Doencas Infecciosas

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DOENÇAS INFECCIOSAS: AULA

01
1.CONCEITOS GERAIS

Infecciologia: é a especialidade médica


que se dedica ao diagnóstico e
tratamento das doenças infecciosas.
IMUNOLOGIA

A imunologia é a ciência que


estuda o sistema imune e as
respostas imunológicas,
constituindo a defesa do organismo
contra as diferentes agressões
possíveis de ocorrer.
Imunidade – Estado ou qualidade
de um indivíduo que esta protegido
contra certas doenças infecciosas ou
contra a acção de certos tóxicos e
venenos.
Tipos de imunidade

Existem dois tipos de imunidade:


 Imunidade inata;
 Imunidade adquirida.
Imunidade inata (natural): não é
específica contra um tipo de agente
e é composta por neutrófilos,
macrófagos, células NK (Natural
Killer) e um conjunto de barreiras
físicas e químicas (pele, mucosas,
PH, etc).

Imunidade adquirida: é induzida por


determinados factores, e subdivide-
se em:
Imunidade humoral: depende dos
linfócitos B, e fundamentalmente
está relacionada com a produção de
anticorpos (IgG, IgM, IgA, IgD e IgE)
em resposta à antígenos específicos.

Imunidade celular: depende dos


linfócitos T, e geralmente é contra os
vírus, fungos e certas bactérias (ex:
bacilo de Koch) e células tumorais.
Vacinação: é o acto de inocular
uma substância biológica a base de
microorganismos mortos ou vivos
atenuados, de forma a conseguir
uma imunização activa artificial.

Transferência passiva de
anticorpos da mãe para o bebé:

Via placentária: IgG (ex:


sarampo, varicela);
Via aleitamento : (colostro e
leite): IgA principalmente (ex:
contra doenças diarreicas).

2.Factores associados à redução da


imunidade:
A redução da imunidade pode ser de
dois tipos:
Primária: o individuo nasce com
defeitos que produzem
imunodeficiência;
Adquirida: são de maior parte das
imunodeficiências, que pode ser de
causas:
 Fisiológicas: (Crianças,
prematuridade, idosos e
gestação);
Metabólicas: (diabetes);
Nutricionais: (desnutrição);
Farmacológicas/drogas:
(corticosteróides, quimioterápicos,
álcool);
Mecânicas: (queimaduras,
úlceras);
Infecciosas: (HIV, Tuberculose,
Sarampo);
Neoplasias: (carcinomas,
leucemias, linfomas).
VACINAS E O SEU USO
CLINICO
Vacinas: são substâncias
biológicas preparadas no
laboratório a partir de
microorganismos causadores de
doenças (por bactérias ou vírus).
Vacinação: é o acto de inocular ou
administrar substâncias biológicas
(vacinas) no organismo de forma a
criar, artificialmente e sem risco,
um estado de protecção (imunidade)
contra determinadas doenças
transmissíveis.
OBJECTIVOS DE UMA VACINA

Proteger o indivíduo contra


algumas doenças infecciosas
(Exemplo: vacina antitetânica –
VAT);

Proteger o indivíduo contra


formas graves da doença
(Exemplo: BCG);
Reduzir a transmissão e o número
de novos casos (incidência) das
doenças infecciosas preveníveis por
vacina no seio da sociedade (no
contexto de um programa alargado
de vacinação - PAV);

Reduzir a ocorrência de surtos


epidémicos, por doenças
preveníveis.
Tipos de vacinas

Vacinas atenuadas – formadas por


vírus vivos atenuados. Podem ser virais
(VAS, VAP) ou bacterianas (BCG, vacina
contra a febre tifóide).

Vacinas inactivadas – formadas por


vírus inactivados. Podem ser virais
(vacina contra hepatite A e contra a
raiva) ou bacterianas (vacina
subcutânea contra a febre tifóide).
Vacinas conjugadas – são aquelas
que estimulam a imunidade para
mais de um agente infeccioso. Por
exemplo: DTP (vacina contra
Difteria, Tétano e Pertussis).

Vacinas com toxóide – contêm as


toxinas produzidas pelos
microrganismos. Por exemplo: vacina
anti-tetânica (VAT) e contra a
difteria.
Aplicação clínica das vacinas

As vacinas são de extrema importância


clínica na prevenção e protecção do
indivíduo e da sociedade contra as
doenças infecciosas imuno-preveníveis
(preveníveis ou controláveis pela
vacinação). porém, as que são cobertas
pelo calendário vacinal do Programa
Alargado de Vacinação (PAV) são:
BCG: protege contra formas graves
de Tuberculose;
VAP: protege contra a Pólio;
DTP/HepB-Hib: chamada de vacina
pentavalente por ser constituída por
5 antígenos, protege contra Difteria,
Tétano, Pertussis, Hepatite B e
Haemophilus influenzae tipo B;
VAS – protege contra o Sarampo;
VAT – protege contra o Tétano.
AULA : 02

INTERACÇÃO PATÓGENO -
HOSPEDEIRO
A interacção patógeno-hospedeiro
constitui uma parte importante para o
desenvolvimento de doença infecciosa.
Por isso e fundamental ter em conta os
seguintes conceitos:
Patógeno: é um agente biológico
(vírus, bactérias, parasitas ou fungos)
capaz de causar doença. O termo é
sinónimo de agente infeccioso.
Transmissão: é a difusão ou passagem
do agente infeccioso para uma pessoa
ou ambiente.
Hospedeiro: é um organismo (pessoa ou
animal) que abriga outro (agente
infeccioso) no seu interior, ou o carrega
sobre si, proporcionando um local
adequado para que este cresça e se
multiplique em condições naturais.

Hospedeiro intermediário: é o
hospedeiro que alberga o estágio
assexuado ou larvário.
Hospedeiro definitivo: é o hospedeiro
que alberga o estágio sexuado ou verme
adulto.

Espectro da doença: é a ampla variação


da progressão de uma doença após
exposição de um hospedeiro susceptível
ao agente infeccioso.
Infecção: Infecção é a penetração e
colonização de um organismo hospedeiro
por um agente infeccioso, capaz de se
multiplicar e de provocar doenças ou
alterações patológicas de maior ou menor
gravidade.

Doença infecciosa ou doença


transmissível: é aquela causada pela
transmissão de um agente infeccioso
específico para um hospedeiro
susceptível.
Vectores: são seres vivos que veiculam o
agente infeccioso desde o reservatório
até ao hospedeiro potencial. Os vectores
podem ser biológicos ou mecânicos.

Vectores biológicos – são seres vivos,


nos quais o agente infeccioso desenvolve
uma parte do ciclo vital antes de passar
ao hospedeiro( ex: o mosquito
Anopheles).
Vectores mecânicos: são aqueles que
transportam simplesmente os agentes
de um ponto para outro de uma forma
passiva, sem participar do ciclo vital.
Ex: Mosca.

Veículos – são fontes secundárias ou


intermediárias que veiculam o agente
infeccioso do reservatório para o
hospedeiro, podendo ser fômites ou
substâncias de natureza alimentar.
Doenças contagiosas: são aquelas que
podem ser transmitidas pelo contacto
directo entre os seres humanos, sem
necessidade de um vector ou veículo
interveniente. Portanto, para que haja
infecção e doença infecciosa é necessário
uma interacção entre o agente infeccioso
e o hospedeiro (exposição) o processo de
transmissão, o ambiente, numa cadeia
que se chama de cadeia de infecção.
Particularidades do agente infeccioso

Patogenicidade do agente: é a
capacidade do agente infeccioso de
produzir doença clínica (sinais e
sintomas).

Virulência: é a capacidade de um agente


infeccioso de produzir efeitos graves ou
fatais
Dose infectiva (infectividade): é a
quantidade do agente requerida para
causar infecção em um indivíduo
susceptível. Quanto maior for a dose
infectiva necessária para causar
infecção, menor é a probabilidade da
infecção e da doença clínica ocorrerem
Reservatório de um agente: é o seu
habitat natural e pode incluir humanos,
animais e fontes ambientais (planta,
solo ou matéria inanimada).

Fonte de infecção: é a pessoa, animal


ou objecto de onde o hospedeiro
adquire a doença.
Portador: é uma pessoa infectada que
não mostra qualquer evidência de
doença clínica, mas que pode
transmitir a infecção.
Processo de transmissão do
Agente Infeccioso

Ha duas formas de transmissão do um


agente infecciso para um hospedeiro:
Transmissão directa e

Transmissão indirecta
Transmissão directa: é a transferência
imediata de um agente infeccioso de um
hospedeiro ou reservatório para uma
porta de entrada através da qual a
infecção pode ocorrer.

Transmissão indirecta: é a
transferência de um agente infeccioso por
meio de um vector, veículo ou por via
aérea.
Tipos de infecção

Infecção activa: é quando o agente


infeccioso, após sua entrada no
hospedeiro, está em replicação.

