Terceira Fase Modernista Parte I

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JOÃO CABRAL DE

MELO NETO
a)Iniciou com uma poesia surrealista (de estranhamento,
situações desconcertantes)
b)objetividade na constatação da realidade e do cotidiano
(regionalismo de denúncia, o cenário do Rio Capibaribe, a vida em
Sevilha na Espanha);
c) poesia pensada, racional(a poesia cerebral, organizada,
pesquisa de expressão)
d) utiliza uma linguagem enxuta, concisa, parecida com o falar do
sertanejo; (elaborada, objetiva, a busca da palavra exata, para
explorar seu significado)
e) preocupação com a estética, com a arquitetura da poesia(“O
poeta engenheiro”, o processo de construção, a composição da
poesia);
f) poesia metalinguística;(os metapoemas, questiona o próprio
fazer poético)
g) a educação pela pedra – criação poética – fruto do trabalho e
do esforço – prática (a poesia não é fruto de uma simples
inspiração)
Catar feijão
1.
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
2.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.
Morte e vida severina
“Auto de Natal Pernambucano”.
Poema de caráter dramático (próximo do teatro)
Narrativa de viagem do retirante Severino
Parte do sertão em direção ao litoral (Recife)
Segue o rio Capibaribe (sinônimo de vida para os
sertanejos).
A busca da identidade
Cena 1 - Monólogo no qual Severino se apresenta
e se iguala a tantos outros Severinos:

- O meu nome é Severino, não Mas isso ainda diz pouco:


