segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Passageiro.


Queria ser um pouco

a ilusão que incendeia

as partes dessa mulher,

ser um pássaro.

Pouso.. em

seu ventre.


Entre..

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Vida

A vida
é assim.
Passa.
E passará.
Para trás
tudo ficará.
Vida?
Para mim?
A que eu quis
passou.

C'est La Vie

O poeta iletrado



A MEU PEDIDO REEDITO ESTE POEMA.



Então! Era uma vez:
Numa pequena cidade
muito pequena talvez,
para conter tanta maldade.

Porém neste vilarejo nascera
forte, uma linda criança
que sofrendo muito, crescera
réprobo pela vizinhança

Nem passou perto da escola,
audácia ele se atrever
entretanto só por esmola
analfabeto lhe deixaram viver

Uma batina em algodão cru
era que o menino vestia
só para não lhe ver nu
o padre por "nobreza" cedia

Era só o que faltaria
além de pateta o esfomeado
sem aquela batina estaria
completamente pelado

Mas ao cabo de dois anos
vejam só quanta ironia
com andrajos franciscanos
é que sua roupa parecia.

Assim sopravam os ventos
perambulava o chamado pateta
Mas ora vejam! Ele tinha intentos
de um dia se tornar um poeta.

Mas esse louco queria
uma coisa tão estranha
logo ele que vivia
numa ignorância tamanha.

Mas que menino tão tolo
ser poeta sem saber ler
nem um nome por consolo
lhe fôra dado saber.

Assim de um lado para outro
como bardo louco corria
sujo e suado como um potro
todos riam, ele sorria.

Sem um nome e iletrado
sonhava amores na primavera
lhe chamavam de enjeitado
e ele nem sabia o que era.

Seus olhos ninguém via
jamais ousara olhar alguém
amava uma moça? Mas quem seria?
Nunca diria, nem ao padre, nem a ninguém.

Um dia, o poeta cometeu um engano
quis ao seu amor um poema recitar
Mas que petulância, farrapo humano
poeta pateta está querendo apanhar.

E naquele domingo na praça da igreja
uma linda moça para o poeta olhou
com lindos olhos verdes como carqueja
faces macias que o sol corou

Aquele olhar tão belo e franco
encorajou o poeta a seguir
e duma folha de papel em branco
que lia algo, começou a fingir.

Eram palavras singelas
mas de tão belo sentimento
que as pessoas nas janelas
se emocionaram por tal lamento

O amor ao vento ecoava
na bela voz daquele menestrel
mas esse vento que soprava
traria notícias de um destino cruel.

Uma mulher fina, mas invejosa
logo começou a comentar,
"mas que memória prodigiosa
para tantos versos guardar".

Os olhos da moça brilhavam
num verdejante fulgurar
enquanto os versos voavam
a Deusa da Arte se fez presenciar.

Até Hélios, o deus do sol, recuou
com a presença da formosa deusa,
o vento que era forte amainou
diante dum quadro de tanta beleza.

A moça sorria em toda sua graça
o poeta delirava o seu insano irromper
naquele domingo em plena praça
declamava o poema que ele não podia escrever.

Porém o jovem poeta sentiu
toda força da divindade
um grande estrondo se ouviu
estremecendo a cidade.

A Deusa da Arte abraçou
aquele pobre menino
e consigo ela o levou
para o seu verdadeiro destino.

Assim quis a divina musa
em toda sua sabedoria
que aquela gente tão confusa
seus versos não mereceria.

Então um tiro cruel e certeiro
atingiu o peito do poeta
que caindo por inteiro
deixou a sua poesia incompleta.

Porém a deusa da sorte
ainda tinha outro querer
dar ao poeta em sua morte
o que ele não teve ao viver.

Foi então que a donzela
de verde jade no olhar
sobre o poeta defronte à capela.
tombou já sem respirar.

Os dois que aquela vil cidade
não lhes merecera jamais
viveriam toda liberdade
noutro plano onde todos são iguais.

O poeta então viveria
o seu eterno devaneio
para a sua amada cantaria
versos plenos de floreio.

Porém a deusa em sua vingança
ainda não estava satisfeita
chamou Eólo em sua presença
e deu-lhe a última empreita.

Mandou que o deus do vento pegasse
toda palavra que do poema foi perdida
e que todo domingo a soprasse
que na cidade inteira fosse ouvida.

Apesar de toda a sua vaidade
aquele povo se convenceu
que o único artista de verdade
a pobre cidade perdeu

"A cidade do poeta andante"
assim ficou conhecida
todo domingo em qualquer brisa pulsante
a bela voz do poeta era sentida.

A Deusa da Arte escolhe seus filhos
mas nem sempre lhes deixa viver
melhor mantê-los em eterno exílio
do que deixá-los sofrer

E a vila e seus moradores
foram condenados a eternamente ouvir
nos versos do iletrado, suas dores
e todo o seu amor
num mais puro
sentir.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Vento sudeste.


