Kant e Rousseau

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Immanuel Kant: Que é o esclarecimento?

• Esclarecimento [Aufklärung] – saída do homem


de sua menoridade (do qual ele é culpado)
rumo à maioridade;
• Menoridade: incapacidade de fazer uso de seu
próprio entendimento sem a direção de outro
indivíduo;
• O homem é culpado dessa menoridade na
medida em que sua causa não se encontra na
falta de entendimento, mas na falta de decisão
e de coragem de servir-se de si mesmo sem a
direção de outrem.
• Lema do esclarecimento: sapere aude! Isto é,
tenha a coragem de servir-se e fazer uso do teu
próprio entendimento;
• Causas da menoridade: preguiça e covardia
são as duas causas principais pelas quais
grande parte da humanidade permanece
menor durante toda a sua vida;
• Preguiça e covardia também explicam por que
é tão fácil que os outros se constituam em
tutores deles: “É tão cômodo ser menor”.
• “Se tenho um livro que faz as vezes de meu
entendimento, um diretor espiritual que por mim
tem consciência, um médico que por mim decide
a respeito da minha dieta etc., então não preciso
de esforçar-me eu mesmo. Não tenho
necessidade de pensar, quando posso eu mesmo
pagar; outros se encarregarão em meu lugar
sobre os negócios desagradáveis. A imensa
maioria da humanidade (inclusive o belo sexo)
considera a passagem à maioridade difícil e além
do mais perigosa, porque aqueles tutores de bom
grado tomaram a seu cargo a supervisão dela”.
• [...] Depois de terem primeiramente embrutecido
seu gado doméstico e preservado
cuidadosamente estas tranquilas criaturas a fim
de não ousarem dar um passo fora do carrinho
para aprender a andar, no qual as encerraram,
mostram-se em seguida o perigo que as ameaça
se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo na
verdade não é tão grande, pois aprenderiam
muito bem a andar finalmente, depois de
algumas quedas. Basta um exemplo deste tipo
para tornar tímido o indivíduo e atemorizá-lo em
geral para não fazer outras tentativas no futuro”.
• Liberdade: condição indispensável para o
esclarecimento; condição para que o homem
possa fazer um uso público de sua razão em
todas as questões; o uso público de sua razão
deve ser sempre livre e só ele pode realizar o
esclarecimento entre os homens;
• Uso público da razão: aquele que qualquer
homem, enquanto sábio, faz dela [da razão]
diante do grande público do mundo letrado.
• Uso privado da razão: aquele que o sábio
pode fazer da sua razão em um certo cargo
público ou função a ele confiado.
• Três exemplos: “Assim, seria muito prejudicial se um oficial, a
quem seu superior deu uma ordem, quisesse pôr-se a raciocinar
em voz alta no serviço a respeito da conveniência ou da
utilidade dessa ordem. Deve obedecer. Mas, razoavelmente, não
se lhe pode impedir, enquanto homem versado no assunto,
fazer observações sobre os erros do serviço militar, e expor
essas observações ao público, para que as julgue. O cidadão não
pode se recusar a efetuar o pagamento de impostos que sobre
ele recaem; até mesmo a desaprovação impertinente dessas
obrigações, se devem ser pagas por ele, pode ser castigada
como um escândalo (que poderia causar uma desobediência
geral). Exatamente, apesar disso, não age contrariamente ao
dever de um cidadão se, como homem instruído, expõe
publicamente suas ideias contra a inconveniência ou a injustiça
dessas imposições”.
• Do mesmo modo também o sacerdote está
obrigado a fazer seu sermão aos discípulos do
catecismo ou à comunidade, de conformidade
com o credo da Igreja a que serve, pois foi
admitido com essa condição. Mas, enquanto
sábio, tem completa liberdade, e até mesmo o
dever, de dar conhecimento ao público de todas
as suas ideias, cuidadosamente examinadas e
bem intencionadas, sobre o que há de errôneo
naquele credo, e expor suas propostas no
sentido da melhor instituição da essência da
religião e da Igreja. Nada existe aqui que possa
constituir um peso na consciência”[...].
• O pensamento livre permite ao homem
despreender-se progressivamente do estado
de selvageria [menoridade], a agir de acordo
com a liberdade e a alcançar a sua dignidade.
Jean-Jacques Rousseau: Discurso sobre a origem e
os fundamentos da desigualdade entre os
homens.
