Doencas Infecciosas
Doencas Infecciosas
Doencas Infecciosas
01
1.CONCEITOS GERAIS
Transferência passiva de
anticorpos da mãe para o bebé:
INTERACÇÃO PATÓGENO -
HOSPEDEIRO
A interacção patógeno-hospedeiro
constitui uma parte importante para o
desenvolvimento de doença infecciosa.
Por isso e fundamental ter em conta os
seguintes conceitos:
Patógeno: é um agente biológico
(vírus, bactérias, parasitas ou fungos)
capaz de causar doença. O termo é
sinónimo de agente infeccioso.
Transmissão: é a difusão ou passagem
do agente infeccioso para uma pessoa
ou ambiente.
Hospedeiro: é um organismo (pessoa ou
animal) que abriga outro (agente
infeccioso) no seu interior, ou o carrega
sobre si, proporcionando um local
adequado para que este cresça e se
multiplique em condições naturais.
Hospedeiro intermediário: é o
hospedeiro que alberga o estágio
assexuado ou larvário.
Hospedeiro definitivo: é o hospedeiro
que alberga o estágio sexuado ou verme
adulto.
Patogenicidade do agente: é a
capacidade do agente infeccioso de
produzir doença clínica (sinais e
sintomas).
Transmissão indirecta
Transmissão directa: é a transferência
imediata de um agente infeccioso de um
hospedeiro ou reservatório para uma
porta de entrada através da qual a
infecção pode ocorrer.
Transmissão indirecta: é a
transferência de um agente infeccioso por
meio de um vector, veículo ou por via
aérea.
Tipos de infecção
Sintomas Genito-urinário:
Disúria;
Polaquiúria;
Hematúria;
Bolsas escrotais (aumento de
tamanho).
Aparelho músculo-esquelético
Mialgia/ artralgia;
Tumefações;
Aumento do volume dos membros com
deformidade e edema duro.
Sistema nervoso
Distúrbios da consciência;
Insónia;
Sonolência;
Irritabilidade;
Convulsões.
História patológica pregressa.
História vacinal;
Co-morbidade actual e infecções
prévias;
Histórias de internamentos
anteriores;
História de tratamentos
efectuados;
História de alergia.
História pessoal e
social/Familiar
Tipo de habitação;
Fonte de água e saneamento do
meio;
Hábitos alimentares;
Disponibilidade de redes
mosquiteiras;
Parceiros sexuais e protecção
sexual;
Viagens recentes.
EXAME FÍSICO
1. Exame físico geral
Os principais aspectos a observar nas
doenças infecciosas são:
Sinais vitais: (Temperatura, pulso e
FC, FR e TA);
Febre: ( Febre contínua, remitente
intermitente,héctica e recorrente ou
ondulante);
Peso;
Avaliação das mucosas;
Exame do abdómen:
É importante verificar:
Aumento das vísceras (fígado,
baço), ou outras massas visíveis ou
palpável;
Presença de líquido peritoneal e
reacções de defesa.
Exame dos genitais:
Alterações das genitais evidenciam
as ITS.
Exame neurológico:
As alterações do estado mental;
A presença de sinais focais
neurológicos;
pesquisar o sinal de Brudzinski,
Kerning e rigidez da nuca;
Sonolência com inversão do ritmo do
sono.
Aula: 04
EXAMES AUXILIARES DE
DIAGNÓSTICO.
1. DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO.
consiste num conjunto de
procedimentos e técnicas
complementares empregues para
identificar e confirmar a etiologia
(agente infeccioso) das doenças
infecciosas através da colheita e
processamento de várias amostras
biológicas do paciente.
Os principais tipos de amostras
biológicas usadas são:
Sangue;
Expectoração;
Urina;
Fezes;
Líquidos das cavidades corporais:
articular, peritoneal, pleural e céfalo-
raquíde;
Colecções purulentas.