Minhas mãos,
as mãos de um louco,
tremem torpes
ao cair da tarde.

Escondem-se impuras,
enquanto o sol
ainda arde,
como uma vela
em chamas
ao vento sudeste.

O barco parte
e eu nunca mais.

Um poema para você.


Se soubesse
lhe faria um poema.
Falaria de seu sorriso doce
seus lindos olhos
que lindos assim só em você.


Falaria do seu amor
pelo mundo
pelas flores
natureza
e o mar!
Mar!
Capítulo à parte
em suas densas ondas
um amor de extremos
quando cheia a maré.

Porém terno e de meiguice
profunda,
quando apaixonado
descansa em você.


Falaria de seu talento
para traduzir a alma,
transformar em palavras
os mais íntimos desejos.
Da doçura e ternura
de braços dados
em seus poemas.


Falaria tudo isso
se soubesse,
porém nada falo
porque
nada
sei
de
você.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Tristes.

Te fiz sofrer
também sofro
demais.
Triste
é nada fazer
e correr o risco
de te fazer
sofrer mais.

Perdão
bastaria?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sombras - Oleo sobre tela - Ricardo Kersting


Abri a janela!

Um pouco do resto de sol

entrou e

tudo ficou no mesmo lugar!

Saí daquela parte do

meu mundo,

lento!

Olhei e ainda pude ver (minha sombra)

meu espanto e

minha decepção!

Por não ter nada,

nada ser (só sombra)

e ainda,


ir embora.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O jogo das rainhas


Hoje parece claro,

sabes do culpado e

queres caçá-lo como

um leão da Mesopotâmia.

Parece que tudo está definido

já sabemos por quem torcer.

Mas nesse jogo não há

vencedores, como na arena.

"Ave Caesar morituri te salutant"

Todos somos perdedores

Aqui dizes quem é o algoz

apontas o polegar para baixo.

Os rendeiros entrarão na arena

irão caçar a estrela bandida

E a rainha rirá com o seu livro branco nas mãos.

Ela não quer que o jogo tenha fim

continuará rindo

rirá dos vencidos

e dos vencedores que nem

receberão seu prêmio.


Uma medalha e uma frase

no livro branco.

Mas o jogo que ela criou,

nunca acabará.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Dança dos centauros


Continuei o meu caminho
atrás das pedras pequenos seres
me observavam.
Nenhum deles era como eu
que estava livre
e podia escolher
entre o bem e uma vida de lágrimas.

Podia falar ou silenciar ao mundo.
Podia sorrir e dançar ao luar.
Nenhum daqueles pequenos seres
podia ser com eu era
não podia voltar
nem seguir se quisesse.

Não podia perguntar
nem responder.
Ali naquele caminho, cheio de pedras
havia uma deusa em transe,
um padre louco,
e um anjo bêbado,
um faquir estava sentado
sobre uma coroa de espinhos.

Beijava o dorso de uma serpente
e perguntava se alguém podia ouvi-lo?
Tinha um homem muito triste
que vestia roupas apertadas
e sorria só com a boca
como se o resto do rosto
não lhe pertencesse.

Me disse que eu teria
um rumo.
Só naquele momento
percebi que eu não
tinha para onde ir.
Não importava se eu podia,
não sabia.

E ninguém além de um padre louco,
uma deusa em transe,
ou um faquir extemporâneo
poderiam me dizer.


O anjo bêbado alçou seu voo.
O padre louco se arrependeu
As pequenas criaturas me olharam e
sorriram.
Perguntaram porque eu não tinha
para onde ir?


Olhei-me no espelho d'água
Muitos centauros eu vi.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Outra saudade

Esta não tão dolorida
mas também incomoda
como choque no cotovelo
como roupa fora de moda.

Toda saudade que doi
nos ataca na esquina
tropeçamos nela ao dia
e à noite ela nos domina.

Um pouco de saudade. "Para Kátia"


Um gosto de saudade,

parece que está faltando alguém.

Um ponto de partida?

Outro de parada?

Um pouco de mim.

Ou é mais além.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A nau dos aflitos


Algo estava errado?

A tripulação parecia entorpecida

navegavamos em círculos ou o timoneiro adormecera.

Quando consegui abrir os olhos

vi o clarão da lua

no lado oposto uma luz muito forte.

Seria o sol?

Algo estava errado?

Ninguém respondia

as almas mergulhadas no Estige

buscavam salvação a bordo


Tentei puxar um homem

só então vi tratar-se de um bandido

talvez um demônio

talvez fosse eu.

O Estige parecia um mar, morto?

Ondas de carne castigavam o casco

da nave perdida.

Caronte dormia,

uma jovem chorava!


Por um amor despedaçado?

Perdido entre promessas de eterna fidelidade?

