#PenséeNeFaitPasMal:
Pensées de Pascal!
Mesmo que não tivesse descoberto o peso do ar,
inventado a máquina de calcular ou demonstrado aos 12 anos de idade,
proposições da Geometria Euclidiana, Blaise Pascal seria hoje um homem famoso,
pela autoria de duas frases célebres: “Tivesse o nariz de Cleópatra sido mais
curto e a face do mundo seria outra”.
E... “O direito divino de um rei mede-se
diretamente pelo comprimento das lanças de seus guardas e a credulidade do
povo”.Assim pensava quem foi menino-prodígio, vítima de sortilégios
na infância e de uma estranha doença que o matou aos 39 anos de vida. Viveu
pouco, mas o suficiente para ir tão longe a seus pensamentos que – segundo alguns teólogos – atingiu as
portas do inferno.Pascal nasceu sob o reinado de Luis XIII, a 19 de junho
de 1623 - 19 de agosto de 1662, na Província francesa de Auvergne, de uma
família, daquela boa burguesia cheia de dinheiro, de talento e de audácia, que
começava a disputar com a nobreza “a
calçada das ruas”.
Talento e audácia que demonstrou desde a infância a
ponto de seu pai Etienne Pascal declarar-se textualmente “espantado”. Aos doze anos redescobriu a Geometria Euclidiana, sem a ajuda de qualquer livro, até a 32ª exposição
(“a soma dos ângulos internos de um
triangulo é igual a dois retos”). Aos 16 anos, compõe um tratado sobre as
seções cônicas. Como Mozart, de fato Blaise Pascal foi um menino
prodígio!Em 1642, seu pai Etienne Pascal, comissário delegado
pelo rei para elevar impostos e taxas, se encontrava instalado há três anos em
Ruão (Rouen), com seus três filhos (Blaise com 18 anos). Numa Roma que ainda não possuía um centro,
Ruão (Rouen) faz às vezes de pequena
capital.
Vida política, vida religiosa e vida artística são aí
muito intensas. Três anos antes uma revolução fora reprimida. Os sediciosos
vencidos consolam-se do seu revés ouvindo os versos de um famoso poeta e dramaturgo
de nome Cornelle, com o qual a caçula de Etienne Pascal vai tomar lições e a
primogênita sonha casar-se. Quanto a Blaise Pascal irritado por ver seu pai
desgastar-se em cálculos sem fim, nas suas funções de cobrador de impostos,
simplesmente inventa a primeira máquina de calcular, ancestrais “registradoras” das casas comerciais e também
ancestral remota dos cérebros eletrônicos dos nossos dias. Pascal, na esperança de encontrar melhores médicos
para a doença que o afligia com intensas dores de cabeças e cólicas violentas,
em 1647, vai instalar-se em Paris. O jovem de 24 anos, dedicado às Matemáticas
e à Física, aos inventos práticos e aos pensamentos filosóficos. Não era considerado
sábio como os outros e ainda hoje se hesita em classificá-lo: É ele um
cientista, um filósofo ou um pensador religioso? Parece-nos mais seguro dizer
que é tudo isso ao mesmo tempo, o que o torna único na espécie. Pasteur, por exemplo, era um sábio de um lado e um
cristão de outro. Estes dois aspectos de sua personalidade eram inteiramente
distintos. Como sábio recusava-se a crer na geração espontânea. Como cristão,
porém, admitia-a no episódio da criação do mundo. Acreditava no milagre, mas
fora do laboratório.
Em Pascal, o cientista, o filósofo e o cristão, acham-se
integrados o primeiro pensador moderno pelo sentido que tem do que seja o
infinito: “O homem foi feito para o
infinito.” Este pensamento da consciência do infinito revela a derrocada da
visão medieval do mundo. (Guardini). É verdade que na época de Pascal, por causa de
Copérnico e, sem dúvida, também, de Colombo, de Gutemberg e outros, a Idade
Média começa a desabar. Mas, Pascal é o primeiro que se apercebe disso. A
imagem do mundo que na Idade Média se fazia, era de um mundo essencialmente
finito. Pascal dizia que toda a dignidade, que não é do
pensamento, não passa de uma falsa dignidade. Quem, por exemplo, primeiro denunciou
o chamado “direito divino”? Não foi a
Revolução Francesa, foi Pascal. Que é que faz a autoridade de um rei ou do
juiz? – pergunta ele. É o fato de que eles têm por si a força da tradição. “O ‘direito divino’ de um rei mede-se
diretamente pelo comprimento das lanças de seus guardas e a credulidade do povo”.