À Nível do TMG, os principais exames
microbiológicos usados:
Gota espessa e esfregaço sanguíneo;
Exame directo da expectoração;
Exame directo da urina;
Exame directo das fezes;
Exame directo de secreções
purulentas;
Exame directo dos líquidos das
cavidades corporais;
Exame directo do líquido
cefalorraquidiano.
Os princípios para o uso e
interpretação dos exames:
1. Interpretação dos exames
microbiológicos:
Presença de plasmódio de
formas assexuadas confirma o
diagnóstico da malária; enquanto
que de formas sexuadas não
confirma a doença, mas há a
possibilidade de transmissão da
doença.
Símbolo Significado Parast/l % G.V
(gota espessa) infectados
(gota
estendida)
Nse 0 (zero) parasitas em 100 <4 <0.0001
campos de gota espessa
Indicações:
Diagnóstico e seguimento de
infecções das vias respiratórias
(principalmente inferiores).
Interpretação
Coloração de Gram: permite o
diagnóstico de infecções das vias
respiratórias causadas por bactérias gram
positivas ou gram negativas numa amostra
de qualidade e confiável.
Interpretação:
Presença de células de leveduras
( Cândida) confirma o diagnóstico de
infecção fúngica;
Presença de ovos de Schistossoma
haematobium confirma o diagnóstico de
schistossomíase (bilharziose);
Presença de Tricomonas vaginalis
confirma o diagnóstico de tricomoníase;
Presença de bactérias: Neisseria
gonorrhoeae e Escherichia coli na urina
colhida de forma estéril em um individuo
sintomático pode indicar infecção urinária
ou uretrite sexualmente transmissível.
Presença do bacilo de Koch: pode
indicar tuberculose genitourinária;
Exame directo de fezes
Indicações:
Diagnóstico de infecções parasitárias
gastrointestinais.
Interpretação:
A presença de protozoários (trofozóitos
e quistos), helmintos ( ovos e larvas)
estabelecem o diagnóstico da infecção.
Exame directo das secreções
purulentas
Indicações:
Diagnóstico dos agentes infecciosos
responsáveis pela origem da secrecção
ou colecção purulenta (bactérias,
fungos, parasitas).
Interpretação:
A presença dos agentes infecciosos
como bactérias (ex: N.gonorrhoeae,
S.aureus), fungos (ex: Cândida albicans),
protozoários (Trichomonas vaginalis)
confirma o diagnóstico. Porém a
interpretação deve ser com cautela,
pois podem ser observados
microorganismos colonizadores e ser
erradamente interpretados.
Exame directo dos líquidos das
cavidades corporais (líquido pleural,
peritoneal e articular)
Indicações:
Diagnóstico dos agentes infecciosos
que podem causar infecções nas
cavidades corporais como empiema,
tuberculose pleural, peritonite e
derrames articulares infecciosos.
Nestes líquidos efectuam-se o exame de
gram e a coloração por Ziehl-Neelsen.
Interpretação:
A presença dos agentes infecciosos
(bactérias gram positivas ou gram
negativas, bacilo de koch, fungos)
confirma o diagnóstico etiológico das
infecções.
Exame directo do líquido céfalo-
raquídeo (LCR)
Exame de gram do LCR
Indicações:
Diagnóstico de infecções bacterianas
do SNC como meningite, encefalite e
meningoencefalite.
Interpretação:
A presença de bactérias gram
positivas ou gram negativas confirma a
infecção, pois o LCR é um líquido estéril
(normalmente sem microorganismos).
Indicações:
Diagnóstico de meningite criptocócica
Interpretação:
A presença de criptococos é
indicativa de criptococose, e seu
achado é fundamental para
confirmação diagnóstica, embora não
permita garantir que as leveduras
estejam viáveis.