Infecção aguda: é aquela em que os


sintomas clínicos são marcantes e
aparecem rapidamente após a instalação
do agente infeccioso no hospedeiro.
Infecção crónica: é aquela em que a
doença clínica demora a aparecer ou
não aparece após instalação do agente
infeccioso no hospedeiro.
Infecção latente: é quando o agente
infeccioso se encontra presente no
organismo do hospedeiro sem causar
doença clínica.
Outros conceitos

Reactivação: é quando o agente


infeccioso que anteriormente estava
latente, volta a causar doença clínica
após um determinado período.
História natural das doenças infecciosas
no geral

Os períodos de uma doença infecciosa


são:
período de incubação;
 período prodrômico,
período de doença e
períodos de convalescência ou morte.
Período de incubação: é o período que
decorre desde a entrada do agente
infeccioso no hospedeiro até o
aparecimento de doença clínica
(primeiros sinais e sintomas). O intervalo
de incubação depende dos seguintes
factores que influenciam:

Estado de imunidade do hospedeiro;


Estado nutricional do hospedeiro;
Virulência do agente infeccioso;
Dose infectiva.

Período prodrómico: é o período


durante o qual o paciente se encontra
“indisposto’’ , ou seja com sinais e
sintomas constitucionais mas ainda não
está com os sinais e sintomas típicos da
doença causada pelo agente infeccioso.
Período de doença – é o período em que
o paciente apresenta os sinais e sintomas
típicos da doença ocasionada por
determinado agente infeccioso (doença
clínica). E pode se apresentar em Aguda,
Subaguda, e crónica.
Período de convalescência: é o período
que se inicia logo após ter sido atingido
o pico da sintomatologia, findando com
a recuperação do paciente.

Morte: quando a infecção evolui para a


perda completa dos sinais vitais do
hospedeiro
O ambiente
O ambiente desempenha um papel muito
importante no desenvolvimento das
doenças infecciosas. Condições sanitárias,
temperatura, poluição aérea, qualidade da
água e factores socioeconómicos
(densidade populacional, aglomerados,
pobreza) podem influenciar sobremaneira a
interacção patógeno-hospedeiro.
PRINCÍPIOS DE TERAPÊUTICA
ANTIMICROBIANA

Tratamento: é o conjunto de meios


biológicos, cirúrgicos, farmacológicos,
físicos, higiénicos e psíquicos usados para
curar, atenuar ou abreviar uma doença.
Tratamento empírico: é o tratamento
iniciado pelo clínico com base num
determinado quadro clínico ou doença
cujo diagnóstico etiológico não foi
confirmado, guiando-se em algoritmos
padronizados para uso geral.

Tratamento específico: é o tratamento


iniciado pelo clínico para uma
determinada doença cujo agente
etiológico já foi determinado.
Tratamento curativo: é o tratamento
que visa curar ou eliminar o agente
etiológico que determinou a doença.
Tratamento intermitente: é o
tratamento que é administrado ao
paciente em períodos de tempo regulares
e de forma sistemática com vista a tratar
ou prevenir uma determinada doença ou
seus efeitos.
Quimioterapia: é a utilização de
substâncias químicas (fármacos) para o
tratamento de qualquer condição física.
Profilaxia: conjunto de medidas que têm
como objectivo proteger o indivíduo ou
sociedade de uma determinada doença.
Quimioprofilaxia: é a utilização de
substâncias químicas (fármacos) para
proteger o indivíduo ou sociedade de uma
determinada doença
Aula 03
REVISÃO DA HISTÓRIAS CLÍNICA

ANAMNESE E EXAME FÍSICO NAS


DOENÇAS INFECCIOSAS.
ANAMNESE
1.IDENTIFICAÇÃO
É importante na identificação colher
dados como:
Idade: certas idades estão mais
susceptíveis a doenças infecciosas
graves com uma evolução fatal (ex:
formas graves de malária nos <
5anos, devido baixa imunidade.
Sexo: certas doenças infecciosas
afectam mais frequentemente um ou
outro género (ex: o HIV é mais
prevalente no sexo feminino).
Profissão e local de trabalho: certas
profissões são factores de risco para
doenças infecciosas. ( ex: pescadores,
caçadores tem risco de ter
schistossomíase e brucelose).
Residência: a proximidade de rios,
lagoas e o hábito de se banhar neles,
pode estar relacionada a algumas
doenças como a schistossomíase.
Naturalidade: algumas doenças
infecciosas são mais prevalentes em
certas regiões ou províncias. ( ex:
Tripanossomíase).

Estado civil: tem influência sobre o


perfil de transmissão de algumas
doenças infecciosas, como as ITS.
2. Queixa principal e história da
doença actual
As manifestações clínicas dependem de
vários factores como tipo e número de
sistemas afectados, condição
imunológica do paciente, virulência do
agente infeccioso entre outros nas
doenças infecciosas. E podem ser
sintomas inespecíficas e especificas.
Sintomas Inespecíficos:
Febre;
Anorexia;
Mal-estar geral;
Calafrios;
Perda de peso;
Prostração;
Sintomas Específicos:
Pele
Prurido;
Erupções cutâneas;
Manchas;
hiperemiadas indolores;
exantema maculo papular;
exantema com máculas
eritematosas e etc.
Cabeça e Pescoço
Cefaleia;
Vertigens;
Afecção dos olhos;
Linfadenopatia cervicais e etc.
Sintomas Cardio-Respiratórios
Tosse;
Dor torácica;
Hemoptise;
Dificuldade respiratória (dispnéia);
Palpitações, etc.
Sintomas do Aparelho digestivo:
Náuseas e vómitos;
Diarreia;
Dor abdominal, etc.

Sintomas Genito-urinário:
Disúria;
Polaquiúria;
Hematúria;
Bolsas escrotais (aumento de
tamanho).
Aparelho músculo-esquelético
Mialgia/ artralgia;
Tumefações;
Aumento do volume dos membros com
deformidade e edema duro.
Sistema nervoso
Distúrbios da consciência;
Insónia;
Sonolência;
Irritabilidade;
Convulsões.
História patológica pregressa.

História vacinal;
Co-morbidade actual e infecções
prévias;
Histórias de internamentos
anteriores;
História de tratamentos
efectuados;
História de alergia.
História pessoal e
social/Familiar

Tipo de habitação;
Fonte de água e saneamento do
meio;
Hábitos alimentares;
Disponibilidade de redes
mosquiteiras;
Parceiros sexuais e protecção
sexual;
Viagens recentes.
EXAME FÍSICO
1. Exame físico geral
Os principais aspectos a observar nas
doenças infecciosas são:
Sinais vitais: (Temperatura, pulso e
FC, FR e TA);
Febre: ( Febre contínua, remitente
intermitente,héctica e recorrente ou
ondulante);
Peso;
Avaliação das mucosas;

2.Exame físico regional

No exame físico regional É importante


a avaliar obedecendo as técnicas
clássicas, Inspecção, Palpação,
Percussão e Auscultação:
ouvidos, olhos e fossas nasais, boca e
pele.
Exame cardio-respiratorio:
Alterações cadio-respiratorias;

Exame do abdómen:
É importante verificar:
 Aumento das vísceras (fígado,
baço), ou outras massas visíveis ou
palpável;
Presença de líquido peritoneal e
reacções de defesa.
Exame dos genitais:
Alterações das genitais evidenciam
as ITS.

