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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A pedido das Escolas iPad, ou "Steve Jobs", da Holanda



Depois de, a 6 de Julho p.p., ter publicado aqui um artigo sobre as Escolas iPad na Holanda, tenho recebido correio assinado pelo Sr. Maurice de Hond, o mentor deste projecto, que achou por bem informar-me do desenrolar das actividades dos pais e alunos até à abertura das referidas escolas, que se verificou a 21 de Agosto p.p. (e não a 13 de Agosto, como constava do artigo mencionado).

Informou-me também que tinham elaborado um extenso e pormenorizado comunicado de imprensa sobre o funcionamento das escolas “Steve Jobs”, que me enviou, em neerlandês, inglês, castelhano e chinês (a mim coube-me a versão castelhana, o que é compreensível), tendo-me solicitado que desse conta aqui no blogue do endereço onde podem ser vistos cinco vídeos (vimeo) sobre as actividades das crianças e das escolas, e que é este: www.educationforanewera.com/es (também a versão castelhana, claro).

Satisfeito o pedido, não deixo, todavia, de reafirmar a apreensão que manifestei na introdução à publicação de 6 de Julho.

© Maria Paias

sábado, 6 de julho de 2013

Escolas iPad na Holanda, uma reforma radical



Depois de ler este artigo fiquei a reflectir, tentando antever que tipo de cidadãos terá a Holanda daqui a dez ou quinze anos, se a maioria das crianças e jovens acederem a este modelo de “ensino”. Se hoje já se distanciam tanto dos problemas que afectam os seus parceiros da União Europeia mais dados a festas e romarias (de preferência, à borla), não será de admirar que, no futuro, e por este caminho, se sintam mais confortáveis a lidar com robôs do que com seres humanos. Mas como posso não estar a entender bem o alcance e as repercussões desta “reforma”, traduzi o artigo e publico-o aqui quase na totalidade, pois pode haver alguém que me indique o que tem de virtuoso.

«Muitas escolas usam iPads. Mas, e se toda a experiência educativa fosse oferecida via tablet? Isso é o que algumas novas escolas na Holanda estão a planear fazer. Não haverá o quadro negro nem programas escolares. Será o fim da sala de aula?

Pensem diferente. Isto foi mais do que um anúncio publicitário. Foi um manifesto e, com isso, o ex-presidente da Apple, Steve Jobs, revolucionou a indústria dos computadores, da música e o mundo dos telemóveis. O plano seguinte do visionário do digital era introduzir mudanças radicais nas escolas e nas editoras de manuais escolares, mas morreu de cancro antes de o conseguir executar.

Algumas das ideias que talvez tenham ocorrido a Jobs, estão agora a ser concretizadas na Holanda. Onze “Escolas Steve Jobs” abrirão em Agosto, estando Amesterdão entre as cidades que acolherão esse tipo de escola. Cerca de mil crianças, com idades entre os 4 e os 12 anos, irão a essas escolas, sem cadernos, livros ou mochilas. Cada uma delas, contudo, terá o seu próprio iPad. 

Não haverá quadros, giz ou salas de aula, salas de professores, aulas formais, planos de aulas, carteiras, canetas, professores a ensinar à frente da turma, horários, reuniões de pais com os professores, notas, toques para intervalo, nem dias de escola e de férias previamente estabelecidos. Se uma criança preferir jogar no seu iPad em vez de aprender, não haverá problema. E as crianças escolherão o que desejam aprender com base no que lhes desperta curiosidade.

As adaptações já estão a ser feitas em Breda, uma cidade perto de Roterdão, onde uma das escolas ficará instalada. Gertjan Kleinpaste, o reitor de 53 anos de idade, está consciente de que a sua escola iPad na Schorsmolenstraat poderá tornar-se, em breve, destino para invejosos – e também para indignados – reformistas da educação de todas as partes do mundo. (…)

O ano passado, ele era o reitor de uma escola que tinha três computadores, o que achava frustrante. “Já não estava a acompanhar os tempos”, diz ele. Em breve (13 de Agosto de 2013), Kleinpaste será um membro da era digital avançada. E está convencido de que “o que estão a fazer parecerá normalíssimo em 2020”.