• Em 1753, a Academia da Dijon propôs a questão: qual a
origem da desigualdade entre os homens e será ela permitida
pela lei natural?
• No Discurso, Rousseau inicialmente faz uma crítica às noções
de natureza e de propriedade para, em seguida, realizar uma
crítica forte da organização social e política da sociedade
europeia de sua época;
• Trata-se de buscar uma explicação da diferenciação
econômica, política e social que fosse diferente das oferecidas
por seus antecessores (Hobbes e a tese de uma guerra
permanente de todos contra todos e Locke com a tese de que
a proteção da propriedade privada seria o fundamento do
pacto social e da instituição da sociedade política, do Estado).
• A noção de desigualdade não possui qualquer
fundamento natural; a desigualdade é um problema
que tem origem na esfera da vida civil: portanto, a
desigualdade não é um dado da natureza das coisas;
trata-se de uma consequência dos atos e das escolhas
humanas;
• Rousseau critica e condena as sociedades europeias de
seu tempo; para ele, a boa sociedade não são as
repúblicas ou os países europeus; boa sociedade é a
que não conheceu a civilização.
• Portanto, conhecer a fonte da desigualdade entre os
homens exigirá, antes de tudo, conhecer os próprios
homens, antes da sua contaminação pelos vícios da
sociedade em vias de industrialização.
• Como o homem poderá conhecer a si mesmo depois
de tantas mudanças produzidas pela “sucessão do
tempo e das coisas”? Como é possível “separar o que
pertence à sua própria essência daquilo que as
circunstâncias e seus progressos acrescentaram ao seu
estado primitivo ou nele mudaram?”;
• Pois a sociedade, com todas as suas transformações,
com todos seus acertos e erros, com todos os seus
conhecimentos etc., já imprimiram suas marcas na
alma humana, transformando o espírito simples
originário dos homens dado por seu criador [seu
espírito natural, inocente];
• Assim, quanto mais os homens adquirem e acumulam
novos conhecimentos, mais se afastam dos meios
capazes de levá-los a conhecerem a si mesmos;
• É no conjunto das “mudanças sucessivas da
constituição humana” que se deve procurar a
origem primeira das diferenças que
distinguem os homens, diz Rousseau;
• Trata-se de separar o que há de original do
que é artificial na natureza atual do homem;
identificando o que há de artificial (ou social)
na sociedade humana, talvez seja possível
chegar próximo de que teria sido o homem
natural;
• No estado primitivo [estado de natureza], o
que cada ser visa é o próprio bem-estar e a
própria conservação; além disso, o sofrimento
alheio nos causa repugnância e piedade —
fazem com que os seres humanos não façam
qualquer mal uns aos outros, exceto em caso
de legítima defesa;
• Em sua condição selvagem, o ser humano
seria um animal cujas relações estão em
perfeito equilíbrio com o meio que o cerca;
• No estágio atual da sociedade, o que se
percebe é uma condição extrema de
desigualdade: a violência dos poderosos e a
opressão dos fracos, afirma Rousseau em
referência ao filósofo Maquiavel (O Príncipe);
• Dois tipos de desigualdade entre os homens:
(i) uma que é física ou natural (idade, saúde,
força do corpo e do espírito, etc.); e (ii) outra
que é moral ou política – “porque depende de
uma espécie de convenção e que é (...)
autorizada pelo consentimento dos homens”.
• A desigualdade moral ou política diz respeito aos
privilégios de que gozam alguns em detrimento
de outros (ser mais rico ou poderoso ou fazer-se
obedecido);
• Trata-se de mostrar com exatidão como, no
progresso das coisas, houve um momento em
que a força foi sucedida pelo direito e, deste
modo, submeteu-se a natureza à lei;
• Rousseau faz uma reconstrução imaginária da
situação natural do animal selvagem: como o
homem era em sua condição originária, natural?