EXAMES DE CULTURA
Os exames de cultura são usados para a
confirmação diagnóstica quando não é
possível determinar o agente infeccioso
pelo exame directo (com coloração ou a
fresco) e, é associa um exame de
sensibilidade antibiótica (antibiograma),
de modo a determinar a sensibilidade do
agente infeccioso a e antimicrobianos.
Ao nivel de TMG os exame de cultura
mais frequentes e usados são: cultura
do bacilo de Koch, do vibrião colérico, a
coprocultura e a urocultura.
Indicações:
segundo as normas nacionais está
indicado nos seguintes casos:
Casos com baciloscopia negativa em
pelo menos 2 amostras mas com
suspeita clínica/radiológica de
tuberculose pulmonar activa;
Casos que não convertem a
baciloscopia de positiva para negativa
ao 2º mês;
Casos com falência ao tratamento,
crónicos e sequelas de tuberculose
pulmonar (para garantir que não é uma
recaída);
Casos de pacientes com tuberculose
que iniciam o regime de retratamento;
Diagnóstico de tuberculose resistente
( MDR ou extremamente resistente-
XDR);
Contactos de tuberculose resistente;
Casos suspeitos de tuberculose
extrapulmonar (cultura de todos os
líquidos corporais ou do material de
biópsia);
Estudos de vigilância da tuberculose
resistente (MDR e XDR).
Interpretação:
A cultura fornece o diagnóstico certo de
um caso de tuberculose, sendo necessário
apenas a presença de 10 bacilos por
mililitro de expectoração.
Adicionalmente a cultura, o teste de
sensibilidade antimicrobiana,
determinará se o bacilo é resistente ou
não e a que antimicrobianos é sensível ou
resistente.
Nota: o tempo de espera é elevado, pois
a cultura do bacilo de koch só está
disponível nos hospitais centrais e leva
pelo menos 8 semanas (meio sólido) ou 2
semanas (meio líquido).
Cultura do vibrião colérico
Indicações:
Geralmente pede-se quando se tem
suspeita da eminência de uma
epidemia:
Diagnóstico da infecção por cólera;
Determinação do tipo de vibrião que
está a causar a infecção;
Vigilância epidemiológica do tipo de
vibrião circulante.
Interpretação:
Indicações:
Diagnóstico do agente infeccioso nas
gastroenterites agudas e crónicas;
Determinação do padrão de
sensibilidade aos antimicrobianos.
Interpretação:
A presença de bactérias (shigella,
salmonela, outras) é sugestiva de
infecção.
Urocultura
É um exame bacteriológico da urina
muito usado para o diagnóstico de
infecções urinárias.
Indicações:
Diagnósticos de infecções urinárias das
vias baixas e altas
Determinação do tipo de agente
infeccioso presente e do seu padrão de
sensibilidade aos antimicrobianos.
Interpretação:
A presença de bactérias na urina colhida
pelo meato uretral externo é normal.
Para a confirmação da presença de
infecção urinária é necessário que o
cultivo mostre pelo menos 100.000 (105 )
unidades formadoras de colónias (UFC)
por mililitro após 48-72h de incubação
da urina.
Nota: uma contagem inferior a 105
colónias/ml não exclui infecção,
especialmente em pacientes
sintomáticos.
Aula 06
Exames auxiliares de
diagnóstico
Positivo A B
Negativo C D
Interpretação
Indicações
Estão indicados para o rastreio e
diagnóstico da Sífilis.
Interpretação
O VDRL ou RPR são testes rápidos de
sífilis frequentemente que se usa em
Moçambique, e devem sempre que
possível ser complementados com a
determinação do título dos anticorpos.
O teste RPR pode permanecer positivo
por meses a anos em indivíduos já
tratados. Nestes casos é necessário
conhecer a história do doente e fazer a
titulação (medição da concentração) do
reagente.
Títulos de anticorpos iguais ou
superiores a 1:16 são considerados
positivos. Títulos inferiores a 1:16 são
considerados falsos positivos. É
Igualmente importante monitorar a
titulação e avaliar a tendência da
mesma.