As escolas Steve Jobs estarão abertas entre as 7:30 e as 18:30 de segunda a sexta-feira. As crianças entrarão e sairão quando quiserem, desde que estejam presentes no período principal, entre as 10:30 e as 15:00. As escolas encerrarão apenas pelo Natal e Ano Novo. As famílias das crianças poderão ir de férias quando lhes aprouver, e nenhuma criança terá de ficar preocupada se faltar às aulas por causa disso, uma vez que já não existirão aulas no sentido tradicional.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Ordem dos Professores



Nestas coisas dos “think tanks” para a reforma estrutural do Estado vem-nos à cabeça cada ideia para um determinado sector público, que, ao vermos a cara de espanto dos que nos rodeiam, ficamos na dúvida se nos saiu um disparate completo ou algo em que ninguém tinha pensado e que, porventura, seja uma ideia a considerar e a aprofundar.

A propósito da ainda excessiva concentração no Ministério da Educação das decisões que respeitam a todos os níveis de ensino, e que fazem dele aquele “monstro”, embora paulatinamente se tenha vindo a dar autonomia às escolas para a resolução de alguns problemas, e foi nesse sentido que entendi a afirmação de Nuno Crato de que seria necessário “implodi-lo”, fica aqui uma sugestão que poderá contribuir para o emagrecimento do “monstro”. Das muitas associações de professores, há uma que engloba os que são favoráveis à criação de uma Ordem dos Professores, não sei se é apenas porque acham chique a designação, ou se estão a pensar numa Ordem profissional a sério com tudo o que ela implica, tal como as Ordens dos Advogados, dos Médicos, dos Engenheiros, etc., que têm também como função acreditar os respectivos cursos, sem a qual não se pode exercer a profissão que cada qual representa, além da obediência aos estatutos internos. À partida, estas Ordens são maioritariamente representativas de profissionais liberais e não de funcionários públicos, como é o caso actual dos professores. Ora, se fosse constituída uma Ordem dos Professores com a mesma finalidade das que referi, e simultaneamente fosse dada muito mais autonomia às escolas, o Ministério da Educação poderia dedicar-se às outras funções que já tem e desempenhá-las muito melhor, enquanto a educação ficaria exclusivamente a cargo de profissionais inscritos na Ordem respectiva.

Também ficaram com cara de espanto, ou estão a fazer contas ao número de funcionários públicos que deixariam de ter esse estatuto sem deixarem de exercer a sua profissão? Os professores/funcionários que querem a sua Ordem, calculo que não estivessem a pensar em nada disto, pois já estou a ouvir muito ranger de dentes. Mas, quando se defende uma ideia, há que analisar todas as suas implicações.