Exame neurológico:
As alterações do estado mental;
A presença de sinais focais
neurológicos;
pesquisar o sinal de Brudzinski,
Kerning e rigidez da nuca;
Sonolência com inversão do ritmo do
sono.
Aula: 04
EXAMES AUXILIARES DE
DIAGNÓSTICO.
1. DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO.
consiste num conjunto de
procedimentos e técnicas
complementares empregues para
identificar e confirmar a etiologia
(agente infeccioso) das doenças
infecciosas através da colheita e
processamento de várias amostras
biológicas do paciente.
Os principais tipos de amostras
biológicas usadas são:
Sangue;
Expectoração;
Urina;
Fezes;
Líquidos das cavidades corporais:
articular, peritoneal, pleural e céfalo-
raquíde;
Colecções purulentas.
À Nível do TMG, os principais exames
microbiológicos usados:
Gota espessa e esfregaço sanguíneo;
Exame directo da expectoração;
Exame directo da urina;
Exame directo das fezes;
Exame directo de secreções
purulentas;
Exame directo dos líquidos das
cavidades corporais;
Exame directo do líquido
cefalorraquidiano.
Os princípios para o uso e
interpretação dos exames:
1. Interpretação dos exames
microbiológicos:

Gota espessa e esfregaço sanguíneo


 A gota espessa e o esfregaço são
duas técnicas que geralmente se
realizam em simultâneo, cujo a
primeira facilita a identificação do
agente infeccioso e a segunda
facilita a identificação da sua
morfologia.
Indicações
Diagnóstico de doenças infecciosas
causadas por: plasmódio,
tripanossoma, borrélia, microfilárias.
Seguimento clínico e controlo da
evolução das doenças infecciosas
Interpretação

Presença de plasmódio de
formas assexuadas confirma o
diagnóstico da malária; enquanto
que de formas sexuadas não
confirma a doença, mas há a
possibilidade de transmissão da
doença.
Símbolo Significado Parast/l % G.V
(gota espessa) infectados
(gota
estendida)
Nse 0 (zero) parasitas em 100 <4 <0.0001
campos de gota espessa

1+ ou + 1 - 10 parasitas por 100 4 – 40 0.0001- 0.001


campos de gota espessa

3+ ou ++ 1-10 parasitas por campo de 401- 4.000 0.01- 0.1


+ gota espessa

4+ ou ++ 11- 100 parasitas por campo 4.001-40.000 0.1 – 1


++ da gota espessa

5+ ou ++ > 100 parasitas por campo da > 40.000 >1


+++ gota espessa
Na interpretação, o número de cruzes
aumenta de acordo com o grau da
parasitemia, ou seja, quanto maior o
número de cruzes, maior o número de
parasitas na circulação sanguínea, e
maior a gravidade do caso.

Presença de Tripanossomas, confirma o


diagnóstico da tripanossomíase (doença
de sono);
Presença de Borrelia burgdorferi:
confirma o diagnóstico de borreliose;
Presença de microfilárias de
Wuchereria bancrofti: confirma o
diagnóstico de filaríase;

NB:: assim como na malária, o facto de não


se encontrarem os microorganismos não
exclui a doença.
Exame directo da expectoração

Indicações:
Diagnóstico e seguimento de
infecções das vias respiratórias
(principalmente inferiores).
Interpretação
Coloração de Gram: permite o
diagnóstico de infecções das vias
respiratórias causadas por bactérias gram
positivas ou gram negativas numa amostra
de qualidade e confiável.

Coloração de Ziehl-Neelsen: serve para


efectuar o diagnóstico laboratorial da
tuberculose, cujo o resultado da
baciloscopia é dado em cruzes
dependendo do número de bacilos por
campo.
Contagem dos bacilos Interpretação
Nenhum bacilo em 100 Negativo
campos

1 – 9 bacilos em 100 Positivo (designar o


campos actual número)

10 – 99 bacilos em 100 Positivo +


campos

1 – 9 bacilos por campo Positivo + +

≥10 bacilos por campo Positivo +++


O resultado positivo da pesquisa de BK na
expectoração indica que se está perante
um caso de tuberculose pulmonar activa
BK positivo.
Porém, o exame é feito também com
líquido pleural, líquido ascítico, líquido
articular ou céfalo-raquídeo.
Exame directo de urina
Indicações:
diagnóstico de infecções urinárias.

Interpretação:
Presença de células de leveduras
( Cândida) confirma o diagnóstico de
infecção fúngica;
Presença de ovos de Schistossoma
haematobium confirma o diagnóstico de
schistossomíase (bilharziose);
Presença de Tricomonas vaginalis
confirma o diagnóstico de tricomoníase;
Presença de bactérias: Neisseria
gonorrhoeae e Escherichia coli na urina
colhida de forma estéril em um individuo
sintomático pode indicar infecção urinária
ou uretrite sexualmente transmissível.
Presença do bacilo de Koch: pode
indicar tuberculose genitourinária;
Exame directo de fezes
Indicações:
Diagnóstico de infecções parasitárias
gastrointestinais.
Interpretação:
A presença de protozoários (trofozóitos
e quistos), helmintos ( ovos e larvas)
estabelecem o diagnóstico da infecção.
Exame directo das secreções
purulentas
Indicações:
Diagnóstico dos agentes infecciosos
responsáveis pela origem da secrecção
ou colecção purulenta (bactérias,
fungos, parasitas).
Interpretação:
A presença dos agentes infecciosos
como bactérias (ex: N.gonorrhoeae,
S.aureus), fungos (ex: Cândida albicans),
protozoários (Trichomonas vaginalis)
confirma o diagnóstico. Porém a
interpretação deve ser com cautela,
pois podem ser observados
microorganismos colonizadores e ser
erradamente interpretados.
Exame directo dos líquidos das
cavidades corporais (líquido pleural,
peritoneal e articular)

Indicações:
Diagnóstico dos agentes infecciosos
que podem causar infecções nas
cavidades corporais como empiema,
tuberculose pleural, peritonite e
derrames articulares infecciosos.
Nestes líquidos efectuam-se o exame de
gram e a coloração por Ziehl-Neelsen.

Interpretação:
A presença dos agentes infecciosos
(bactérias gram positivas ou gram
negativas, bacilo de koch, fungos)
confirma o diagnóstico etiológico das
infecções.
Exame directo do líquido céfalo-
raquídeo (LCR)
Exame de gram do LCR
Indicações:
Diagnóstico de infecções bacterianas
do SNC como meningite, encefalite e
meningoencefalite.
Interpretação:
A presença de bactérias gram
positivas ou gram negativas confirma a
infecção, pois o LCR é um líquido estéril
(normalmente sem microorganismos).

Exame com tinta da china do LCR

Indicações:
Diagnóstico de meningite criptocócica
Interpretação:
 A presença de criptococos é
indicativa de criptococose, e seu
achado é fundamental para
confirmação diagnóstica, embora não
permita garantir que as leveduras
estejam viáveis.
EXAMES DE CULTURA
Os exames de cultura são usados para a
confirmação diagnóstica quando não é
possível determinar o agente infeccioso
pelo exame directo (com coloração ou a
fresco) e, é associa um exame de
sensibilidade antibiótica (antibiograma),
de modo a determinar a sensibilidade do
agente infeccioso a e antimicrobianos.
Ao nivel de TMG os exame de cultura
mais frequentes e usados são: cultura
do bacilo de Koch, do vibrião colérico, a
coprocultura e a urocultura.

Cultura do bacilo de Koch

Indicações:
segundo as normas nacionais está
indicado nos seguintes casos:
Casos com baciloscopia negativa em
pelo menos 2 amostras mas com
suspeita clínica/radiológica de
tuberculose pulmonar activa;
Casos que não convertem a
baciloscopia de positiva para negativa
ao 2º mês;
Casos com falência ao tratamento,
crónicos e sequelas de tuberculose
pulmonar (para garantir que não é uma
recaída);
Casos de pacientes com tuberculose
que iniciam o regime de retratamento;
Diagnóstico de tuberculose resistente
( MDR ou extremamente resistente-
XDR);
Contactos de tuberculose resistente;
Casos suspeitos de tuberculose
extrapulmonar (cultura de todos os
líquidos corporais ou do material de
biópsia);
Estudos de vigilância da tuberculose
resistente (MDR e XDR).
Interpretação:
A cultura fornece o diagnóstico certo de
um caso de tuberculose, sendo necessário
apenas a presença de 10 bacilos por
mililitro de expectoração.
Adicionalmente a cultura, o teste de
sensibilidade antimicrobiana,
determinará se o bacilo é resistente ou
não e a que antimicrobianos é sensível ou
resistente.
Nota: o tempo de espera é elevado, pois
a cultura do bacilo de koch só está
disponível nos hospitais centrais e leva
pelo menos 8 semanas (meio sólido) ou 2
semanas (meio líquido).
Cultura do vibrião colérico

Indicações:
Geralmente pede-se quando se tem
suspeita da eminência de uma
epidemia:
Diagnóstico da infecção por cólera;
Determinação do tipo de vibrião que
está a causar a infecção;
Vigilância epidemiológica do tipo de
vibrião circulante.
Interpretação:

A presença de vibrião colérico associado


a clínica compatível (típica) é
diagnóstica de cólera. É importante
esta associação com a clínica, pois
podem existir casos de portadores
saudáveis.
Coprocultura
É um exame bacteriológico das fezes
muito usado para o diagnóstico
etiológico das gastroenterites, por meio
do isolamento de patógenos entéricos.

Indicações:
Diagnóstico do agente infeccioso nas
gastroenterites agudas e crónicas;
Determinação do padrão de
sensibilidade aos antimicrobianos.
Interpretação:
A presença de bactérias (shigella,
salmonela, outras) é sugestiva de
infecção.

Urocultura
É um exame bacteriológico da urina
muito usado para o diagnóstico de
infecções urinárias.
Indicações:
Diagnósticos de infecções urinárias das
vias baixas e altas
Determinação do tipo de agente
infeccioso presente e do seu padrão de
sensibilidade aos antimicrobianos.