tenho outro de pia. há muitos na freguesia.
Como há muitos Severinos, por causa de um coronel
Que é santo de romaria, que se chamou Zacarias
deram então de me chamar e que foi o mais antigo
Severino de Maria; senhor desta sesmaria.
Como há muitos Severinos Como então dizer quem fala
com mães chamadas Maria, ora a Vossas Senhorias’?
fiquei sendo o da Maria Vejamos; é o Severino
do finado Zacarias. da Maria do Zacarias.
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba. [...]
a percepção da semelhança com todos os nordestinos (iguais na
miséria, fome, seca e morte)
Somos muitos Severinos
E se somos Severinos
iguais em tudo e na sina:
iguais em tudo na vida, a de abrandar estas pedras
morremos de morte igual, suando-se muito em cima,
mesma morte Severina: a de tentar despertar
que é a morte de que se morre terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
de velhice antes dos trinta,
alguns roçado da cinza.
de emboscada antes dos vinte, Mas, para que me conheçam
de fome um pouco por dia melhor Vossas Senhorias
(de fraqueza e de doença e melhor possam seguir
é que a morte severina a história de minha vida,
ataca em qualquer idade, passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
e até gente não nascida).
• Encontra somente a morte durante a viagem.
Essa cova em que estás, — é uma cova grande
com palmos medida, para teu pouco defunto,
é a cota menor mas estarás mais ancho
que tiraste em vida. que estavas no mundo.
— é de bom tamanho, —é uma cova grande
nem largo nem fundo, para teu defunto parco,
é a parte que te cabe porém mais que no mundo
neste latifúndio. te sentirás largo.
—Não é cova grande. — é uma cova grande
é cova medida, para tua carne pouca,
é a terra que querias mas a terra dada
ver dividida. não se abre a boca.
Passa pela Zona da Mata e chega em Recife
Conhece José (um mestre carpina, carpinteiro)
Descobre as dificuldades da vida na cidade
Pensa em se matar (“saltar fora da ponte e da vida”).
Acompanha o nascimento do filho de José (a religiosidade, a
esperança, referência ao nascimento de Cristo).
Aparecem ciganas e fazem previsões do futuro do filho de José
A musicalidade.
Atenção para a adjetivação do título do poema
Morte e Vida Severin(a)
Severin(o)
3ª Fase Modernista (1945 – 1964)
PÓS-MODERNISMO (1945 - ?)
A Geração de 45
(pág. 153)
A Prosa Regionalista
Mantendo-se na linha do nosso regionalismo da segunda
geração,
Incorporando inovações desencadeadas pela obra de
Guimarães Rosa
Outras pesquisas da realidade do espaço e do homem rural
brasileiro.
Guimarães Rosa
nova perspectiva do regionalismo;
(o interior de MG, mais verde, o sertão, o mundo dos jagunços
e dos vaqueiros)
revalorização da linguagem (neologismos), a fala do sertanejo, suas
expressões, suas particularidades (a coloquialidade e o
experimentalismo linguístico)
o misticismo, as superstições e a transcendência do sertão(o mágico e
fantástico)
reinvenção do sertão “o sertão é o mundo” (outro olhar para o interior);
temática universalizante (loucura, infância, animais, bem X mal, amor,
morte, velhice, solidariedade...)
1. Conceito de sertão: o sertão é o mundo
Universalismo
• "O sertão está em toda parte".
• "O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as
astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!"
• "Sabe o senhor: o sertão é onde o pensamento da gente se forma
mais forte do que o poder do lugar."
• “O sertão é do tamanho do mundo."
2. Ampliação do conceito de sertanejo
Um homem como qualquer outro, universal e atemporal
3. Linguagem: transformação radical
a) Criação de Palavras Compostas totalmente inusitadas: sussuruído,
descrevivendo-as, beladoce, enxadachim, cabisbaixara-se, personagente,
doutoridade, excelentriste...
b) Uso de prefixos e sufixos em combinações originais: pobrepérrimo,
repiscados os olhos, aleluair, justiçamente, bis-viu, transvivendo, infinícula...
c) Uso de ditados populares, aforismos, geralmente alterados: "Cão que ladra
não é mudo.", "Tintim de cor por tintim salteado", "A gente cresce sempre,
sem saber para onde."
d) Ausência dos limites entre prosa e poesia:
Prosa poética, uso de rimas, aliterações assonâncias, reiterações
e) Construções sintáticas surpreendentes: "Era um rio e seu além. Estava, já do
outro lado., "E quase, quasinho... quasezinho, quase...", “Viver é perigoso."
Clarice Lispector
O intimismo (revela-se o íntimo das personagens,
seus dramas pessoais e humanos – o autoconhecimento)
O questionamento do ser (a autoanálise psicológica, texto
reflexivo, as digressões narrativas)
O romance e o conto introspectivo, ambíguo (existencialista)
Afasta-se da sociedade em crise e retrata o indivíduo, sua
consciência e inconsciência (o fluxo de consciência, o monólogo
interior)
A linguagem que valoriza a palavra, explora os significados
(trabalha com metáforas, a densidade da linguagem,
subjetividade)
Preferência pelo universo feminino (o cotidiano da mulheres)
As histórias partem do cotidiano – a personagem é marcada por
uma inquietação – acontece a epifania – a personagem passa a
reavaliar sua vida.
o “coração selvagem” (a presença de animais) – os animais não
têm consciência por isso desfrutam, vivem a vida.
Felicidade clandestina
Narrativa em 1ª pessoa
A narradora recorda sua infância no Recife (era uma menina que
adorava ler)
Faz uma descrição das diferenças físicas de uma colega
“Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos,
meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda
éramos achatadas.”
A colega oferecera emprestado o livro As reinações de Narizinho,
de Monteiro Lobato. (o pai era dono de uma livraria)
A narradora vai diariamente até a casa da colega (“que tinha talento tinha
para a crueldade”) para pegar o livro emprestado.
E ela sempre inventa uma desculpa e não emprestava o livro (a humilhação)
“No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava
num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando
bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina,
e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo.”
A desconfianças da mãe da colega e a descoberta da maldade da filha.
“E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser
a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a
potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé
à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife.”
A mãe da colega empresta o livro à narradora.
"E você fica com o livro por quanto tempo quiser."
O desfecho do conto e o significado do livro
“Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois
ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-
o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com
manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por
alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa
clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para
mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia
orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na
rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase
puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu
amante.”
A hora da estrela
• A história de Macabéa, uma moça nordestina de extração
sócio-cultural inferior.
• Narrado por Rodrigo S.M. (Clarice Lispector)
• Renuncia o modo psicológico/subjetivo de narrar.
• Linguagem mais objetiva .
• A obra enfatiza aspectos da realidade da vida de Macabéa.
• Manifesta uma intenção social.
• Duas camadas do romance:
A camada do narrador:
• Narrado em 1ª pessoa
• Rodrigo S.M.
• O primeiro narrador masculino na obra de Clarice.
• Atormenta-se ao escrever uma novela sobre uma jovem nordestina.
• Questiona-se o tempo inteiro o seu próprio modo de narrar, o seu
estilo, a sua capacidade de compreender Macabéa. (metalinguagem)
• Tenta desvendar o que é ficção e o que é realidade.
• A procura do significado da literatura e da existência.
A camada de Macabéa:
• Narrado em 3ª pessoa
• O registro da medíocre trajetória no Rio de Janeiro de uma
alagoana de 19 anos.
• Macabéa é moça raquítica, feia, solitária, alienada, sonsa e
morrinhenta.
• Uma jovem sem qualquer tipo de vida interior, sem futuro e
com um passado inexpressivo, quase cretina.
A origem de Macabéa
• Órfã , criada por um tia repressora
• Mudam-se para o Rio de Janeiro
• Sua modesta origem social
“Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por
cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões
trabalhando até a estafa”
A vida no Rio de Janeiro
• Mora em quarto de pensão com quatro balconistas das Lojas
Americanas.
• Uma datilógrafa de segunda categoria.
• Adora ouvir a Rádio Relógio, coleciona pequenos anúncios num
álbum e gostaria de ser artista de cinema (inspira-se em Marilyn
Monroe).
• Vive uma vida medíocre.
O namoro com Olímpico de Jesus
• Atenção para ironia ao nome de Olímpico
• Namoram, pois têm a mesma origem:
“O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram
como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam”.
• A falta de comunicação
“Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?”
• Encontram-se em dias de chuva. Olímpico se irrita: “Você só sabe
chover”
• Olímpico quer ser muito rico, talvez até deputado.
• E Olímpico abandona Macabéa para ficar com Glória (colega de
trabalho de Macabéa)
“Você, Macabéa, é um cabelo na sopa. Não dá vontade de comer.”
• Macabéa não sofre, apenas ri quando o namorado lhe comunica
o rompimento.
• Glória, sentindo-se culpada, sugere a Macabéa que fosse a uma
cartomante.
O encontro com a cartomante e com a morte
• Madame Carlota era uma antiga prostituta e cafetina.
• Fica horrorizada com a vida que a moça levava, resolve animá-la
com a perspectiva de um futuro sorridente.
• Profetizando que a nordestina encontraria um estrangeiro
alourado de “olhos azuis ou verdes ou castanhos ou pretos”, muito
rico e com quem se casaria.
• Macabéa que “nunca tinha tido coragem de ter esperança”, sai
feliz da consulta, pois “a cartomante lhe decretara sentença de
vida”.
• Pela primeira vez ela sente a sua existência, está “grávida de futuro”.
“Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino
(explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez!
E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a — e neste
mesmo instante em algum único lugar do mundo um cavalo como resposta
empinou-se em gargalhada de relincho.
Macabéa ao cair ainda teve tempo de ver, antes que o carro fugisse, que já
começavam a ser cumpridas as predições de madama Carlota, pois o carro era de
alto luxo. Sua queda não era nada, pensou ela, apenas um empurrão. Batera com a
cabeça na quina da calçada e ficara caída, a cara mansamente voltada para a
sarjeta. E da cabeça um fio de sangue inesperadamente vermelho e rico. O que
queria dizer que apesar de tudo ela pertencia a uma resistente raça anã teimosa que
um dia vai talvez reivindicar o direito ao grito.”

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