Um homem velho arreganhava os dentes

num sorriso dos loucos

perdido entre águas sangrentas

de almas condenadas!


Sua mão indecisa alcançou o meu ombro,

um tremor de nojo e desespero tomou todo

o meu corpo.

Ele nada dizia mas eu ouvia seu clamor

pedia meu perdão e jurava nunca mais

cometer tão violento crime.


Entre lágrimas e soluços

pedia-lhe pelos santos que me soltasse,

pois nada eu saberia sobre ele e sua consciência.

Ele parou de sorrir,

seus olhos derramavam lágrimas de sangue.

Eu o perdoei,

sem saber porque,

sem ouvir seu nome.

Sem viver a sua dor.


O homem soltou-se na correnteza,

eu suspirei aliviado.

O barco retomou o seu rumo.

Olhei para trás e pude ver o barqueiro

empunhando o leme.

Tentei em vão olhar o homem

já estava perdido entre milhares

de corpos sem luz.


Caronte cantava retesando o torso ao leme

Não tive mais medo

meu lugar não era ali

eu nem sabia

onde estava

ou se sonhava

ou se aquilo,

em alguma vida, vivi.


Versos para a próxima viagem


Teus belos olhos vendados

que tudo podem sentir

mesmo os caminhos fechados

para onde devo seguir.


O vento que sacode a cortina

desvendando os meus segredos

deixou alguns para a minha retina

reter à custa dos medos.


Eis que me vejo tão liberto

assim com Gerión, abro minhas asas

como Moshe, abri o "deserto"

soprando a cinza deixando as brasas


Minha visão ainda é criança

perto de ti, sou um menino

Quando olho não vejo, respiro esperança

de um dia mudar o meu cego destino

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Às margens de um rio


Não pude mais seguir

o cansaço foi mais forte.

Em meus olhos havia a escuridão

do caminhante vencido!

Junto de ti estava Beatriz

Tu, a ninfa preferida.

Ela, a virgem que guardava as margens

do Eunoé.

Junto de nós toda a imensidão do tempo.

Tempo em que ficamos apiedando-nos

Vidas que perdemos pedindo perdão,

noites em que não sonhamos.

Junto de mim, a fraqueza humana

aos acordes do vento

que balançava a floresta idilíca.

De tanta sede caí às margens do rio

da sagrada água, bebi.

Não era mais um sonho,

era a busca da vida

que por medo

não vivi.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Havia luar em Nínive


Chamei-te, mesmo pois parecia tão tarde,

estavas viajando numa visão de outono!

Para mim parecia normal.

Olhei para a rua e vi um homem!

De tal forma postado num galopar garboso,

lembrou-me Assurbanipal de Nínive,

caçando leões numa Mesopotâmia imaginária.

Cedi aos impulsos e concluí algo há duas noites

começado!

Havia luar iluminando a cidade.
Parecia normal!

No fundo eu queria que houvesse escribas,

pensei, belas passagens

para registrarem em suas placas.

Na rua a caça havia terminado!

Fechei a minha janela voltei

para dormir.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Rascunho de sépia ( Anjo sobrevivente )


Quando a porta se fechou às suas costas

tudo que era real encerrou seu ciclo.

Era necessário que a vida invadisse o vácuo

e propagasse em pó uma nuvem plástica.

Teu corpo se despedaçou espalhando o meu grito,

ficou só meu olhar na penumbra abissal.

Cada direção buscava em si uma passagem

que nos levasse ao espaço, numa vertigem neurótica.

Nada aconteceu que se soubesse ser puro.

Os cantos da casa refletiam angústia,

os gigantes dos livros escondiam-se no chumbo.

Das patas da besta escutei o clamor,

nenhuma pessoa ou de pelo, um bicho,

poderia testemunhar tal vergonhoso ardor.

Nenhum barco estava a esperar às margens do limbo.

Caronte não ouvia meu grito gutural.

Não havia água que me matasse a sede.

Nada, nem nunca, enquanto

a sépia riscava meu rosto

dum reflexo de espelho

rascunho me tornei.

Envelhecemos todos, a miragem e eu.

Nem um espectro de mal cheiroso suor.

Nada ficou para a Hidra ordenhar

que nos esperava no fundo

insondável de cada olhar.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Solsimim



Eu era pequeno


pés nus sobre


o assoalho desgastado!


A música invadia a casa,


enquanto minhas mãos


maltratavam um velho violão.


Era pequeno


e a casa já era velha,


os cupins agitavam -se


fazendo parte do trabalho


que caberia ao tempo.


Eu ouvia


o seu serrilhar incansável.




A música era silenciosa


e parou.


Deixei a mão esquerda dormir,


a outra apoiou-se nas cordas do violão,


fazendo parte do trabalho


que caberia ao vento,


se soprasse seria


assim,


Mi




Re


Sol


Si


Mim.




Ainda sou pequeno.