Interpretação:
A presença de bactérias na urina colhida
pelo meato uretral externo é normal.
Para a confirmação da presença de
infecção urinária é necessário que o
cultivo mostre pelo menos 100.000 (105 )
unidades formadoras de colónias (UFC)
por mililitro após 48-72h de incubação
da urina.
Nota: uma contagem inferior a 105
colónias/ml não exclui infecção,
especialmente em pacientes
sintomáticos.
Aula 06
Exames auxiliares de
diagnóstico

1. Serologia, Outros Testes de


Diagnóstico e Radiologia.
DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO

Os testes sorológicos são técnicas para


detecção e quantificação de antígenos
( substância química ou orgânica capaz
de produzir anticorpos ) ou anticorpos (
substância do sangue capaz de destruir
bactérias), presentes no soro.
Interpretação de um teste
serológico
Os testes serológicos podem produzir 2
tipos de resultados: reactivo (positivo)
e não reactivo (negativo):

Teste com resultado reactivo


(positivo) significa que o paciente
esteve ou está em contacto com o
agente infeccioso. Porem nem sempre
significa presença de infecção ou
doença infecciosa activa.
Teste com resultado não reactivo
(negativo) significa que o paciente
nunca teve contacto com o agente
infeccioso (antígeno) ou a quantidade
do antígeno não foi suficiente para
permitir a produção de anticorpos.

Na interpretação dos testes


serológicos deve-se ter em conta os
falsos positivos e falsos negativos.
Tabela de resultados falsos positivos e
falsos negativos.

Resultado do Doença Infecciosa


teste
serológico Presente Ausente

Positivo A B

Negativo C D
Interpretação

O “B” é um resultado falso positivo,


porque foi positivo na ausência de
doença infecciosa;
O “C” é um resultado falso negativo,
porque foi negativo na presença de
doença infecciosa;
O “A” é um resultado positivo, porque é
positivo na presença de doença
infecciosa;
O “D” é um resultado negativo, porque,
é negativo na ausência de doença
Causas de resultados falsos positivos
e falsos negativos
Falso Positivo Falso Negativo

Causas Biológicas Causas Biológicas


 Semelhança antigênica entre os  Período de janela (vide abaixo)
microorganismos (exemplo: hepatite viral  Incapacidade de produção de anticorpos
com sífilis) (exemplo: fase avançada da doença
 Doenças auto-imunes infecciosa, imunossupressão)
 Aquisição passiva de anticorpos por  Efeito prozona (excesso de anticorpos a
imunização ou transferência da mãe induzirem um resultado falso negativo)
para o recém-nascido (ex: HIV positivo
num recém nascido)
 Persistência de anticorpos após cura da
doença infecciosa (ex: hepatite B ou
Sífilis)
Causas Técnicas
 Contaminação da amostra
 Troca de amostras
 Falhas técnicas (ex: pipetagem incorrecta)
 Armazenamento e transporte inadequado dos
testes ou reagentes
 Baixa sensibilidade do teste (baixa capacidade de
detectar pacientes com a doença) – falso negativo
 Reagentes fora do prazo de validade
 Equipamentos desajustados
Períodos imunológicos após exposição
ao agente infeccioso.
TESTES SEROLÓGICOS MAIS
FREQUENTES
Os testes serológicos mais usados em
Moçambique:
Sífilis;
HIV/SIDA;
Hepatite B;
Outros :Febre Tifóide (teste de
Widal) e Hepatite C;
Teste serológico para sífilis

Os testes serológicos para a sífilis são de


dois tipos: testes treponémicos e não
treponémicos.

Indicações
Estão indicados para o rastreio e
diagnóstico da Sífilis.
Interpretação
O VDRL ou RPR são testes rápidos de
sífilis frequentemente que se usa em
Moçambique, e devem sempre que
possível ser complementados com a
determinação do título dos anticorpos.
O teste RPR pode permanecer positivo
por meses a anos em indivíduos já
tratados. Nestes casos é necessário
conhecer a história do doente e fazer a
titulação (medição da concentração) do
reagente.
Títulos de anticorpos iguais ou
superiores a 1:16 são considerados
positivos. Títulos inferiores a 1:16 são
considerados falsos positivos. É
Igualmente importante monitorar a
titulação e avaliar a tendência da
mesma.
Teste serológico para HIV
Existem vários testes serológicos para o
HIV, porém, os mais usados em
Moçambique estão sob a forma de
testes rápidos (Determine e Unigold)
que detectam anticorpos contra o HIV 1
e 2 (anticorpos Anti-HIV 1 e 2).
Indicações
Estão indicados em todos os casos de
suspeita da infecção pelo HIV (ex:
emagrecimento inexplicado, doenças
oportunistas, antecedentes sexuais e
comportamentais de risco) e em casos
não suspeitos, no âmbito do despiste e
seguimento precoce da doença.
Interpretação
O resultado positivo (determine e
unigold positivos) confirma a infecção
pelo HIV.
O resultado negativo (Determine
negativo) exclui infecção pelo HIV
(excluindo causas de um resultado falso
negativo como por exemplo a infecção no
período de janela).
O resultado indeterminado (Determine
positivo com Unigold negativo) não
confirma infecção pelo HIV, e o indivíduo
deverá repetir o teste 3 a 4 semanas
Teste Serológico para Hepatite B

O teste rápido para hepatite detecta a


hepatite B, através da detecção de
antígeno de superfície AgHBs.

Indicações
Rastreio da hepatite B em doadores
de sangue (uso obrigatório no banco de
sangue);
Diagnóstico da hepatite B.
Interpretação
Um resultado positivo significa que
o paciente ou tem infecção aguda ou
teve a infecção (hepatite crónica ou
portador) não significando doença
activa. Portanto, deve se interpretar
este resultado em conjunto com a
clínica do paciente e outros exames
laboratoriais (bioquímica).
Outros testes serológicos
Teste serológico para hepatite c
Indicações
Rastreio de dadores de sangue para
hepatite C, casos suspeitos de hepatite
C.
Interpretação
Um resultado positivo significa que tem
hepatite C activa ou hepatite crónica,
ou que teve e já curou. Portanto, deve
ser interpretado em conjunto com a
clínica do paciente e outros exames
Teste serológico para febre
tifóide
O teste serológico para febre tifóide
chama-se reacção de Widal.
Indicações
Casos suspeitos de Febre Tifóide;
Interpretação
A reacção de Widal procura
demonstrar a presença de anticorpos
no soro, induzidos por determinados
antígenos da salmonela (antígenos
“O”, “H” e “Vi”).
O valor de referência está
dependente se a área é considerada
endémica ou não. Nas áreas não
endémicas (tal é o caso de
Moçambique), valores de titulação
iguais ou acima de 1:80 são
considerados positivos. Nas áreas
endémicas, valores de titulação igual
ou acima de 1:160 são considerados
positivos.
Atenção especial deve ser dada as
áreas onde a doença ocorre, pois
podem ocorrer falsos positivos. Para se
considerar resultado positivo, devem
ser colhidas 2 ou mais amostras
sucessivas com resultado positivo em
todas as amostras.
Portanto, o valor anormal da reacção
de Widal é um valor diagnóstico
retrospectivo, principalmente nas áreas
endémicas e deve ser sempre associado
a história clínica do paciente.
OUTROS TESTES ÚTEIS PARA O
DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS
INFECCIOSAS
Teste rápido de malária
O teste rápido de malária (TDR), foi
desenvolvido tendo em conta a
necessidade de um diagnóstico precoce
da malária e em regiões com escassos
recursos laboratoriais. O TDR usado em
Moçambique é apenas para a detecção
do Plasmódium falciparum
Indicações
Diagnóstico da malária por
Plasmódium falciparum.
Diagnóstico rápido da malária por
Plasmódium falciparum nos casos graves
de síndrome febril e grupos alvo de
risco (mulheres grávidas e crianças
menores de 5 anos).
Interpretação
O resultado positivo confirma o
diagnóstico da malário, excepto nos casos
em que o paciente teve a doença nos
últimos 15 a 30 dias.
Não é útil no seguimento da malária.
Teste de MANTOUX
Indicações
O teste de Mantoux é um teste usado
para auxiliar o diagnóstico da
tuberculose através da reacção de
hipersensibilidade cutânea a tuberculina
PPD (Proteína Purificada Derivada).
Interpretação
Um valor positivo deve ser
interpretado com cautela, pois significa
que teve ou tem exposição ao Bacilo de
Koch, e não necessariamente doença.
Igualmente um valor negativo, deve
ser interpretado com cautela em
pacientes HIV positivos, pois devido a
diminuição de imunidade, pode não
haver reacção de endurecimento sendo
considerado negativo (fenómeno
chamado anergia).