© Maria Paias

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

George Steiner, sobre o bom e o mau ensino e outras considerações

Ensinar com seriedade é lidar no que existe de mais vital num ser humano. É procurar acesso ao âmago da integridade de uma criança ou de um adulto. Um Mestre invade e pode devastar de modo a purificar e a reconstruir. O mau ensino, a rotina pedagógica, esse tipo de instrução que, conscientemente ou não, é cínico nos seus objectivos puramente utilitários, é ruinosa. Arranca a esperança pela raiz. O mau ensino é, quase literalmente, criminoso e, metaforicamente, um pecado. Diminui o aluno, reduz a uma inanidade cinzenta a matéria apresentada. Derrama sobre a sensibilidade da criança ou do adulto o mais corrosivo dos ácidos, o tédio, o metano do ennui. Para milhões de pessoas, a matemática, a poesia, o pensamento lógico foram destruídos por um ensino inane, pela mediocridade, talvez subconscientemente vingativa, de pedagogos frustrados.(...)
Em termos estatísticos, o anti-ensino constitui praticamente a norma. Os bons professores - os que alimentam a chama nascente na alma do aluno - são talvez mais raros do que os músicos virtuosos ou os sábios. Entre os professores do ensino elementar, instrutores da mente e do corpo, são alarmantemente escassos os que têm plena consciência daquilo que está em jogo, do equilíbrio entre confiança e vulnerabilidade, da fusão orgânica entre responsabilidade e sensibilidade. Ovídeo lembra-nos: «Não há maior maravilha». De facto, como bem sabemos, a maioria daqueles a quem entregamos os nossos filhos nas escolas secundárias, a quem pedimos orientação e exemplo na academia, pouco mais são que amigáveis coveiros. Trabalham para reduzir os alunos ao seu próprio nível de fatigada indiferença. Não "revelam" Delfos - obscurecem-no.
Em contrapartida, o ideal do verdadeiro Mestre não é uma fantasia ou uma utopia romântica inalcançável. Os mais afortunados entre nós conheceram Mestres genuínos, fossem eles Sócrates ou Emerson, Nadia Boulanger ou Max Perutz. Muitas vezes permanecem anónimos: professores ou professoras isolados que, ao emprestarem determinado livro, ao permanecerem disponíveis após as aulas, despertam o talento de uma criança ou de um adolescente, põem em marcha uma obsessão.(...)
Eu diria que a nossa era é a da irreverência. As causas desta transformação fundamental são as da revolução política, da sublevação social (a célebre «rebelião das massas» de Ortega y Gasset), do cepticismo obrigatório nas ciências. A admiração, para evitar falar de reverência, passou de moda. Somos viciados na inveja, na difamação, no rebaixamento. Os nossos ídolos devem exibir cabeças de barro. Os louvores são principalmente dirigidos aos atletas, às estrelas pop, aos milionários ou aos reis do crime. A celebridade, que satura a nossa vida mediática, é o contrário da fama. Usar uma réplica da camisola do deus do futebol ou imitar o penteado do cantor da moda está nos antípodas da condição de discípulo. Correspondentemente, a noção de sábio roça o risível. A consciência é populista e igualitária, ou finge sê-lo. Qualquer tendência manifesta para uma elite, para essa aristocracia do intelecto que era uma evidência para Max Weber, não está longe de ser proscrita pela democratização do sistema de consumo de massas (ainda que esta democratização comporte, inquestionavelmente, emancipações, sinceridades e esperanças de primeira ordem).(...)
Nas relações mundanas, seculares, a nota prevalecente, muitas vezes fortemente americana, é a da impertinência e a da contestação. Os «monumentos de um intelecto que não envelhece», talvez até os nossos cérebros, estão cobertos de grafitti. Os estudantes levantam-se à entrada de quem? Plus de Maîtres proclamava um dos slogans que floresceram nos muros da Sorbonne, em 1968.(...)
Há que terminar com poesia. Ninguém reflectiu mais profundamente do que Nietzsche nas questões que procurei levantar:
Alerta, humanidade!
Que diz a profunda Meia-Noite?
«Eu dormia, eu dormia,
despertei de um sonho profundo.
O mundo é profundo,
e mais profundo do que o dia imaginava.
Profunda é a sua dor,
a alegria - mais profunda ainda que a aflição.
A dor diz: Passa e perece!
Mas toda a alegria procura a eternidade,
procura a profunda, profunda eternidade!»
in "As Lições dos Mestres", Gradiva, Lisboa, trad. Rui Pires Cabral, 2.ª edição, 2005

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Suspensão da democracia - sonho ou pesadelo?

E se puséssemos a realidade entre parêntesis durante seis meses, o que é que poderíamos transformar ou reformar? Não estou a falar da epoché fenomenológica de Husserl, mas da epoché aplicada à nossa realidade política e administrativa, mais concretamente ao regime democrático. Colocado este entre parêntesis, ou suspenso, durante seis meses, poderíamos, por exemplo, decretar o despedimento colectivo dos professores, a sua desvinculação da função pública, dar às escolas toda a capacidade de contratar e despedir professores consoante as suas necessidades e com base nos respectivos "curricula", seleccionando as escolas os melhores professores para os seus objectivos e padrões bastante elevados.
Isso reduziria o número de funcionários públicos, o que seria bom para o Orçamento Geral do Estado, os impostos desceriam, aumentaria o grau de exigência das escolas face aos professores e destes face aos alunos, o que seria bom para o País.
Depois acordei e continuei a ouvir a vozearia das últimas semanas e a marcação de mais uma greve da função pública.
Voltei-me para o outro lado e tentei sonhar com outros decretos reformadores.