia liberal, pesquisadores de diversas áreas, filiações disciplinares e perspectivas teóricas se propuseram a discutir o tema, buscando ampliar e aprofundar a reflexão sobre o liberalismo político no ambiente universitário brasileiro. Publicado pela editora Contracorrente, o volume estará à venda a partir de fins de maio de 2023.
SUMÁRIO
I – Jens Hacke: "Renovação do liberalismo em tempos de crise? Uma hipótese para as ideias liberais além do neoliberalismo" II – Bruno Camilloto: "O liberalismo político tem algo a contribuir com a Teoria do Direito?" III – Sebastián Rudas: "Os pluralismos liberais" IV – Giulle Vieira: "O liberalismo esclarecido de Marianne Weber" V – Arthur Alfaix Assis: "Embates intraliberais no pensamento político de Alexandre Herculano" VI – Sérgio da Mata: "A secularização como problema político: a perspectiva liberal"
A multiplicidade dos tempos históricos é a mais instigante questão historiográfica das últimas dé... more A multiplicidade dos tempos históricos é a mais instigante questão historiográfica das últimas décadas. Se não a mais complexa, provavelmente a mais incômoda. Autores tão importantes e tão diversos quanto Gaston Bachelard, Alexandre Koyré, Fernand Braudel, Louis Althusser, Michel Foucault, Siegfried Kracauer, Reinhart Koselleck, Paul Ricoeur, Jacques Rancière, Jacques Le Goff, Krzysztof Pomian, Roger Chartier, entre outros, confrontaram-se com ela. Aberta no entreguerras, a dessincronização do mundo e da história não apenas tornava possível, mas exigia conceber uma nova ideia do passado e formular uma nova compreensão do conhecimento histórico. A concepção homogênea, linear e contínua de temporalidade histórica, oriunda do século XIX, foi duramente questionada no século XX. Forjada a partir do final do século XVIII, essa concepção nasceu no interior do historicismo e das novas filosofias da história, que buscaram sincronizar os distintos tempos de diferentes sociedades e culturas, por meio de conceitos tais como os de “progresso” e “civilização”. A diferença de culturas foi, assim, inscrita numa grade temporal linear, hierarquizada e significante, de que as histórias universais dão testemunho maior. A sucessão cronológica era, então, a grande imagem da temporalidade histórica. A concepção uniforme e constante de tempo tornou-se um problema epistêmico a partir do final do século XIX. Novas formas de comunicação e transporte alteraram os modos como se experienciava o tempo. Na ciência, o tempo tornou-se relativo com Einstein. Na filosofia, emergiu um tempo íntimo e subjetivo, em tudo oposto ao tempo físico e objetivo. Concomitantemente, contra o aspecto sucessivo, afirmou-se a simultaneidade temporal. No interior da própria biologia, onde havia se formado no final do século XIX, o conceito de heterocronia transformou-se, dessincronizando a noção de desenvolvimento. As novas ciências humanas e sociais descobriram a existência de um “tempo social”, distinto dos tempos objetivo e subjetivo. No campo historiográfico, a concepção cronológica do tempo foi acusada de idolatria e o radical “cronos-” experimentou novos enlaces em inesperados arranjos lexicais e semânticos. O tempo saiu da linha, perdeu os fios que, ao longo de décadas, inscreviam-no em uma trama coesa, lisa e monocrômica. O tempo pluralizava-se. O pensamento historiográfico, em diferentes domínios, recebeu de maneiras diversas essa heterocronização da história. De um lado, muitos a viram com certa desconfiança. Diante do que lhes parecia uma ameaça à epistemicidade de Clio, entenderam ser preciso axializar novamente o tempo histórico. De outro, alguns trataram de transformá-la em dimensão constitutiva da própria experiência do passado. A “História” no singular e em letra maiúscula cedia lugar às “histórias”, plurais. A homocronia dos historiadores do século XIX cedia lugar à heterocronia. A história tornava-se um emaranhado de temporalidades, um entrecruzamento de séries temporais, uma sobreposição de camadas e linhas multidirecionais do tempo. O livro organizado por Marlon Salomon reúne quinze estudos, de renomados especialistas, sobre temas e questões relativas à multiplicidade dos tempos históricos. Ele nos traz uma estimulante diversidade de reflexões e análises teóricas, epistemológicas, filosóficas e historiográficas, preenchendo uma importante lacuna. Se em nossos dias já não é mais preciso insistir no fato de que o tempo é a matéria constitutiva da história, é preciso, todavia, reconhecer que essa matéria é heterogênea, policrômica, esburacada, descontínua, multidimensional. Tal é a contribuição deste livro. E sobre ele se pode dizer, sem medo de exagerar, que está destinado a se tornar uma referência no campo das reflexões sobre tempo e história.
Prefácio a FAGUNDES, Bruno L. As estórias a favor da história. As Efemérides Mineiras, de José Pe... more Prefácio a FAGUNDES, Bruno L. As estórias a favor da história. As Efemérides Mineiras, de José Pedro Xavier da Veiga. Belo Horizonte: Fino Traço, 2014, p. 9-13.
Review of Max Weber Gesamtausgabe I/7. Zur Logik und Methodik der Sozialwissenschaften. Schriften... more Review of Max Weber Gesamtausgabe I/7. Zur Logik und Methodik der Sozialwissenschaften. Schriften 1900-1907. Ed. Gerhard Wagner. Tübingen: Mohr Siebeck, 2018. 772p.