NB: a vacina recente de BCG pode


induzir um falso positivo.
Hemograma e VS nas doenças
infecciosas
O hemograma e a VS são exames
auxiliares frequentemente úteis e
solicitados na abordagem diagnóstica de
doenças infecciosas, pois elas revelam
estados celulares que podem predizer a
presença ou ausência de infecção.
A VS em doenças infecciosas geralmente
se encontra elevada nas doenças agudas
e doenças crónicas.
Indicações
Apoio no diagnóstico de doenças
infecciosas
Apoio na determinação do provável
tipo de agente infeccioso, de acordo
com o tipo de linhagem celular
alterado
Diagnóstico de outras alterações
hematológicas associadas à doenças
infecciosas (anemia, alteração das
plaquetas)
Interpretação
Causas de alterações no Hemograma em
doenças infecciosas:
Causas de leucocitose: Infecções
bacterianas agudas, Febre tifóide,
Peste,Brucelose e Sepse.
Causas de neutrofilia: Febre
tifóide,Infecções bacterianas agudas e
Sepse.
Causas de linfocitose: Tuberculose,
Peste, Brucelose e Sífilis.
Causas de monocitose: Malária,
Tuberculose, Brucelose e Peste.
Causas de eosinofilia: Parasitoses e
Lepra.

Causas de leucopenia: Febre tifóide,


Malária, Tripanossomíase, Tuberculose,
Brucelose, Peste septicémica, Sepse e
HIV.
Causas de neutropenia: HIV, Febre
tifóide, Tuberculose miliar e Malária.
Causas de eosinopénia: Febre tifóide e
Brucelose.
Causas de Anemia (redução da
hemoglobina): Malária, Tuberculose,
Brucelose, Parasitoses intestinais,
Tripanossomíase, Febre tifóide, Febres
hemorrágicas e HIV.
Causas de alteração das plaquetas: O
aumento está frequentemente associado
às infecções bacterianas agudas e
sépsis.
Causas de trombocitopénia: Malária,
Tripanossomíase, Peste, HIV, Sepse,
Gripe ou outra infecção viral aguda.
Bioquímica
Certos elementos da bioquímica podem
auxiliar no diagnóstico de doenças
infecciosas, mas não de forma definitiva
e conclusiva. Portanto, a bioquímica
auxilia na conjugação de dados clínicos,
microbiológicos, serológicos e
hematológicos no suporte ou exclusão
diagnóstica e manejo de complicações,
mas não é determinante no diagnóstico
de doenças infecciosas.
Cd4 e carga viral do HIV
Estes testes auxiliam especificamente no
manejo de pacientes HIV positivos e
determinam a conduta a seguir para
cada caso (ex: iniciar ou não iniciar TARV,
mudar de linha de tratamento.
Testes radiológicos
O diagnóstico das doenças infecciosas
pode ser auxiliado com o uso de
exames radiológicos destacando-se o
RX dos seios paranasais, do tórax e do
sistema músculo-esquelético.
AULA 07

Abordagem da Febre nas


Doenças Infecciosas.
-Febre e Sindrome Febril
FEBRE

É uma elevação anormal da


temperatura corporal que ultrapassa a
variação diária normal, e ocorre como
resposta a uma alteração no centro
termorregulador do hipotálamo (SNC).
Temperaturas normais:
axilar 35,5 – 37º C;
bucal 36 – 37,4º C;
rectal 36 – 37,5º C.
SÍNDROME FEBRIL

É o conjunto de sinais e sintomas


inespecíficos (astenia, náuseas,
vómitos, diarreia, artralgia, mialgia,
taquicardia, taquipneia, calafrios,
sudorese) que acompanham a
elevação da temperatura.

Pirógenos: são substâncias capazes de


determinar desequilíbrio térmico com
surgimento de febre.
Pirógenos exógenos: são substâncias
produzidas por bactérias, vírus, fungos,
complexos antígeno-anticorpo, capazes
de determinar o desequilíbrio térmico
com surgimento de febre.

Pirógenos endógenos: são substâncias


que surgem em resposta ao pirógeno
exógeno e que actuam sobre o
hipotálamo para desencadear a febre.
Relação entre Febre e Doença
Infecciosas

1º: Invasão local ou sistémica pelo


agente infeccioso;
2º: Liberação de produtos pirógenos
pelo agente infeccioso;
3º: Os pirógenos exógenos
desencadeiam o surgimento dos
pirógenos endógenos;
4º: Os pirógenos endógenos fazem
aumentar as concentrações
hipotalámicas de prostaglandinas (PGE)
1 e principalmente 2 que levam a uma
série de reacções que culminam com o
desenvolvimento da febre.

5º: Igualmente outras substâncias


produzidas pelos linfócitos T-helper
provocam a mobilização imunológica
(daí que o organismo se defende melhor
durante o processo febril).
Características da Febre e condições
patológicas associadas.
A febre segue diferentes padrões e
evolui como um dos principais
indicadores de orientação diagnóstica,
porem pode ser de instalação súbita
comum nas infecções agudas (ex:
pneumonia); ou de instalação
lenta/progressiva comum nas infecções
crónicas (ex: tuberculose), e o término
da mesma, se desaparece gradualmente
ou rapidamente.
CLASSIFICAÇÃO DA FEBRE
A febre classifica-se em: contínua,
remitente, intermitente, recorrente,
ondulante e héctica.

Febre contínua: é aquela em que a


temperatura (Ta axilar > 37º C) é
continuamente elevada, com variação
diárias até 1º C. ex: febre tifóide,
pneumonia.
Febre remitente: é aquela em que a
temperatura apresenta uma variação
diária, superior a 1ºC, mas sem atingir a
normalidade. Ex: infecções urinárias,
sépsis;
Febre intermitente: é aquela febre
com períodos cíclicos de apirexia
(terçã, quartã ou cotidiana). Ex:
malária e tuberculose.
Febre Recorrente: é aquela que tem
períodos de vários dias com febre
contínua, seguindo-se de um período de
vários dias de apirexia. Ex: brucelose,
borreliose, leptospirose;
Febre héctica: é aquela que é
absolutamente irregular e não segue
qualquer padrão, podendo apresentar,
inclusive, dois ou mais “picos” diários.
Ex: septicémia, fase avançada da
tuberculose.
Factores que podem influenciar a
presença de febre

Existem vários factores que podem


influenciar a presença de febre. Como:
Imunodeprimidos (D.Mellitus, HIV);
Doenças auto-imunes;
Doenças endócrinas;
Neoplasias;
Doenças reumáticas;
Fármacos:
(nevirapina,abacavir,cotrimoxazol);
local e a exposição a que o paciente
está sujeito ( Ex. Países Endémicas de
malária como Moçambique);

NB: nem toda febre resulta de uma


doença Infecciosa.
Febre com Foco e sem Foco

Febre com foco: é aquela onde é


possível identificar a causa ou fonte
anatómica da febre, ou seja, quando
por meio da história clínica e de
exames auxiliares de diagnóstico, é
possível identificar-se a origem ou
causa da febre. (geralmente processos
infecciosos locais ou sistémicos).
Febre sem foco: é a febre sem causa
aparente ou sem causa localizada
depois de uma avaliação completa.
Também chamada de febre de origem
obscura (FOO) que é classificada em:
FOO clássica;
 FOO hospitalar;
 FOO neutropénica;
FOO associada ao HIV.
Geralmente, o diagnóstico de febre sem
foco é mais dificil e não óbvio mesmo
após anamnese e exame físico.
DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM
TERAPÊUTICA DA FEBRE
O diagnóstico da origem da febre deve-
se seguir o padrão geral da história
clínica e exames auxiliares de
diagnóstico (quando necessário).

Anamnese
Os aspectos a ter em conta paciente
com febre são:
Identificação
Dados como: idade, sexo e profissão.

História da doença actual


A febre deve ser caracterizada seguindo
os “10 atributos do sintoma”:
Cronologia: início, duração,
periodicidade. Febre de < 2 semanas é
aguda e > 2 semanas é crónica cujo
difere as causas das mesma.
Característica e evolução da febre:
deve-se estabelecer o tipo de febre
(contínua, remitente, intermitente,
recorrente, héctica);

Relação com outros sintomas ou


sinais: é importante para o
diagnóstico da febre visto que na
febre focal facilmente se identifica o
local anatómico e a patologia.
Situação da febre no momento
actual, contactos com pessoas doentes
e tratamentos anteriores efectuados.