Teste serológico para HIV
Existem vários testes serológicos para o
HIV, porém, os mais usados em
Moçambique estão sob a forma de
testes rápidos (Determine e Unigold)
que detectam anticorpos contra o HIV 1
e 2 (anticorpos Anti-HIV 1 e 2).
Indicações
Estão indicados em todos os casos de
suspeita da infecção pelo HIV (ex:
emagrecimento inexplicado, doenças
oportunistas, antecedentes sexuais e
comportamentais de risco) e em casos
não suspeitos, no âmbito do despiste e
seguimento precoce da doença.
Interpretação
O resultado positivo (determine e
unigold positivos) confirma a infecção
pelo HIV.
O resultado negativo (Determine
negativo) exclui infecção pelo HIV
(excluindo causas de um resultado falso
negativo como por exemplo a infecção no
período de janela).
O resultado indeterminado (Determine
positivo com Unigold negativo) não
confirma infecção pelo HIV, e o indivíduo
deverá repetir o teste 3 a 4 semanas
Teste Serológico para Hepatite B
Indicações
Rastreio da hepatite B em doadores
de sangue (uso obrigatório no banco de
sangue);
Diagnóstico da hepatite B.
Interpretação
Um resultado positivo significa que
o paciente ou tem infecção aguda ou
teve a infecção (hepatite crónica ou
portador) não significando doença
activa. Portanto, deve se interpretar
este resultado em conjunto com a
clínica do paciente e outros exames
laboratoriais (bioquímica).
Outros testes serológicos
Teste serológico para hepatite c
Indicações
Rastreio de dadores de sangue para
hepatite C, casos suspeitos de hepatite
C.
Interpretação
Um resultado positivo significa que tem
hepatite C activa ou hepatite crónica,
ou que teve e já curou. Portanto, deve
ser interpretado em conjunto com a
clínica do paciente e outros exames
Teste serológico para febre
tifóide
O teste serológico para febre tifóide
chama-se reacção de Widal.
Indicações
Casos suspeitos de Febre Tifóide;
Interpretação
A reacção de Widal procura
demonstrar a presença de anticorpos
no soro, induzidos por determinados
antígenos da salmonela (antígenos
“O”, “H” e “Vi”).
O valor de referência está
dependente se a área é considerada
endémica ou não. Nas áreas não
endémicas (tal é o caso de
Moçambique), valores de titulação
iguais ou acima de 1:80 são
considerados positivos. Nas áreas
endémicas, valores de titulação igual
ou acima de 1:160 são considerados
positivos.
Atenção especial deve ser dada as
áreas onde a doença ocorre, pois
podem ocorrer falsos positivos. Para se
considerar resultado positivo, devem
ser colhidas 2 ou mais amostras
sucessivas com resultado positivo em
todas as amostras.
Portanto, o valor anormal da reacção
de Widal é um valor diagnóstico
retrospectivo, principalmente nas áreas
endémicas e deve ser sempre associado
a história clínica do paciente.
OUTROS TESTES ÚTEIS PARA O
DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS
INFECCIOSAS
Teste rápido de malária
O teste rápido de malária (TDR), foi
desenvolvido tendo em conta a
necessidade de um diagnóstico precoce
da malária e em regiões com escassos
recursos laboratoriais. O TDR usado em
Moçambique é apenas para a detecção
do Plasmódium falciparum
Indicações
Diagnóstico da malária por
Plasmódium falciparum.
Diagnóstico rápido da malária por
Plasmódium falciparum nos casos graves
de síndrome febril e grupos alvo de
risco (mulheres grávidas e crianças
menores de 5 anos).
Interpretação
O resultado positivo confirma o
diagnóstico da malário, excepto nos casos
em que o paciente teve a doença nos
últimos 15 a 30 dias.
Não é útil no seguimento da malária.
