Quando a porta se fechou às suas costas
tudo que era real encerrou seu ciclo.
Era necessário que a vida invadisse o vácuo
e propagasse em pó uma nuvem plástica.
Teu corpo se despedaçou espalhando o meu grito,
ficou só meu olhar na penumbra abissal.
Cada direção buscava em si uma passagem
que nos levasse ao espaço, numa vertigem neurótica.
Nada aconteceu que se soubesse ser puro.
Os cantos da casa refletiam angústia,
os gigantes dos livros escondiam-se no chumbo.
Das patas da besta escutei o clamor,
nenhuma pessoa ou de pelo, um bicho,
poderia testemunhar tal vergonhoso ardor.
Nenhum barco estava a esperar às margens do limbo.
Caronte não ouvia meu grito gutural.
Não havia água que me matasse a sede.
Nada, nem nunca, enquanto
a sépia riscava meu rosto
dum reflexo de espelho
rascunho me tornei.
Envelhecemos todos, a miragem e eu.
Nem um espectro de mal cheiroso suor.
Nada ficou para a Hidra ordenhar
que nos esperava no fundo
insondável de cada olhar.