Revisão por sistemas

História patológica pregressa e


familiar

procurar sobre: história vacinal, co-


morbidade actual e prévia,
internamentos anteriores, e história
familiar.
História pessoal e social
Tipo de habitação, fonte de água e
saneamento, hábitos alimentares,
disponibilidade de redes mosquiteiras,
parceiros sexuais e uso de protecção.
Abordagem Terapêutica da Febre

Na aboradagem terapeutica da febre,


estabelece-se hipóteses diagnósticas,
perante uma febre com foco ou sem
foco, aguda ou crónica e, de acordo com
a epidemiologia das doenças infecciosas,
do local onde se encontra depois de uma
Historia clínica e exames auxiliares.
Segundo Petersdorf e Beeson, a febre
só se considera como sendo de causa
obscura após 1 semana de investigação
hospitalar, contudo, nalguns casos
graves (coma, choque séptico), o
clínico deve iniciar com o tratamento
empírico mesmo antes da identificação
do foco ou da chegada de resultados de
exames.
Os exames auxiliares iniciais mais
frequentemente solicitados ao nível do
TMG:
Hemograma, VS e hematozoário;
RX (tórax, seios perinasais);
Exame de expectoração com
coloração Ziehl Neelsen;
Urina e fezes a fresco.
AULA 08

EPIDEMIOLOGIA DA MALÁRIA

Malária
É uma doença infecciosa parasitária
aguda causada por protozoários do
género Plasmodium, transmitida pela
picada do mosquito fêmea Anopheles.
Etiologia
A malaria é causada por um
protozoario unicelular que pertence
do género Plasmodium.
Exitem 120 espécies de plasmodium
dos quais 5 espécies infectam o ser
humano que são:
Plasmodium falciparum;
Plasmodium malariae;
Plasmodium vivax;
Plasmodium ovale.
A 5ª espécie denomina-se Plasmodium
knowlesi, descoberta recentemente,
está presente no sudeste de Ásia e
pode causar doença grave semelhante
ao P. falciparum.
Cerca de 90% dos casos de malária em
Moçambique é causada por
P.falciparum, 10% por O Plasmodium
malariae e ovale e devido ausencia de
factor Duffy, na maioria dos africanos,
que confere protecção contra a sua
transmissão, acredita-se que o
Plasmodium vivax não exitem em
mocambique.
Vector da Malária
O vector da malária é o mosquito
fêmea do género Anopheles. Em
Moçambique, as espécies principais
são:
Anopheles gambiae e
 Anopheles funestus.
Epidemiologia da Malária no
Mundo e em África
Epidemiologicamente a Malária é a
doença infecciosa mais difundida no
mundo, localizada em áreas tropicais e
subtropicais.
A população mais vulneráveis são as
mulheres grávidas e crianças menores de
5 anos. Sendo que metade da população
mundial vive em áreas de risco de
contrair a malária. A cerca de 90% do
total de casos reportados no mundo
Epidemiologia da Malária em
Moçambique
Em Moçambique malária é uma doença
endémica e muitas vezes o motivo de
procura das unidades
sanitárias,representando 40% de todas as
consultas externas, 60% de doentes
internados na enfermaria de pediatria,
aproximadamente 34% das mulheres
grávidas são infectadas. Sendo que a febre
representava 37.8% dos casos de malária
2007,estudos feito por Samuel Mabunda et
Estudos feito de Prevalência (%) em
Moçambique de infecção por P. falciparum em
crianças menores de 5 anos de idade por
província, 2007.

Fonte:
http://www.malariajournal.com/content/8/1/74
Factores que Influenciam na
Distribuição da Malária
Devido a variacão da intensidade de
transmissão da malaria de ano para
ano ou região para região, pode ser
influinciada pelos seguintes factores:
Factores ambientais;
Factores do hospedeiro;
Factores relacionados com o parasita
e vector.
Factores Ambientais

Pluviosidade
Altitude
Temperatura
Humidade relativa do ar
Factores do Hospedeiro

Resistência natural (Deficiência do


factor Duffy) ;
Imunidade adquirida;
Idade;
Gravidez;
Crenças e práticas
Migração
Factores relacionados com o Parasita
e Vector

A densidade do vector;
Longevidade do vector;
Hábito de alimentação.
Classificação das Áreas de
Malária Segundo o Nível de
Transmissão
1.Áreas de Transmissão Estável
(malária estável: A transmissão da
infecção é permanente e os
indivíduos que vivem nestas áreas
podem desenvolver a doença mais do
que uma vez por ano.
2. Áreas de Transmissão Instável
(Malária instável): Ocorre nas áreas
com transmissão baixa e intermitente
(sendo que a imunidade protectora
não é adquirida e a doença
sintomática pode ocorrer em todas as
idades), neste contexto as pessoas
são mais susceptíveis a desenvolver
malária grave.
3. Zonas Livres de Malária: Locais onde
não há transmissão da malária. As
populações destas zonas não têm
imunidade, por isso são mais
susceptíveis a contrair a doença quando
viajam pelas áreas onde há malária.
Padrões de Endemicidade

Endemicidade da malária,
representa o nível de ocorrência e
distribuição da malária numa
determinada área. Os padrões de
endemicidade e a respectiva
intensidade de transmissão resume-se
na tabela seguinte:
Padrão de Intensidade de
endemicidade transmissão

Hipoendêmico Baixa
Mesoendêmico Variável
Hiperendêmico Alta e sazonal
Holoendêmico Alta e intensa
Em Moçambique, o padrão de
endemicidade é holoendêmico.
CICLO DE VIDA E TRANSMISSÃO
DO PLASMÓDIO
Ciclo de Vida do Plasmódio
O ciclo de vida do plasmódio apresenta
duas fases:
Fase sexuada (esporogonia) – ocorre
no mosquito;

Fase assexuada (esquizogonia) –


ocorre no ser humano, e possui duas
fases:
Esquizogonia exo-eritrocitária(nos
hepatócitos);
Esquizogonia eritrocitária(nos eritrócitos).
Fase Sexuada (esporogonia).
Após a hematofagia da fêmea
Anopheles numa pessoa infectada, pode
ingerir microgametócito, e
macrogametócito, que no estômago do
mosquito se fecundam e formam o
zigoto.
 O oocineto com capacidade de
locomoção é formado em 24horas após a
fecundação, e atravessa a parede do
estômago que transforma-se e oocisto.
O oocisto no seu interior desenvolve-
se os esporozoitos, que rompe
posterioramente e movem-se para as
glândulas salivares do mosquito. Esta
fase dura 9 a 10 dias.

Quando o mosquito se alimenta de


sangue humano ( hematofagia), injecta
os esporozóitos na corrente sanguínea
da pessoa. Começando assim a fase de
esquizogonia.
Fase Assexuada
(esquizogonia)
1. Fase exo-eritrocitária
Após a inoculação do esporozóito na
corrente sanguínea, move-se e penetra
nos hepatócitos e começa a multiplicar-
se formando os merozoítos;
Os merozoitos são formados entre
10.000 a 30.000 merozoitos dependendo
de espécies;
Contudo os hepatocitos inflamam e
sofre lise, cujo os merozoitos são
liberados para corrente sanguínea e
infectam os eritrocitos começando a fase
eritrocitaria. O processo dura 6 a 16
dias.

Porém por vezes, como acontece no P.


vivax e ovale, transforma-se em
hipnozóitos dormentes (latentes), sem
se multiplicar, por longos períodos,
podendo tardiamente activar-se e
originar os relapsos (recaída da doença).
2. Fase eritrocitária
Após os merozoitos penetrarem nos
eritrócitos, transformam se em
trofozóitos.

 os trofozoitos usam a hemoglobina


para seu crescimento e multiplicação
assexual para formar esquizontes;

O esquizonte maduro possui 8 a 32


merozóitos, e o eritrócito inflama,sofre
hemólise e ocorre a libertação de
merozóitos para infecção dos eritrocitos
Porém outros transforma-se em
gametócitos macho e fêmea, podendo
ser ingerido pelo mosquito durante a
hematofagia para começar o nova fase
de esporogonia.
 contudo, esta fase dura 48 horas no P.
falciparum, vivax, ovale e 72 horas no P.
malariae, a cada liberacao de
merozoito corresponde um pico de febre
denominando-se febre terçã, quartã,
respectivamente.
Vias de Transmissão da Malária
A principal via de transmissão da malária
é através da picada do mosquito fêmea
infectado por plasmódio (durante a
hematofagia).
Outras vias de transmissão menos
comuns são:
transfusão sanguínea;
transmissão vertical;
via placentária.
PATOGÉNESE E
FISIOPATOLOGIA DA MALÁRIA
A patogénese e fisiopatologia da
malária representam a base para a
percepção dos sinais e sintomas e
abordagem terapêutica da malária.