Teste de MANTOUX
Indicações
O teste de Mantoux é um teste usado
para auxiliar o diagnóstico da
tuberculose através da reacção de
hipersensibilidade cutânea a tuberculina
PPD (Proteína Purificada Derivada).
Interpretação
Um valor positivo deve ser
interpretado com cautela, pois significa
que teve ou tem exposição ao Bacilo de
Koch, e não necessariamente doença.
Igualmente um valor negativo, deve
ser interpretado com cautela em
pacientes HIV positivos, pois devido a
diminuição de imunidade, pode não
haver reacção de endurecimento sendo
considerado negativo (fenómeno
chamado anergia).
Anamnese
Os aspectos a ter em conta paciente
com febre são:
Identificação
Dados como: idade, sexo e profissão.
EPIDEMIOLOGIA DA MALÁRIA
Malária
É uma doença infecciosa parasitária
aguda causada por protozoários do
género Plasmodium, transmitida pela
picada do mosquito fêmea Anopheles.
Etiologia
A malaria é causada por um
protozoario unicelular que pertence
do género Plasmodium.
Exitem 120 espécies de plasmodium
dos quais 5 espécies infectam o ser
humano que são:
Plasmodium falciparum;
Plasmodium malariae;
Plasmodium vivax;
Plasmodium ovale.
A 5ª espécie denomina-se Plasmodium
knowlesi, descoberta recentemente,
está presente no sudeste de Ásia e
pode causar doença grave semelhante
ao P. falciparum.
Cerca de 90% dos casos de malária em
Moçambique é causada por
P.falciparum, 10% por O Plasmodium
malariae e ovale e devido ausencia de
factor Duffy, na maioria dos africanos,
que confere protecção contra a sua
transmissão, acredita-se que o
Plasmodium vivax não exitem em
mocambique.
Vector da Malária
O vector da malária é o mosquito
fêmea do género Anopheles. Em
Moçambique, as espécies principais
são:
Anopheles gambiae e
Anopheles funestus.
Epidemiologia da Malária no
Mundo e em África
Epidemiologicamente a Malária é a
doença infecciosa mais difundida no
mundo, localizada em áreas tropicais e
subtropicais.
A população mais vulneráveis são as
mulheres grávidas e crianças menores de
5 anos. Sendo que metade da população
mundial vive em áreas de risco de
contrair a malária. A cerca de 90% do
total de casos reportados no mundo
Epidemiologia da Malária em
Moçambique
Em Moçambique malária é uma doença
endémica e muitas vezes o motivo de
procura das unidades
sanitárias,representando 40% de todas as
consultas externas, 60% de doentes
internados na enfermaria de pediatria,
aproximadamente 34% das mulheres
grávidas são infectadas. Sendo que a febre
representava 37.8% dos casos de malária
2007,estudos feito por Samuel Mabunda et
Estudos feito de Prevalência (%) em
Moçambique de infecção por P. falciparum em
crianças menores de 5 anos de idade por
província, 2007.
Fonte:
http://www.malariajournal.com/content/8/1/74
Factores que Influenciam na
Distribuição da Malária
Devido a variacão da intensidade de
transmissão da malaria de ano para
ano ou região para região, pode ser
influinciada pelos seguintes factores:
Factores ambientais;
Factores do hospedeiro;
Factores relacionados com o parasita
e vector.
Factores Ambientais
Pluviosidade
Altitude
Temperatura
Humidade relativa do ar
Factores do Hospedeiro
A densidade do vector;
Longevidade do vector;
Hábito de alimentação.
Classificação das Áreas de
Malária Segundo o Nível de
Transmissão
1.Áreas de Transmissão Estável
(malária estável: A transmissão da
infecção é permanente e os
indivíduos que vivem nestas áreas
podem desenvolver a doença mais do
que uma vez por ano.