Uma das mais sedutoras teses presentes na obra de Max Weber é a que postula um processo geral, in... more Uma das mais sedutoras teses presentes na obra de Max Weber é a que postula um processo geral, inexorável, de racionalização do mundo. Vista de uma perspectiva brasileira, não é preciso dizer o quão ambiciosa, até mesmo quimérica, tal tese pode parecer. O virtual emperramento do nosso sistema político desde as grandes manifestações de junho de 2013 -com sua recusa explícita dos partidos e a denegação do direito de ir e vir como estratégia privilegiada de pressão dos grupos à margem (direita ou esquerda, pouco importa) do poder -, o caos das contas e da saúde pública, a recusa em encarar de frente o caráter finito dos recursos naturais, os níveis alarmantes de violência interpessoal, a crise de legitimidade de uma presidente recém-eleita, o autismo generalizado, tudo isso sugere que a perspectiva weberiana da história tem lá os seus limites.
Vortrag gehalten am 10. Internationalen Kongress der Ernst-Troeltsch-Gesellschaft (Historisches K... more Vortrag gehalten am 10. Internationalen Kongress der Ernst-Troeltsch-Gesellschaft (Historisches Kolleg München, 10.10.2011)
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Jessé Sousa. We try to point out the inner contradictions of his critical theory of modernisation and, particularly, his view of the uses of Max Weber in Brazilian sociology / Esta resenha oferece uma avaliação crítica de um dos mais recentes livros de Jessé Souza. É dada ênfase às contradições internas de sua teoria crítica da modernização e, em especial, à sua visão a respeito do uso de Max Weber na sociologia brasileira.
Jessé Sousa. We try to point out the inner contradictions of his critical theory of modernisation and, particularly, his view of the uses of Max Weber in Brazilian sociology / Esta resenha oferece uma avaliação crítica de um dos mais recentes livros de Jessé Souza. É dada ênfase às contradições internas de sua teoria crítica da modernização e, em especial, à sua visão a respeito do uso de Max Weber na sociologia brasileira.
SUMÁRIO
I – Jens Hacke: "Renovação do liberalismo em tempos de crise? Uma hipótese para as ideias liberais além do neoliberalismo"
II – Bruno Camilloto: "O liberalismo político tem algo a contribuir com a Teoria do Direito?"
III – Sebastián Rudas: "Os pluralismos liberais"
IV – Giulle Vieira: "O liberalismo esclarecido de Marianne Weber"
V – Arthur Alfaix Assis: "Embates intraliberais no pensamento político de Alexandre Herculano"
VI – Sérgio da Mata: "A secularização como problema político: a perspectiva liberal"
A concepção homogênea, linear e contínua de temporalidade histórica, oriunda do século XIX, foi duramente questionada no século XX. Forjada a partir do final do século XVIII, essa concepção nasceu no interior do historicismo e das novas filosofias da história, que buscaram sincronizar os distintos tempos de diferentes sociedades e culturas, por meio de conceitos tais como os de “progresso” e “civilização”. A diferença de culturas foi, assim, inscrita numa grade temporal linear, hierarquizada e significante, de que as histórias universais dão testemunho maior. A sucessão cronológica era, então, a grande imagem da temporalidade histórica.
A concepção uniforme e constante de tempo tornou-se um problema epistêmico a partir do final do século XIX. Novas formas de comunicação e transporte alteraram os modos como se experienciava o tempo. Na ciência, o tempo tornou-se relativo com Einstein. Na filosofia, emergiu um tempo íntimo e subjetivo, em tudo oposto ao tempo físico e objetivo. Concomitantemente, contra o aspecto sucessivo, afirmou-se a simultaneidade temporal. No interior da própria biologia, onde havia se formado no final do século XIX, o conceito de heterocronia transformou-se, dessincronizando a noção de desenvolvimento. As novas ciências humanas e sociais descobriram a existência de um “tempo social”, distinto dos tempos objetivo e subjetivo. No campo historiográfico, a concepção cronológica do tempo foi acusada de idolatria e o radical “cronos-” experimentou novos enlaces em inesperados arranjos lexicais e semânticos. O tempo saiu da linha, perdeu os fios que, ao longo de décadas, inscreviam-no em uma trama coesa, lisa e monocrômica.
O tempo pluralizava-se. O pensamento historiográfico, em diferentes domínios, recebeu de maneiras diversas essa heterocronização da história. De um lado, muitos a viram com certa desconfiança. Diante do que lhes parecia uma ameaça à epistemicidade de Clio, entenderam ser preciso axializar novamente o tempo histórico. De outro, alguns trataram de transformá-la em dimensão constitutiva da própria experiência do passado. A “História” no singular e em letra maiúscula cedia lugar às “histórias”, plurais. A homocronia dos historiadores do século XIX cedia lugar à heterocronia. A história tornava-se um emaranhado de temporalidades, um entrecruzamento de séries temporais, uma sobreposição de camadas e linhas multidirecionais do tempo.
O livro organizado por Marlon Salomon reúne quinze estudos, de renomados especialistas, sobre temas e questões relativas à multiplicidade dos tempos históricos. Ele nos traz uma estimulante diversidade de reflexões e análises teóricas, epistemológicas, filosóficas e historiográficas, preenchendo uma importante lacuna. Se em nossos dias já não é mais preciso insistir no fato de que o tempo é a matéria constitutiva da história, é preciso, todavia, reconhecer que essa matéria é heterogênea, policrômica, esburacada, descontínua, multidimensional. Tal é a contribuição deste livro. E sobre ele se pode dizer, sem medo de exagerar, que está destinado a se tornar uma referência no campo das reflexões sobre tempo e história.