Tecendo a maré, deambulamos
pelas nossas fantasias
a colorir sonhos de nuvens.
Embriagamo-nos
nos vapores de uma ilusão,
à chuva de um sorriso
num comboio com o freio nos dentes.
Pegamos numa estranha mão
e já o abraço é conhecido,
com o comboio, desgovernado,
a fugir-nos fora dos carris.
Inebriamo-nos com a aparência
de um sol, com o cérebro enganado
a apitar de alegria que nem um desalmado.
Navegamos nas águas
dos nossos devaneios
ao comando de um barco sem leme.
Afundamo-nos dentro do sonho
e caímos redondos, enganados,
sucumbimos ao naufrágio,
perdemos o pé na maré que tecemos.
Pouca terra, pouca terra,
será sempre pouca a terra firme
nos carris do comboio da utopia.
© Jaime Portela, Dezembro de 2018