A relação entre a intensidade de


transmissão, presença de imunidade
parcial e severidade de apresentação
clínica. Resume-se na seguinte tabela:
Padrão de Intensidade de Imunidade Clínica
Endemicidade Transmissão
Hipoendêmico Baixa Não imune/fraca Formas
graves(incluindo
Malária cerebral)
Mesoendêmico Variável Não imune/fraca Formas graves
(incluindo Malária
cerebral)
Hiperendêmico Alta e sazonal Semi-imune Formas ligeiras a
assintomática.
Predomínio de anemia
e esplenomegalia

Holoendêmico Alta e intensa Semi-imune Formas ligeiras a


assintomática
Predomínio de anemia
e esplenomegalia
Fisiopatologia da Malária

A fisiopatologia da malária está


relacionada com a acção do parasita e
resposta do hospedeiro.
Acção do Parasita

Aparecimento de protuberâncias na
superfície do eritrócito;
As protuberâncias expõem uma proteína
aderente de alto peso molecular;
Essas proteínas aderentes medeiam a
fixação do eritrócito ao endotélio venular
e capilar – fenómeno chamado
citoaderência;
Essa aderência acaba por determinar o
bloqueio capilar e de vênulas,
resultando em isquémia e hipóxia dos
tecidos supridos por estes vasos;

Adicionalmente, os eritrócitos
infectados podem aderir a eritrócitos
não infectados, formando rosetas e a
eritrócitos não parasitados
(aglutinação);
Estes fenómenos de citoaderência,
formação de rosetas e aglutinação
determinam o sequestro de eritrócitos
(ex: no cérebro, rins, fígado, pulmões,
intestinos) interferindo no fluxo
microcirculatório (isquémia e hipóxia) e
no metabolismo.
Resposta do Hospedeiro
A resposta a esta infecção pelo
hospedeiro começa pela activação de
defesas inespecíficas e depois específicas:
O baço aumenta a sua função
imunológica e de depuração por filtração,
acelerando a remoção de eritrócitos
parasitados mas também de sadios;
Os eritrócitos parasitados que escapam
a acção esplénica sofrem hemólise
quando o esquizonte está maduro;
O material libertado induz a activação
de macrófagos e libertação de citocinas
pró-inflamatórias derivados das células
mononucleares que provocam febre e
exercem outros efeitos patológicos;
A febre com temperaturas ≥ 40ºC
provoca lesão do parasita maduro;
A defesa específica começa a entrar em
acção com a formação de anticorpos para
o controlo da infecção conferindo o
estado de semi-imune.
Formas Complicadas da Malária

Porquê o surgimento de anemia na


Malária:
Hemólise;
Aumento da depuração esplénica;
Diminuição do tempo de vida do
eritrócito – deformação dos eritrócitos
sadios;
Eritropoiese ineficaz – toxicidade da
medula óssea pela acção dos parasitas.
Porquê o surgimento da
trombocitopénia na Malária:
Maior sequestro esplénico;
Diminuição do tempo de vida das
plaquetas (destruição pelos macrófagos
ou mecanismo auto-imune formando-se
anticorpos anti-plaquetários).
Porquê o surgimento de cianose na
Malária:
Obstrução da microcirculação
periférica por citoaderência, rosetas e
aglutinação (isquémia e hipóxia);
Edema pulmonar não-cardiogênico
(mecanismo não claro).
Porquê o surgimento de icterícia na
Malária:
Hemólise;
Lesão do hepatócito;
Colestase (diminuição do fluxo biliar).
Porquê o surgimento de hipoglicémia
na Malária:
Falha da gliconeogênese (por lesão
hepática);
Aumento do consumo de glicose pelo
hospedeiro (devido a doença);
Redução do consumo de alimentos (por
vómitos, anorexia);
Consumo de glicose pelo parasita;
Fármaco quinina (efeito secundário).
Porquê o surgimento da insuficiência
renal na Malária:
Sequestro de eritrócitos com obstrução
da microcirculação renal;
Desidratação (por diarreia, vómitos,
febre e diminuição da reposição
líquida);
Hemólise com hemoglobinúria
(hemoglobina é tóxica para o rim).
Recaída e Recrudescência

Recaída da Malária: o termo recaído


refere-se ao reaparecimento da doença
após sucesso terapêutico clínico e
parasitológico.
Recrudescência: é a recorrência da
parasitémia após sua eliminação inicial
ou após uma marcada redução da
mesma. A recrudescência é diferente da
re-infecção.
Re-infecção: é a infecção com um novo
parasita. Estas ocorrem com maior
frequência com P. falciparum nas zonas
de intensa transmissão, como na África
Sub-Sahariana.
AULA: 09

Classificação da Malária

A Malária é classificada de acordo com


a forma de apresentação clínica:

Malária Não Complicada;

Malária complicada/severa.
Malária Não Complicada
É aquela que se apresenta sem sinais de
gravidade ou evidência de disfunção
orgânica vital (clínica ou laboratorial).

Quadro Clínico:
Geral uma síndrome febril, com sinais e
sintomas inespecíficos:
Febre (Ta axilar> 37.5º C);
Mialgias;
Cefaléia;
Anorexia;
Náuseas e vómitos e/ou diarreia;
Calafrios, sudorese;
Dor ou desconforto abdominal;
Astenia;
Tosse;
sinais de anemia( frequente nas
crianças);
Mal-estar geral.
Complicações
A principal é anemia, frequente nas
crianças.
Exames auxiliares e Diagnóstico
Exames auxiliares:
Esfregaço sanguíneo ou gota espessa:
(a presença de forma assexuada do
parasita).
Hemograma: ( leucocitose ou
anemia).
TDR positivo diagnostica a malária por
P. falciparum.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser feito em todo
paciente que se apresente com um
síndrome febril agudo e é confirmado
pela presença de parasitémia
assexuada no esfregaço ou gota
espessa, ou por um TDR positivo (P.
falciparum) desde que não tenha tido
malária nos 30 dias que antecederam
ao início da doença actual (lembre-se
que o TDR pode manter-se positivo
durante 15 a 30 dias após a doença).
Diagnóstico diferencial
Gripe;
Sarampo;
Pneumonia;
Meningite;
Otite média;
Amigdalite;
 Infecção urinária;
Gastroenterite ou intoxicação
alimentar.
Tratamento
O tratamento da malária segundo as
normas do SNS, é feito com base em
anti-maláricos da 1ª e 2ª linhas de
tratamento. No entanto malária não
complicada é feito com anti-maláricos de
1ª linha que são:
Fármaco de eleição: Arteméter-
Lumefantrina (AL ou coartem);
Alternativo: Artesunato e
Amodiaquina.
De eleição: AL

Apresentação: cpr, 20mg de


Arteméter e 120mg de Lumefantrina;
Via Oral;
Dose: 1.7mg/kg de arteméter e
12mg/kg de lumefantrina ( 4
comprimidos);
Dosagem: 12/12 horas;
Posologia:
NB: 3 dias devem
os comprimidos ( total de
ser6tomados
doses).
com água potável.
Contra-indicações:
Primeiro trimestre de gravidez;
História de alergia aos derivados da
artemisina ou à lumefantrina;
Malária grave;
Crianças com peso inferior a 5kg.
Alternativo: AS+AQ

Apresentação: cpr de 100mg de


Artesunato e 270mg de amodiaquina-
base;
Via Oral;
Dose: 4mg/kg de artesunato e
10mg/kg de amodiaquina ( 2
comprimidos);
Dosagem: 24/24 horas;
Posologia: 3 dias ( total de 3 doses);
Atenção às contra-indicações do
Artesunato:
Primeiro trimestre de gravidez;
História de alergia aos derivados da
artemisina ou à amodiaquina;
Crianças com peso inferior a 5 kg;
Alterações hepáticas;
Profilaxia.
Tratamento de Suporte na malária
não complicada

Febre (≥ a 38.5°C):
Paracetamol oral 500-1000mg de 6/6
horas;
Acetil salicilato de lisina (aspergic)
½ ou 1 ampola de 900mg IM ou EV.