• O homem físico:
• No estado de natureza, (i) o que se vê é um
animal mais fraco que uns e menos ágil que
outros, mas que, em conjunto, é organizado de
modo mais vantajoso que todos os demais;
• (ii) Dispersos no seio da natureza, os homens
dela se alimentavam e viviam em absoluta
harmonia com o ambiente;
• (iii) O único instrumento do qual dispunha o
homem selvagem era o seu corpo, que ele
empregava de vários modos na satisfação de
suas necessidades básicas;
• (iv) Doença e velhice são males que afligem
apenas ao animal humano; as doenças são
mais produto do avanço da civilização do que
da natureza; esses males, frutos tanto do
excesso de ociosidade de uns como do
excesso de trabalho de outros, não atingem o
selvagem, que desconhece as doenças e os
remédios, além dos próprios médicos;
• O homem psicológico:
• (v) O homem possui, em comum com os
animais, os sentidos de onde provêm as
ideias; por meio deles, percebe e sente;
• (vi) O que o distingue do animal é, em primeiro lugar, a
liberdade; por ela, o homem quer e não quer, deseja e
teme; além disso, possui a faculdade de aperfeiçoar-se
e retroceder (esta é a causa da infelicidade dos
homens, que não souberam permanecer na felicidade
do estado de natureza);
• (vii) As faculdades intelectuais superiores nascem das
faculdades inferiores;
• (viii) A razão é posta em ação pelas paixões que, por
sua vez, são suscitadas pelas necessidades; As paixões
elementares reduzem-se a três desejos e um temor:
nutrição, reprodução, repouso; o medo da morte. O
homem, ignorante do que seria a morte, não poderia
temê-la.
• (ix) Esta última poderia ser comprovada, de um
lado, pela história do progresso intelectual, que
está condicionado pelas paixões e pelas
necessidades, incessantemente aumentadas, no
homem social; de outro lado, pela observação dos
selvagens, que não possuem desejos ou
imaginação, e vivem inteiramente no momento
presente;
• (x) O progresso intelectual supõe trabalho,
curiosidade, previdência – coisas próprias não do
homem natural, mas do homem social. O
progresso intelectual supõe também duas
condições que são as convenções sociais: a
linguagem e a divisão das terras.
• A degeneração de uma espécie humana
aparece associada à acomodação e à
instrumentalização de certas “ferramentas”
(habitação, vestimentas, e, mais tarde, ao
desenvolvimento tecnológicos como o fogo, o
aço, a enxada, o arado, etc.) pelos homens;
• Esses instrumentos, à medida em que foram
incorporados à constituição do próprio,
acabaram degenerando as características e
aptidões primitivas da espécie; o homem
selvagem havia sobrevivido sem eles em uma
condição de harmonia e completude com o
meio ambiente;
• O homem moral:
• (xi) Amoralismo integral: o homem não é então nem
bom nem mau, ignora tanto as virtudes quanto os
vícios. O estado de natureza é mais vantajoso para ele
e lhe proporciona mais felicidade do que o estado
social;
• (xii) Primeiro princípio da moral natural: o instinto de
conservação de si mesmo. O erro de Hobbes foi o de
supor que, para conservar-se a si mesmo, era
necessário lutar, matar ou escravizar seus oponentes; a
ausência de bondade não implica a maldade; o direito
sobre as coisas de que tem necessidade não leva a um
domínio universal; é possível zelar pela sua
autoconservação sem prejudicar o outro; o homem
primitivo não poderia ser mau, uma vez que não sabia
o que era ser bom e mau;
• O segundo princípio da moral natural: a
piedade.
• (xiii) O homem é naturalmente indulgente; a
piedade é um movimento da natureza,
anterior a qualquer reflexão; a prova disso
pode ser encontrada no instinto maternal,
nos animais; a piedade não é, portanto, uma
virtude social; a piedade é mais forte no
estado de natureza, onde nos identificamos
de maneira espontânea com os infelizes, do
que no estado social, no qual nos baseamos
na reflexão.
• (xiv) As paixões são mais violentas no estado de
natureza; a paixão pela alimentação pode ser
facilmente satisfeita e, quando isso se dá, ela
se extingue; no amor, deve-se distinguir o amor
fictício (inventado pela sociedade) e o físico
(natural);
• Conclusão do primeiro livro:
• A) No estado de natureza a igualdade é quase
nula; em nenhuma de suas formas possui
grande realidade e influência;
• B) a maioria das desigualdades resulta, com efeito,
do hábito e da educação e, consequentemente, da
sociedade que exercita ou não as forças do corpo
e as do espírito;
• C) as desigualdades naturais, de início fracas e
insignificantes, são multiplicadas pela sociedade
que, de um lado, aumenta os desejos e, de outro,
favorece a cultura.
• D) assim, só se notou a beleza depois de inventada
pelo amor mental, e também a servidão e a
dominação decorrentes da força e da riqueza só
vieram a existir quando os homens conviveram
entre si quanto à sua dependência mútua;

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