Este pensamento se aplica bem aos dias de hoje. Pensador da eficácia, que vai sempre aos extremos, não
adotando meios medidas, Pascal chega mais longe que todos, contestando a
eficácia dos nossos esforços quando se trata das coisas mais essenciais, como a
felicidade terrestre ou a salvação da alma. É em vão que se invocará, diante
dele, tal ou qual autoridade, seja de reis, de bispos ou do próprio papa. Quando
se lançava a uma batalha, ele o faz inteiramente, sem considerações por
pessoas, sem outros cuidados que o rigor do pensamento.
Afirmou-se a lenda da doença ser responsável pelos
seus misticismos dos últimos anos e que Pascal, inicialmente um cientista, se
havia apatetado sob o golpe do sofrimento, mergulhado na sombra do obscurantismo
religioso. Nada mais falso! “O coração
tem suas razões, que a própria razão desconhece”! A prova é que, ao mesmo tempo em que escreve
humilhando sua própria razão, elabora um tratado da Cicloide e avança conceitos
no cálculo das probabilidades. Sua principal obra Pensamentos (Pensées) foi organizada postumamente, para uma primeira edição,
representando a última fase de atividade mental do pensador que se iniciara com
a Matemática, a Física (com experiências
sobre o peso do ar e sobre as pressões nos líquidos), e prosseguira no
campo da disputa religiosa com as Cartas Provinciais. Bem conhecida é a passagem dos “dois infinitos”. Pascal leva o leitor a considerar a organização
de um inseto, as partículas que constituem essa organização, depois os
reduzidos mundos que existem nestas partículas e assim por diante, comparando a
grandeza do homem com o infinitamente pequeno.
Em seguida volta-se para a Terra, os planetas, as
estrelas e o imenso macrocosmo do universo, onde a grandeza do homem desaparece
e conclui “O homem é o centro ente tudo e
nada”. O espaço é infinito em todos os sentidos, afirma e ao
tratar dos “divertimentos”, ou
prazeres do mundo. Pascal chega a antecipar a moderna psiquiatria ao analisar a
ansiedade fundamental do gênero humano, que procura
fugir ao terror do sentido trágico da vida, perdendo-se nos passatempos e
diversões. Em relação ao nariz de Cleópatra: “Tivesse ele sido mais curto, e a face do mundo seria outra“. Semelhante a esta teoria das causas
imperceptíveis é a visão relativista que Pascal tinha de verdade, que ele
reconhecia ser influenciados por fatores geográficos e mesmo climáticos: “Estranha esta justiça que é limitada
por um rio ou montanha – verdade deste lado dos Pireneus, falsidade do outro”. “O
homem não é senão um caniço, o mais frágil da natureza, mas um caniço que
pensa. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma
gota de água é suficiente para matá-lo... Sua grandeza, porém, está no
pensamento”. Se esta afirmativa é válida, Pascal é de fato, como
afirma o seu biógrafo Morris Bishop, “um
dos maiores homens que já viveram”.
Dos Entendimentos & Compreensões
De Minas Gerais - Marilene Marques, Mineira,
Aposentada, Trabalhando com Voluntariado Social.
Fonte:
Enciclopédia Bloch
Ano 1/Nº5/Setembro de 1967
De Minas Gerais - Marilene Marques, Mineira,
Aposentada, Trabalhando com Voluntariado Social.
Fonte:
Enciclopédia Bloch
Ano 1/Nº5/Setembro de 1967
Obs.:
Todas as obras publicadas na Sala de Protheus
são de inteira responsabilidade de seus autores.
O Editor!
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