2. Áreas de Transmissão Instável
(Malária instável): Ocorre nas áreas
com transmissão baixa e intermitente
(sendo que a imunidade protectora
não é adquirida e a doença
sintomática pode ocorrer em todas as
idades), neste contexto as pessoas
são mais susceptíveis a desenvolver
malária grave.
3. Zonas Livres de Malária: Locais onde
não há transmissão da malária. As
populações destas zonas não têm
imunidade, por isso são mais
susceptíveis a contrair a doença quando
viajam pelas áreas onde há malária.
Padrões de Endemicidade
Endemicidade da malária,
representa o nível de ocorrência e
distribuição da malária numa
determinada área. Os padrões de
endemicidade e a respectiva
intensidade de transmissão resume-se
na tabela seguinte:
Padrão de Intensidade de
endemicidade transmissão
Hipoendêmico Baixa
Mesoendêmico Variável
Hiperendêmico Alta e sazonal
Holoendêmico Alta e intensa
Em Moçambique, o padrão de
endemicidade é holoendêmico.
CICLO DE VIDA E TRANSMISSÃO
DO PLASMÓDIO
Ciclo de Vida do Plasmódio
O ciclo de vida do plasmódio apresenta
duas fases:
Fase sexuada (esporogonia) – ocorre
no mosquito;
Aparecimento de protuberâncias na
superfície do eritrócito;
As protuberâncias expõem uma proteína
aderente de alto peso molecular;
Essas proteínas aderentes medeiam a
fixação do eritrócito ao endotélio venular
e capilar – fenómeno chamado
citoaderência;
Essa aderência acaba por determinar o
bloqueio capilar e de vênulas,
resultando em isquémia e hipóxia dos
tecidos supridos por estes vasos;
Adicionalmente, os eritrócitos
infectados podem aderir a eritrócitos
não infectados, formando rosetas e a
eritrócitos não parasitados
(aglutinação);
Estes fenómenos de citoaderência,
formação de rosetas e aglutinação
determinam o sequestro de eritrócitos
(ex: no cérebro, rins, fígado, pulmões,
intestinos) interferindo no fluxo
microcirculatório (isquémia e hipóxia) e
no metabolismo.
Resposta do Hospedeiro
A resposta a esta infecção pelo
hospedeiro começa pela activação de
defesas inespecíficas e depois específicas:
O baço aumenta a sua função
imunológica e de depuração por filtração,
acelerando a remoção de eritrócitos
parasitados mas também de sadios;
Os eritrócitos parasitados que escapam
a acção esplénica sofrem hemólise
quando o esquizonte está maduro;
O material libertado induz a activação
de macrófagos e libertação de citocinas
pró-inflamatórias derivados das células
mononucleares que provocam febre e
exercem outros efeitos patológicos;
A febre com temperaturas ≥ 40ºC
provoca lesão do parasita maduro;
A defesa específica começa a entrar em
acção com a formação de anticorpos para
o controlo da infecção conferindo o
estado de semi-imune.
Formas Complicadas da Malária
Classificação da Malária
Malária complicada/severa.
Malária Não Complicada
É aquela que se apresenta sem sinais de
gravidade ou evidência de disfunção
orgânica vital (clínica ou laboratorial).
Quadro Clínico:
Geral uma síndrome febril, com sinais e
sintomas inespecíficos:
Febre (Ta axilar> 37.5º C);
Mialgias;
Cefaléia;
Anorexia;
Náuseas e vómitos e/ou diarreia;
Calafrios, sudorese;
Dor ou desconforto abdominal;
Astenia;
Tosse;
sinais de anemia( frequente nas
crianças);
Mal-estar geral.
Complicações
A principal é anemia, frequente nas
crianças.
Exames auxiliares e Diagnóstico
Exames auxiliares:
Esfregaço sanguíneo ou gota espessa:
(a presença de forma assexuada do
parasita).
Hemograma: ( leucocitose ou
anemia).