Anemia ligeira:
Sal ferroso + ácido fólico 1 cpr/dia;
Anemia grave e descompensada:
Transfusão de concentrado de
eritrócitos 15ml/kg, antes da
transfusão administrar 1mg/kg de
furosemida EV.
Malária Complicada/Severa
É uma emergência médica,
caracterizada pelos sinais de
complicação ou evidências de disfunção
orgânica vital (clínica ou laboratorial)
causada por P. falciparum, cujo não
deve-se esperar a confirmação
laboratorial para iniciar o tratamento.
Quadro clínico
Febre elevada (geralmente ≥ 39.5º
C);
Alteração do comportamento e
consciência: confusão, letargia,
agitação, alucinações ou coma;
Convulsões repetidas (mais de 2
episódios em 24 h), sinais focais
(paralisia facial ou hemiparesia);
Prostração: intensa fraqueza em que
o paciente não consegue andar, sentar
sem apoio ou alimentar-se;
Palidez palmar e das mucosas
(anemia);
Cianose, icterícia, extremidades
frias;
Taquipnéia, polipnéia ou dispnéia
(respiração profunda ou dificuldade
respiratória);
Hipotensão arterial (TA sistólica ˂
70mmHg nos adultos), pulso fraco;
Oligúria, urina escura;
Hemorragia expontânea.
Complicação
Anemia: Hemoglobina < 5g/dl;
Malária Cerebral;
Convulsões;
Hipoglicémia;
 Edema pulmonar;
Insuficiência renal;
 Choque: TAS < 90 mmhg em
adultos.
Complicações Crónicas da Malária

Esplenomegália malárica hiper-


reactiva (esplenomegália tropical);

Nefropatia malárica quartã: causada


geralmente por P. malariae.
Exames Auxiliares e
Diagnóstico

Exames auxiliares
Hemograma:
Hemoglobina < 5g/dl, htc < 15% nas
anemias severas;
Trombocitopenia (< 150.000/µl é
comum).
Hematozoário: positivo;
TDR: positivo;
Bioquímica alterações:
 Glicemia < 2.2 mmol/l (< 40 mg/dl),
elevação da ureia e creatinina
compatível com insuficiência renal,
hiponatrémia, elevação das
bilirrubinas e elevação das
transaminases compatível com lesão
hepática (hepatite malárica);

Urina II: hemoglobinúria.


Diagnóstico
O diagnóstico da malária severa é
confirmado na presença de um ou mais
dos sinais e sintomas acima
mencionados com a confirmação
laboratorial da presença de formas
assexuadas de P. falciparum ou TDR
positivo.
Diagnóstico diferencial
Meningite;
Pneumonia;
Febre tifóide;
Tripanossomíase;
Sépsis;
Epilepsia;
Infecções oportunistas do SNC
(toxoplasmose, criptococcose).
Conduta.
Os casos de malária severa e/ou
complicada devem ser tratados de
acordo com a 2ª linha de tratamento,
o artesunato.
2ª linha de tratamento de eleição
( Artesunato):

Apresentação: ampolas contendo 60mg


de ácido artesúnico anídrico (pó) e uma
ampola separada contendo solução de
bicarbonato de sódio;
Via de administração: EV ou IM (na
porção anterior da coxa);
Dose: 2.4mg/kg;
Preparação: misturar o ácido artesúnico
com a solução de bicarbonato de sódio,
depois diluir em 5ml de dextrose a 5%;
Dosagem: 12/12 horas no 1° dia (de
24/24 horas nos dias subsequentes se o
paciente ainda não tolera via oral);
Posologia: 24 horas no mínimo, logo que
o paciente tolere a medicação oral,
iniciar a 1ª linha ( artemeter +
lumefantrina ou artesunato +
amodiaquina) ou passar para o
tratamento oral com comprimido de
quinino 8 10mg/kg de 8/8 horas) para
2ª linha de tratamento alternativo
(Quinino):

Apresentação: comprimidos de 300mg de


sulfato de quinino ou ampolas de
300mg/ml ou 600mg/2ml de diclorato de
quinino;
Via de administração: EV (por infusão)
ou oral (logo que o paciente tolere a
medicação oral)
Dose de ataque (a ser usada
excepcionalmente) : 20mg/kg diluído em
10ml/kg de dextrose a 5% por via
Tratamento de Suporte das
complicações ou manifestações
associadas:

Febre (≥ a 38.5°C): paracetamol oral


500-1000mg de 6/6 horas; Acetil
salicilato de lisina (aspergic) ½ ou 1
ampola de 900mg IM ou EV.
Anemia grave: se descompensada
(taquicardia, taquipneia), transfusão de
concentrado de eritrócitos 15ml/kg,
antes da transfusão administrar 1mg/kg
de furosemida EV.
Hipoglicémia: 0.3 a 0.5 gr de
glicose/kg de peso corporal lentamente
durante 10 minutos. Em doentes graves
20 ml de dextrose a 30% via EV lenta. Na
falta de dextrose administrar água
açucarada/sumos por via oral ou sonda
nasogástrica.
Convulsões: diazepam 10 a 20mg via
EV lenta e repetir se necessário 30-60
minutos depois
Desidratação grave:30ml/kg de soro
fisiológico EV em 30 minutos. Reavaliar e
tratar de acordo com o protocolo.
Tratamento pré-referência
Artesunato EV ou IM (1ª dose da 2ª linha
de tratamento de eleição) ou
Artesunato rectal (supositório):
Apresentação: supositório de 400mg
Via de administração: rectal;
Dose: 10mg/kg de peso corporal (40-59
kg 1 supositório), 60-79 kg 2
supositórios,> 80 kg 3 supositórios);
Se o Artesunato não estiver disponível
ou contra-indicado, o quinino parenteral
é a alternativa;
Quinino EV infusão ou IM – para injecção
intramuscular de quinino é preciso diluir
o medicamento em dextrose a 5% (ou
NaCL 0.9%). Dividir em duas doses e
administrar nas partes anteriores de
cada coxa.
Em caso de impossibilidade de
referência continuar o tratamento via
rectal, IM ou EV até o paciente tolerar a
via oral.
Transfira ou refira imediatamente o
paciente para um nível superior (médico)
Critérios de
Referência/Transferência
Toda malária complicada/severa
Falência terapêutica a 1ª ou 2ª linha
Falência terapêutica a 3ª linha
Seguimento Clínico/laboratorial da
Malária
O objectivo de seguimento é de
certificar a eficácia dos tratamentos
anti-maláricos. Sendo:

Todos os pacientes diagnosticados e


tratados para malária deverão ser
avaliados uma semana após completar o
tratamento( examinar e pedir um
hematozoário de controlo;
Nos pacientes com diagnóstico de
malária grave e internamento,
recomenda-se um controlo laboratorial
estreito (hematozoários seriados) para
avaliar a densidade parasitária
(quantidade de parasitas presentes
numa certa quantidade de amostra de
sangue) e a resolução da mesma.
MALÁRIA NA GRAVIDEZ
É um problema obstétrico, clínico, social
que requer uma abordagem multidisciplinar
e multidimensional. Sendo igualmente uma
emergência que põe em risco dois seres se
encontram, a mulher e o feto. Malária
durante gravidez é mais frequente e mais
grave.
Relação entre Malária e Gravidez
A gravidez diminui a imunidade do
organismo;
A malária é mais grave com a
diminuição da imunidade, logo, há um
risco maior de formas graves de malária
na gravidez, em particular nas
primigestas;
A placenta funciona como um dos
principais órgãos de sequestro
eritrocitário, com consequências
negativas para a mãe (anemia) e feto
(insuficiência útero-placentária).
Consequências da Malária na
Gravidez

Efeitos na gestante
Anemia materna;
Malária placentária;
Esplenomegália;
Maior risco de hipoglicémia;
Morte materna.
Efeitos no feto:
Atraso de desenvolvimento intra-
uterino;
Aborto espontâneo;
Nado-morto.

No recém-nascido:
Baixo peso à nascença;
Prematuridade;
Malária congénita.
Complicacoes de Malaria na Gravidez
Sintomas/Sinais Áreas de Malária Estável Áreas de Malária Instável

Hipoglicémia - ++

Anemia grave +++ +++

Edema pulmonar - ++

Insuficiência renal grave - ++

Hiperpirexia + +++

Malária placentária +++ +++

Baixo peso à nascença +++ +++

Abortos - +++

Malária congénita - +++


Para reduzir as consequências nefastas da
malária na gravidez, o MISAU, adoptou
um pacote de intervenções integrado nos
cuidados pré-natais (consultas pré-natais)
designado pacote nutricional básico
(PNB):
TIP – Tratamento Intermitente
Presuntivo da malária na gravidez;
Suplementação com sulfato ferroso e
ácido fólico;
distribuição gratuita de redes
mosquiteiras tratadas com insecticida de
longa duração.
PREVENÇÃO DA MALÁRIA

As medidas de prevenção devem ser


levadas a cabo no sentido de reduzir o
surgimento de casos novos, casos graves
e de redução da mortalidade são:
Controlo do Vector (mosquito):
Eliminar os vectores adultos;
Proteger os seres humanos das picadas dos
mosquitos;
Reduzir ou prevenir a formação de criadores
de mosquitos (seu habitat).
Eliminar os mosquitos adultos
Uso de redes mosquiteiras tratadas com
insecticidas;
Pulverização (fumigação) intra-domiciliária
(PIDOM) e extra-domiciliária (PEDOM).

Proteger os Seres Humanos da


Picada dos Mosquitos
Uso de redes mosquiteiras;
Produtos para uso doméstico: spray
(Baygon,Doom), repelentes, serpentinas.
Reduzir ou Prevenir a formação dos
Criadores de Mosquito (seu habitat).
Manipulação ambiental para reduzir os
criadores de mosquito;
Destruição das larvas do mosquito através de
produtos biológicos ou químicos.

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