TDR positivo diagnostica a malária por
P. falciparum.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser feito em todo
paciente que se apresente com um
síndrome febril agudo e é confirmado
pela presença de parasitémia
assexuada no esfregaço ou gota
espessa, ou por um TDR positivo (P.
falciparum) desde que não tenha tido
malária nos 30 dias que antecederam
ao início da doença actual (lembre-se
que o TDR pode manter-se positivo
durante 15 a 30 dias após a doença).
Diagnóstico diferencial
Gripe;
Sarampo;
Pneumonia;
Meningite;
Otite média;
Amigdalite;
Infecção urinária;
Gastroenterite ou intoxicação
alimentar.
Tratamento
O tratamento da malária segundo as
normas do SNS, é feito com base em
anti-maláricos da 1ª e 2ª linhas de
tratamento. No entanto malária não
complicada é feito com anti-maláricos de
1ª linha que são:
Fármaco de eleição: Arteméter-
Lumefantrina (AL ou coartem);
Alternativo: Artesunato e
Amodiaquina.
De eleição: AL
Febre (≥ a 38.5°C):
Paracetamol oral 500-1000mg de 6/6
horas;
Acetil salicilato de lisina (aspergic)
½ ou 1 ampola de 900mg IM ou EV.
Anemia ligeira:
Sal ferroso + ácido fólico 1 cpr/dia;
Anemia grave e descompensada:
Transfusão de concentrado de
eritrócitos 15ml/kg, antes da
transfusão administrar 1mg/kg de
furosemida EV.
Malária Complicada/Severa
É uma emergência médica,
caracterizada pelos sinais de
complicação ou evidências de disfunção
orgânica vital (clínica ou laboratorial)
causada por P. falciparum, cujo não
deve-se esperar a confirmação
laboratorial para iniciar o tratamento.
Quadro clínico
Febre elevada (geralmente ≥ 39.5º
C);
Alteração do comportamento e
consciência: confusão, letargia,
agitação, alucinações ou coma;
Convulsões repetidas (mais de 2
episódios em 24 h), sinais focais
(paralisia facial ou hemiparesia);
Prostração: intensa fraqueza em que
o paciente não consegue andar, sentar
sem apoio ou alimentar-se;
Palidez palmar e das mucosas
(anemia);
Cianose, icterícia, extremidades
frias;
Taquipnéia, polipnéia ou dispnéia
(respiração profunda ou dificuldade
respiratória);
Hipotensão arterial (TA sistólica ˂
70mmHg nos adultos), pulso fraco;
Oligúria, urina escura;
Hemorragia expontânea.
Complicação
Anemia: Hemoglobina < 5g/dl;
Malária Cerebral;
Convulsões;
Hipoglicémia;
Edema pulmonar;
Insuficiência renal;
Choque: TAS < 90 mmhg em
adultos.
Complicações Crónicas da Malária
Exames auxiliares
Hemograma:
Hemoglobina < 5g/dl, htc < 15% nas
anemias severas;
Trombocitopenia (< 150.000/µl é
comum).
Hematozoário: positivo;
TDR: positivo;
Bioquímica alterações:
Glicemia < 2.2 mmol/l (< 40 mg/dl),
elevação da ureia e creatinina
compatível com insuficiência renal,
hiponatrémia, elevação das
bilirrubinas e elevação das
transaminases compatível com lesão
hepática (hepatite malárica);
Efeitos na gestante
Anemia materna;
Malária placentária;
Esplenomegália;
Maior risco de hipoglicémia;
Morte materna.
Efeitos no feto:
Atraso de desenvolvimento intra-
uterino;
Aborto espontâneo;
Nado-morto.
No recém-nascido:
Baixo peso à nascença;
Prematuridade;
Malária congénita.
Complicacoes de Malaria na Gravidez
Sintomas/Sinais Áreas de Malária Estável Áreas de Malária Instável
Hipoglicémia - ++
Edema pulmonar - ++
Hiperpirexia + +++
Abortos - +++